InícioGrupo EspecialVila Isabel‘Samba Didático’: Vila fará viagem lúdica pelo Brasil para falar de Brasília

‘Samba Didático’: Vila fará viagem lúdica pelo Brasil para falar de Brasília

Por Diogo Sampaio

Um jovem índio, ainda curumim, dormia sossegadamente em sua canoa. Durante o sono, uma ave vem até ele, através de um sonho, lhe trazer uma profecia: o pequeno indígena chamado Brasil ganharia uma irmã. Ela, seria forte e sintetizaria a esperança de um povo. Seu nome, nada menos que Brasília. De maneira lúdica, a Unidos de Vila Isabel pretende levar a todos, no carnaval de 2020, em uma viagem pela cultura, pelo folclore e pelos costumes de cada uma das regiões que formam o país, e que juntas construíram a capital federal, que ano que vem fará seu aniversário de sessenta anos.

O enredo “Gigante pela Própria Natureza: Jaçanã e um indígena chamado Brasil” conta com a assinatura do carnavalesco Edson Pereira, que no carnaval de 2020 fará seu segundo trabalho consecutivo na agremiação. Já a obra que irá embalar essa apresentação é dos compositores Cláudio Russo, Chico Alves e Júlio Alves.

O site CARNAVALESCO dando continuidade à série de reportagens intitulada “Samba Didático” entrevistou o compositor Cláudio Russo e o carnavalesco Edson Pereira para saber mais sobre os significados e as representações por trás de alguns versos e expressões presentes no samba da azul e branca do bairro de Noel para o carnaval de 2020. Confira abaixo, a análise feita pelos entrevistados de alguns versos e trechos do samba:

‘Mais um Silva pau de arara/ Sou barro marajoara, me chamo Brasil’

“Esses dois versos consistem numa apresentação de quem é o Brasil. Simbolizam sua figura no enredo, construída baseada em uma síntese dos povos. Trazem ‘Silva’, um dos sobrenomes mais populares do país, podendo ser entendido como a massa trabalhadora que se deslocou para o planalto central em paus de arara. Já o ‘barro marajoara’, refere-se especificamente ao povo marajoara do norte do país, também conhecidos por sua arte moldada em barro, como parte daquilo que Brasil representa”, declarou o carnavalesco Edson Pereira.

“Quando a gente diz ‘Sou eu! Índio filho da mata/ Dono do ouro e da prata que a terra mãe produziu” já começamos falando do nativo que deveria ser o herdeiro disso tudo. Depois, vamos para a sequência “Sou eu!/ Mais um Silva pau de arara/ Sou barro marajoara, me chamo Brasil”. Nela, o sobrenome Silva é fortíssimo. Talvez seja o sobrenome de maior incidência das famílias de todo o Brasil, do Norte ao Sul. O pau de arara remete aos retirantes que saem da sua região para tentar a sorte em outros lugares, e isso aconteceu muito em Brasília. Gente chegando de todo lugar, principalmente do Nordeste. E quando falamos do barro marajoara destacamos a cultura e a força do Norte”, alegou o compositor Cláudio Russo.

‘Aquele que desperta a Cunhatã/ Para ouvir Jaçanã sussurrar ao destino’

“Nesse trecho, o Brasil refere-se a si como aquele que chama a atenção de seu povo, sintetizado aqui por uma cunhatã (menina na linguagem indígena), para que ouçam a profecia que Jaçanã o levará para conhecer, antecipando o que acontecerá no desenrolar do enredo”, relatou Edson Pereira.

“O Brasil nesse nosso enredo é um pequeno índio, um curumim. Jaçanã, que é um pássaro, é quem vai me levar no seu vôo, junto com o Brasil curumim, para conhecer a cultura, o povo, a luta dessa gente que formou o país e construiu o Brasília”, explanou Cláudio Russo.

‘O curumim, o piá e o mano/ Que o vento minuano também chama de menino’

“Nesse segundo momento do samba e do enredo, já saímos da floresta, da tribo, da parte indígena, e chegamos ao sul. O sul que geralmente chama o menino de piá. Assim como tem lugar que fala moleque, capiá… São todos eles sinônimos. E o ‘vento minuano’ é o vento que vem do sul”, expõe Russo.

“São apresentadas diferentes formas de se referir ao personagem Brasil, desde o termo curumim até o menino, tratado pelo povo do sul e aqui referenciado pelo ‘vento minuano’”, declarou Edson.

‘Da negra Xica, solo rico das Gerais’

“Em ‘Do Tapajós desemboquei no Velho Chico’, a viagem que começou no norte, terra do rio Tapajós, chega a Minas Gerais, onde nasce o rio São Francisco, conhecido como Velho Chico. No verso em questão, o estado é citado como a terra de Xica da Silva, podendo ser identificado também pela riqueza de seu solo”, dissertou o carnavalesco.

