A noite da última terça-feira foi de bolinhos de feijoada e mocotó, peixes fritos, carnes bem temperadas e drinks coloridos e bem decorados no Baródromo. O bar dos sócios Felipe Trotta e Vladimir Alexandre, que homenageia as escolas de samba e o carnaval, lançou as novas opções na cardápio em homenagem aos enredos das agremiações do Grupo Especial para 2025. Na ala dos petiscos assinada por Felipe e pela chefe Fabiana Cândido, as seis homenageadas foram Beija-Flor, Grande Rio, Imperatriz, Portela, Salgueiro e Viradouro. Já os coquetéis foram inspirados em Mangueira, Mocidade, Paraíso do Tuiuti, Tijuca, Unidos de Padre Miguel e Vila Isabel e são assinados pelo mixologista Thiago Teixeira.

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Sócios Vladimir Alexandre e Felipe Trotta

Felipe Trotta falou sobre o sucesso do Baródromo e o reconhecimento pelo público amante de carnaval. “O Baródromo é uma trilogia. Começou na Praça Onze. A parte 2 foi na Lapa. E a parte 3, para fechar essa trilogia, é aqui no Maracanã que mistura a essência das duas outras casas. O Baródromo na Praça Onze era mais bar-botequim; na Lapa virou mais uma casa de show. Aqui eu misturei as duas coisas de maneira mais informal, mais aberta ao público, da maneira que eu sempre quis que fosse. Calhou que a pandemia, que foi uma tragédia mundial, empurrou para fazer o Baródromo no local que eu gostaria que fosse, nessa região, e da maneira que eu gostaria. Aos pouquinhos a casa foi aprimorando seu serviço, cada vez mais os amantes do carnaval frequentando e chegamos nesse ponto que esperamos renovar esses votos que temos como público. Isso é um orgulho tremendo. Nós fazemos tudo com muito carinho e muito cuidado, respeitando a história do carnaval, das escolas de samba e o carinho que o publico tem pelas suas escolas.”, declarou Trotta.

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Baródromo, com nove anos completos, hoje se situa na Rua Dona Zulmira, 41 – Maracanã, e funciona de terça a domingo

Este é o segundo ano que o Baródromo cria um cardápio voltado para os enredos do ano das escolas de samba. O bar já tinha em seu cardápio homenagens a Neguinho da Beija-Flor, Milton Cunha, Martinho da Vila, Selminha Sorriso, Laíla, além de referências aos clássicos “Vou invadir o Nordeste” (Mangueira 2002), “De bar em bar” (União da Ilha 1991), “Lendas e Mistérios da Amazônia” (Portela 2004) e “Festa no Arraiá” (Vila Isabel 2013).

“O cardápio do Baródromo sempre foi temático. E ano passado eu tive a ideia de renovar o cardápio usando os enredos do próximo ano. Na minha concepção, isso envolvia toda ideia do Baródromo que é falar de Carnaval na mesa do bar. Aqui a gente já fala de carnaval o tempo todo, ouve carnaval, vê carnaval, agora com um prato homenageia o enredo do ano que vem é mais um motivo para falar do carnaval, de elogiar ou criticar, falar bem ou mal. Esse conceito, que implantamos desde o ano passado e vamos seguir no próximo ano, é fazer um cardápio temporal. Ano que vem esse cardápio vai acabar e vamos fazer o de 2026.”, informou Felipe Trotta.

O sócio Vladimir Alexandre celebra o Baródromo representar 365 dias de samba para os sambistas. “Nós somos um bar que remete ao samba o ano inteiro. O ano inteiro é Carnaval e samba no Rio de Janeiro. Todo mundo espera montar um negócio e dar certo. Como o Rio de Janeiro gosta de samba e carnaval, o Baródromo veio abraçando isso tudo. Nós somos 365 dias samba e carnaval. É uma gratidão absurda pelo público, pelos clientes e amigos. Alguns bares são referência de comida típica, outros de uma bebida de típica, aqui nós somos referência de carnaval.”, disse Vladimir.

