A Pérola Negra apresentará o enredo para 2023: “Prepare o seu coração: Jair Rodrigues, Festa para o Rei Negro”, ou seja, uma homenagem para Jair Rodrigues. Um dos maiores ídolos da música popular brasileira, faleceu repentinamente em 2014. Na homenagem da agremiação paulistana, a ideia é trazer a história do ‘Rei Negro’ através da sua discografia e tem elementos como o amor pelo carnaval que promete ser ponto marcante. Buscando o retorno para a elite em 2024, a Pérola Negra foi rebaixada em 2020 e ficou no 3ª lugar no Grupo de Acesso I em 2022. Será a sétima escola na pista no domingo, dia 19 de fevereiro.
Para o carnaval de 2023, o carnavalesco Cláudio Cebola assumiu o projeto e segue sua linha musical, como explicou em conversa com o site CARNAVALESCO: “Claudio Cebola tem sempre essa tendência da vertente musical nos carnavais. Apesar de ter parado dois anos na pandemia, não fiz carnaval, meu último enredo em São Paulo foi no Camisa Verde e a temática de música popular brasileira, foi Carlinhos Brown, o último homenageado. Mas vim de outras vertentes como Caymmi, João Nogueira, Milton Nascimento, Elba Ramalho, não tinha como não trazer de novo. Apesar de outras agremiações terem trazido, sofri um pouco de crítica. Mas Jair Rodrigues não é um intérprete de um enredo só. Ele cabe em vários enredos, tem tantas outras vertentes sendo apresentadas e porque elas cabem em outros enredos. Jair cabe no meu enredo, que na verdade, não vem com a proposta da bibliografia, vem com a discografia do maior intérprete negro da música popular brasileira que foi Jair Rodrigues. E essa vertente discográfica que iremos apresentar na avenida”.
Processo de pesquisa: o amor pelo carnaval descoberto
Um dos pontos principais no processo de pesquisa do carnavalesco e que estará no fim da agremiação na pista é justamente a relação de Jair Rodrigues com o carnaval. Cebola mostrou descoberta importante que será bem abordada na apresentação da Pérola Negra em 2023.
“Uma das curiosidades que não sabia muito da paixão dele do carnaval. Sabíamos do Rei Negro, enredo antológico do Salgueiro. Mas nem sabia que ele foi intérprete, e também era um dos compositores do samba. Essa paixão dele me surpreendeu muito, por isso quis trazer como a gente está no carnaval, trouxe esse flashback dos carnavais memoráveis da década de 60, principalmente Salgueiro e Mangueira. É um carro que tem uma coisa bem nostálgica e foi uma das curiosidades que me fez trazer uma plástica. Dentre outras curiosidades, Jair era muito irreverente, foi um dos personagens caricatos da música popular brasileira, sorriso sempre estampado, feliz, viveu, cresceu e morreu feliz. Deixou um legado, herança musical forte na família deixou Jairzinho, tem Luciana Mello, e esperamos tê-los na avenida com a gente. Essa homenagem com certeza vai ser ao mestre Rei Negro, maior interprete da música popular, que considero e o Brasil considera, que foi e é Jair Rodrigues”.
Fantasias e alegorias
Cores não faltam para a Pérola Negra, agremiação da Zona Oeste veste vermelho, azul, branco e preto, portanto, uma grande variação. Ajudando o trabalho do carnavalesco Cebola que explorou as cores em seu trabalho de fantasias e alegorias, explicando um pouco sobre e que não virá com ‘nostalgia’.
“Na verdade, não gosto que combine muito com as cores da escola, porém as cores do Pérola me fascinam, o preto, o azul e o vermelho são coisas que me remetem a coisas que gosto. Vou puxar bem os festivais de música. Ele vai vir com nostalgia do preto e branco, não, o Pérola vem com as cores dele, bem evidente no primeiro setor apenas, depois não tem como, entra nas matas de Oxóssi como diz a letra, revoada de pardais, sábia, araras, todo esse universo da mapa, venho com revoada de borboleta que farão passagem de Oxóssi na avenida. Então são cores críticas, paleta cromática bem intensa. Termina lógico com as cores, divisão bem legal, da mesma forma que dividi o segundo, só que foi na metade. Da metade da frente e traseira, entre a linha sertaneja, um verde que explora matas e um colorido das favelas do Rio de Janeiro, carro todo grafitado, onde exaltamos as negras, nessas favelas, barracas, tem cabrochas e malandros se apresentando, que era inspiração dele, de Zé Kat. ‘Eu sou o samba, sou natural, sou do Rio de Janeiro’, a música já dizia e ‘faça a alegria para milhões de corações brasileiros’, então a gente vem com a malandragem. É lógico que malandros e cabrochas do terreno lembravam também do povo de rua como as padilhas, os tranca ruas, então tudo isso no carnaval. O final exploramos as cores da Mangueira, verde e rosa, e do Salgueiro, vermelho, prata e branco”.
