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Evelyn Bastos revoluciona o carnaval ao ser empossada diretora cultural, planeja parcerias com escolas públicas e trazer crianças do desfile mirim para a Liesa

Evelyn Bastos, em entrevista ao CARNAVALESCO, revelou a importância desse momento para o mundo do carnaval: 'É um pontapé inicial'

Evelyn Bastos, conhecida por sua trajetória marcante à frente da bateria da Mangueira e como ícone do carnaval carioca, assumiu um novo desafio como diretora Cultural da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa). Mulher negra e representante de uma família com profunda ligação com a Verde e Rosa, ela traz consigo uma visão transformadora para o cenário carnavalesco. Neste cargo inédito para mulheres, em 40 anos de história da Liesa, Evelyn planeja não apenas trazer inovação cultural, mas também promover a equidade de gênero, proporcionar oportunidades de educação e renovação para aqueles envolvidos no samba, do início ao fim do ciclo carnavalesco.

Foto: Maria Clara Marcelo/Site CARNAVALESCO

“Para mim ser diretora cultural representa um momento transformador e fico muito feliz, muito lisonjeada, muito honrada de fazer parte desse pontapé para a equidade de gênero que a gente tanto busca, que a gente tanto vem falando, e para a gente é sempre mais custoso, é um sacrifício maior. Como eu disse que a gente precisa provar cinco vezes mais, a gente precisa fazer dez vezes mais e muitas vezes é exaustivo, é cansativo. Essa imagem da mulher guerreira, da mulher negra que ela é guerreira, isso cansa porque a gente precisa de oportunidades, a gente precisa de portas abertas, a gente precisa de gente que acredite no nosso saber, que acredite no nosso saber acadêmico e que acredite que as mulheres negras consigam estruturar e pensar carnaval e pensar na administração para tantas outras pessoas. É muito interessante a gente ver que esses corpos pretos que estão na cozinha alimentando as pessoas do samba, que estão cuidando das suas famílias, que estão vestindo a família inteira e cuidando, são os corpos também que pensam, que estruturam um lugar que sempre foi de homens e de homens brancos. É um processo revolucionário que a gente está vivendo e isso deve ser muito falado, muito valorizado, porque a gente muda a perspectiva de outros lugares, de outros ambientes, porque se o maior espetáculo da Terra, se a administração do maior espetáculo da Terra tem presença de mulheres negras, qualquer outro lugar pode ter também”, comentou Evelyn.

Pela primeira vez em 40 anos da história da Liga Independente das Escolas de Samba, mulheres vão ocupar cargos executivos, e na entrevista concedida ao site CARNAVALESCO, Evelyn revelou a importância desse momento para o mundo do carnaval: “É um pontapé inicial. É uma porta que se abre e a gente correu para entrar. A gente aproveitou essa oportunidade e falou que é a nossa chance de poder estar aqui dentro e de poder passar o saber feminino. E quando a gente fala de saber feminino, a gente não fala só das nossas áreas, a gente está falando dos nossos afetos. O afeto feminino é diferenciado, o olhar feminino é diferenciado, é um olhar diferente do olhar masculino. Poder ter esse diálogo agora com os dois gêneros dentro da casa, com certeza a gente já vai ver um carnaval transformado. A gente está conversando agora, vai sentar, se reunir, para tentar resolver todos os problemas e ao mesmo tempo manter o que é bom. Isso vai gerar algumas discussões, mas isso é necessário. Eu acredito que a diversidade hoje da Liga é justamente para gerar esse debate. Porque a gente só consegue evoluir, construir, consertar, melhorar e avançar com o debate”.

Evelyn compartilhou como foi o processo para ser convidada para o cargo e seus pensamentos sobre esse momento: “Primeiro, quando o Gabriel me convidou eu falei: ‘nossa, sério?’, porque para mim, me pegou de surpresa, porque é muito novo, é algo assim que eu não imaginaria. É um presidente trazer para dentro, eu que sou rainha de bateria, eu estou a todo momento enfatizando a minha sensualidade, eu estou a todo momento fazendo no meu corpo um ato político e dançando. É um corpo que dança, é um corpo que expressa a arte ancestral com dança. E ao mesmo tempo sempre me coloquei nesse lugar que para muitos é um paradoxo, mas que para mim é progresso. Para mim é um reconhecimento poder usar a minha sensualidade, abusar da minha sensualidade conduzida por Iabá, por Oxum na minha vida enquanto rainha de bateria e ao mesmo tempo explorar esse saber intelectual acadêmico que eu busquei e que a minha família quis muito que eu trouxesse para dentro porque eu seria a primeira, e eu gosto de ser a primeira. Nessa gestão não tem uma mulher negra, tem três, é revolucionário, e é a minha palavra preferida, sempre foi revolução. Em todos os lugares que estiverem propostos a revolucionar é um lugar que eu vou olhar como um lugar que é meu também”.

