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Série ‘Barracões’: Santa Cruz aposta na paleta de cores e no enredo cultural sobre Milton Gonçalves

Assim como as alegorias, as fantasias trazem muito colorido e bom acabamento

Após um sétimo lugar no carnaval passado, a tradicional Acadêmicos do Santa Cruz presidida por Moysés Antônio Coutinho Filho, o Zezo, está com o barracão pronto para apresentar o desfile sobre o enredo “Axé Milton Gonçalves! No Catupé da Santa Cruz”, desenvolvido pelo carnavalesco Cid Carvalho. Ator, poeta, articulador, são muitas as competências ligadas ao nome do artista Milton Gonçalves. Saído de uma pequena cidade no interior de Minas Gerais, ele vai para São Paulo junto de sua família na busca de melhor condições de trabalho e vida, enfrenta barreiras e opressões na capital paulistana e antes de se tornar uma das maiores referências artísticas do país, é ainda em São Paulo que ele encontra o caminho para mudar sua realidade e a realidade de seus amores. Você pode estar se perguntando qual é a razão para um mineiro que foi ganhar a vida em São Paulo virar enredo de uma escola de samba no Rio de Janeiro. Quem explicou a equipe do CARNAVALESCO foi Cid Carvalho.

“O Zezo já havia me procurado antes para fazer o carnaval da Santa Cruz, mas como eu estava trabalhando no especial e é um processo muito trabalhoso, o tempo iria ficar muito curto e eu preferi não aceitar o convite, mas depois que eu me desliguei da Beija-Flor, eles me procuraram mais uma vez e eu resolvi aceitar, porque eu iria me dedicar apenas a Santa Cruz. Acertado isso, marcamos uma reunião para falar sobre o enredo e eu levei opções que ele gostou muito, mas ele me falou que no enterro da Ruth de Sousa ele havia comentado com o Milton sobre a possibilidade de fazer um enredo contando a história dele. Nesse momento eu falei que os meus enredos iriam voltar para a gaveta, porque nós iriamos fazer Milton sem sombra de dúvidas. É um prazer e uma honra poder fazer um enredo desse homem que não aceitou o lugar em que queriam impor a ele, venceu através da arte, do trabalho e dedicação. Falei ‘é esse’, mas lembrando que já existia essa ideia de fazer Milton aqui na Santa Cruz, eu só topei, me debrucei sobre os livros e desenvolvi o enredo”, disse o carnavalesco.

Pode-se dizer que o trunfo do enredo para o carnaval de 2022 está na própria trajetória de vida de Milton Gonçalves. A escola irá apresentar um desfile que conta desde sua origem na pequena Monte Santos e vai até o período da novela “O Bem Amado”. No barracão, identificamos um desfile rico em cores. Cid Carvalho contou a nossa equipe que o colorido da escola é fruto do trabalho de Beto Miolo e não dispensou elogios ao pintor. Realmente, quem for ver a Santa Cruz desfilar no dia 21 de abril, irá encontrar uma paleta de cores lindíssima.

Detalhe da alegoria raízes ancestrais

Além do ótimo trabalho de cores desenvolvido por Beto Miolo, também é perceptível
no barracão que as esculturas de Rodrigo Bonam chamarão atenção na avenida. Inclusive, há uma expectativa dentro do barracão que o segundo carro da escola “Nos livros o conhecimento que liberta”, seja um dos pontos de maior emoção dentro do desfile, pois ele trará o momento em que trabalhando numa livraria, Milton se encontra e se encanta pelos livros e seus conhecimentos.

“Eu considero que essa tenha sido a primeira grande guinada na vida de Milton, porque o conhecimento liberta e isso aconteceu quando ele trabalhou nessa livraria. Cada livro era uma porta aberta por onde ele ia e vivia um universo liberto, então nesse carro também teremos a figura de Nanã, como a rainha da sabedoria, uma anciã representando exatamente essa coisa do conhecimento”, comentou Cid Carvalho.

Assim como as alegorias, as fantasias trazem muito colorido e bom acabamento. Talvez, a única ala que fuja disso seja a ala 21 – “O Bem Amado: Zelão das asas”. O motivo disso é a ala retratar o momento final da trajetória do personagem Zelão na novela, então haverá uma associação com o orixá Oxalá, portanto, será uma ala pintada predominantemente de branca, com detalhes prateados e num azul bem claro. Será uma ala de muito brilho. Os torcedores podem ficar tranquilos, porque o enredo foi desenvolvido com maestria por
Cid Carvalho.

Já é sabido que não é fácil fazer carnaval no Grupo de Acesso do Rio de Janeiro, comparando com o Grupo Especial, é colossal a distância de recursos materiais e financeiros, além da diferença de estrutura e condições de trabalho, mas mesmo com muitas dificuldades, a Acadêmicos de Santa Cruz está com um belo desfile para entregar no carnaval de 2022, com enredo bem amarrado, fantasias e alegorias belas e
com bom acabamento.