Ponto chave do desfile
Para um carnavalesco é sempre complicado dizer qual parte do seu filho é a melhor, assim como muitos dizem em nossas visitas nos barracões. Pois o carnavalesco da Pérola, acredita na força do último setor como um ponto de destaque no desfile da escola.
“Gosto de tudo, espero que as pessoas gostem. Mas o último carro, da Mangueira e Salgueiro, para quem gosta muito de carnaval, apaixonado pelo carnaval carioca. Lógico que fazemos carnaval para a terra da garoa, eu sou apaixonado pelo carnaval daqui, é aqui que meu nome se estende, apesar de vir do Rio, e ter trajetória longa no carnaval do Rio. Mas é São Paulo que devo muito, e teremos lembrança muito boa dos carnavais do Rio neste enredo do Jair Rodrigues”.
Cebola carnavalesco, o seu dia a dia
O carnavalesco de uma escola de samba vive intensamente o projeto dentro de meses, e cada um tem seu estilo no dia a dia, a intensidade no trabalho, as ações. Na visita no barracão, deu para sentir Claudio Cebola bem ativo junto com os artistas, auxiliando na preparação de peças e ao ser perguntado sobre o seu estilo, contou um pouco e aproveitou para citar a dificuldade do Grupo de Acesso I em 2023.
“Moro dentro do barracão, internado há meses, larguei casa, hotel, é muita dificuldade financeira grande. A presidente vem com dificuldades passadas, então a verba nunca está integral. É um carnaval difícil para todo mundo, será um carnaval à parte, temos as maiores escolas do carnaval de São Paulo neste grupo. Considero um grupo de elite, vai ser, parada dura, 11 contra 11, não vejo favoritismo, apesar de ter escolas de nome, a luta será de igual para igual, cada uma tem seus artifícios, cada um vai ter a sua forma de expressar a arte. E a disputa está entre as duas linhas amarelas, ninguém cantando favoritismo onde tem Vai-Vai, X-9, Colorado, Pérola, Camisa…”.
Relação com o carnaval paulista
Carioca que está cada vez mais enraizado em São Paulo, ou melhor, no carnaval paulista, Cebola contou um pouco sobre os trabalhos desenvolvidos na terra da garoa.
“Entrei aqui em 2000 na Tom Maior com Marquinhos, só parei que fui assinar carnaval na Padre Miguel e fui segundo carnavalesco com Cid Carvalho em 2008, no Quinto Império do Brasil, falando de Portugal, outro ano assinei sozinho na Padre Miguel, foi Machado de Assis e Guimarães Rosa. Daí regressei para Mancha que já tinha feito, e voltei para o Águia, onde tinha feito, e sai do Águia, passei temporada na Tom Maior, tive o episódio em 2018 na Tom, que já ficou para trás, foi resolvido. Tive que retornar para o Acesso depois do episódio, faz parte, espero sair do Acesso e não voltar mais”.
Estrutura e dificuldade
A Pérola Negra assim como as agremiações do Grupo de Acesso I estão instaladas na Fábrica do Samba II, na Zona Norte de São Paulo, perto do Anhembi. No início, uma estrutura improvisada, mas que foi ganhando uma forma ao longo dos anos.
“Estrutura faltam algumas coisas, mas nem dá para falar nada, você pega o maior carnaval que é o do Rio de Janeiro, e vê os barracões, tirando a Cidade do Samba, Acesso I e II, não chega nem perto do que tem em São Paulo. Aqui tem área de escape, tem escolas dentro de um padrão que é considerável para fazer o carnaval. Tem vestiário, cozinha, banheiro, tem uma área, um portão, entrada, segurança, guarita, então não tem como reclamar. Lógico que precisa melhorar, alguns pontos revistos, mas só agradecer e pedir para o carnaval nos sucumbir”.
Entrando em cada setor que contará no enredo de Jair Rodrigues, Cebola explicou um pouco resumido antes de falar setor a setor que virá no desfile: “Ela se divide desde a trajetória sertaneja, até sua veia sambista, conhecer o Rio de Janeiro, a Mangueira, o Salgueiro, amigos como Zé Kat, onde ele interpreta a voz do morro. Iremos passar por toda essa gama que ele se mostrou ser, grandes intérpretes e obras”.