Evelyn mencionou seus planos iniciais e ao longo do mandato, destacando um projeto educativo como sua principal proposta. Ela enfatizou o desejo de trazer a educação como um instrumento de impacto social e transformação para as pessoas envolvidas no samba, desde aqueles que constroem o carnaval até os que o vivenciam durante todo o ano. Expressou seu compromisso em tornar o carnaval mais acessível e amado genuinamente, especialmente, entre os jovens, buscando criar um sentimento de pertencimento nas comunidades, incentivando o envolvimento desde a infância. Explicou que seu projeto educativo não se limita apenas aos jovens, adolescentes e crianças, mas também visa alcançar todas as pessoas que, em algum momento da vida, tiveram que interromper sua educação formal para trabalhar e sustentar suas famílias. Ela reconheceu a importância de proporcionar oportunidades de aprendizado e renovação para aqueles que constroem o carnaval, tanto dentro quanto fora da indústria carnavalesca, permitindo que eles possam abrir novos caminhos em suas vidas pessoais e profissionais.

“Meu primeiro projeto é de cunho educativo, trazer a educação como impacto social, como transformação social das pessoas que fazem samba, dos corpos que fazem samba que constroem a festa carnaval durante todo o ano, durante todo o processo e que curtem o carnaval na Marquês de Sapucaí dentro das suas limitações. Mas penso num processo educativo, não só com as crianças, mas com os adolescentes que eu estou tratando também com muito carinho porque eu quero cada vez mais tornar esse carnaval mais jovem e com um amor genuíno dentro dos seus territórios, dentro das suas localidades, nas suas favelas, no subúrbio como eu já falei aqui. Eu quero que as crianças nasçam e em algum momento elas tenham o seu time de futebol e também tenham a sua escola de samba porque ela ouviu o batuque, porque ela esteve dentro de uma quadra de escola de samba e sentiu e se energizou. Mas para que a gente tenha isso nas crianças a gente precisa fazer com que elas se sintam pertencentes desse movimento e tudo que envolve criança é mais delicado porque a gente precisa usar meios pedagógicos para isso. Eu estou tratando com muito carinho isso, mas quando eu falo de cunho educativo, de premissa educativa, eu estou falando não só dos jovens e dos adolescentes, das crianças, eu estou falando também de todas as pessoas que em algum momento da vida precisaram largar um processo educativo para poder trabalhar e sustentar suas famílias. Essas pessoas que constroem carnaval, a indústria carnaval também merece uma oportunidade de se enxergar num processo de educação, de se renovar e de se sentir com novas possibilidades para que elas possam abrir novas portas, não só dentro do carnaval, mas como fora dele também”, mencionou Evelyn.

A nova diretora cultural pretende apresentar esse conteúdo de forma especial, valorizando o acervo valioso e a história do samba. Ela está formando uma equipe, principalmente, composta por mulheres, para trabalhar nesse projeto. O objetivo é garantir que o carnaval seja visto de maneira especial, para que o passado sirva como uma ferramenta de aprendizado para o futuro: “Eu estou trazendo um pessoal para trabalhar comigo, a maioria mulheres, e a gente tem um acervo muito valioso, que merece muito ser contemplado, que merece muito ser visto por todas as pessoas que amam a história do samba. A gente tem um projeto de fazer com que as pessoas vejam esse carnaval de forma muito especial, para que o passado seja uma eterna ferramenta de aprendizado para o futuro. E com certeza eu vou fazer muitos storys, vou estar na rede apresentando muitas coisas, muitas novidades para vocês, trazendo não só as coisas bonitas, mas também alguns problemas que a gente também resolve junto, porque esse diálogo respeitoso dentro das redes sociais é primordial para que a gente faça um bom trabalho”.

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