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Série Barracões SP: ‘Embriagada de carnaval’, Mocidade Alegre exalta vários brasis na figura de Mário de Andrade

Enredo de Jorge Silveira faz uma viagem ao Brasil e enaltece o samba paulistano

A atual campeã do carnaval paulistano, Mocidade Alegre, depois de 16 anos, voltará a cantar São Paulo. Mas desta vez de uma forma diferente. A ligação do poeta Mário de Andrade com a cidade é grande. Entretanto, para o próximo desfile, o escritor irá fazer uma viagem pelo Brasil inteiro, contar suas andanças, vivências, experiências, até chegar ao interior paulista, Pirapora de Bom Jesus, onde neste local exaltará o samba paulistano. É um tema que faz a Morada do Samba mudar os continentes asiático e africano, com o samurai campeão ‘Yasuke’ até chegar ao nosso país. A Mocidade é a escola a ser batida. A maioria das atenções estão voltadas para ela no sábado de carnaval. O ano de 2023 foi para lavar a alma dos componentes e torcedores, pois deixaram de bater na trave e finalmente saíram do incômodo jejum de oito anos. A reportagem do site CARNAVALESCO visitou o barracão da escola e conversou com o carnavalesco Jorge Silveira, responsável pelo enredo e desfile da agremiação em 2024.

Explicação do enredo

Como dito anteriormente, Mário de Andrade é muito ligado à São Paulo, mas Jorge Silveira diz que o tema da Mocidade Alegre não é uma homenagem a ele, tampouco à cidade. O poeta irá fazer uma viagem pelo Brasil, bem como diz seu título. “O enredo da Mocidade Alegre, chama-se ‘Brasileia Desvairada: A Busca de Mário de Andrade Por um País’. Ele nasce de uma conversa entre eu e o Leonardo Antan, que é pesquisador, meu parceiro na concepção da narrativa desse enredo. Ambos somos apaixonados por brasilidade, por poder falar do Brasil e no ano passado a gente fez uma viagem longa. A gente foi para a África, passou pelo Japão, até voltar para São Paulo. A gente sentiu uma necessidade de reconectar a nossa linguagem até a linguagem da Mocidade Alegre e a brasilidade. Esse ano é muito simbólico, porque São Paulo completa 470 anos e nós acabamos chegando a uma viagem que o poeta Mário de Andrade fez no ano de 1924, exatamente 100 anos atrás. Com isso a gente entra na avenida comemorando esse momento desse arco de viagem que o Mário fez pelo país, o nosso enredo basicamente é uma contemplação dessa viagem que o poeta fez pelo Brasil profundo. A gente vai abrir o caderno de viagem das anotações do poeta Mário de Andrade e vamos traduzir em carnaval as percepções que ele teve sobre os diferentes brasis que ele conheceu quando ele fez essa viagem. Nada mais é do que um grande documentário de brasilidade sob o olhar do Mário de Andrade, que é um dos mais importantes poetas do Brasil e com certeza o poeta que melhor define a Paulicéia e que melhor representa o que significa ser paulistano”, explicou.

Surgimento da ‘Brasiléia’

Silveira fala que tal tema foi a quarta opção apresentada para a diretoria, sendo que outras histórias apresentadas para a diretoria foram rejeitadas. “No primeiro momento, a gente tinha apresentado três propostas, que não foram aceitas. A gente voltou para casa e a quarta proposta veio a ser essa do nosso enredo. Foi aclamada logo de cara, especialmente pelo sentido de ser um enredo que tem uma preocupação de resgatar um sentido dos enredos históricos. Um tema de um arco de história mais amplo, de trazer para temática do carnaval de São Paulo uma narrativa que se preocupa em contemplar brasilidade passando por vários capítulos dessa história”, disse.

Grande admiração por Mário

O artista cita o poeta como grande inspiração para os brasileiros, visto que o reconhecimento de coisas vivas no nosso cotidiano encantou o escritor. Ainda cita a descoberta de Aleijadinho, um dos consagrados escultores que está na história do Brasil e é estudado até hoje, mas que, só foi ser enaltecido e pesquisado a fundo nesta viagem de Mário de Andrade.

