Poucos artistas são capazes de transcender o gênero e a manifestação que domina. Um dos que conseguiu tal feito foi Agenor de Miranda Araújo Neto, popularmente conhecido como Cazuza. Originalmente rockeiro e vocalista do Barão Vermelho, ele também compôs canções típicas da Música Popular Brasileira (MPB) em carreira solo. Dos mais cultuados brasileiros de todos os tempos (até mesmo no jeito de se vestir), ele será homenageado pelo igualmente importante e exaltado Camisa Verde e Branco no enredo “O Tempo Não Para! Cazuza – O Poeta Vive”, concebido pelo ex-carnavalesco da agremiação Cahê Rodrigues e hoje tocado por Leonardo Catta Preta. O samba-enredo, composto por Silas Augusto, Claudio Russo, Rafa do Cavaco, Turko, Zé Paulo Sierra, Fábio Souza, Luis Jorge, Dr. Élio e Bruno Giannelli, foi gravado para o CD e para as plataformas digitais no dia 12 de outubro, na Fábrica do Samba. O CARNAVALESCO esteve presente na gravação e conversou com diversos nomes importantes não apenas para a execução do samba-enredo – mas, também, para o desfile como um todo do Trevo da Barra Funda.
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Look especial
A primeira surpresa do Camisa Verde e Branco ficou evidente para quem estava no local – e para quem acompanhar o videoclipe oficial. Ritmistas, coral, baianas e até mesmo os integrantes do carro de som homenageavam Cazuza até mesmo no jeito de se vestir: todos eles usavam uma faixa na cabeça e óculos escuros.
Mas, de acordo com mestre Jeyson, comandante da Furiosa, bateria do Camisa, outras surpresas virão: “A gente tem três bossas prontas para a gravação de hoje, mas vai ter mais dois paradões. São, ao todo, cinco novidades para a galera. E, claro, a caixa-de-guerra do Camisa, que é o que diferencia a Furiosa das outras. Não estou falando que nem uma bateria é melhor nem pior que a outra. Mas, aqui, essa é a nossa característica. A bateria é a nossa caixa, a caixa rufada tão tradicional”, pontuando o que é possível esperar do coração verde e branco.
Existe, é claro, outras surpresas. João Vitor Almeida de Aguiar, arranjador da obra, também destacou o tom da obra: “Quem acompanhar a nossa faixa pode esperar muita surpresa do nosso arranjo. Vai ficar bom, vocês vão ver. Assistam, assistam e assistam”, destacou.
Para emocionar
Se o samba-enredo é uma carta psicografada por Cazuza contando a própria história (com uma dedicatória especial a Lucinha Araújo, mãe do cantor morto em 1990), é claro que o emocional conta muito na gravação. A própria escola é unânime ao afirmar tal vocação da canção. João Vitor Almeida de Aguiar foi um deles: “Hoje vai ser muito coração, não jeito. Falar do Cazuza acho que é uma novidade para todo mundo, ninguém esperava. E a gente montou o arranjo em cima da melodia bonita da voz que fizeram, também. Vai dar tudo certo”, tranquilizou.
Outro João Victor, o Ferro, diretor de carnaval da escola, deu visão semelhante: “Eu acho que é um samba que vai emocionar muito as pessoas. Era nossa principal intenção desde quando a gente começou a construir a sinopse, A gente queria um samba que mexesse com a emoção da comunidade, com a emoção do sambista em si. E, aí, veio esse samba em forma de carta psicografada, que mexeu com a gente, que mexeu com a família do Cazuza, é um samba que a gente sente a presença dele. A gente não está contando a história do Cazuza, o Cazuza está contando a própria história dentro do samba. É um samba diferenciado. Podem aguardar um samba diferente do que a gente já vem fazendo”, prometeu.
