Diretamente de São João de Meriti, Baixada Fluminense, para a Marquês de Sapucaí. A Unidos da Ponte vem de um carnaval muito criticado e considerado frio em 2020. Com o enredo sobre “Elos da Eternidade”, desenvolvido pelo carnavalesco Lucas Milato, a escola ficou na 12ª colocação da Série Ouro. Para o carnaval de 2022, a diretoria optou por trazer os carnavalescos Guilherme Diniz e Rodrigo Marques que já tiveram uma passagem pela escola. Com o enredo “Santa Dulce dos Pobres – O Anjo Bom da Bahia”, a escola vai levar para a avenida uma homenagem e a história da Santa Dulce, ou melhor, Irmã Dulce.

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A ideia de fazer um enredo sobre ela surgiu por meio de um dos carnavalescos, o Guilherme. Ele fez a proposta, pois é devoto de Santa Dulce dos Pobres. Rodrigo embarcou e já começou a fazer a pesquisa, só que infelizmente nesse tempo, o mesmo acabou pegando a Covid-19 e ficou internado por 14 dias. Com isso, coube a Guilherme ter que tocar toda a pesquisa sobre o enredo que já havia sido iniciada com a ajuda do amigo Thiago Freitas.

De acordo com os carnavalescos, a característica em si deste enredo é humanizar a santa e falar sobre a história de vida e o legado dela. “Queremos deixar a mensagem de que se todos fossem 1% do que a Santa Dulce foi, o mundo seria bem melhor, os dias seriam melhores para todos e também pensaríamos mais um no outro do que em nós mesmos. Essa é a ideia principal da temática”, enfatiza Guilherme.

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O que eles pretendem passar na avenida é que todos conheçam quem Santa Dulce era. A mulher que teve o início da sua vida no interior da Bahia, construiu um império voltado para as causas sociais e em prol dos mais necessitados. O foco da mensagem que o enredo transmite é que visa mais em quem foi a santa, mas não falar explicitamente da igreja e sim na mulher que passou a vida toda se dedicando ao trabalho social. Ajudando os pobres e sendo uma das precursoras do Sistema Único de Saúde (SUS).

Para os carnavalescos, o grande trunfo desse desfile é o foco voltado mais na parte mais social da vida de Santa Dulce, e não na religiosa. Pois muitos a conheceram pela igreja, mas não é isso que foi pertencente a vida dela.

“Estamos muito mais preocupados com o trabalho social dela, são mais questões pertinentes a biografia dela do que a religião”, conta Rodrigo.

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Além disso, ele também fala que ninguém está esperando esse contexto social do enredo, do que a santa fazia pelos enfermos e entre outras coisas. O trunfo também vem nos carros, que vão ter uma teatralidade falando da missão de Santa Dulce. Tudo o que ela fez, pois as pessoas que a mesma ajudava viam nela alguém que transcendia, pela humildade e cuidado com os outros.

“No nosso processo de pesquisa conhecemos pessoas que conviveram com a Santa Dulce, trabalharam com ela, fizeram parte da vida dela. Essa proximidade com a população é muito legal. E a nossa proposta é impactar e humanizar quem ela foi”, completa Rodrigo.

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O maior desafio dos carnavalescos para reproduzir esta temática é sair do comum. “Nosso desafio é ser original nos nossos trabalhos, ser intenso no dia a dia, como na materialização, pesquisas e também saber respeitar. Respeito porque religião é algo que não podemos entrar no coração e na crença das pessoas. E mais ainda focar no CPF da Irmã Dulce, e não no CNPJ. Na humanização de quem ela foi, tudo o que construiu e todo legado que deixou”, relata Guilherme.

Ao escolherem este enredo, a diretoria da escola entrou em contato com as obras sociais de Irmã Dulce, e elas adoraram a ideia da homenagem. Isso também irá ajudar as pessoas a conhecerem mais sobre essas instituições que sempre estão precisando de algum auxílio. Só o previsto até o fim deste ano, o déficit financeiro dessas obras pode chegar a 24 milhões de reais. Sendo assim, a ideia do desfile da Ponte além de homenagear a santa, é entrar na casa, no coração das pessoas que possuem condições de ajudar essas organizações. Santa Dulce para os católicos, Irmã Dulce para todos os outros. Ela era alguém que dialogava com todas as frentes, sem fazer distinção de religião, de quem era rico ou pobre.

“Uma vez ela recebeu uma doação da Mãe Menininha do Gantois e perguntaram se ia aceitar mesmo, porque não era de alguém que tinha a mesma fé da Irmã. Ela respondeu dizendo que quando as coisas são feitas de bom coração não é possível negar”, diz Rodrigo.

