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Harmonia mostra a força do samba sobre Ifá no segundo ensaio técnico do Tucuruvi

Escola da Cantareira tem desempenho primoroso em seu último treinamento no Anhembi antes do desfile oficial, dando forma à anseio há anos almejado pela comunidade

Por Lucas Sampaio e fotos de Fábio Martins

Os Acadêmicos do Tucuruvi realizaram seu segundo ensaio técnico no último domingo no Sambódromo do Anhembi em preparação para o carnaval de 2024. O samba e o coral da harmonia foram os grandes destaques do treinamento, encerrado após 58 minutos na Avenida. O Zaca será a sétima escola a desfilar no dia 10 de fevereiro pelo Grupo Especial de São Paulo com o enredo “Ifá”, assinado pelos carnavalescos Dione Leite e Yago Duarte.

Um ensaio primoroso de uma escola que acredita no poder do samba e do enredo que possuem como há muitos anos não se via. A Tucuruvi realizou na Passarela do Samba um treinamento digno da eficiência que fez a escola ser vice-campeã em 2011, mas com uma força que talvez nem o fantástico desfile sobre os migrantes nordestinos de São Paulo teve. Não é todo dia que uma escola aparenta renascer diante dos olhares de tantas pessoas, mas é emocionante ver que o tão almejado “novo Tucuruvi” parece enfim estar tomando forma.

Comissão de frente

A comissão de frente da Tucuruvi vem dividida em três atos marcados por passagens do samba. No primeiro ato, todos os personagens atuam em cima do elemento alegórico. No segundo, por volta do refrão do meio, a maioria dos atores descem do tripé e coreografam no chão. No ato final, também por volta da metade do samba, eles voltam a subir na alegoria.

Há a presença de um protagonista nessa dança que representa Exu, carregando consigo em boa parte do tempo a tigela com seu padê. Sua atuação conteve elementos que lembram muito a coreografia consagrada pelo ator Demerson D’Alvaro no desfile campeão da Grande Rio em 2022.

Mas com exceção do momento em que os demais personagens descem do tripé para atuar no chão, o que ocorre ao longo de apenas um terço da performance, é muito difícil definir com clareza, da visão que a imprensa tem da pista, como a interação entre todos os personagens ocorrem em cima da alegoria da Tucuruvi. A altura em que ela fica claramente permite uma excelente visão da parte do público das arquibancadas e dos jurados da atuação que ocorre lá, mas do chão a observação fica muito comprometida pela concavidade que possui internamente no tripé.

Seria injusto tecer qualquer análise mais aprofundada da coreografia do quesito dessa forma, mas nos momentos em que os atores estiveram no chão demonstraram vigor e ousadia, com direito a movimentos muito corajosos. Aos leitores a sugestão é que se atentem para o dia do desfile oficial, pois pode estar prestes a acontecer um momento histórico no Sambódromo do Anhembi.

Mestre-sala e Porta-bandeira

Luan Caliel e Beatriz Teixeira realizaram o ensaio vestidos com as fantasias do carnaval anterior, o que permitiu ao casal ter uma experiência mais próxima daquela que enfrentarão no desfile oficial. A dupla teve um bom desempenho por todos os módulos em que foram observados, cravando os movimentos com leveza e tranquilidade.

Ao analisar o desempenho de ambos no ensaio, Beatriz e Luan falaram da importância de treinar fantasiados, além das orientações que receberam para evoluírem a dança praticada em relação ao treinamento geral anterior.

“Hoje foi ótimo para a gente fazer outro teste. Um teste com peso, peso de verdade de fantasia, é outra realidade. A gente ensaia aqui no Anhembi e vem com o saiote, mas mesmo assim é outra coisa. Não adianta a gente fazer um ensaio específico com a escola de samba para ver como que é no dia e não ensaiar com a fantasia em si. Não sentir o peso, que é completamente diferente. A gente já conseguiu ajustar mais coisas, ter uma visão mais geral de como vai ser o dia completamente. Mesmo com chuva, com tudo, essa é a nossa realidade. Para mim aqui hoje foi o nosso ensaio, ensaio geral, geral de verdade, que a gente pode sentir a escola, sentir como vai ser no dia literalmente. Para mim hoje foi um grande desfile. Algumas coisinhas que aconteceram durante a Avenida, mas para mim foi uma realização e eu espero que seja tranquilo desse jeito para a Avenida. Sair de ponta a ponta sorrindo, estou até sem dente, sem voz, já estou sem tudo. Mas para mim nota dez, graças a Deus”, declarou a porta-bandeira.