Petiscos

Os seis novos petiscos foram idealizados pelo Felipe Trotta e pela chefe Fabiana Cândido. A chefe está no comando da cozinha do Baródromo há 2 anos e tem trabalhado nesse conceito de cardápio temporal. Fabiana contou ao CARNAVALESCO o processo criativo.

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Chefe Fabiana Cândido

“Nós trabalhamos em conjunto, estudamos os enredos, vemos o significado de cada um. E através do significado do enredo, nós elaboramos o cardápio, pensando em ingredientes inusitados. Os seis petiscos são da Grande Rio, da Portela, da Viradouro, do Salgueiro, da Imperatriz e da Beija-Flor.”, explicou Fabiana.

A chefe revela que conhecia pouco de carnaval, mas ser curiosa foi o seu trunfo na cozinha do Baródromo.

“Estou há dois aqui, para mim é uma novidade. Quando entrei, eu entendia nada de Carnaval e fui me apaixonando aos poucos. Eu sou muito curiosa. Quando o Felipe chama para criar um novo prato, eu falo ‘estou dentro!’. Ele conta sobre os elementos do enredo e dá ideias de ingredientes e eu vou para a cozinha fazer os testes. Ele aprovando, a gente bota no cardápio”, relatou Fabiana Cândido.

Beija-Flor – ‘Laíla de todos os santos, Laíla de todos os sambas’

Sobre receitas inusitadas, Fabiana exemplifica com o petisco que representa o enredo da Beija-Flor em homenagem ao Laíla.

“Pensamos em ingrediente inusitados para que a pessoa fale ‘Nossa!’. A Beija-Flor é um bolinho de mocotó, o que surpreende as pessoas, e tem um molho de laranja picante. Os bolinhos ficaram muito lindos”, contou a chefe.

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Foto: Rodrigo Galvão/Divulgação Baródromo

O carnavalesco da “Soberana”, João Vitor Araújo, comeu o petisco e revelou o que achou. “Não podia ser diferente! O petisco da Beija-Flor em homenagem ao Laíla está uma delícia, com a laranjinha. Para quem não sabe, o apelido Laíla tem origem na laranja, porque quando ele era muito pequeno não sabia pronunciar laranja. Ele pedia ‘me dá Laíla’, quando na verdade ele estava pedindo laranja e ficou o apelido carinhoso. Esse petisco está acompanhando essa história”, contou o carnavalesco.

Portela – ‘Cantar será buscar o caminho que vai dar no Sol: uma homenagem a Milton Nascimento’

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Foto: Rodrigo Galvão/Divulgação Baródromo

Para representar a Portela em 2025, Fabiana Cândido e Felipe Trotta recorreram a um pernil acebolado e gratinado acompanhado de polenta frita, montado como se fosse um Sol. “Nós pensamos no pernil gratinado. Ele é marinado 48 horas, assado por 8 horas e é gratinado coberto com muçarela no forno”, contou a Fabiana.

Salgueiro – ‘Salgueiro de corpo fechado’

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Foto: Rodrigo Galvão/Divulgação Baródromo

O petisco que homenageia a vermelho e branco é formado por seis bolinhos de feijoada vermelha em uma cama de sal grosso e servido com um creme de alho e alecrim. “O Salgueiro é um bolinho de feijoada. Mas é de feijoada vermelha, feita com feijão vermelho. E acompanha um creme de alho maravilhoso”, definiu Fabiana Cândido.

Viradouro – ‘Malunguinho: o mensageiro dos três mundos’

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Foto: Rodrigo Galvão/Divulgação Baródromo

Um dos favoritos de Fabiana Cândido, o petisco é composto por charque acebolado, leite de coco, dendê, couve frita e palitos de tapioca e banana da terra. “Para mim é um dos melhores! É carne seca acebolada, com azeite de dendê e leite de coco, acompanhado com palitinho de tapioca e banana da terra. Esse enredo fala muito sobre mata, a gente queria trazer um pouquinho de cada história”, explica a chefe.

Grande Rio – ‘Pororocas Parawaras: as águas dos meus encantos nas contas dos curimbós’

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Foto: Rodrigo Galvão/Divulgação Baródromo

Outro xodó da chefe é o petisco desenvolvido em homenagem ao enredo paraense da Grande Rio. “São iscas de filé de dourado, um peixe de água doce, e vai com um creme de açaí. O pessoal do Pará come muito açaí com farinha, na verdade, com tudo. Esse é perfeito!”, comentou Fabiana.

