APRESENTAÇÃO

A Unidos da Tijuca, no carnaval de 2024, embarca em uma viagem a uma Portugal mítica e mística repleta de fábulas. Um enredo que contará, em clima de encantamento, fatos, mistérios elendas populares que paíram sobre a formação dessa nação.

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Nessa história, um dos protagonístas será o “Fado”, que em seus múltiplos significados, além de representar o gênero musícal típico lusitano, traz consigo a ideia de destino e de fabulação. Nesse jogo de palavras o “Conto de Fada” se torna “Conto de Fado”, o lúdico e o imaginário interagem com as histórias narradas, inventadas, repaginadas.

“OFIUSSA, a Terra das serpentes”, o nome grego dado na mitologia a Portugal, é o ponto de partida desse nosso relato cantado, contado como um “Fado”. o destino. Está selado o destino da Unidos da Tijuca, víver essa experiência cheia de fantasia, a alma de todo carnaval.

Traremos a história dessa nação que se notabilizou pelos grandes feitos no passado, pelas conquistas e reconquístas, por suas lendas e mistérios do além mar, uma tradição oral que, ao longo do tempo, criou versões e mitificou personagens heroicos. Essas histórias, incorporadas ao imaginário do povo português, perduram até hoje, compondo um mosaico multifacetado de culturas.

Por fim, o enredo ressalta o grande mistério da fé e de um segredo bem guardado quando todas as crenças se unem em oração, em consagração através de milagre e aparição. Vale a pena conferir? Tudo vale a pena… por que Alma Carnavalesca não é pequena.

SINOPSE

Em um mundo de mitos e lendas, recorremos a Orfeu da Conceição como nosso Aedo, narrador e condutor da história. Descendente do mito grego, ele, que conhece o passado, o presente, e o futuro, ele, que por amor desceu “ao abismo da saudade, aos confins da eternidade”, aprendeu a cantar, contar e interpretar histórias, principalmente, as que dizem que nunca existiram. Depois de viajar por muitos séculos, nosso Orfeu, juntando as lendas, tentou fazer um fado, mas quis o destino que saísse um samba fadado… fadado a contar como as histórias de lã acabaram sendo também as histórias de cá.

1. Hoje a Tijuca é o pescador de histórias, essas que flutuam nas vagas de um oceano mágico, imaginário, de espumas que rendam e bordam personagens.

Ó, mar salgado! Quanto de teu sal vem dos “fados” de Portugal? És o mar cantante que dedíilha uma lira e versa versos de Orfeu, que entoa tudo aquilo que não se prova existir, que mareja nos olhos do horizonte distante e que, em seu vagar constante, se faz ouvir, “do nada que é tudo”, e que cisma em nos contar.

Vai buscar, no tempo distante, “OFIUSSA”, o Reino mítico, terra das serpentes que residiu nas épicas linhas do poema de Homero; páginas de feitos heroicos daquele Odísseu, que singrou o mar, fora do azul Egeu, num desvio aventureiro, para além das colunas de Hércules, ao desconhecido para desvendar o mistério de um mágico lugar.

Descreve do alto de um castro imponente, a morada encantada da mulher, rainha serpente, fadada à solidão e carente, a governar um povo hostil, temido por todo e qualquer navegante. Diz o destino, fado, por ironia, que ela se deixou seduzir, um dia, por esse tal guerreiro errante e que por ele fez de pedras se erguer uma cidade deslumbrante, Olissipo, Lisboa, disposta à foz do Tejo, que brota do desejo como a cidade de Ulisses em honra ao bravo herói de Tróia visitante. Fado que canta traição e ciúme que se faz eternamente como uma ardente lenda de amor.

Contam suas águas, em melodia, nos acordes dessa lira do delírio, que nessa terra, um dia, se deixou desvendar o segredo guardado das naus fenícias, que serias tu a terra mágica das riquezas escondidas, da prata e do ouro de Ofir.

Foste, então, de sua praia bravia, disfarçada em brumas, de onde esse tal tesouro escorria, o raro metal que luzia no rico trono de Salomão. Seria lá a mina resguardada pelo negro rochedo dos cavalos de Fão, o eterno guardião, que ora se esconde para emergir das marés e proteger-te dos grandes olhos da cobiça.

Eis o desafio do conto que aumenta um ponto.

2. Permanece o mistério…

Foste, em tempos ídos, a terra pisada da grande caminhada dos povos na idade do bronze. Esses que te confiaram a magia druída dos celtiberos e que te apresentaram a crença pagã de primitivas divindades e seus cultos a florescer e festejar primaveras.

Também foste o refúgio dos povos que te ofereceram a celebração do vinho e te trouxeram as cepas para germinar, na fertilidade de seus vales, espalhando, em teu solo, tribos, reinos sem reinado.

