O site CARNAVALESCO publica a segunda parte da entrevista com o diretor de marketing da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa), Gabriel David. Ele faz um balanço do trabalho, das dificuldades internas, das conquistas e revela que a pesquisa feita pela Liga recebeu mais de 10 mil respostas. * LEIA AQUI A PRIMEIRA PARTE DA ENTREVISTA: Gabriel David revela detalhes das finais de samba na TV Globo

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Foto: Reynaldo Néo

Qual é o seu balanço nos quase cinco meses na Liesa?

Gabriel David: “Divido em três partes o meu balanço: comercial com avanços gigantescos, a Liga tem um potencial de entrega para o carnaval de 2022 infinitamente maior do que teve em sua história. Tenho certeza que o povo vai ver isso na Avenida. As marcas que estão entrando agora vão fazer parte da reconstrução e restruturação do carnaval. Na área de comunicação, a Liga não tem verba para nada e confesso que nada me agrada do que foi feito até agora. É aquém da minha expectativa e do que tinha que ser feito, mas é 100% questão de verba, a comunicação precisa de verba, nunca existiu na Liga, mas vai existir. Tenho certeza que depois de 16 meses, a Liga terá entrada de dinheiro ainda em agosto. Vamos conseguir começar essas mudanças na comunicação, ainda não são ideias, mas necessárias, colocamos escala de prioridades. Basicamente, é a entrada mais eficaz no âmbito digital. Por fim, a área de vendas que é a mais delicada. Querendo ou não, sendo bem feita ou não, já fui um grande crítico, mas elas dão resultado, tem receita certa anualmente. No momento de mais dificuldade da casa, entendo a decisão 100% do presidente de não mexer, e, concordo plenamente de não mexer no primeiro ano diante das dificuldades. Não estamos dispostos no momento a entrarmos numa escala de risco”.

Como está o dia a dia de trabalho na Liesa?

Gabriel David: “O presidente fala que não chega do 0 ao 100, sem passar pelo 50. Essa passagem no primeiro ano já vem com mudanças e melhorias para quem gosta e vive de carnaval. A gente encontrou um cenário muito pior do que imaginei. Confesso que se pudesse escolher, gostaria que fosse em um momento mais oportuno do que esse. Encontrei barreiras internas de mudanças nesses quase cinco meses de gestão. Gostaria de ter feito mais mudanças, mas não consegui. Sei que faz parte. Tenho muito prazer de fazer parte da Liga e das mudanças que a Liga se propôs em fazer na gestão do Jorge Perlingeiro. A gente conseguiu mudanças muito contundentes do ponto de vista comercial, o retorno de mercado tem sido muito positivo. Nós todos estamos aprendendo ainda aqui dentro. O processo de transição não foi fácil, muitas informações estão sendo alcançadas ao longo do caminho. Propôs muitas coisas na Liga e foram acatadas. Por isso, eu não posso reclamar”.

O que falar para quem for assistir aos desfiles na Avenida?

Gabriel David: “O público terá outra experiência. O público na arquibancada não necessariamente tem que levantar do seu assento para comprar algo, terá vendedor ambulante pela Sapucaí inteira, a cerveja parceira (ainda não posso falar qual é) terá entrega mais práticas. O mais importante é a facilidade que as pessoas vão ter e querer mais oportunidade de consumir. Estamos estudando várias possibilidades de alimentos e temos muitas conversas avançadas. Sobre ativações de marcas no Sambódromo, muita coisa a gente poderá ativar. A mudança de relação com a TV Globo é fundamental nisso, porque poderemos ativar as mesmas marcas e em espaços que não podíamos ativar antes. Vamos ter patrocinadores em comum. Antes, a gente tinha muito conflito de marca. Todas eram diferentes. Estamos caminhando e também vamos conseguir usar melhor espaços obsoletos, como os intervalos entre uma escola e outra. Vamos ter os telões novamente em cima das arquibancadas”.

Como será o processo de divulgação dos sambas?

Gabriel David: “Não vamos ter mais CDs, aliás, teremos mais em um número menor (uma tiragem básica para os colecionadores), mas não vou divulgar e comprar propaganda na TV Globo para falar que tem CD vendendo, quero fazer isso de uma forma mais criativa e eficiente. Estará em todas plataformas digitais. A imagem da capa dos sambas, espero agradar (risos). Penso também em um aplicativo para o carnaval, mas é questão de verba para ser feito, algo que quero muito, está incluso em diversas ativações que estão na rua, acredito que deva ter no primeiro ano, mas não posso dar 100% de certeza”.