Imperatriz – ‘Ómi Tútú ao Olúfon: Água Fresca para o Senhor de Ifón’

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Foto: Rodrigo Galvão/Divulgação Baródromo

A escola que narra a jornada de Oxalá ao reino de Oyó para visitar Xangô tem como petisco os seis dadinhos de arroz com quiabo e dendê e maionese de couve-flor defumada no carvão. O prato é contruído tanto para ser uma homenagem a Oxalá – por conta do arroz e da couve-flor – quanto a Xangô – devido ao uso de quiabo e dendê.

Drinks

Para fazer os drinks, o Baródromo convocou o mixologista Thiago Teixeira. O bartender teve o desafio de transformar os enredos da UPM, da Mocidade, do Paraíso do Tuiuti, da Vila Isabel, da Mangueira e da Unidos da Tijuca em sabores de coquetéis surpreendentes.

Mixologista Thiago Teixeira

“É um prazer e um desafio muito grandes fazer essa carta do Baródromo porque, além de pensar em toda questão criativa e sabor dos coquetéis, eu tenho que trazer para dentro dos copos a história do samba-enredo e linkar com as cores da escola. Para mim é um prazer imenso”, declarou o mixologista.

Tuiuti – ‘Quem tem medo de Xica Manicongo?’

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Foto: Rodrigo Galvão/Divulgação Baródromo

Ser o primeiro samba-enredo disponível facilitou o trabalho de Thiago Teixeira ao homenagear o Paraíso do Tuiuti. Thiago reuniu vodca, vermute doce, suco de manga com dendê e espuma de gengibre para fazer uma mistura única para celebra Xica Manicongo. “O Tuiuti foi o mais tranquilo para mim porque, durante o processo criativo, era o único que tinha um samba-enredo pronto. Xica foi a primeira travesti do Brasil e o samba-enredo fala sobre dendê. Fiz uma mistura de suco de manga com dendê que ficou maravilhosa”, relatou o mixologista.

Mocidade – ‘Voltando para o Futuro não há limites pra sonhar’

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Foto: Rodrigo Galvão/Divulgação Baródromo

O bartender revelou que o mais difícil foi transformar o enredo da Mocidade em um drink. Ele postou no lúdico e na imagem futurista e espacial para compor o coquetel. “O que eu tive mais dificuldade foi o da Mocidade, por falar de futuro. Trazer o futuro para dentro do copo foi difícil, mas eu consegui através do algodão-doce, trazendo uma coisa mais futurista para o coquetel, e as estrelas em cima do algodão remetendo ao céu. Coincidente, o samba que ganhou na Mocidade fala bastante sobre céu”, explicou Thiago.

Mangueira – ‘À flor da terra no Rio da negritude entre dores e paixões’

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Foto: Rodrigo Galvão/Divulgação Baródromo

O chamativo coquetel rosa que representa a Estação Primeira de Mangueira é composto por gin rosé com infusão de frutas vermelhas e hibisco, xarope de rosas, suco de limão e água tônica. “Para a Mangueira, eu trouxe um coquetel rosa e a lança-de-santa-bárbara como decoração. Tem gin rosé, suco de limão e tônica”, afirmou o mixologista Thiago Teixeira.

Unidos de Padre Miguel – ‘Egbé Iyá Nassô’

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Foto: Rodrigo Galvão/Divulgação Baródromo

Neste drink, Thiago buscou referenciar a Bahia, origem de Iyá Nassô fundadora do primeiro terreiro de candomblé do Brasil – a Casa Branca do Engenho Velho. O coquetel é feito com vodca, xarope de frutas vermelhas, suco de limão, água tônica e espuma de gengibre. “Na Unidos de Padre Miguel, que fala sobre a Bahia, eu coloquei uma fita do Senhor Bonfim para decorar o copo. Leva vodca, xarope de frutas vermelhas, tônica e espuma de gengibre”, comentou o mixologista.