“O que mais me fascina nesse trabalho é que o olhar do Mário é o olhar para o simples. Nós vamos traduzir na avenida as percepções que ele teve sobre aquilo que nos representa mais intimamente como brasileiros. A partir disso, vamos falar das manifestações folclóricas, de como a cultura, a música, a riqueza artesanal do Brasil encantou o olhar do Mário de Andrade. Então a gente vai poder falar de simplicidade com grandeza através do carnaval da Mocidade. Me fascina muito o encantamento do Mário de Andrade pelo Brasil. O nosso grande desafio é traduzir em carnaval, o amor e o coração apaixonado do Mário de Andrade por tudo que ele viu nessa viagem. Mário de Andrade era um homem antes dessa viagem e se transformou em outro depois dela. Isso interfere na obra dele, na poética, nas coisas que ele escreve e documenta nessa viagem de diferentes camadas do Brasil profundo que eram escondidas. Ele traz para o nosso olhar e conhecimento vários símbolos que hoje são importantes da nossa cultura e até então eram desconhecidos antes dessa viagem. Como por exemplo, o escultor Aleijadinho. Hoje todos nós consideramos Aleijadinho um grande nome da arquitetura e da escultura colonial brasileira, mas ele era completamente desconhecido para o Brasil inteiro até Mário de Andrade chegar em Minas Gerais e perceber a grandeza dele e resgatar o barroco brasileiro através de documentos, de escritos e fotografias”, contou.

Reconexão do Brasil com seu povo

Como se trata de um enredo que se passa por várias cidades, logo se assemelha a possível enredo CEP, visto que a demanda no carnaval por esses temas nos últimos anos é corriqueira. Entretanto, Jorge negou esse tipo de estereótipo e exaltou a brasilidade que o tema impõe. “Não seria nenhuma desonra se fosse CEP. Eu acho que o que a gente está falando é essencialmente e eu bato muito nessa tecla, estamos falando de Brasil. A gente passou por um momento recente na história política do nosso país de muita separação e a gente vive até hoje as consequências e as sequelas das rivalidades políticas daquela época. Esse enredo dá um passo atrás e nos reconecta enquanto brasileiros. É um tema que propõe a população paulistana para dar um tempo e observar quais são as coisas que nos unem mais do que as coisas que nos separam e as coisas que nos unem estão ligadas à nossa matriz cultural, estão ligadas a nossa ancestralidade aquilo que nos conecta é a nossa memória afetiva. Quando a gente resgata a nossa cultura, nossos valores, os nossos folguedos, o nosso folclore, estamos falando daquilo que é essencial da alma do brasileiro. Foi aquilo que nos trouxe até aqui enquanto nação. Então é um enredo de louvor a brasilidade para nos reconectar com nós mesmos”, declarou.

‘Batizado no samba de Pirapora’

Sempre quando se pensa na Mocidade Alegre na avenida, a imagem é de tudo praticamente impecável. Realmente, de fato, é uma das escolas que as co-irmãs aguardam para ver qual nível estará a disputa, pois a ‘Morada’ frequentemente volta nos desfile das campeãs.