Setor 1: “Abrimos o carnaval com a moda sertaneja, não poderia ser diferente, Jair Rodrigues vem tocando o berrante, abrindo a porteira, vaqueiro de profissão que foi a última música apresentada na novela Pantanal. Começamos com essa linha bem sertaneja”.
“Passando para musicais, o abre-alas vem tocando essa boiada, a comitiva, pedindo passagem para a chegada dos festivais de música. Foi com uma música sertaneja, que é disparada, ‘prepare o seu coração’ que Jair ganha o seu primeiro festival da canção. E a gente vem de novo ressaltando os festivais da música popular brasileira. É um carro imenso, onde retratamos toda vida e obra discográfica do Jair ao lado da pequena notável. As pessoas falavam que a pequena notável era Carmen Miranda, realmente, o apelido da Carmen Miranda era pequeno notável, e da Elis era pimentinha. Mas poucos sabem dos bastidores, por ser pequeninha e notável, Jair chamava Elis de pequena notável, a minha pequena notável. Fazemos essa trajetória até o fino da bossa, onde eles fizeram durante quatro anos na TV Excelsior, o programa. E esse encontro, partimos com ele no abre-alas da escola, o encontro dele com Elis”.
Setor 2: “Passamos para o segundo setor, ainda na linha sertaneja, para quem não sabe, não foi Chitãozinho e Xororó que interpretou a ‘Majestade e Sabiá’ pela primeira vez, canção e letra de Roberta Miranda. Essa canção foi dada para o Jair, pelo próprio Chitãozinho, que apresentou Roberta, e ele foi o primeiro intérprete de ‘Majestade e Sabiá’, então esse segundo carro, essa segunda vertente. Terminamos a veia sertaneja dele com majestade e sabiá, carro que vai representar, Oxóssi, deus da mata, vem revoada de pardais, onde vem a majestade e o grande sábia, enfim, literalmente, trouxe ao pé da letra da música. Transformei esse carro. Mas esse carro tem duas situações musicais. Ele termina a vertente sertaneja e começa a veia sambista dele. Onde Jair conhece os morros do Rio de Janeiro, então atrás Oxóssi, das matas, vem esse terreno, e nele conhece as cabrochas e malandras que inspiram ao lado de Zé Cat, a voz do morro, o morro não tem vez. Toda essa linguagem sambista é apresentada na segunda alegoria”.
Setor 3: “Para finalizar, já que sai do Morro e está no Rio de Janeiro, ele se apaixona totalmente pela cidade, pelo Salgueiro, sua escola de coração. Salgueiro de eternos carnavais, para quem não sabe, quem batizou o Salgueiro vai saber agora foi a Mangueira, eles fizeram a música ‘vem Didinha, uma homenagem a Salgueiro e a Mangueira’, é com esses dois baluartes do carnaval, onde o baluarte da Perola Negra, nossa velha guarda, vai saudar a chegada da Mangueira e do Salgueiro dos eternos carnavais, década 50, 60, onde Jair foi padrinho na verdade, e também se consagrou como Rei Negro do Salgueiro. Foi autor desse samba épico, e terminam a discografia, com esse mundo, como é nosso mundo, a magia do carnaval”.
Recado para comunidade
“Tem que esperar minhas loucuras, se o povo vai gostar das loucuras que faço. É um carnaval cheio, não está um carnaval politicamente correto. Cada setor vai ter uma explosão determinada para aquele tipo de explosão que quero determinada. Pode ser nas cores, matéria humana, pode ser visual de luz, muito efeito de painéis de LED, é contar que tudo isso dê certo. Que a comunidade venha aguerrida. Que o trabalho seja sacramentado, e com a força da comunidade que a presidente Sheila, agradeço pela oportunidade de fazer um enredo autoral, gosto de fazer enredos autorais. Com a necessidade de ter verba, uma verba extra, buscar enredo patrocinado, mas até para buscar patrocínio, tem que saber buscar e está muito difícil. Mas no produto final o carnaval de São Paulo precisa ter mudanças também, para poder continuar ostentando a força que tem aos longos dos anos, caso contrário é perigoso sucumbir”.
Ficha técnica
Alegorias: 3
Alas: 17
Diretor de Carnaval: João Ricardo (Jhony)
Diretor de barracão: Marcelo Tônico
Supervisor de fantasias e atelier: Sheila Monaco (fantasias feitas no barracão)