A Estação Primeira da Mangueira definiu neste sábado as três obras classificadas para a grande final de samba-enredo que acontece no próximo dia 07 de outubro. De forma equilibrada, os sambas de Lequinho e Moacyr Luz se destacaram nesta apresentação e terão a companhia da parceria de Thiago Meiners e Cia. A composição de Bete da Mangueira foi eliminada. Nesta semifinal, acompanhada pelo site CARNAVALESCO na série “Eliminatórias”, cada parceria teve 25 minutos para se apresentar e durante este tempo, duas das passadas foram voltadas para o público e torcida, com o carro de som apenas incentivando o canto. A análise de cada performance, você acompanha ao longo do texto.
Em 2024, a Verde e Rosa levará para a Sapucaí o enredo “A negra voz do amanhã”, um tributo à cantora Alcione. A homenagem está sendo desenvolvida pela dupla de carnavalescos formada por Guilherme Estevão e Annik Salmon. A Estação Primeira será a quarta escola a desfilar na segunda noite do Grupo Especial.
Parceria de Thiago Meiners: A segunda obra a se apresentar na noite desta semifinal mangueirense foi a de autoria de Thiago Meiners, Beto Savanna, Indio da Mangueira, Michel Pedroza, Wilson Mineiro e Julio Alves. A composição foi conduzida pelo intérprete Pitty de Menezes, da Imperatriz Leopoldinense, e por Wic Tavares. Ela iniciou a apresentação cantando de forma mais melodiosa acompanhada só do violão de sete cordas o trecho anterior ao refrão de baixo. As vozes femininas, aliás, foram um destaque, hoje sem a cantora Keilla Regina, a parceria, além de Wic, teve o reforço de Thati Carvalho, do carro de som da Imperatriz. Pitty, mais uma vez, mostrou bastante energia e fez uma grande apresentação também pela correção no canto e por valorizar bastante as nuances melódicas que são o ponto forte da obra.Essas nuances podem ser percebidas na cabeça do samba, nos seis primeiros versos a partir de “Botei meu laguidibá no pescoço” até “Oh! Entidade da Primeira Estação”. A segunda do samba também possui pontos de destaque como “Um canto maroto, estranha loucura/Meu ébano, a cura pro vício do amor/A força da mulher na voz dos brasis se eternizou”. O andamento foi um pouco mais para frente o que trouxe mais energia para a obra, sem perder a riqueza melódica que é uma grande característica da composição. Alguns trechos da obra fazem referência na melodia e na letra a sucessos da Marrom. Como exemplo tem-se “Mas tente entender”, na segunda do samba, além do refrão principal com o “Não deixo o samba morrer”. A torcida trouxe bandeiras e armações com diversas bexigas nas cores da escola, completadas por um coração em dourado na ponta. Os componentes começaram com muita energia, pulando e com muitas pessoas cantando, mas depois de algumas passadas o frisson diminuiu um pouco, com algumas pessoas apenas balançando as bolas, e aparecendo mais no refrão principal “Não deixe o samba morrer”. A energia voltou forte nas passadas sem o carro de som e ficou até o final. Em relação a quadra, entre os segmentos houve um bom envolvimento com as baianas, várias dançando. Já no público, o envolvimento e o canto foi mais tímido. Em geral, uma apresentação irregular, muita energia e canto no início e no final, mas com queda no meio da exibição. Porém, a música tem crescido e pode chegar madura para enfrentar as outras composições que surgem mais favoritas.