“Falar um pouco sobre o peso primeiro. Dançar com fantasia muda muita coisa. Dá para sentir mesmo o dia do desfile, que é uma fantasia do ano passado, então tem uma dimensão do que vai ser. No ensaio passado a Dani, que ajuda muito a nós e que é uma visão de fora, ela apontou alguns pontos principalmente na parte de finalizações, deixar um pouco mais lentas. Hoje deu para sentir isso, e acho que nós viemos arrumar isso. Começar a coreografia um pouco mais lentos, detalhar mais, sempre nos refrões. Sempre pontuar nessas frases, os braços, que eu acho que fica muito evidente que nós estamos dançando em cima do samba quando faz esses apontamentos. Eu acho que deu para acertar isso. No último ensaio foi muito bom, porém teve um pouquinho desses deslizes, eu posso falar, foi bem imperceptível. Hoje nós viemos para acertar, e eu acho que acertamos. Se Deus quiser, vamos fazer um lindo trabalho aí na Avenida”, explicou o mestre-sala.

Harmonia

O grande destaque do ensaio do Zaca. Há alguns anos que através de declarações de diferentes representantes é dito que a escola está passando por um processo de encontrar “um novo Tucuruvi”, e ao que parece o caminho para isso foi encontrado. Ter um samba forte e de qualidade em mãos atrelado a um enredo que une a comunidade faz toda a diferença, e como diz a letra da obra assinada pelo consagrado mestre Macaco Branco, da Unidos de Vila Isabel e que participou do ensaio, no Ilê da Cantareira há um povo feliz.

O samba do Tucuruvi foi clamado com intensidade ao longo de todo o ensaio. Destaque especial para a ala “Ikin”, logo no começo da escola, que tinha componentes cantando delirantemente a obra do Zaca sem parar. O diretor de carnaval Rodrigo Delduque falou a respeito da influência do enredo no resultado do ensaio e exaltou o trabalho da diretora de harmonia da escola.

“Para falar de Exu e de Ifá não tem como a energia ser diferente. Quando voltamos para casa reunimos todo mundo, conversamos e passamos o que queremos. A escola vem, cada vez mais, adquirindo nosso sistema de desfile na condução da Fabiana (Lopes), que é uma excelente diretora de harmonia e uma pessoa maravilhosa. Não tenho como descrever o ser humano que ela é. A parte profissional dela é sensacional, é o que você viu na pista. Tenho certeza de que, no desfile, vamos apresentar algo muito melhor que isso aí, com as nossas fantasias que estão nos esperando”, disse.

Evolução

Outro quesito seguro da Tucuruvi no ensaio. A escola evoluiu de forma fluída durante toda a passagem pelo Anhembi, não sendo observadas aberturas ao longo dos módulos em que foram observados. A escola veio bem compacta e organizada, realizando o recuo da bateria com exatidão e cuidado.

Rodrigo Delduque falou da importância de entender as regras do jogo para garantir a boa fluidez do Zaca ao longo do treinamento.

“Ajuste é ajuste. A cada ensaio, desfile e ano que passa, a gente vem procurando se adaptar cada vez mais ao regulamento e aos critérios. Nós optamos, no último ensaio, por ajustar mais a escola, um sentir a energia do outro, um puxar o outro. Dessa vez, compactamos mais a escola. Visualmente falando, deu certo”, afirmou o diretor.

Samba-enredo

Certamente um dos sambas que mais cresceu ao longo da temporada de ensaios técnicos. Não bastasse ser uma obra das melhores que já passaram pelo Anhembi nos últimos anos, o quesito está a cargo de uma ala musical recheada de talentos e liderada pelo intérprete Hudson Luiz, que esteve em mais uma noite inspirada. Os momentos em que o canto foi entregue para a comunidade foram cuidadosamente escolhidos, voltando de maneira cravada para os cantores de maneira fantástica.

Hudson fez uma análise geral do desempenho na escola no ensaio e demonstrou otimismo em relação às pretensões do Tucuruvi para o carnaval de 2024.

