A quadra da Unidos de Vila Isabel recebeu, no último domingo, a oitava edição do Baile Glam, evento que reúne os principais destaques de luxo do Carnaval que abrilhantam do alto dos carros alegóricos os desfiles na Marquês de Sapucaí. Além dos tradicionais personagens, a festa neste ano contou as presenças ilustres da carnavalesca Rosa Magalhães e do ator, diretor e escritor Haroldo Costa, que foram coroados como a rainha e o rei do baile, além de terem tido as suas trajetórias na folia homenageadas.
“A escolha dos homenageados ocorreu porque eu achava que era importante tocar no tema do etarismo, promover esse debate. A ideia era dizer para as pessoas: ‘Olha que gente importante culturalmente, que gente bacana’. Então, nada melhor que fazer isso com Rosa Magalhães e Haroldo Costa. E foi incrível eles terem vindo, pois o que fizemos foi um tributo a quem deu a sua vida pelo Carnaval”, explicou Milton Cunha, idealizador e diretor artístico do Baile Glam, em entrevista ao site CARNAVALESCO.
Durante o evento, Haroldo Costa recebeu a faixa de rei do Baile Glam das mãos do presidente do Acadêmicos do Salgueiro, André Vaz. Já Rosa Magalhães teve a honraria entregue pela cantora Teresa Cristina, que havia sido coroada rainha na edição do ano anterior. Após a solenidade, os dois conversaram com a reportagem do site CARNAVALESCO e falaram sobre a homenagem.
“Antes de mais nada, é uma distinção do meu amigo Milton Cunha. Eu sou um carnavalesco em tempo integral, de maneira que receber essa homenagem é algo que muito me satisfaz. Estou no meu ambiente, gosto de Carnaval, amo essa cultura. Não é só uma coisa profissional, é uma vocação do bom-humor, da festividade carioca, da diversificação que o Carnaval representa. Então, uma festa como essa devia ter pelo menos uma vez por semana”, refletiu Haroldo Costa.
“Fiquei muito contente em ser coroada. Acho que é um exagero do Milton, mas mesmo assim agradeço muito a homenagem. Falar dele é até difícil, é meu vizinho, meu amigo e agora meu comparsa nessa armação toda para eu ser rainha do Baile Glam. Adorei”, comentou Rosa Magalhães, de forma sucinta.
Quem também falou com a reportagem do site CARNAVALESCO foi Teresa Cristina. A artista se demonstrou contente de passar a faixa de rainha para Rosa Magalhães e fez questão de exaltar a importância do Baile Glam para além de uma simples celebração aos destaques de luxo.
“A importância do Baile Glam no Carnaval é imensurável. O samba ainda é um espaço machista, homofóbico, mas que precisa se render ao brilho. Sem esse universo aqui dos destaques não existe Carnaval. E além de dar visibilidade para esses artistas, as pessoas que foram homenageadas também são de suma importância. O Milton Cunha não está de bobeira. Ao mesmo tempo que ele traz um bafo, o brilho, o glamour, ele politiza, coloca agendas e pautas que merecem ser discutidas o ano inteiro. Homenagear Rosa Magalhães, com todos os campeonatos que essa mulher conquistou, não sei se teremos outra com esse currículo, trazer e reverenciar Haroldo Costa… É até difícil de falar. Quando o Milton me avisou que eu iria passar a coroa para Rosa fiquei extremamente emocionada”, disse a sambista.
Trajetória do baile e homenagem para Iracema Pinto
Com o intuito de resgatar a atmosfera do luxo e do glamour dos antigos concursos de fantasia, o Baile Glam teve a sua primeira edição realizada em fevereiro de 2015. Na ocasião, a festa contava com uma competição, em que as categorias luxo, originalidade e boneca, com desfile de biquíni, eram julgadas e os vencedores levavam prêmios em dinheiro. Ao longo dos anos, o evento deixou de lado o aspecto competitivo e passou por uma série de mudanças, conforme relembrou o idealizador Milton Cunha.
“Há oito anos, nove na verdade, o primeiro Baile Glam foi um fracasso retumbante. Tinha mais gente desfilando do que na plateia, na Mangueira. Então, o fracasso não me imobiliza, ele me dá gás para que eu saiba que uma hora vai pegar. Este ano, quando vi que tinha mil pessoas assistindo, imediatamente pensei: ‘Nossa, que bom que eu insisti’. É uma festa importantíssima, que resgata esse glamour desvairado de gente na passarela e o resultado é lindo, porque vem todo mundo. É as emplumadas, o resgate histórico, as homenagens aos ancestrais, um baile completo. E sempre sonhei em ser um Miele, um Guilherme Araújo ou um Sargentelli. Esse projeto me permiti achar um pouco herdeiro disso tudo, portanto fico orgulhosíssimo”, ponderou.