Parceria de Moacyr Luz: A composição assinada por Moacyr Luz, Pedro Terra, Gustavo Louzada, Karinah, Compadre Xico e Valtinho Botafogo foi a terceira da noite. O intérprete Gilsinho, da Portela, conduziu mais uma vez a obra na eliminatória. Como em outras parcerias, uma voz feminina teve a responsabilidade de iniciar a apresentação. A cantora Karinah foi esta voz e dividiu bem o protagonismo no palco com Gilsinho, apoiado, além de outras vozes, por Diego Nicolau. Em relação ao desempenho dos cantores, muita força e bom trabalho de terças e vocalizações. A melodia da composição de Moacyr Luz e Cia é bastante peculiar, original, e até foge um pouco do que a Mangueira em geral procura levar para a Sapucaí, inclusive, é distinta de 2022, quando esta mesma parceria ganhou. Mas também tem muita força e pontua algumas partes da letra que sobressaem em energia, traduzindo a altivez da homenageada, como os trechos da cabeça do samba. Sobre o andamento, foi característico de Mangueira, permitiu algumas inserções bastante dentro da temática, principalmente quando falamos da região originária de Alcione. O trecho “A voz, negra voz, tem o sangue verde e rosa, é singular, não há ninguém tão poderosa” e “sopro divino do amanhã” na cabeça são destaques pelos caminhos melódicos escolhidos. O refrão de baixo “Erê, Erê, Erê, não deixa o samba morrer”, permite à “Tem Que Respeitar Meu Tamborim” a presença de bossas, se diferenciando do andamento que vinha anteriormente. O refrão é de fácil aprendizado, pega rápido. A torcida trouxe bandeiras grandes da própria escola e outras nas cores com o rosto da Marrom. O contingente foi bem grande, um dos maiores da noite. Muita gente também se juntou ao grupo. O que, claro, retrata o bom envolvimento que a música teve com a quadra. Muita gente dançando, inclusive várias baianas. O canto da torcida foi muito bom, bem retratado nas duas passadas sem os cantores, mas perceptível durante o restante da exibição. Canto regular e expressivo. No restante da quadra, o canto também foi bom. Um dos trechos mais cantados foi o “Eu sou a Estação Primeira de Mangueira do Amanhã”. Um momento bonito foi uma chuva de bolas nas cores da escola que desceu sobre a torcida na volta das passadas sem cantores. Mostrou força nesta apresentação e chegará muito bem na final para disputar de igual para igual.
Parceria de Lequinho: A última apresentação da noite foi do samba composto por Lequinho, Júnior Fionda, Gabriel Machado, Fadico, Guilherme Sá e Paulinho Bandolim. Vencedora no carnaval passado, a parceria trouxe mais uma vez o intérprete Tinga, da Vila Isabel, para comandar as vozes. Encerrando a noite e confirmando que todas as parcerias iriam iniciar o samba com uma voz feminina, Cacá Nascimento carregou essa honra e responsabilidade no alusivo. Logo em seguida, com a ajuda de uma conga, Tinga deu o recado “isso aqui vai virar um terreiro”. E parecia mesmo. Excelente começo, com ritmo, ancestralidade, início que foi combustível para uma apresentação explosiva no palco. A melhor da noite neste quesito. Destaques para apoio na voz de Bico Doce, Júnior Fionda, Lequinho e a própria Cacá Nascimento. Os compositores, em cima do palco, que não estavam cantando também ajudaram, não parando de incendiar o público em nenhum minuto. A melodia é uma das que conserva mais traços daquilo que se está acostumado a ver na Verde e Rosa, até por ser produzida por compositores que já estão na escola há muitos anos. A música pode receber comparações em relação ao samba do ano passado, já que Mangueira 2023 foi um grande sacode. Mas, tem qualidade, sua própria alma e peculiaridades. A parte final da segunda do samba aproveita para fazer uma homenagem à própria Mangueira através do versos “Mangueira! De Neuma e de Zica/Dos versos de Hélio que honraram meu nome”, o que sempre “pega” muito no mangueirense, na comunidade. A escolha por um andamento mais para frente não fez a obra ser corrida, encaixou bem, foi suficiente para que os refrãos e o pré-refrão de baixo fossem explosivos,mantendo a qualidade melódica nas estrofes e não deixando o samba cair em nenhum momento. A torcida trouxe bandeiras nas cores da escola, veio em grande contingente, mostrando muita energia e respondendo muito bem aos estímulos do palco. Canto muito bom, principalmente nos refrãos. O “Toca tambor de crioula..”, por exemplo, se destacou mais nesta eliminatória do que vinha rendendo nas últimas. No restante da quadra, houve um envolvimento interessante, viu-se baianas e “harmonias” se divertindo, sambando e cantando. No público também houve boa aceitação, ainda que o canto tenha sido um pouco mais tímido. Participação para não deixar nenhuma dúvida que merece a final e que vai brigar forte.