A Estrela do Terceiro Milênio realizou na noite de terça-feira o seu primeiro ensaio técnico visando o carnaval de 2023. Foi a primeira vez que a agremiação do Grajaú pisou no sambódromo do Anhembi como uma escola do Grupo Especial. A comunidade cantou muito. Foi praticamente um grito de libertação após tantos anos brigando para se estruturar e atingir tal feito. O destaque também fica para a comissão de frente, que foi de simples leitura, mas de grande riqueza teatral. Interações com o público e humor definiram bem como a Terceiro Milênio pode abrir o seu desfile e contar o enredo. A bateria com as bossas e paradinhas do mestre Vitor Velloso também chamaram a atenção no treino.

“A gente fez o primeiro para ver a parte técnica como estava. Hoje a gente se preocupou com o canto, bateria e todos os itens técnicos para poder analisar. Nós filmamos, vamos para casa, assistir com calma, avaliar e ver o que podemos melhorar para chegar no próximo mais arrumado, mas estava dentro do que a gente esperava. A comunidade chegou em uma véspera de feriado e, agora, a ideia é chegar sábado melhor ainda. A gente está trabalhando muito no canto da comunidade do Grajaú. O que vocês viram hoje, para nós não é surpresa. A escola está cantando muito, mas tem que cantar mais. A verdade é que a gente está tendo uma disputa dura. Tem vários concorrentes com a gente. Nós estamos trabalhando isso nos ensaios de quadra, de rua e não é surpresa. Agora temos que melhorar mais”, avaliou Carlão, diretor de carnaval da agremiação.

Comissão de frente

Foi um dos destaques da escola no ensaio. A ala interpreta totalmente o que é cantado no samba. E tudo isso é feito de forma teatral e humorística. Os integrantes interagiram com o público e, dentro das encenações, simularam intensos risos uns com os outros. Pode até não ser, mas aparentava comportamentos de palhaços. Também havia uma criança enfrentando a censura e a repressão. Aparentemente, no dia do desfile, a comissão também irá se fantasiar de personagens humorísticos conhecidos. As danças foram feitas em grande parte no tripé com escadas que a ala irá desfilar.

Fotos de Fábio Martins/Site CARNAVALESCO

Harmonia

O canto da comunidade do Grajaú ecoou muito forte no Anhembi. As alas da escola são bastante comprometidas com essa questão e sempre se dedicam ao máximo. Nesta noite não foi diferente. Houve até paradinhas de bateria e carro de som para avaliação. Dentro das próprias alas tudo ocorreu dentro dos conformes e como já prometido. Porém, houve irregularidade entre uma ala e outra dos setores. A ausência do carro de som atrapalhou demais o andamento do samba para os componentes de algumas alas. Enquanto um setor cantava, outro estava em sintonia diferente. Mesmo com a comunidade tendo o hino na ponta da língua e bradando forte, os integrantes da agremiação devem se atentar a essas questões.

O diretor de harmonia, Japa, avaliou o ensaio e aprovou o desempenho. “A gente veio fazer um teste no Anhembi onde ensaiamos há meses na nossa quadra e avaliar como está a nossa escola. Olhando a nossa parte de harmonia e evolução, foi muita boa. Agora a gente vai assistir os vídeos. Não estamos em todos os pontos da escolas. Vamos conversar, avaliar e chamar todo o time de harmonia para ver cada setor, mas olhando em um todo, acredito que a gente tenha alcançado o objetivo hoje. Nós cantamos alto, o objetivo é esse. Não deixar o samba cair”, disse.

Mestre-sala e Porta-bandeira

O casal Daniel de Vitro e Edilaine Campos fizeram um ensaio seguro. Juntos, a dupla estreou no solo do Anhembi. Executaram os movimentos horário e anti-horário e, o principal, o sorriso no rosto e a simpatia de ambos chamaram a atenção no treino. Esbanjaram felicidade em estampar o pavilhão da Estrela do Terceiro Milênio neste primeiro ensaio técnico como uma agremiação do Grupo Especial. Dentro da coreografia, fica o destaque para o verso “minha coruja voar ao infinito”, onde o casal fazia o movimento de voo de forma sincronizada.

