Segue a série “Barracões” do site CARNAVALESCO. A visita retratada nesta reportagem fala sobre a Colorado do Brás, escola que retorna ao Grupo de Acesso I do carnaval de São Paulo, que não era disputado pela escola da região Central da cidade desde 2018, quando sagrou-se vice-campeã do segundo escalão da folia paulistana e retornou ao Grupo Especial após vinte e seis anos. Para retornar ao principal pelotão do município, a agremiação terá como tema “A Ópera de Um Pierrot”.

Fotos: Will Ferreira/Site CARNAVALESCO

A associação com o famosíssimo personagem do carnaval italiano renascentista é óbvia – e também será abordada na apresentação. Mas a escola não falará única e exclusivamente da história do apaixonado pela Colombina. Pelo contrário: o desenlace final do desfile será, justamente, o amor do componente pela Colorado do Brás – similar ao do casal retratado há cerca de quinhentos anos das mais variadas maneiras.

O detalhamento é feito por Anselmo Brito, carnavalesco da escola. “A ideia da trama dessa grande ópera do Pierrot é abrir a cortina de uma história romântica e trazer esse romantismo e essa luta pelo amor e pela paixão desses personagens envolvidos para a história da escola. Nós vamos pegar essa história, a difícil paixão entre esse plebeu pela grande princesa, ninguém mais que a Colombina. Nisso, ele faz várias declarações de amor, porque amar vai além de tudo isso, como diz o escritor. O amor é infinito. Em cima dessa frase e desses personagens, a Colorado vai trazer para o seu personagem, o componente, o amor que ele tem pela escola”, pontuou.

Como surgiu a ideia para o enredo?

Após o rebaixamento em 2022, a Colorado do Brás fez diversas mudanças na equipe. Uma delas foi, justamente, em uma função importantíssima para o desenvolvimento do enredo. Fernando Dias e Yuri Aguiar começaram o ciclo para 2023 como carnavalescos, anunciados no mês de maio. Em agosto, entretanto, Fernando, por motivos pessoais, se afastou da agremiação. No mesmo mês, Anselmo chegou para conduzir os trabalhos.

A ideia do enredo, entretanto, vai além de tal cargo: passa, sobretudo, pela direção da escola. “Nós temos um diretor de carnaval, o Jairo Roizen, e um excelente enredista e pesquisador de enredo, o Thiago Morganti. A ideia surge desse grupo, juntamente com o presidente da escola de samba [Antônio Carlos Borges, o Ká], com a ideia de que a Colorado queria ter um enredo alegre, que também contasse um pouco da história da escola, da paixão. Uniram tudo isso e surgiu ‘A Ópera de Um Pierrot’”, explica Anselmo.

Assim como os componentes, a direção também “encampou” o projeto iniciado por eles próprios – e, na opinião do carnavalesco, está cada vez mais engajada. “A escola vem motivada, então ela já tem a motivação essencial para um desfile: A motivação de um presidente que é apaixonado, ele é o nosso Pierrot particular, que está aqui. Ele é apaixonado pela Colorado do Brás. Ele tem uma paixão muito grande pela escola e por essa comunidade. Ele se inspira nisso: querer fazer o melhor. Ele te dá todas as condições para que você possa desenvolver o melhor. O que estamos construindo juntos como base é ser fiel ao enredo, trazer luxo para a escola e, também, impactar. Vai ser um carnaval com muitos impactos. Tanto da parte de cenografia, das alegorias, quanto o de fantasias”, destacou Anselmo.

Identificação com a escola

O profissional aproveitou para aprofundar a importância histórica do enredo para a agremiação como um todo. Rebaixada para o Grupo de Acesso I em 2022, a Colorado foi penalizada em meio ponto por merchandising. Caso tal situação não acontecesse, a instituição ficaria na oitava colocação. “A escola passou por um processo difícil, retornando ao Grupo de Acesso I, onde fez um grande carnaval. Queremos mostrar que tudo vai ter um final feliz, como na história do Pierrot e da Colombina. E, claro: por conta da paixão do componente, há de chorarmos porque estaremos retornando ao nosso lugar”, ressalta Anselmo.

Em outro momento, ele próprio personifica quem, afinal de contas, seria o Pierrot da instituição: “O Pierrot é a própria Colorado. Sou seu Pierrot e, também, sou Colorado. É bater no peito e exaltar, como diz o nosso samba”, orgulha-se.

Outra pessoa citada por Anselmo é a primeira-dama e diretora de carnaval, Karyn Fernandez. “Ela tem todo o cuidado e esmero Assim como o presidente Ká, ela vivencia isso loucamente. Isso tem que ser enfatizado. Ela é responsável pelo chão, pelas fantasias, pelo cuidado, pelas compras. É ela quem corre juntamente com toda a equipe, com costuras e adereços”, elogia.