Vila Isabel – ‘Quanto mais eu rezo, mais assombração aparece’

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Foto: Rodrigo Galvão/Divulgação Baródromo

Thiago Teixeira construiu um coquetel com gin, xarope de abóbora com especiarias, Blue Curaçau, suco de limão, água tônica e espume de gengibre para representar as assombrações da Vila Isabel. O drink azul claro como a bandeira da escola fica mais divertido por ser decorado com um doce em formato de abóbora de típica de Halloween.

Unidos da Tijuca – ‘Logun-Edé: Santo menino que velho respeita’

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Foto: Rodrigo Galvão/Divulgação Baródromo

Um drink azul e dourado foi feito pelo mixologista para representar a escola do Morro do Borel. O drink foi feito com vodca, Blue Curaçau, suco de limão, tônica citrus, espuma de gengibre e glitter comestível dourado. O diretor de Carnaval da Tijuca Fernando Costa comentou a homenagem. “Eu achei maravilhoso! Eu sou cervejeiro, mas acabei de provar e achei incrível. O Felipe [Trotta] e equipe estão de parabéns. Todo mundo falando que as comidas também estão muito boas. É minha primeira vez que eu consigo virar por conta de barracão e estou achando muito legais essas homenagens.”, declarou o tijucano.

Gosto do público

A professora de História Sônia Souza é carioca e dança carimbó. Essa conexão de ritmo e comida a fez se encantar pelo petisco que representa o enredo da tricolor da Baixada. “Comer um petisco da Grande Rio, que homenageará a cultura paraense, e nessa semana do Círio de Nazaré para mim é muito representativo. O pirarucu que a gente come e a peixada amarela no Vero Peso com tacacá, o açaí com peixe. Para mim foi maravilhoso comer esse açaí com gostinho de terra, amarguinho, com peixe frito”, disse Sônia.

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Professora de História Sônia Souza

A professora também provou o bolinho de feijoada vermelha do Salgueiro e o coquetel do Tuiuti. “Experimentei também o do Salgueiro. Temperadíssimo, muito gostoso com molhinho de alho com alecrim. Uma pegada de Exu. E provei o drink do Tuiuti que tem dendê. É bom para dar uma acalmada no orí. Na primeira bicada, eu senti o dendê já achei uma maravilha”, afirmou Sônia Souza.

A influencer gastronômica do blog “Comi! E aí?” Hannah Vaz, de 34 anos, se disse apaixonada pelo menu novo do Baródromo. A torcedora “doente” da Imperatriz Leopoldinse deu seu veredicto sobre o cardápio.

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Influencer gastronômica do blog “Comi! E aí?” Hannah Vaz

“O menu traz bem as nuances do que todos os enredos estão pedindo. Os drinks pensados pelo Thiago Teixeira estão maravilhosos! O fato de ter dendê no drink da Xica Manicongo, peixe do petisco da Grande Rio, o quiabo na Imperatriz falando de Oxalá e Xangô, mostra que foi bem pensado. A feijoada vermelha do petisco do Salgueiro está excelente! É o meu favorito até agora”, opinou Hannah.

‘Carnaval o ano inteiro’

Com o Carnaval 2025 cada vez mais próximo, o Baródromo se prepara para essa renovação a partir da nova safra de sambas-enredo. “No Baródromo, é carnaval o ano inteiro! O pré-carnaval é o que fazemos o ano inteiro. Faltam dois sambas [Mangueira e Beija-Flor] a ser escolhidos, vem essa renovação e nossa roda de samba se inflama com essa renovação, com os sambas que farão sucesso na Avenida”, comenta Felipe Trotta.

Infelizmente, o carnaval paulista ainda não poderá contar com um Baródromo para chamar de seu. O sócio falou sobre os limites de levar o bar para outros lugares.

“Muitas pessoas vem de São Paulo e comentam que deveria ter um bar como esse lá. Ainda não é um projeto meu. A pegada aqui é muito artesanal, estamos aqui no dia a dia. Esse cuidado que temos com a casa dificilmente teríamos se fosse uma franquia. O que torna o Baródromo especial é ser único aqui”, argumentou Felipe.

O Baródromo, com nove anos completos, hoje se situa na Rua Dona Zulmira, 41 – Maracanã, e funciona de terça a domingo.