As escolas de samba, desde suas origens, constituíram-se em importantes espaços sociais e de inclusão para uma parte significativa da população carioca, marcadamente preta, pobre e excluída. Constantemente representados na mídia como ambientes marcados pelo tráfico de drogas, pela violência e pela pobreza, os bairros cariocas, em que a maioria das escolas de samba se situam, encontram no carnaval um dos raros momentos em que podem promover o orgulho e a autoestima de seus moradores. Por isso, enredos que colocam o negro como protagonista da festa, resgata o orgulho e eleva a autoestima de seus componentes.
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O Paraíso do Tuiuti abre a segunda noite de desfiles no Grupo Especial com o enredo “Ka ríba tí ÿe – Que nossos caminhos se abram”, do carnavalesco Paulo Barros. A escola vai cantar na avenida histórias de luta, sabedoria e resistência negra. Em seu último desfile com temática africana, a escola emocionou público e crítica, alcançando um inédito segundo lugar no final da apuração, para esse ano a expectativa dos torcedores é de vôos ainda maiores.
“Eu acho que o enredo do Tuiuti resgata a memória do nosso povo, resgata uma estética, politicamente é importante a gente poder construir e resgatar essas memórias que por muito tempo foram esquecidas, foram sofrendo e eu acho que enredo com essa estética, com essas escolhas, resgatam essas memórias e potencializam o nosso povo”, conta o torcedor da escola Alisson Reis, de 25 anos.
Unidos de Vila Isabel terá a missão de encerrar o carnaval carioca neste ano, a escola promete emocionar a todos com uma belíssima e justa homenagem ao seu maior baluarte, Martinho José Ferreira, ou simplesmente, Martinho da Vila. Com o enredo “Canta, Canta, Minha Gente! a Vila é de Martinho!”, do carnavalesco Edson Pereira.
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“O Martinho da Vila é um ícone, ele representa a Vila Isabel, ele leva no nome como uma forma de identidade, ele já deu muitas alegrias pra gente, agora a escola tem a oportunidade de estar retribuindo tudo que ele fez por nós”, destaca Luana Machado, torcedora da Vila, de 36 anos.
A Mangueira promete honrar a história de três dos seus maiores ícones da história, com o enredo “Angenor, José e Laurindo”, do carnavalesco Leandro Vieira, a verde e rosa levará para a avenida a vida de Cartola – o seu maior compositor; Jamelão – seu maior cantor; e Mestre Delegado, o grande mestre sala da escola. São potências negras que marcaram época na escola e fizeram a alegria de várias gerações de apaixonados pela Mangueira.

“Esse enredo é pra gente retornar às nossas origens, em 2011 viemos falando de Nelson Cavaquinho e foi um ano que a gente se reconectou com nossa história, acredito que esse ano o sentimento é o mesmo. Depois de dois anos parados, sem carnaval, vir falando de Cartola, Jamelão e Delegado é se reconectar com as origens da Mangueira”, conta a historiadora e moradora da Mangueira, Layla Silva.
Enredos desse gênero servem como importante espaço para celebrar a história e a cultura de muitos desfilantes que convivem com uma realidade marcada pelo preconceito e um contexto econômico desvantajoso, dar o protagonismo para essas pessoas é mais do que justo, é um dever.