“Logo de cara, a gente tem um compromisso de fazer um carnaval com a responsabilidade de defender um título. Não é brincadeira e temos um carnaval de São Paulo cada vez mais nivelado, onde todas as escolas têm grande condição de poder fazer grandes espetáculos. Então eu já parto do princípio que eu sei que eu preciso apresentar muito mais do que eu apresentei no ano passado. O ‘Yasuke’ foi maravilhoso, mas ele serve hoje para colocar uma linda estrela no pavilhão. Agora, eu preciso focar para frente. Eu projeto esse carnaval para que a gente possa materializar ao longo das nossas alegorias os capítulos fundamentais da viagem do Mario. Vamos abrir o nosso desfile do ponto de partida da viagem, que é o local onde o Mário foi formatado como artista, que é a cidade de São Paulo. Saio dessa viagem partindo da Paulicéia Desvairada. No segundo momento a gente vai passear pela riqueza histórica de Minas Gerais. E aí a gente vai mostrar o encontro do Mário com a obra do Aleijadinho com a riqueza cultural das ruas de Minas Gerais de Ouro Preto Mariana Tiradentes, tudo que acontecia naquele ambiente cultural. Em um outro momento, a gente vai subir o Rio Amazonas e mostrar o momento em que ele conviveu com os povos ribeirinhos, teve contato com a cultura dos povos originários, descobriu a grandeza da floresta da Amazônia e num outro momento, a gente vai mostrar um Mário apaixonado pela riqueza do folclore e da gente brasileira. Vamos mergulhar no Nordeste de cabeça, onde o Mário de Andrade festejou o carnaval de Recife de Olinda, tomou porre, andou pelas ruas e viveu em essência os folguedos do Nordeste. A gente termina a nossa viagem quando o Mário retorna para casa, volta para São Paulo, mas aí ele já não volta para São Paulo capital, ele vai para o interior para iniciar um processo de pesquisa em Pirapora de Bom Jesus, onde nasce a essência do samba paulistano, onde ele vai escrever uma série de documentos que relatam e pesquisa a origem verdadeira do samba de São Paulo que tem sua característica própria nos cafezais vindos do interior paulista”, afirmou.

Não há pressão

Realmente o casamento deu certo. Apesar de bater várias vezes na trave, a agremiação não ganhava o carnaval desde 2014. O carnavalesco Jorge Silveira, ganhou seu primeiro título na carreira, somando São Paulo e Rio de Janeira. Agora, inevitavelmente a escola do bairro do Limão está para ser batida em 2024. Porém, de acordo com o profissional, não existe nenhuma pressão quanto a isso dentro da escola.

“A Mocidade é uma escola muito competente e experiente em administrar esse tipo de cenário. Ela já foi em algumas situações tricampeã mais de uma vez, mas isso não significa que a gente relaxa. Pelo contrário, a gente sabe que tem um compromisso muito grande de entregar mais. Eu tento deixar todo esse tipo de pressão do portão para fora. Eu procuro me preocupar em fazer um grande projeto com a grande qualidade que eu sei que os profissionais da casa conseguem entregar. O meu objetivo é oferecer a São Paulo até em agradecimento ao que a cidade me ofereceu como resultado, um carnaval ainda melhor e ainda maior para contribuir com a grandeza do carnaval paulistano. Eu não me preocupo com pressão e responsabilidade. Eu sei que a gente vai fazer um grande trabalho. O resultado é consequência, qualquer uma delas pode ganhar e eu também quero”, disse.

Confiança no projeto

Por falar no último título, Jorge diz que o combustível e o ânimo renovado pela taça é o grande trunfo da Morada para o próximo desfile. “O que eu sinto como grande trunfo é uma Mocidade que entra na avenida esse ano com uma alegria muito renovada. Esse aspecto que você citou nesse período muito longo de jejum, a escola batia na trave muitas vezes. A comunidade não esmoreceu esses anos todos, ela continua valente, guerreira e sempre tentando. Isso é uma característica muito forte da escola e da presidente Solange. Ela carrega consigo essa simbologia de luta pelo objetivo. Eu acho que a gente entra na avenida incluído desse sentimento, mas com alegria e uma convicção muito grande de um sentimento renovado. A vitória trouxe para a escola uma renovação de sentimento. A gente se reconectou com essa alegria de ganhar carnaval. Então acho que a gente entra mais leve e mais disposto a brincar mais ainda do nosso do nosso carnaval sem abrir mão da responsabilidade da disputa”, finalizou.

Com o enredo “Brasiléia Desvairada: A Busca de Mário de Andrade Por um País”, a Mocidade será a terceira a entrar no Anhembi no sábado de carnaval.

Conheça o desfile

Setor 1
“Abertura é a Paulicéia Desvairada, que é o primeiro momento”

Setor 2
“O segundo momento é Minas Gerais”

Setor 3
“O terceiro momento é o Rio Amazonas”

Setor 4
“O quarto momento é o Nordeste”

Setor 5
“E o quinto momento é Bom Jesus de Piarapora”

Ficha técnica
4 alegorias
3 tripés
2.500 componentes
Diretor de barracão – mestre Sombra
Diretor de ateliê – Fabson Rodrigues

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