Por Luan Costa, Matheus Morais e Rhyan de Meira

A Vila Isabel escolheu o samba-enredo da parceria de Raoni Ventapane, Ricardo Mendonça, Dedé Aguiar, Guilherme Karraz, Miguel Dibo e Gigi da Estiva para ser seu hino para o desfile no Carnaval 2025. O resultado saiu por volta das 4h30 deste sábado. A quadra, no Boulevard 28 de setembro, ficou lotada. Última escola a desfilar na segunda-feira de Carnaval, a Vila Isabel levará para a Sapucaí o enredo “Quanto mais eu rezo, mais assombração aparece”, desenvolvido pelo carnavalesco Paulo Barros.

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Neto de Martinho da Vila, como o avô um músico de “mão cheia”, o jovem Raoni Ventapane conquistou a primeira vitória no concurso de samba-enredo da Vila Isabel. Ele falou ao CARNAVALESCO do sentimento após o resultado.

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Raoni Ventapane ganhou pela primeira vez o concurso de samba da Vila. Foto: Luan Costa/CARNAVALESCO

“Não tem palavra que descreva, não tem! É Vila! A escola não é da minha família, a escola é do bairro, do morro, a gente é parte disso tudo! Nós não somos donos de nada, a escola é do bairro, é do morro, só isso”, disse o compositor.

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Também estreante em vitórias na Vila, o compositor Ricardo Mendonça falou sobre o trabalho com a parceria e o convite que recebeu para disputar samba-enredo na escola.

“É uma sensação diferente. Todo mundo sabe que a Vila Isabel é uma escola difícil para ganhar, com uma ala de compositores muito forte e cheia de grandes nomes. Eu estava parado desde 2017, mas decidi voltar este ano. Conversando com os amigos, fui à Mocidade, onde já tinha composto há muito tempo e fui campeão. Fiquei esse tempo parado, e quando o Diego Nicolau me convidou para vir para a Vila, aceitei o desafio. Fazer um samba para a Vila Isabel foi desafiador, mas no final deu certo. Quando a poesia se encaixa, é um presente. A parceria foi muito forte, todo mundo muito dedicado, com uma energia muito positiva. E deu certo. Foi muito trabalho e muita energia boa, e isso se refletiu hoje. Todo mundo inflamou, cantou o samba com alegria, e é isso que a Vila vai levar para a avenida: muita alegria”, disse o compositor Ricardo Mendonça.

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Compositor Ricardo Mendonça

O compositor Gigi da Estiva ressaltou a presença da família de Martinho da Vila apoiando a parceria na final de samba-enredo da Vila.

“Eu sempre trouxe o azul e branco em minha vida. Eu sou compositor no Espírito Santo, na Novo Império, que e azul e branco. Eu sempre carreguei esse azul e branco. E aqui no Rio costuma se diferenciar muita coisa. Aqui eu ganhei muitos sambas, Mocidade, Imperatriz, Porto da Pedra. Fico muito feliz. Eu sou Gigi da Estiva, não sou muita coisa não, mas sou o cara que Deus me deu essa oportunidade, essas glórias de um tudo. E os orixás, que a gente não pode negar a força dos orixás. É a primeira vez e eu tenho o Tinga, que a gente é praticamente familia, que é de terceiro ou quatro grau, mas é família. É uma glória muito grande. E hoje carregar o nome bacana do Raoni, e vocês viram que estava aqui também a filha do Martinho tambem torcendo para o nosso samba, a família Martinho da Vila estava presente. Infelizmente, ele não veio, mas foi uma alegria muito grande e eu vou carregar isso pra sempre no meu coração”.

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Confiante na busca do tetracampeonato para a Vila Isabel, o presidente Luiz Guimarães falou ao CARNAVALESCO da repercussão do enredo, da imersão no laçamento da sinopse e do trabalho dentro da escola para o desfile do ano que vem.