Aproveitando para declamar um verso de um dos grandes sucessos do cantor e do próprio samba-enredo (que, por sinal, intitula o enredo), Bruno Gianelli, um dos compositores da obra, falou sobre a vitória em um dos mais tradicionais concursos em escolas de samba paulistanas: “O Camisa é uma das escolas mais tradicionais de São Paulo. É diferente ganhar o samba em uma escola tão tradicional como o Camisa é, é uma coisa muito especial. É muito especial, é muito bacana. E ainda mais pelo enredo ser o Cazuza. Você junta a força do Cazuza com a força do Camisa para fechar uma sexta-feira de desfile. Acho que tudo isso torna tudo ainda muito mais especial do que já era. Ganhar um samba no Camisa seria especial em qualquer grupo, em qualquer momento, em qualquer época da vida. Mas acho que fechar um dia de desfile do Grupo Especial, falando de Cazuza, deixa tudo muito mais especial, muito mais feliz, para o dia nascer feliz”, inspirou-se.
Preparação
Igor Vianna, intérprete do Camisa Verde e Branco, comentou sobre as horas anteriores à entrada no estúdio: “Para mim, antes de uma gravação e de um desfile, a primeira coisa que eu tenho que fazer é dormir. Dormir muito, descansar muito para poder ter a voz o mais cem por cento possível para colocar no CD. Ontem, por exemplo, foi a final do Salgueiro e eu estava cantando o samba da parceria do Xande de Pilares – por sinal, o samba campeão. Eu pedi desculpas aos compositores, ao Xande, ao meu padrinho Pedrinho da Flor, e me ausentei da final. Estou em São Paulo desde ontem, para que eu pudesse descansar. Cheguei aqui cedo, cheguei em São Paulo umas oito horas da noite. Era meia-noite ou umas onze horas da noite, eu já estava dormindo. Fui acordar hoje, já era umas dez e meia da manhã. Almocei, e não almocei nada pesado, para também não atrapalhar no ritual. Fiquei esse tempo inteiro com uma água na temperatura ambiente. E aí tem os segredinhos: um sprayzinho de Hexomedine, uma balinha de Strepsils para ajudar. Esse é o meu ritual”, revelou, aproveitando para falar de compromissos adiados em outra escola tradicionalíssima – e que possui o mesmo nome de bateria do Camisa.
O fato da quadra do Trevo ficar a seiscentos metros a pé da Fábrica do Samba, obviamente, ajuda para trazer a escola, detalhou João Victor: “Com relação à logística, ela é muito tranquila porque a quadra é do outro lado da avenida. Foi bem de boa, viemos com o número máximo pra poder gravar: coral completo, bateria completa. Foi bem tranquilo, a escola veio, ensaiou de boa, o samba pegou, a galera abraçou e podem aguardar um super samba, tanto na gravação quanto na pista. Vocês vão se surpreender e vão se emocionar, é a nossa maior intenção: emocionar tanto a comunidade da Barra Funda quanto todo o carnaval paulistano”, prometeu o diretor.
Ao comentar sobre o eterno dilema entre privilegiar o sentimento ou a perfeição vocal, Igor Vianna prefere o meio-termo: “Eu tento conciliar a técnica e a emoção. Eu tento conciliar os dois, me ligando totalmente nas notas a serem alcançadas e passando também um pouco de emoção para que não saia aquela coisa meio robotizada. É o que eu procuro fazer e vem dando certo. E, hoje, essa será a técnica usada”, detalhou.
Já para o desfile…
Mestre Jeyson revelou qual é o andamento da Furiosa na gravação – e, também, o que será utilizado no Anhembi: “Sim, o nosso andamento nos últimos anos é 144 BPM (batidas por minuto) e vai seguir assim nesse ano. O andamento aqui não é muito para frente e nem é um pagodão, é um ritmo nesse meio termo. Vamos ver de manhã como vai ser. Tem que dar aquela pulsação maior. Mas é 144 mesmo, que dá aquele balanção gostoso”, explicou.
Por fim, Gianelli frisou o que mais o encanta na recepção da comunidade à canção: “Eu acho que esse samba tem tudo para ser um dos sambas mais comentados do ano. A gravação foi sensacional, a bateria do Jeyson tirando onda, brincando, sorrindo, com alegria. Carnaval é alegria, carnaval é sorriso no rosto, é passar a emoção do que é o samba e do que é uma bateria pra quem está assistindo. Acho que tem tudo para ser um desfile sensacional, tem tudo para crescer ainda mais em cada ensaio, em cada ensaio técnico e no desfile também”, finalizou.