Os ensaios das escolas comerciais não estão ultrapassados?

Gabriel David: “Vou ser sincero. Todo mundo que eu levava na Beija-Flor adorava. Não faltou bebida, serviço e nem atração. Chamava as pessoas em 2017 e 2018, mas 2019 e 2020 a gente fazia lista de espera para semana seguinte. Acho que tem ensaios e ensaios. Sabemos precisamos massificar os quesitos técnicos, mas o comercial tem que ter formato mais atual e dialogar com o público”.

Qual o conselho que você ouviu do seu pai quando decidiu mergulhar de cabeça no carnaval?

Gabriel David: “O momento mais tenso foi um almoço com meu pai e minha mãe e ele disse que eu não podia mais falar mais mal da Liga. Ele questionou e me coloquei a disposição para fazer. Faz muito tempo. Tenho certeza que ele não botou fé que eu continuaria insistindo. Nós conversamos muito e o carnaval é um assunto muito mais prazeroso para ele. Sei que ele gosta de ouvir. Sei que minha presença na Liga é diferente. Meu pai ajudou a criar o carnaval moderno e me preparou para ser uma pessoa mais capacitada do que ele. De certa forma, a minha obrigação aumenta. Tive oportunidades que outros jovens não tiveram, talvez, apenas o Luiz Guimarães (vice-presidente da Vila Isabel e filho do Capitão Guimarães), mas se ninguém gritasse naquele momento sobre a Liga, como fizemos, não teria repercussão. Meu objetivo não é gritar, mas ver o carnaval grande de novo. Sei que posso contar com meu pai e dúvidas tiro com ele e o tio Guimarães o tempo todo. O maior conselho que me deu é que eu precisando ele estará pronto”.

Qual foi o resultado da pesquisa que a Liga fez com o público?

Gabriel David: “Ela tinha dois objetivos: criação de marca e prioridades das melhorias de experiência para atacar no primeiro ano. Tivemos mais de 10 mil respostas na pesquisa. Foi bem eficiente, mas só vou confirmar tudo quando tiver a marca na minha mão. A marca do carnaval deve chegar ainda este mês. Vai estar pronta até o lançamento de arquibancadas e frisas. A relação de marcas com o carnaval nos fez ativar conversas que ficaram perdidas no passado. O ponto de vista de experiência foi muito clichê, o que muitas pessoas já falam tem bastante tempo”.

Você não mexe na área de desfile, ou seja, nos quesitos, mas quando haverá alguém para mudar isso?

“Não sei. Acho que será uma coisa natural. Você aproximando o público novo, estimulando o carnaval e sua economia, você vai obrigar a Liga e os diretores a se posicionarem. A abertura de diálogo que o Perlingeiro deu dentro da Liga para os presidentes e diretores de carnaval vai permitir isso. Como falei lá atrás vou receber os segmentos do carnaval. Não é só um desejo meu, é também do Elmo. As mudanças dos quesitos de desfile tem muito menos barreiras internas do que várias outras que proponho no meu departamento”.

Quais foram as mudanças da relação Liga e TV Globo?

Gabriel David: “Acho que a Globo não mudou nada. Ela só teve mais oportunidades de fala dentro da Liga. Não era questão de imposição, era falta de resposta da Liga. Não havia diálogo da Liga. A Globo percebeu que mudamos, que teria mais possibilidades, e as portas foram abertas. Sinto um prazer muito grande da Globo de falar em carnaval. A gente teve que se adaptar no momento do país. Apresentei a mudança da iluminação do Sambódromo para o Boninho, ele fez suas ressalvas e disse o que precisa adaptar para o seu produto televisivo. Isso estimula o trabalho deles e vai gerar um produto mais eficaz. Tenho certeza que o quanto mais eu posso entregar para eles será melhor. Enquanto Liga temos que fornecer melhores informações e o espetáculo, as escolas apresentam grandes desfiles, mas a interlocução e o preparo era muito mais da Globo com as escolas. A Liga quase se omitia. Ter portas abertas facilita nosso trabalho para divulgar os sambas, desfiles e informações das escolas. Falamos até dos desfiles campeãs, mas nem tudo está definido ainda. Estamos conversando. As mudanças pertinentes sobre a parte televisa prefiro que a TV Globo fale com vocês. Tenho certeza que todo mundo vai estar mais estimulado para trabalhar com o carnaval. Vocês falavam o tempo inteiro que estavam quase desistindo”.

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