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Edson Neto, presidente da Liesge, de Vitória: ‘Carnaval precisa parar de ser visto como gasto. É investimento!’

De olho na montagem da megaestrutura montada no Parque Tancredão para os minidesfiles que acontecem no final de semana, Neto recebeu a equipe do site CARNAVALESCO com exclusividade para uma conversa

Flamenguista roxo, torcedor da Chega Mais, empresário e apaixonado por carnaval. Essa é a pequena biografia do presidente da Liga das Escolas de Samba do Grupo Especial, o Edson Neto. De olho na montagem da megaestrutura montada no Parque Tancredão para os minidesfiles que acontecem no final de semana, Neto recebeu a equipe do site CARNAVALESCO com exclusividade para uma conversa a respeito do seu mandato e da história que ele e sua gestão está construindo em prol do carnaval capixaba.

Foto: Divulgação

“Fui eleito na Liga em um momento conturbado por antigas gestões. Cinco presidentes foram na porta da minha casa me procurar pedindo para eu ser candidato. Em primeiro momento recusei. Já era presidente da Lieses, liga do Grupo de Acesso, e não almejava trocar de cargo. No dia seguinte, outro presidente voltou e afirmei que não queria disputa. Se me quisessem como novo presidente, teria que ser de forma unânime. Assim as cessões foram feitas e conseguimos unificar chapas e cargos. Xumbrega, da Boa Vista, é o vice-presidente, Robertinho da Mug no Conselho assim como o antigo presidente da Novo Império, Alessandro Souza. Quando assumi para o quadriênio 2021-2024 deixei claro para todos que no dia que tiver disputa presidencial, não estarei nela. Se tem eleição é porque não está bom. Se for pra rachar, prefiro não estar. Já estou preparado tanto para sair, quanto pra continuar, minha mente está tranquila”, contou Neto.

Não é segredo para nenhum amante da folia capixaba que diversas escolas estão com dívidas a perder de vista, porém, ao entrar na Liga, o presidente se surpreendeu ao ver os números.

“Encontrei a Liga num cenário que já esperava, com escolas endividadas. Mas quando sentei para pedir a vida financeira da Liesge tomei um susto. São dívidas milionárias, que sabíamos da existência mas não dava pra acreditar. A partir daí tracei um plano financeiro com as escolas para poder ter crédito. Nosso carnaval é feito disso. A gente estava começando a procurar os fornecedores para sanar dívidas e chegou a pandemia. Isso fez a própria Liga também se reinventar. Claro que contei com uma equipe excelente com pessoas que amam o carnaval e tinham ciência de que não haveria retorno financeiro. É abdicar do tempo, família, trabalho, para fazer um carnaval diferente. Já havia um avanço considerável no crescimento dos desfiles, por isso procuramos ‘atacar’ na inovação: O que nunca teve por aqui? A partir disso fizemos acontecer. Vi em outras praças como RJ e SP, idealizei e imaginei que poderiam acontecer em Vitória. Nada é impossível”, desabafou.

Dos anos 2000 pra cá, os desfiles se consolidaram como potência e referência da cultura capixaba. Com a modernização da estrutura do palco principal, o Sambão do Povo, as escolas passaram a apresentar espetáculos grandiosos que marcam a memória de quem está presente ano após ano. Mas se por um lado quem está dentro do Sambão era presenteado, quem ficava de fora não conseguia ver um pouco do que era apresentado. O povo estava ficando de fora da folia e isso enfraquecia a festa. Logo no primeiro ano de gestão, Neto e os diretores sociais da Liga resolveram mudar isso. Uma das atitudes foi criação das arquibancadas sociais, priorizando moradores da região. Um acerto.

“Criamos as arquibancadas sociais com ingressos distribuídos e hoje ninguém tira mais isso do carnaval de Vitória. É um dos feitos que mais me emocionam. Temos painéis de Led gigantescos do lado de fora para quem não consegue ou não quer assistir o espetáculo de dentro, essa também é uma tradição do nosso carnaval, muita gente fica apenas na concentração. Outras inovações também vieram como iluminação com tecnologia avançada, novo recuo com painéis gigantes transmitindo o que está passando na avenida. Artistas como o grupo Revelação fizeram show dentro de camarote no último desfile, e para o próximo ano grandes nomes também já estão confirmados. Não vou negar que ainda existe uma dificuldade de comercialização para os desfiles de sexta-feira, não vende tanto ingresso, mas sábado é sucesso total, não sobra ingressos. A imprensa também começou a enxergar o carnaval capixaba como um ótimo produto. Temos como exemplo a rede Gazeta, que querendo ou não é a Globo, estamos em horário nobre na mídia”.

Carnaval não é gasto, é investimento!

A busca por recursos em prol do carnaval é diária. Seja ela municipal, governamental, federal ou privada. A verba gira a roda dos desfiles e garante grandes apresentações. Para efeito de comparação com outras praças, se avaliarmos dados do Rio de Janeiro, o que apenas uma agremiação recebe de verba pública por meio da Liesa é equivalente a toda verba destinada ao carnaval de Vitória, para as 19 escolas. E ainda assim, os desfiles de Vitória se mantém como terceiro carnaval do país, disputando com outras grandes cidades. Neto explica sobre as possibilidades de novos investimentos e portas que podem se abrir.