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“É o tamanho da gente optar por esse enredo, e acreditar que esse enredo pode guiar a gente para o nosso tão sonhado tetracampeonato. Estamos acreditando muito na cara do Paulo Barros, a gente está bem otimista aí na nossa narrativa aí. Sonhando, sonhando no mais alto nível possível. No lançamento da sinopse a gente mostrou a nossa força, já deu as cartas do que a gente vai apresentar, do que vai nortear a gente. Não estamos medindo esforços, mais um ano para entregar um grandíssimo carnaval, de fato um espetáculo faremos no mais alto nível possível, porque o carnaval está cada vez mais disputado e a gente tem que estar cada vez se renovando mais para poder conseguir o que a gente almeja que é o título, então foi apenas uma pitada do que está por vir e assim consequentemente a gente fez na apresentação dos enredos e hoje na final fizemos uma linda festa também e assim seguiremos em busca do nosso objetivo. Digo que desde o ano de Petrópolis (2019) é o conjunto de fantasias mais rico. Temos um samba leve que pode de fato impulsionar para termos um grande desfile ano que vem. Acredito muito na força da escola. A safra das outras escolas está muito boa, todas as escolas vão vir no alto nível, vai ser no detalhe, mais um ano no detalhe, acho que quem vence com tudo isso é o carnaval”, garantiu o presidente.

Em entrevista ao CARNAVALESCO, o diretor de carnaval, Moisés Carvalho, revelou o que é esperado da Vila Isabel para o desfile no ano que vem, inclusive, fechando a segunda-feira de carnaval. A escola já começará os ensaios de quadra na próxima quarta-feira e programa para o início de novembro os ensaios de rua.

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“Esperem uma escola alegre, cantando muito, evoluindo com intensidade, com fantasias belíssimas e um samba à altura. A Vila Isabel estará preparada para disputar o título. Paulo Barros está 100% envolvido no enredo. É um tema que tem a cara dele, podem esperar alegorias inovadoras. O Paulo Barros ainda não apresentou o projeto de iluminação, mas o enredo pede uma iluminação especial, e vamos usar isso ao nosso favor. Esse será um ano diferente, com três dias de desfiles. Na terça-feira voltamos ao que já era tradicional. Para nós, não muda muita coisa, mas fechar o carnaval traz sempre uma emoção extra. Por isso eu digo que a Vila vem forte, alegre, e com a intenção de contagiar a Marquês de Sapucaí. A Vila é uma escola com um “chão” muito forte, com um carro de som bem entrosado com a bateria, como temos mostrado nos últimos anos. Pensamos nisso ao escolher o samba. Representa bem a Vila Isabel na avenida. A escolha final do samba foi feita pelo presidente. Ele ouviu todos os departamentos importantes, mas a decisão final foi dele”, disse.

Comandante da “Swingueira de Noel”, mestre Macaco Branco falou ao CARNAVALESCO do trabalho com a bateria e a expectativa para o desfile de 2025 da Vila Isabel.

“Pode esperar uma Vila aguerrida, com um trabalho maravilhoso. O enredo do Vinícius Natal (pesquisador) que o Paulo Barros está montando r vai surpreender muito positivamente na avenida. O samba tem embasamento, conta bem o enredo, ter uma melodia maravilhosa e, claro, faz a nossa comunidade cantar a plenos pulmões para trazer o título para a nossa escola”.

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Macaco Branco também comentou se mais um cabine de julgamento mudará o trabalho da bateria e falou da relação bateria e carro de som.

“O tempo aumentou, mas dentro do cronograma da nossa direção de carnaval, cada quesito tem seu momento para se apresentar. Não vai ser nada diferente do que já estava planejado pela escola. Essa sinergia da bateria e carrom de som é fruto de muitos anos de amizade. Tinga é meu amigo de longa data, mesmo sendo mais velho que eu. Nós dois somos nascidos e criados em Vila Isabel, nos conhecemos há muito tempo. Não é à toa que temos o mesmo nome, Anderson. Eu sou o Macaco Branco e ele é o Tinga, que também é Anderson. Essa energia é maravilhosa. A gente senta, trabalha o samba e faz a nossa escola pulsar na avenida, sempre com muito respeito”.