“Não é fácil fazer o Acesso, as instalações são muito precárias e precisamos sim de uma cidade do samba dois ou algo desse tipo, os recursos são bem inferiores ao Especial, mas o Zezo (Presidente da Santa Cruz) buscou fazer tudo dentro do que era possível para gente, as vezes até além do que era possível e ele chegou, então eu gostaria de agradecer a ele e o carinho do povo de Santa Cruz, porque me receberam muito bem desde o início desse trabalho. Esse carnaval foi de uma luta muito grande, eu quase morei nesse barracão, mas agradeço a todos, agradeço também o próprio Rodrigo que é meu assistente e conduziu com maestria a decoração dos carros, é uma pessoa que merece todo meu reconhecimento e agradecimento. Enfim, foi trabalhoso e cansativo, ainda mais com esses dois meses a mais que eu espero que não aconteçam nunca mais. Primeiro por conta da pandemia que eu espero que não volte e a outra razão é que nós estamos exaustos. Agora, eu diria que mesmo dentro desse cenário, foi um trabalho feito com muita tranquilidade e muito trabalho”, afirmou Cid Carvalho.

Entenda o desfile

1° setor: Minhas raízes ancestrais. Começa na comissão de frente e segue até a 1ª alegoria da escola. Neste setor, a Santa Cruz apresenta as lembranças do pequeno Milton, como as raízes da família, o trabalho na lavoura e as festas que aconteciam na Igreja Matriz, em Monte Santo. E vai até a transição para fase adulta do artista. Transição marcada pelo conhecimento adquirido através dos livros e das vivencias nas peças teatrais que passaram a fazer parte do seu cotidiano.

2º setor: Infância e Juventude em São Paulo. Começa na ala 2 e vai até a 2ª alegoria da escola. Simboliza o sonho de condições melhores de vida. Apresenta a chegada em São Paulo e a desilusão quase instantânea. Diante de dificuldades e opressões estranhas a família, Milton é obrigado a buscar trabalho, porém, nem tudo são lágrimas e dor, porque é neste momento em que Milton descobre o cinema e encontra na sétima arte o prazer de sonhar, assim como a força para sair da sua realidade.

3º setor: O Fascínio com os Palcos. Começa na ala 8 e vai até o tripé da escola. Trabalhando em uma gráfica, Milton recebeu de um dos clientes, o convite para assistir a peça teatral, A mão do macaco. Foi amor à primeira vista. Se o cinema e os livros davam conhecimento e liberdade na imaginação, o teatro seria uma possibilidade real de concretização.

4° setor: A boêmia carioca me abraçou. Começa na ala 15 e vai até a ala 22. Milton já fazia parte do bem-sucedido Teatro de arena, quando o grupo resolve se espalhar pelo Brasil consolidando pequenos núcleos. Com a turma do Rio de janeiro, veio o mineiro de Monte Santo. Aqui, ele conheceu o maracanã e o carnaval, se descobrindo rubro-negro e mangueirense. É na capital fluminense em que sua carreira artística decola nos palcos e encontra as telas. O setor passará por alguns dos seus maiores sucessos, como o filme Natal, que apresenta a biografia de Natalino José do Nascimento, conhecido no universo do samba como, Natal da Portela. Também será mostrado o sucesso de Irmãos Coragem, novela em que Milton foi ator, diretor e roteirista.

Terceira alegoria da escola: Oxalá e o bem-amado Milton Gonçalves. O carro se inspira em Zelão, personagem feito por Milton na novela “O Bem Amado”. Na trama, o personagem deseja voar, ao final da novela seu sonho foi alcançado e como sua música tema era para Oxalá, o carro da Santa Cruz tem o orixá representando a liberdade que Milton Gonçalves buscou ao longo de toda sua vida. Liberdade celebrada por amigos e fãs de Milton Gonçalves na ala 22.

Ficha Técnica do Barracão
Diretor Responsável pelo Barracão: Simão Ferreira
Ferreiro Chefe de Equipe: Adson Mega
Carpinteiro Chefe de Equipe: Luiz Carlos
Escultor (a) Chefe de Equipe: Rodrigo Bonam
Pintor Chefe de Equipe: Beto Miolo
]Eletricista Chefe de Equipe: Kibe
Mecânico Chefe de Equipe: Zezinho
Diretor Responsável pelo Atelier: Beth Malveira
Costureiro (a) Chefe de Equipe: Sra Nice
Chapeleiro (a) Chefe de Equipe: Luiz Nery
Aderecista (a) Chefe de Equipe: Luizinho
Sapateiro Chefe de Equipe: Alexandre Cosme

Desfile
Alas: 22
Alegorias: 3
Tripé: 1
Componentes: 2.200

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