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O diálogo sem dúvida era algo que Irmã Dulce priorizava demais, porque para ela “não existe só uma fé para quem é pobre”. Quem é devoto de Santa Dulce, e mesmo quem não é, irá se emocionar demais no desfile. Durante o ensaio técnico da escola na Marquês de Sapucaí, o carnavalesco Guilherme levou uma imagem da santa e viu pessoas chorando, mesmo não sendo devoto dela.

“Nesse momento de dificuldade o povo olhou a imagem, se emocionou e fez pedidos. Isso é algo muito maneiro. Além disso, no desfile terá uma comitiva das pessoas que participam das obras sociais. Devoto e não devoto”, expõe Guilherme.

Estando na Série Ouro é óbvio que a dificuldade é permanente. Ainda mais em um período em que ficou sem carnaval por dois anos. Graças a nova direção da Unidos da Ponte, que deu total suporte para os carnavalescos realizarem todo o trabalho e compraram a ideia desde o início. Na pandemia, algumas pessoas que exerciam funções na agremiação infelizmente faleceram e isso fez com que fosse um pouco mais difícil fazer o carnaval.

“As dificuldades financeiras sempre vão existir, a falta de estrutura de barracão também. Trabalhar em barracões que não tem 100% dos seus carros cobertos, a escola não ter dinheiro para fazer 100% do que a gente quer. Tudo é muito caro, então com a nossa experiência tentamos substituir por materiais mais alternativos”, explica Guilherme.

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Em 2020, os carnavalescos assumiram a Acadêmicos do Sossego faltando 15 dias para o desfile. Já na Ponte, tiveram dois anos e alguns meses para fazer o carnaval de 2022, o que foi o inverso. Com mérito da direção da escola de São João de Meriti e deles também, acabaram conseguindo antecipar muito o trabalho para que não faltassem materiais para o projeto de criação.

Entenda o desfile

A Unidos da Ponte vai levar para a avenida o enredo “Santa Dulce dos Pobres – O Anjo Bom da Bahia”. Ela pretende emocionar todo o público com a história de vida da santa, o que ela construiu, o legado que deixou e também falar sobre a canonização. A agremiação de São João de Meriti será a terceira escola a passar pela avenida no dia 20/04 pela Série Ouro.

Primeiro setor: “Ela sempre fez caridade, trabalho social desde que era criança. No início ela ajudava mais as pessoas, as levava para dentro de casa, alimentava e dava banho. Após isso, ela procurou outros lugares que era possível abrigar. Nossa proposta é que além dela ser uma pessoa da igreja é que ela enxergou isso sendo um potencializador de sua vontade maior que era ajudar. Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, onde ela foi noviça O primeiro setor simboliza o primeiro contato da Santa Dulce, ou melhor, Maria Rita com a igreja. Antes dela se tornar quem ela foi, a igreja foi o gás inicial para ela construir o seu legado, mas também era o seu refúgio nos momentos de tristeza e fraqueza. A mensagem inicial é que através da fé, ela conseguiu construir tudo isso”.

Segundo setor: “São duas questões da vida dela. A primeira é uma visita na comunidade Alagados, em Salvador. Ali era um local totalmente insalubre, onde as casas eram feitas de palafitas, ela conheceu esse lugar e ficou sensibilizada. Esse segundo setor vai começar com ela levando as pessoas dessa comunidade para a sua obra social. A ideia inicial era levar as pessoas de lá, cuidar delas e dar o suporte que precisavam, sendo que o local disponível para a obra social de Irmã Dulce era um galinheiro. Então o segundo setor é sobre a criação da OSID”.

Terceiro setor: “O terceiro setor representa a canonização da Santa Dulce. Como ela dialogava com várias frentes, vão ter essas pessoas que conviviam ali no dia a dia. Temos homenagem a Mãe Menininha do Gandois com algumas composições. Estamos canonizando ela em Salvador. Vamos ter diversas alas que liga o legado até a canonização da Santa Dulce. Vamos ter também a escultura da santa com Paulo Gustavo, pois ele era um grande apoiador da obra dela”.

Ficha técnica

Número de alegorias: 3 carros e 1 tripé (comissão de frente)
Número de alas: 20 alas
Componentes: 1.800 componentes
Carnavalescos: Rodrigo Marques e Guilherme Diniz
Diretor de Barracão: Wallace Oliveira
Diretor de Carnaval: Thiago Gomes e Cátia Santanna
Pintores: Allan
Ferreiro: Alan
Carpinteiro: Luiz
Iluminação: Wagner
Escultor: Allan

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