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Série Barracões: Arranco vai à loucura com afeto ao levar Nise da Silveira para a Sapucaí

Olhando novamente para a história do seu bairro, o Arranco do Engenho de Dentro traz para a Sapucaí o enredo “Nise – a reimaginação da loucura”, de autoria do carnavalesco Nícolas Gonçalves. O artista assina seu primeiro carnaval contando a luta, o legado, e as inspirações deixadas por Nise da Silveira não só para a medicina, mas para o espaço que hoje leva seu nome e o próprio bairro do Engenho de Dentro. O enredo é feito como um conto ficcional em que a médica retorna a localidade para uma análise das memórias do passado e dos feitos da atualidade.

Fotos: Thiago Albuquerque/Divulgação

Nícolas conta que o enredo veio, em primeiro lugar, dessa identidade que está sendo formada desde a volta do Arranco para a Sapucaí, olhando para o seu próprio lugar de origem, como foi com o enredo de 2023 sobre Zé Espinguela. Além disso, ele ressaltou que a busca por uma figura feminina foi inspirada também pelo fato da presidência, da vice-presidência e de muitos cargos da direção da escola serem ocupados por mulheres. Ainda assim, outras propostas de enredo foram apresentadas, porém a primeira, sobre Nise, foi a escolhida.

“Quando eu chego na minha pesquisa e eu descubro o instituto a duas quadras de lá eu falo: ‘olha eu acho que está tudo calhando para esse tema e não vai ter como ser outro’. Eu ia só desviando de enredos, e falei: ‘gente é esse’”, afirmou Nícolas.

Junto com o enredista Clayton Almeida, o carnavalesco se debruçou em livros, documentos, produções audiovisuais e catálogos de exposições dos pacientes de Nise. Porém foi com as visitas ao Instituto Nise da Silveira que o enredo tomou a forma que tem. Através do contato com os usuários e pacientes, com as instalações do lugar, com os projetos que são oferecidos no local, e com o bloco Loucura Suburbana que a mente do artista foi concebendo a história e o visual do Arranco para este ano, em especial através das artes do Espaço Travessia, de onde afirma ter tido a inspiração para o Abre-Alas e três fantasias, e que ganhou muito carinho do artista.

“Virou um grande parque cultural ali, então parte muito da criação dali, não tem jeito. Esses dois meses que eu passei indo lá toda semana foi incrível. A pena é que eu infelizmente também tenho outros trabalhos, mas a minha ideia, se eu pudesse, era fazer uma residência lá junto com os artistas do Espaço Travessia”, relembrou o carnavalesco.

O segundo carro do desfile, entretanto, é o considerado o mais interessante, até o momento, e que deve retratar as mandalas de Nise, fato que veio da observação da mesma em relação a como as formas circulares despertavam algo muito profundo em vários dos pacientes que ela tratava. Assim também está a ala ‘Vazio das telas manicomiais”, “teve um amigo meu que falou ‘essa fantasia aqui sintetiza todo o seu enredo’, A fantasia trata de pegar a camisa de força, rasgá-la e transformar uma tela para a pintura”.

Mas o artista considera que o grande trunfo do desfile é a mensagem que está sendo passada para o folião e o espectador, principalmente em relação à saúde mental e o carnaval como auxílio para o tratamento e a aceitação de questões como a própria loucura: “Carnaval também trata a loucura de uma maneira muito bonita. Ele não exclui a loucura, pelo contrário, ele abraça e fala, não vamos ser todo mundo louco junto. Isso que eu aprendi, acho que foi o meu maior aprendizado”.

O jovem carnavalesco expõe também as dificuldades enfrentadas na Série Ouro na preparação do carnaval, e como isso também o potencializa como artista, tendo que lidar com os recursos mais escassos, e atrasados, do poder público, para fazer o desfile, a reutilização de adereços e esculturas, e a busca por materiais.

“A gente sabe da realidade da série ouro que a gente não faz um projeto na íntegra. Não adianta eu criar fantasias e alegorias mirabolantes. Eu vou ter que aproveitar uma escultura que passou no ano passado no especial. […] Ano passado foi carnaval dos Reis Momos. Eu vou botar um Rei Momo aqui na sinopse porque eu já tenho no mínimo quatro escolas com Rei Momo que eu vou poder pegar. Não consegui nenhum. Um Rei Momo foi pra outro, outro foi o Rei Momo, o outro cortou, chegou um diabo. O diabo vai virar Rei Momo e vambora”, afirmou, confiante.

Nícolas, antes de assinar este primeiro carnaval solo no Rio, foi assistente de alguns dos nomes que comandam as escolas do Grupo Especial, e ainda é na Viradouro, auxiliando Tarcísio Zanon, além de ter tido experiências também no carnaval do interior de São Paulo.

“É nesses perrengues que a gente descobre métodos de adereço rápido, nessas experiências que a gente descobre a importância de um ferreiro, a importância de um carpinteiro, de um escultor. Você toma um choque de realidade”, explicou Nícolas.

Conheça o desfile do Arranco

O Arranco para 2024 vem com cerca de 1.100 componentes em 17 alas e três carros alegóricos, marcando os três setores, além de um tripé. A azul e branca do Engenho de Dentro será a terceira escola do sábado de carnaval, na Série Ouro. Assim Nícolas Gonçalves detalhou o desfile, para o CARNAVALESCO, citando que está dividido não em setores, mas em quadros:

Setor 1: “Diante das ruínas do antigo hospital, no primeiro quadro é representada a batalha do revolucionário tratamento pela arte contra os métodos arcaicos e agressivos. Para derrotar o caos de um mundo que acreditava no isolamento, na prisão e na desumanização, colocamos a figura mitológica do afeto como símbolo de todos os que lutaram contra aquele sistema. Esse primeiro setor a gente vai trazer essa batalha que ela teve. A gente também vai falar um pouco da parte que ela foi presa. A Nise foi presa por ser considerada comunista. A Nise era uma mulher em meio a diversos homens formada em medicina, que naquela época era inimaginável. Tudo isso voltado para as ruínas desse hospital. A gente faz essa brincadeira dela encontrar essa camisa de força e transformar ela em um quadro”.

Setor 2: “Em seguida, Nise adentra o Museu do Inconsciente para o segundo quadro, em que é representado o processo de construção de novas percepções de mundo através da abstração. A tela em branco recebe linhas, formas e cores até que os fragmentos reunidos se tornem a mandala, tão presente nos estudos de Nise e que materializam uma nova unidade, de um novo cosmo. A mandala querendo ou não é uma reorganização cósmica. Você via que o usuário estava literalmente reorganizando. Então essas mandalas tinham muita potência no trabalho dela, então a gente fecha esse setor com o meu queridinho carro que vai remeter essas mandalas”.

Setor 3: “Por fim, no terceiro quadro Nise encontra o retrato da contemporaneidade, com as vitórias da luta antimanicomial e as políticas de socialização, representadas de maneira carnavalizada pelas oficinas oferecidas no Instituto e pelo bloco Loucura Suburbana. Encerraremos nossa narrativa em um grandioso festejo, propagando a mensagem de que é preciso lidar com a saúde mental de maneira humanizada e sem preconceitos. Nosso carnaval é a afirmação da importância de ressignificação desse território no Engenho de Dentro que outrora foi sinônimo de dor e que hoje funciona com inúmeros dispositivos que fomentam a arte, a cultura e o lazer da sociedade em geral. Ela reencontra todas essas potências que ela desde o início do trabalho falava da importância, estando lá ativo. E finalizando, claro, com o carnaval. Finalizando com o próprio Arranco”.

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