Intérprete da Vila Isabel, Tinga, falou ao CARNAVALESCO sobre o samba, a parceria com a bateria e sua equipe no carro de som.

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“Uma melodia bem bonita, samba bem alegre, para representar bem a nossa escola, que é a proposta do nosso enredo. E a comunidade chegar juntinha na avenida, para fazer um grande carnaval, se Deus quiser. A gente trabalha bastante, fácil nunca é, né, que a gente tem que chegar sempre à perfeição. A gente faz em conjunto a aula de canto, fonoaudiólogo, para poder tentar chegar na avenida e dar conta do recado e fazer sempre o melhor pela nossa escola. Temos umas coisas aí já em mente, mas a gente está preparando uma grande gravação primeiro, para depois a gente chegar lá e dar o recado bonito. Trabalhamos bastante (bateria e carro de som), procuramos conversar bastante, sempre está junto, procurando sempre fazer o nosso melhor com o samba, depois que escolhe o samba, para gente poder fazer um trabalho bem bonito na avenida”.

Marcinho e Cris, casal de mestre-sala e porta-bandeira da Vila Isabel, conversaram com o CARNAVALESCO e falaram da expectativa para o desfile de 2025, a coreografia e mais uma cabine de julgamento no ano que vem.

“Esperem uma escola alegre, animada e até um pouco ‘aterrorizante’, com certeza. Tenho certeza de que a Vila vai fazer um desfile bem impactante. Ainda não começamos a coreografia. O que podemos garantir é que será uma dança bem tradicional. Nada de coreografias inovadoras ou fora do padrão. O casal da Vila será bem tradicional, isso eu posso afirmar. Eu sou da época em que dançávamos com quatro cabines, então, para mim, não interfere tanto. É mais uma cabine, mas estamos preparadas para isso. Nossa fantasia é uma roupa linda, com certeza. A mais linda que eu já usei em 29 anos de desfiles. É uma fantasia incrível, espetacular”, disse a porta-bandeira.

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“Apesar de querermos assombrar todo mundo, a alegria vem em primeiro lugar. Será um desfile super divertido, com uma energia contagiante. A galera vai curtir bastante. A gente sempre espera o samba ser escolhido primeiro. Só depois disso começamos a explorar a melodia, a letra, e a brincar com o significado da fantasia, o que estaremos representando no dia do desfile e como isso se conecta ao enredo. Esses são os artifícios que usamos para incrementar a coreografia. Aguardamos todos esses elementos antes de começar. Quando comecei no Grupo Especial, já havia quatro jurados. O desfile fica um pouco mais cansativo, porque agora temos quatro pontos de foco, e não mais três. Mas é só questão de se preparar melhor. Isso não muda muita coisa. Sobre a fantasia, a expectativa estava alta desde o ano passado, e fomos agraciados com uma fantasia maravilhosa”, completou o mestre-sala.

Fotos da final de samba da Vila Isabel

O coreógrafo Márcio Jahú, que comanda a comissão de frente com Alex Neoral, disse ao CARNAVALESCO o que esperar da Vila em 2025, o trabalho com mais uma cabine de julgadores e a parceria com o carnavalesco Paulo Barros.