“Já tenho reuniões agendadas em Brasília. Toda porta que nos receber bem nós vamos entrar. Não existe mais isso de carnaval contar com trabalho voluntário, a profissionalização já aconteceu. Gera emprego e renda. É igual futebol, as escolas que mais arrecadam são favoritas. Afinal, contratam melhor profissional. Houve recentemente uma disputa por um grande artista de Parintins e a escola que ofereceu mais, levou. Se houvesse uma contra-proposta ele poderia ter ido para outra. Hoje as escolas são as donas do evento. Faço o possível para as verbas aumentarem a cada dia. A regra número um da minha gestão é que se pingar 7 centavos, cada pavilhão vai receber 1 centavo. Não tem essa de um recebe e o outro fica esperando, até porque adiantar verba para um também é favorecimento. Com dinheiro na mão um bom presidente negocia muito bem. O que custaria valor x, pode ser comprado pela metade do preço. Um grande gargalo que enfrentamos e as verbas que chegam apenas em janeiro, isso precisa acontecer em novembro no máximo e vou conseguir resolver isso. O presidente precisa ter dinheiro na mão para ter poder de compra. Por que não podemos sonhar em ser o segundo carnaval do Brasil? Quem sabe. Se recebessemos metade de outras praças, nós já seríamos o segundo. Eu não brigo hoje tanto para um grande aumento da verba, e sim para atualização de acordo com os preços que tiveram aumento considerável pós-pandemia. Além das verbas públicas, ainda faltam empresas privadas, inclusive capixabas, que acreditem na gente. E isso vai aumentar. Uma das sortes que tive ao assumir foi encontrar presidentes cascudos, como Xumbrega e Robertinho, que são experientes. E presidentes com sangue novo querendo renovar. O carnaval precisava de mentes novas pensantes. A Liga é totalmente dependente das escolas, minha função é buscar cada vez mais recursos para que o próximo carnaval seja melhor que o anterior”, explicou.

É inegável que os olhos do poder público e privado mudaram desde o início da atual gestão que comanda a Liga. Prova disso é a credibilidade adquirida com o passar dos anos e as mudanças imediatas que aconteceram.

“Pela primeira vez a liga foi 100% responsável pelos desfiles. Antes, o produtor do evento pagava cachê para as escolas. Hoje a Liga paga uma produtora para trabalhar. Tudo que envolve o evento foi desembolsado pela liga. Como estrutura, luz, imposto, Ecad, prefeitura e tudo é muito caro. Cada dia que passa vem um desafio novo. Tenho certeza que conseguimos retomar a credibilidade do carnaval, isso é importante. Hoje empresas privadas de outros estados acreditam na gente. A palavra de ordem é de que se comprarmos, iremos pagar. Sou um cara aberto para as dicas e todos que vem com novas possibilidades eu paro e ouço. A credibilidade também é construída quando as sete escolas do grupo desfilam dignamente, sem uma disparidade entre as ditas favoritas e as demais. Isso existia no passado, duas sobravam na avenida e o título ficava entre elas. Elas podiam errar e ainda assim conseguiam vencer por ter quesitos que ‘sobravam’. Hoje, se elas errarem, perdem o carnaval. O favoritismo é mérito delas, e isso ninguém tira. Mas acaba se tornando uma obrigação por elas possuírem barracão coberto, por exemplo. A safra de sambas me surpreendeu positivamente, bem diferente do ano passado. Cada escola que entrar na avenida pelo Grupo Especial é favorita ao título”.

Os minidesfiles e as próximas ideias

Após o retorno do primeiro lockdown da pandemia, a Liga decidiu que iria fazer um ‘Festival das escolas de samba’ e premiaria a agremiação que se destacasse. Na época, as Lives estavam em alta e tudo foi transmitido no canal oficial da entidade. Ninguém imaginava que era pra suprir a saudade do sambista de vivenciar escolas de samba se tornaria no evento deste final de semana. Os minidesfiles surgem a partir do festival, somado a ideia absorvida pelo presidente Neto ao vivenciar o evento no Rio de Janeiro.

“No primeiro momento as escolas tomaram um susto. Agora, já afirmam que todo ano tem que ter. É uma inovação do nosso mandato, que vi quando fui ao Rio assistir Danilo Cesar e Kléber Simpatia cantarem por suas agremiações lá. Os presidentes entenderam que o maior motivo não era o desfile em si, e sim antecipar nosso calendário para ser preenchido o ano todo. Depois da quaresma, em maio, os carnavalescos já tinham definido enredo. Junho aconteceu o desenvolvimento e em julho nós já tínhamos o primeiro samba de 2024. A antecipação do calendário beneficia as escolas. O que será visto aqui em questão de estrutura, vai acontecer no Sambão do Povo dia 2 de fevereiro. Construímos um mini sambão do povo e vamos fazer igual as escolas fazem o protótipo de fantasia, queremos reproduzir. Apesar de não ter competição, eu garanto que cada uma das escolas vai fazer um show diferenciado. Tenho passado nos ensaios gerais, fui em todas finais de samba-enredo e foram boas escolhas.

Um desejo antigo do folião capixaba é o espaço para que as escolas consigam construir suas alegorias. A respeito do tema, o mandatário não fez promessas, mas garantiu que vai continuar tentando transformar sonho em realidade.

“A estrutura do carnaval, seja concentração, pista ou dispersão, já não comporta mais o tamanho das escolas. Nós vamos conseguir o espaço adequado, estou lutando por isso. E quando o poder público quer, vocês sabem que ele faz. Carnaval tem que parar de ser visto como custo, é investimento e todo político sabe disso. O espaço do Tancredão precisa se tornar a ‘cidade do samba’, ou outro nome que seja batizado. Hoje existe uma limitação de crescimento porque as escolas não têm para onde crescer mais seus projetos. Alegorias não podem ser aumentadas porque não tem estrutura, seja para desfilar ou para guardá-los pós-desfile. No dia que essa gestão se despedir eu quero ter batido a meta que é esse grande sonho do espaço do sambista. Não é promessa, mas quero que saibam que estou brigando por isso com todas as minhas forças, até o último dia que eu estiver na Liga”, finalizou o presidente.

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