Experiência e conhecimento

O carnavalesco conta que algumas experiências pregressas pessoais e acadêmicas ajudaram no desenvolvimento do enredo a ser apresentado na avenida. “A minha formação é em cenografia. Como todo cenógrafo, temos a necessidade de buscar a fidelidade dos atos presentes. Esse enredo, para mim, foi um presente. Ele é tese, para nós que fazemos a faculdade de artes e também de cenografia, e um dos períodos históricos estudados. Mais do que isso: estou trabalhando com um dos períodos que eu mais conheço. Busquei detalhes da minha memória, das viagens que já fiz, me debrucei em livros de artes, figurino e de pesquisa, para ser muito fiel ao que é retratado porque é uma ópera muito conhecida. Esse foi o trabalho de pesquisa. Da comissão de frente até a última ala, foi tudo muito bem pensado”, relembrou.

Uma característica do profissional também foi abordada. Conhecido pela grandiosidade e pelo luxo, Anselmo pontuou que toda a identidade dos desfiles com participação dele estarão presentes em 2023 na Colorado do Brás.“Eu tenho a fama de alegorias muito grandes, de carnavais grandes. E eu gosto, porque eu trato o carnaval como espetáculo. Acho que o público que ali está, o nosso componente apaixonado, gosta de algo impactante. Já vai começar com o nosso abre-alas, bastante impactante. Na cenografia, dizemos que, quanto mais fiel pudermos ser, temos que ser. E é assim que vamos trazer a Colorado. O número de peças é muito expressivo: são muitas e muito grandes. Temos chegado ao nosso limite de altura, de capacidade logística de transporte. E, também, das baias da Concentração. Está tudo muito bem acertadinho, mas calculado para fazer um grande desfile”, comentou. Ressalta-se que, em primeira mão para o CARNAVALESCO, o profissional destacou que o carro abre-alas da agremiação terá 56 metros de extensão. Como a passarela do Anhembi tem 530 metros, mais de 10% da pista será ocupada pela alegoria.

Outros elementos do carnaval como um todo também aparecerão no desfile, sobretudo no último setor da instituição. “A nossa última alegoria mistura o saudosismo de antigos carnavais. Tanto que a nossa Velha Guarda vem para o desfile nesse momento, juntamente com as crianças, para unir o antigo com o novo. Aí, trazemos tanto na cromia dos personagens que irão ilustrar e estar presentes nesse ato. Esse último carro representa a grande trupe de um carnaval antigo, daqueles bailes que dão saudade. Dos mascarados que dançavam pelos salões, da alegria do confete e da serpentina, da festa mais solta e alegria”, finalizou.

Surpresas?

Perguntado sobre um momento em que pensa que os presentes terão uma grande surpresa, depreende-se que serão, ao menos, três – que foram tratados de maneira subjetiva por Anselmo. “Eu estou dividindo a escola em momentos, tal qual num teatro: em atos. A cada setor, nós teremos uma grande surpresa. O carnaval remete à alegria, um carnaval mais solto. Vai ter um impacto na parte plástica e também nas fantasias. Nós vamos deixar o componente mais livre, mas sem perder o luxo e a riqueza de tudo isso. Em todo momento nós teremos algo impactante. Em alegorias, em fantasias, na comissão de frente, no casal de mestre-sala e porta-bandeira. Tudo foi construído com muito amor”, afirmou.

Conheça o desfile da Colorado do Brás

Serão, ao todo, três setores na escola. Os mil e duzentos componentes estarão divididos em treze alas, com a presença de três carros alegóricos. Na explicação pormenorizada, Anselmo Brito deixa clara a disposição de cada folião.

Setor 1: “O primeiro setor é o grande convite. A Colorado convidando todos para entrar no belo reino para conhecer a história, esse triângulo amoroso, essa paixão entre o Pierrot e a Colombina. E quem vai contar a história é o próprio Pierrot, que vai contar as alegrias e frustrações. Para isso, convidamos todos para adentrar o castelo. Mais do que isso: assistir o grande duelo épico entre o Pierrot e o grande dragão. Essa é a primeira parte da escola”.

Setor 2: “No segundo setor, vamos mostrar a beleza de tudo isso e como toda a história foi retratada na arte, nos palcos renascentistas e na Europa, onde surgiu a grande ópera do Pierrot. Vamos trazer uma alegoria em que vamos trazer várias cenas para retratar momentos inesquecíveis, bailes de máscaras e personagens tão conhecidos e elegantes que remetem à ópera do Pierrot”.

Setor 3: “O terceiro é o convite: embarque você também! Convidando o público para festejar, embarque na alegria! Depois de tantas tristezas, seja pela pandemia, pela colocação da nossa escola no último concurso, que faz parte… o que vale é que estamos felizes de podermos nos apresentar e produzir o maior espetáculo da Terra. Queremos convidar todos a relembrar momentos de outras épocas, dançar e ser felizes, vivenciando o hoje e sempre com muita alegria.

Ficha técnica
Três alegorias
1200 componentes
Carnavalesco: Anselmo Brito
Diretor de carnaval: Karyn Fernandez e Jairo Roizen
Diretor de barracão: Rodrigo Vila, o “Rodrigão”