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“A equipe da Vila é muito bem estruturada e muito bem, dialoga muito bem entre si. Está todo mundo muito bem entrosado, todos os setores, só dá pra esperar mais um ano de boas relações e boas conquistas. A gente já está desenvolvendo uma ideia de acordo com o enredo, Alex, eu e o Paulo. Mas o samba também dita muito, assim, os caminhos das coisas. Mas o projeto já está caminhando. Vai ter muita dança, vai ter efeito, vai ter tripé, porque acho que o carnaval e comissão de frente hoje caminha muito para esse lugar. O enredo é a cara do Paulo. Ele está muito feliz trabalhando. A gente está muito feliz trabalhando com ele nesse enredo, porque realmente é o que ele gosta muito de fazer. E ele desenvolve com muita maestria, a gente vai caminhar junto e vai ser um lindo desfile”, prometeu.

Como passaram os sambas na final

Parceria de Raoni Ventapane: A parceria de Raoni Ventapane foi a primeira a se apresentar e trouxe um samba vibrante, composto por ele e outros nomes como Ricardo Mendonça, Dedé Aguiar, Guilherme Karraz, Miguel Dibo e Gigi da Estiva. A apresentação do samba ficou a cargo dos intérpretes Evandro Malandro, Tem Tem Jr. e Charles Silva, que conduziram a obra de maneira impecável e deram muita força para a apresentação. A performance foi marcada por muita energia, com a torcida respondendo com muito entusiasmo, o que tornou a atmosfera na quadra ainda mais animada. Foi possível observar inúmeras bandeiras tremulando inclusive nos camarotes.

A letra do samba consegue descrever o enredo de maneira clara e direta, com destaque para a menção ao “maquinista Capitão”, uma referência ao Capitão Guimarães, figura central na história da escola. Além disso, o refrão principal, “Solta o bicho, minha Vila dá um baile de alegria” remete o grito de guerra do intérprete Tinga e foi um dos pontos altos da noite.

O samba tem “tiro curto” e possui refrões que ficam na mente, o que facilita o canto e a rápida aprendizagem, a apresentação nesta final teve um rendimento forte, se mantendo em um bom nível durante todo momento.

Parceria de André Diniz: A parceria dos compositores André Diniz, Gustavo Clarão, Thales Nunes, Gustavinho Oliveira, Arlindinho e Orlando Ambrósio fez uma apresentação forte e com grande apelo popular, a quadra, que já estava cheia, ficou abarrota durante a passagem da obra, a enorme torcida levou bandeiras, fantasiou alguns componentes e cantou do início ao fim. Sem a presença de Wander Pires, que conduziu o samba durante a eliminatória , coube a Rafael Tinguinha transmitir toda a emoção e intensidade na interpretação.

A letra é recheada de personagens míticos que o enredo pretende levar para a avenida, como o Boitatá, Curupira e Saci, criando uma narrativa rica e totalmente inserida na narrativa. A viagem desse “trem” pelos medos e lendas brasileiras é conduzida de forma brilhante nos versos, enquanto a primeira parte do samba “Deixa a luz da avenida apagar, que a Vila faz tremer assombração” teve o impacto necessário para fazer o público se entregar ao samba.

O nível da apresentação foi alto e em nenhum momento houve queda no rendimento, vale destacar que alguns segmentos da escola cantaram com certa empolgação.

Parceria de Júlio Alves: A parceria dos compositores Júlio Alves, Marcelo Adnet, Rafael Zimmermann, Didi Tupinambá, Américo Genésio e Daniel Paixão foi a última a se apresentar nesta final e trouxe mais um samba envolvente para a disputa, porém, com um rendimento um pouco abaixo dos anteriores. O intérprete Pitty de Menezes, que conduziu a obra durante as eliminatórias, não conseguiu comparecer e o responsável por dar vida à obra foi o cantor Emerson Dias, que deu conta do recado.

Apesar de uma apresentação aguerrida e com muita energia, foi possível observar a quadra mais dispersa durante a passagem da obra.

A brincadeira com o medo foi um ponto forte do samba, criando uma atmosfera divertida e explosiva. Os versos finais da segunda parte da obra “ÔÔÔ… por temor ou por capricho, vou mandar soltar o bicho” elevou o samba e foi um dos destaques da apresentação.