3. Serviste também como palco constante de invasão de impérios ricos e dominantes, e viste a tua terra escrava, por tempos de muito tempo… uma era; mas, que também se levantou altiva, pois lutaste batalhas, forjaste heróis do solo lusitano e triunfaste sob a espada e a coragem do mito herói Viriato – aquele te fez conhecer a breve liberdade e te fez nascer um reino!

Mas um dia, o tempo não te fez estável a gozar da soberania e viveste um novo domínio que se arrastou por longos mil anos. Uma era que modelou costumes, crenças, língua, hábitos e arquitetura; que te dera segredos mágicos, receita de sabores; que compartilhou saberes, encantarias e sortilégios, dando-te o mosaico: um rabisco de tez forte, de traços e de contornos morenos, mouriscos…

Passaram-se centenas de “mil e uma noites” nesse teu “Conto de Fado”….

4. E finalmente se batizou, como o conhecemos, Portugal; transformaste em reino de vocação e de ímpeto ao mar, pois é, de fato, fado, porque “assim a lenda escorre ao entrar na realidade e, ao fecundá-la, decorre”.

“Navegar é preciso”, nesse lendário lugar, onde, por mais que se procure diferir, tudo rima com mar, desbravar, invadir, glorificar, com tanto fado de amar, lança homens de coragem ao mar, em velas que se inflam e partem avante, de Sagres, o saber sem par.

Seguindo o caminho sobre as ondas e, assim, conhecer, desvendar, sincretizar mistérios mundo afora. Dos ilês de África, contidos nas conchas do Ifá, lavar a alma, o espírito de aventureiro de sal e de sol, ao vento, percorrer no intento, contornos do Reino de Matamba até as praias de Zanzibar.

E é dessa forma que o Fado, navegador errante, segue o rastro de aroma inebriante, de especiarias distantes, no Índico mar de Samorim, a beijar ardentemente, com gosto de cravo e de canela, a Costa do Malabar. Fado que ainda mais vagueia, rabiscando, nas águas, imagens alheias, palavras soltas que Camões irá juntar e ilustrar naquela famosa viagem, quando os navegantes chegam à Ilha dos amores, grande e bela, e encontram as ninfas a espera, e depois de um descanso profundo, se desvela a “Máquina do Mundo”, total explicação da vida, verdade que fora escondida.

Ao sabor do vento ou na deriva da calmaria, seu fado desliza lento e tece encontro e conhecimento, da terra da seda, negócio da China milenar… mas, que também vislumbra a miragem de paraísos selvagens, da “ilha de Vera Cruz”, de “Pindorama” ou mais além, as terras da aborígene Guiné no desconhecido e longínquo mar da Oceania. Ao longe, sempre e forte, ouve -se a voz do Velho do Restelo, consciência crítica e apelo contra a cobiça desmedida, desvelo, voz que entoa o alerta desse fado, contra a ganância sem fim, a voz de empatia com cada terra conquistada e invadida, voz ainda hoje ouvida.

5. Esse Fado – que hoje é o nosso canto – vem agora cumprir seu ideal ao revelar, com grandeza e encantos, versos do pequeno, imenso Portugal. Através de seus poetas que descrevem jeitos e maneiras, os nossos descreverão um pouco dessa gente que se espalhou ao mundo e fez da nossa a sua pátria também.

Hoje , assim como o fado, inventamos um mar nessa Tijuca, um vaivém de encanto que se veste, imponente e orgulhosa, a ostentar suas “ eiras e beiras”, com o seu “Samba Fadado” a se unir num orfeão que ecoa ao cantar esse conto. Vem festejar e te abraçar, perfumada de flores, de alfazema, de cravos e tantas outras cores e 6 se cobrir de encanto, de devoção, de cantaria e de fé num desfile em romaria.

Abençoado Portugal! Que assim seja o vosso nome, por todos os Santos, filhos do seu chão.

Que Fátima, com seu último segredo, nos faz descobrir que também és “Aparecida “ e nesse enredo, esse Fado de sambistas“ , “Orfeus do Carnaval “ és também Oxum e todas as Yabás, porque toda mãe é rainha em oração e todas as crenças se unem em perdão!

E roguemos a Deus que leve os nossos corações com fervor ao seu sagrado Rosário na Cova da Iria, que a sua graça esteja presente, na Unidos da Tijuca, no seu grande dia!

Amém!

ALEXANDRE LOUZADA
Primeiro setor:  FADOS de Ofiussa e Ofir
Segundo setor:  FADOS de magia
Terceiro setor: FADOS invasores
Quarto setor:  FADOS à  beira mar
Quinto setor: FADOS d’alma “portuguesa com certeza”
Sexto setor: FADOS dos segredos da fé