Evolução

Se as alas cantaram bastante, a comunidade evoluiu no ritmo delas. Todos os componentes dançavam de um lado para o outro e pulava na explosão do refrão principal. Entretanto, a escola teve pequenos problemas de alinhamentos das fileiras em algumas alas. Especialmente no último setor. O próprio departamento de harmonia era obrigado a corrigir tal posicionamento em alguns momentos. Os componentes não fazem nenhuma coreografia dentro do samba. Pode ser uma estratégia para deixá-los à vontade no canto e na própria evolução como desfile em si.

Samba-Enredo

Vale ressaltar que esse samba não era o preferido entre os dois finalistas por grande parte da comunidade. Porém, a obra cresceu muito nas vozes de Bruno Ribas e Grazzi Brasil, logo caiu nas graças dos componentes e foi abraçado. Em 2020, Grazia fez parceria com o intérprete Pitty de Menezes, que se desligou. Mas a diretoria da escola foi certeira em escolher o experiente Bruno Ribas para sucessor o então cantor da Imperatriz Leopoldinense. Ambos estão mostrando grande sincronia e fazendo os famosos ‘cacos’ na hora certa. Sem atrapalhar um ao outro. As partes mais cantadas do samba são os últimos cinco versos que são emendados com o refrão principal.

“Estamos em um trabalho bem intenso. Muito lindo, mas pode ficar melhor ainda, é claro. Todos nós, é um processo. Mas quando chegar no dia tudo vai dar certo, se Deus quiser”, declarou a intérprete Grazzi Brasil.

Eu discordo dela. Eu discordo pelo seguinte. Todos estão muito bem preparados, todos já vem numa fluência de ensaios há pelo menos cinco meses, e o que precisava alinhar foi alinhado ontem. Todo mundo foi para o estúdio, houve um bate-papo. Eu não pude estar, mas a Grazzi estava lá, bateu um papo legal, foi muito bom. O grupo é muito unido, é muito leve, todos aqui são amigos. Não há um domingo que a gente não saia para comer juntos. Saímos do ensaio na quadra e vamos comer juntos. Que não pare para bater um papo. Então é um grupo muito coeso”, completou a sua dupla, Bruno Ribas.

Outros destaques

A bateria ‘Pegada da Coruja’, sob o comando do mestre Vitor Velloso, teve um grande desempenho neste treino. O mestre comandou a batucada para fazer várias bossas em determinados momentos da pista.

O diretor de bateria falou sobre o ensaio. “É um momento muito importante por todos nós da comunidade. Estreia no Especial, primeiro técnico geral pelo Especial. E bateria estamos ensaiando há muito tempo, e hoje foi um dia que serviu para quebrar o gelo também. Todo mundo estava bem ansioso, o gelo foi quebrado, conseguimos entender algumas coisas que a gente vinha fazendo na quadra. Então tem que mexer em algumas coisinhas ali e aqui. Mas no geral foi muito bom, bacana, aproveitar e mandar um beijão para toda comunidade que fez um belo ensaio e um abraço para o presidente Silvão que fortalece o trabalho, diretor Carlão e Japa, enfim, geral da escola que apoia o trabalho”, avaliou.

Vitor também revelou a quantidade de bossas e as paradinhas realizadas. “Isso daí são as aventuras do nosso diretor de carnaval (apagão longo), o Carlão, então todo ensaio técnico ele faz isso daí para ver como está a escola, para ver o canto, se está legal, bacana. É um diferencial da Terceiro Milênio. Estamos fazendo desde 2020, e é isso, foi um apagão que deu para perceber que a escola está cantando bem. Temos cinco bossas. O apagão inteiro não vai para o desfile, vai um apagão antes do refrão de cabeça, que é menorzinho, pega da entrada do refrão de cabeça para a primeira parte do refrão, quando vira no bis do refrão, a bateria volta”, completou.

A estreia da nova madrinha de bateria, Carla Diaz, foi cercada de expectativa. Houve ótima sinergia entre ela, bateria e a comunidade e, além disso, Carla cantou bastante alguns trechos do samba. Está aprendendo aos poucos, mas não tirou o sorriso do rosto.