“Eu pude conversar um pouco com a harmonia antes de começar o nosso ensaio. A harmonia estava reunida, eu pude dar umas palavras com a licença da nossa diretora de harmonia, Fabiana. Eu pude, na concentração, me encontrar com vários componentes e poder passar uma energia positiva para eles, e eu acho que foi um ensaio sensacional. Eu sempre dizia para os componentes: ‘vamos acreditar que o que a gente quer está ali na frente’. A nossa alegria é o que transborda no nosso carnaval, e a Tucuruvi acho que pôde mostrar isso hoje. Fomos superiores do que no primeiro ensaio, e eu acho que isso deixa um pouquinho do que a Tucuruvi pode apresentar, do que a Tucuruvi quer para o carnaval. A gente não aceita no nosso eu um resultado menor que o campeonato. Isso não é só sonho para a gente, já passa a ser uma realidade porque a gente acredita nisso, e quando a gente acredita nisso, isso se torna uma realidade. Acho que a Tucuruvi se superou, e eu tenho certeza de que muita gente vai sair do Anhembi e vai dizer que é uma nova Tucuruvi, uma Tucuruvi diferente, irreconhecível para o lado positivo. Eu estou muito feliz com o resultado na escola inteira. Acho que não posso nem citar setores, acho que a escola inteira. Estou muito feliz de verdade e espero que seja melhor ainda no desfile”, declarou.

Nos dois ensaios que o Tucuruvi realizou na temporada, tanto na concentração quanto na dispersão, Hudson Luiz foi observado em um momento pessoal de orações. O intérprete falou sobre a importância da fé em sua preparação.

“Na minha vida Deus esteve sempre à frente de tudo que eu fiz. Se eu não acreditasse em Deus, não chegaria até aqui. Eu acho que acima de grandes talentos, existe a nossa fé. Como já disse, a fé move montanhas e sem Deus eu não seria ninguém. Antes de começar eu sempre agradeço por ter chegado até aqui e peço que me proteja, e ao término, independente de qual seja o meu resultado, eu agradeço porque eu acredito que tudo que aconteceu foi preparado por Ele. Sem a minha fé eu não iria a lugar nenhum. Eu só estou hoje aqui porque Deus me permitiu”, disse.

Por fim, Hudson deixou uma mensagem de motivação para a comunidade dos Acadêmicos do Tucuruvi que aguarda ansiosamente para desfilar no sábado de carnaval no Sambódromo do Anhembi.

“Comunidade, acredita. Acredita porque a Tucuruvi vai fazer o maior carnaval da sua história. Acredita dentro de nós. Acredita. Acredita. Acredite no nosso coração. Acredite na nossa fé, que assim nós chegaremos ao resultado que nós queremos que é a nossa estrela tão sonhada”, concluiu.

Outros destaques

Liderada pelo mestre Serginho, a “Bateria do Zaca” teve papel fundamental para o desempenho brilhante da Tucuruvi em seu último ensaio técnico. Bossas contagiantes em momentos-chave como no desfecho da segunda do samba, apagões perfeitamente encaixados e retornando com maestria. Influência da presença do colega carioca Macaco Branco, mestre da “Swingueira de Noel”? Só os Deuses do samba podem afirmar. Serginho fez uma análise da evolução do desempenho da bateria em relação ao ensaio anterior.

“Chego em casa, assisto tudo para ver como foi. No primeiro ensaio, na bateria, a gente veio bem. No segundo, fizemos alguns ajustes, colocamos o atabaque na frente para não ficar tumultuando. Antes eles executavam e metiam marcha. Toque de atabaque, agogô, com tudo isso envolvido em um sambaço tem que dar certo. Foram muitas noites sem dormir, a direção de bateria briga todo dia, mas quando a gente chega aqui é isso aí. Não sei como foi a escola, mas, em relação à ala musical e bateria está funcionando. Acho que evoluímos com o tempo”

Questionado sobre a influência da bateria para a aclamação do samba diante da opinião pública, o mestre falou sobre as escolhas que foram feitas para se chegar a tal resultado.

“Como foi pensado tudo junto, como foi um processo, com esquema de eliminatória, tínhamos uma coisa em mente. Encontramos esse samba, sentamos eu e o Rodrigo para escolhermos esse samba e fomos encaixando. Antes, o projeto de bateria era mais simples, não tinha tanta coisa assim, mas eu percebi que não poderia perder uma oportunidade dessa, com tantas deixas que o samba dá. ‘Respeite a minha ancestralidade’, ‘tolere a diferença na raiz’, aí é punho cerrado, sinal de resistência. Colocamos repique, atabaque, e quando apresentamos para o nosso produtor ele adorou. Fizemos os arranjos e tudo cresce. O samba é bom pra caramba, ele cresce com os arranjos e não é uma canção pesada. É tudo no seu lugar certinho e foi isso que fez o samba crescer. O samba é bom, tem a bateria que soma e fica tudo lá. É ótimo”, explicou.

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