‘A sina de Preto Velho’

“Preto velho vem ao mundo para trazer a caridade, para trazer a esperança. E quem é o preto velho? São os espíritos de luz dos negros quilombolas, dos negros que sofreram nas correntes do sistema escravagista”, apontou Russo.

“O enredo traz o povo negro, sintetizado aqui pela figura de um Preto Velho, representado por suas lutas e por sua religiosidade expressas no verso ‘É luta de quilombola, é pranto, é caridade’. Tais características são citadas, então, como o destino deste povo em sempre lutar e não perder a fé”, explicou Edson Pereira.

‘Ô fandango!/ Candango não perde a fé’

“Os versos ‘Ô fandango!/ Candango não perde a fé’ remetem aos brasileiros que deixaram sua terra natal, oriundos de todos os rincões, para construir Brasília, e que eram chamados de candangos. Esses brasileiros não perderam a sua fé. Mesmo o cenário sendo de muita esperança e pouco dinheiro no bolso”, declarou Cláudio Russo.

‘Carrega filho e mulher pra erguer nova cidade’

“Este verso deve ser entendido unindo-se ao que o antecede. Os homens que depositaram sua fé em dias melhores, com a vida nova na futura capital, e rumaram para a trabalho na construção de Brasília, são citados como aqueles que levaram a família consigo”, esclareceu Edson Pereira.

‘Quando a cacimba esvazia, seca a água da moringa’

“A situação da seca é citada no verso, pela indisponibilidade de fontes de água, e pela sede que assolava os nordestinos”, pontuou o carnavalesco.

“Este sertanejo, que vai sair do solo rachado do Nordeste, que vai sair do sol ardente da região, para tentar a vida em Brasília, já não tem mais água na moringa, porque a cacimba esvaziou. É uma forma poética de dizer que não tem mais recursos e é necessário buscar novos sonhos, novas esperanças”, explicou o compositor.

‘Flor do Cerrado’

“Brasília nasce como a flor do cerrado para o Brasil. Foi construída para interiorizar mais o país, que era muito voltado para o litoral e esquecia um pouco do restante. A vontade de construir Brasília se deve a isso”, afirmou Russo.

Já Edson Pereira destacou outra associação que pode ser feita ao verso: “A flor do cerrado é uma espécie de vegetal que chama a atenção por sua beleza e Brasília no samba, e no enredo, é associada a isso”.

‘Fiz do chão do Boulevard meu céu’

“O céu de Brasília é conhecido por sua beleza, e no refrão principal do samba, o componente da Vila Isabel o associa ao Boulevard 28 de Setembro, via principal do bairro e onde se localiza a escola”, frisou Edson Pereira.

“Como é um orgulho para todos nós, eu, Chico (Alves) e Júlio (Alves), compor para Vila Isabel. Compor para uma escola de seu Rodolfo, uma escola que é herdeira dos sambas de Noel, escola de Martinho da Vila que é gênio, Luiz Carlos da Vila… Então, quando a gente diz que ‘fiz do chão do Boulevard meu céu’, o Boulevard já é um chão de estrelas, tem as suas calçadas musicais, é ali que eu quero estar. O céu, o paraíso para mim é o Boulevard. Quando dizemos no verso anterior ‘sou da Vila não tem jeito, fazer samba é meu papel’, é que a missão principal da Vila, como escola de samba, como força do carnaval que ela é, é justamente fazer samba. E o chão do Boulevard é a nossa inspiração, nossa referência, nosso céu”, defendeu Cláudio Russo.

Vila Isabel 2020

Terceira colocada no carnaval de 2019, a Unidos de Vila Isabel irá na busca, em 2020, de seu quarto campeonato no Grupo Especial, com o enredo “Gigante pela Própria Natureza: Jaçanã e um indígena chamado Brasil” , do carnavalesco Edson Pereira. A azul e branca do bairro de Noel será a segunda escola a desfilar pela Marquês de Sapucaí na segunda-feira, dia 24 de fevereiro.

- ads-

Em balanço após o desfile de 2024, casal da Vila Isabel quer o tradicional em 2025

No Carnaval de 2024, o casal de mestre-sala e porta-bandeira da Vila Isabel, Marcinho Siqueira e Cris Caldas, não alcançou o gabarito desejado. Receberam...

Os 8 principais festivais de música do Brasil para participar em 2024

Aqueles que procuram uma experiência transformadora podem participar de um dos principais festivais de música do Brasil. Artistas internacionais, grandes produções e performances inesquecíveis são apenas...

Conheça o enredo da Independente Tricolor para o Carnaval 2025

A Independente Tricolor anunciou na noite desta quarta-feira o enredo para 2025: "Gritos de resistência", que será desenvolvido pelo carnavalesco André Marins. Veja abaixo...