A Tom Maior foi a sexta escola a se apresentar na noite desta sexta-feira, dia 17 de fevereiro, pelo Grupo Especial do Carnaval 2023. Com destaque para o impecável desempenho da harmonia e da evolução, a escola do Sumaré teve um desempenho de acordo com as expectativas criadas no pré-Carnaval e levantou o Sambódromo do Anhembi, encerrando a apresentação com uma hora e três minutos. A Vermelho e Amarelo apresentou este ano o enredo “Um Culto às Mães Pretas Ancestrais”. * VEJA AQUI FOTOS DO DESFILE
Comissão de Frente
A Tom Maior iniciou seu desfile fazendo uma “Saudação às mães pretas ancestrais” na comissão de frente. Sobre um elemento alegórico, dançarinos representaram oito guerreiros-eleyé, sete Iyamis, seis Yabás e Odu, a Iyami da criação. Os guerreiros-eleyé representam pássaros recebidos pelas Iyamis em missão. Durante a apresentação, o oratório esculpido em pedra no fundo da alegoria se abre, revelando uma imagem de Nossa Senhora Aparecida. Três figuras representando mães marcaram a apresentação: Odu, como mãe criadora, as Yabás, mãe da força e Nossa Senhora Aparecida, mãe de amor e respeito.
Uma comissão que alternou grupos cênicos entre os que evoluíam no chão e no elemento alegórico. Uma coreografia impactante e energética da parte dos dançarinos que representaram os guerreiros e Odu, enquanto as representantes das Iyamis mostraram elegância e sincronia. Ao final de cada passagem do samba, a imagem de Nossa Senhora Aparecida surgia do oratório, indicando a presença da entidade diante de todo o culto. Ótimo desempenho do conjunto como um todo.
Mestre-Sala e Porta-Bandeira
Ruhanan Pontes e Ana Paula vieram representando em suas fantasias “A Terra e a Água”. O casal nota 40 em 2022 estreou com o pé direito na Tom Maior, realizando grande apresentação pelos módulos em que se apresentaram. Sempre irreverente, Ruhanan realizou o cortejo com a maestria habitual, enquanto a elegante Ana Paula defendeu o pavilhão da escola com vigor e habilidade. Giros bem sincronizados e minueto bem realizado diante dos olhos dos jurados podem garantir mais uma vez as cobiçadas notas do quesito.
Harmonia
Um canto implacável marcou todo o desfile da Tom Maior. O excelente samba ajudou muito no desempenho da harmonia da escola, que não perdeu o fôlego em nenhum momento. Apagões realizados pela bateria “Tom 30” sempre muito bem respondidos, mesmo naqueles mais longos e ousados. A comunidade do Sumaré brincou o Carnaval com desenvoltura e contribuiu para o espetáculo do conjunto apresentado.
Enredo
O enredo da Tom Maior tem como temática a força da figura da mãe na religiosidade afro-brasileira, através do que há de comum entre a experiência das pessoas com a figura materna pessoal nas diferentes religiões.
Enredos de temática afro tendem a ser de leitura complexa da parte do público, mas o carnavalesco Flávio Campello conseguiu criar uma linha narrativa fluída e com soluções criativas. A mensagem do enredo foi facilmente transmitida através das alas, que entregaram para cada carro alegórico finalizarem os setores de forma muito bem sintetizada.
Evolução
A direção de harmonia da Tom Maior pode se orgulhar do andamento do desfile. Fluída do início ao fim, sem aberturas de espaços em nenhum momento, com as alas sempre bem alinhadas. A comunidade do Sumaré desfilou solta e em ritmo notável, brincando o Carnaval do jeito que tem que ser. Para finalizar com chave de ouro, portões fechados com uma hora e três minutos, com toda direção celebrando muito ao final. Expectativas altas para os 40 pontos no quesito.
Samba-Enredo
Com um dos mais aclamados sambas ao longo do pré-Carnaval, a Tom Maior contou mais uma vez com a maestria do intérprete Gilsinho para liderar a ala musical ao longo do desfile. A obra é assinada pelos seguintes compositores: Gui Cruz, Turko, Portuga, Rafa do Cavaco, Vitor Gabriel, Fabio Souza, Imperial, Junior Fionda, Willian Tadeu e Anderson.
O samba não apenas funcionou muito bem na Avenida, como contagiou o público que em grande volume contribuiu com o coral da Tom Maior que desfilava diante dele. A bateria “Tom 30” fez muito bom uso de momentos chave da obra, com bossas e apagões sendo presença constante por todo o desfile. Um desempenho geral do quesito para sempre relembrar com carinho.
Fantasias
As fantasias no primeiro setor representaram elementos da lenda da criação do mundo na mitologia iorubá. No segundo, a ligação de elementos da natureza africana com a ancestralidade. O terceiro setor foi todo dedicado às Obirinsás, em uma única ala enorme, mas com fantasias diferentes nas colunas, formando um grande tapete colorido. Já no último setor, ritmos de celebrações religiosas brasileiras marcaram presença.
A maneira como a Tom Maior trouxe as fantasias no desfile permitiu uma leitura não tão difícil para os padrões do estilo do enredo. Houve apostas em diversidade de fantasias entre as alas, com destaque para a já citada ala das Obirinsás, que foi um verdadeiro espetáculo e serviu de tapete para o carro que veio em seguida. As roupas eram volumosas e ricas em detalhes, contribuindo para a grandeza do desfile.
Alegorias
As alegorias da Tom Maior foram dedicadas às diferentes divindades retratadas no enredo. O Abre-alas representou “A criação do universo na cabaça de Odu”, enquanto os carros dois e três representaram respectivamente “As Yamis e os Eleyés” e as “Yabás”, com o último carro sendo o “Adurá para as Santas Pretas”.
Um conjunto alegórico diferente do habitual de São Paulo, apostando majoritariamente em um piso baixo com esculturas altas. Cada alegoria tinha sua própria identidade muito distinta uma da outra, mas que tinham na beleza e alto padrão como marcas em comum. É preciso se atentar para problemas de iluminação em duas das alegorias. O globo no topo do Abre-alas continha faixas de LED apagadas ao centro, enquanto no terceiro carro havia espaços para refletores que estavam ausentes, mas deixando os conectores de tomada como elementos estranhos. Caberá da interpretação dos jurados possíveis deduções.
Outros destaques
A bateria “Tom 30” do presidente e Mestre Carlão mais uma vez teve um desempenho irretocável. Ousada, lidou com o samba com maestria e carinho, e engrandeceu o já excelente espetáculo apresentado pela Tom Maior. As passistas que desfilaram à frente da ala das Obirinsás estavam espetaculares, e o que se viu por todo o desfile foi o sentimento de um digno culto às mães pretas ancestrais.
A comunidade do Sumaré tem motivos para sair do Sambódromo do Anhembi com as expectativas elevadas. Um desfile de conjunto do mais alto nível, digno de uma das escolas que conseguiu a pontuação máxima em 2022. Agora é aguardar para ver se terça-feira o roteiro se repete ao menos nos números, o que pode significar muito em pleno cinquentenário da Tom Maior.