Uma tradição que segue viva a cada edição do Baile Glam é a escolha de uma personalidade do segmento para dar nome à celebração. Neste ano, a homenageada foi Iracema Pinto, que fez história no Salgueiro. Ela começou na vermelha e branca da Tijuca em 1973, desfilando primeiramente em ala, para depois se tornar destaque e por fim coordenadora. Iracema ocupou o posto até 2019, quando faleceu enquanto estava a caminho da Marquês de Sapucaí.
“É muita emoção. Graças a minha mãe, eu vivo nesse mundo do Carnaval, de destaque, de brilho, de glamour, desde pequeno. Aprendi muito com ela e não à toa fiquei administrando o grupo de destaques do Salgueiro, acumulando esse posto com as minhas funções na diretoria cultural. Minha mãe era uma pessoa que adorava esse tipo de evento, esse tipo de festa, era alguém muito alegre e eu tenho certeza que onde ela estiver está muito feliz com a homenagem”, assegurou Eduardo Pinto, filho de Iracema, que recebeu no palco do evento a honraria em tributo a mãe dele.
Outra personalidade que compareceu ao baile e participou da homenagem para Iracema Pinto foi a rainha de bateria salgueirense Viviane Araujo. Em entrevista concedida ao site CARNAVALESCO, a beldade enalteceu o simbolismo de prestar esse tributo justamente em um evento que tem como protagonistas os destaques de luxo.
“É algo maravilhoso, porque a Iracema era uma pessoa que vivia o Carnaval. Para ela, era uma grande felicidade, um prazer enorme, cuidar de todos os destaques do Salgueiro. Com muito amor, com muito carinho, ela cuidava de todo mundo. E assim, em uma festa dessas, dos destaques, nada mais justo do que homenageá-la. Estamos falando de uma pessoa que se doava totalmente para eles, que fazia o possível e o impossível para que tudo fosse do jeito que eles quisessem, tudo conforme os destaques queriam. Dona Iracema realmente merece todas as homenagens e principalmente em um evento como esse. Afinal, uma das coisas principais que a gente tem no nosso desfile, no nosso Carnaval, são os destaques. Sem eles, como é que ficaria uma alegoria, por exemplo? Os destaques enaltecem, abrilhantam ainda mais o trabalho do carnavalesco dentro de uma. E faltando ainda seis meses para o Carnaval, ter uma festa que permite a gente estar celebrando esses artistas, além de estar vivendo, compartilhando, essa alegria, essa felicidade, não tem preço. Quem ama Carnaval, sabe o prazer que a gente tem, como é gostoso estar aqui vendo todo mundo fantasiado, todo mundo feliz. É muito bom. Me orgulho muito, estou extremamente feliz de poder estar aqui nessa festa”, afirmou Viviane.
Presenças ilustres e outros tributos
Além das homenagens já citadas, a aderecista do Paraíso do Tuiuti Rejane Barcelos, que ficou conhecida por declamar poesias e roubou a cena ao aparecer no documentário dedicado a Rosa Magalhães, também ganhou uma honraria nesta edição do baile. Ela foi eleita como a Boneca Barracão, título que visa valorizar os artistas dos barracões das escolas de samba.
“Foi uma surpresa, primeiramente. Não esperava realmente receber esse título e na hora ali no palco passou um filme na minha cabeça. Me lembrei da menina sonhadora que chegou de carona no Rio, sem saber o que esperava, que passou tantas coisas e hoje está sendo homenageada por algo tão importante quanto o barracão. É muito bonito, muito potente. A emoção que tenho é de surpresa, de felicidade, de êxtase. E não estou aqui só por mim, mas pelos meus também. Estou representando toda uma legião de pessoas que dá a vida no barracão de Carnaval e muitas vezes não é reconhecido, é tratado de uma maneira muito equivocada. Não tem o que falar, só agradecer ao Milton e ao Carnaval em geral por tudo que ele me dá”, relatou Rejane Barcelos.
“Ela traz um novo dado para o ‘Boneca Barracão’. É a escritora, a mulher política negra. Já tinha homenageado ao longo das outras edições do baile sete trans, travestis, e aí quando eu vi a Rejane pensei: ‘Nossa, essa é uma nova faceta do barracão’. Por isso, decidi escolhe- lá”, pontuou Milton Cunha.
A oitava edição do Baile Glam reuniu ainda diversas musas, passistas e rainhas de bateria do Grupo Especial e da Série Ouro. Entre os nomes que marcaram presença estiveram Mayara Lima, da Paraíso do Tuiuti; Tati Minerato, da Porto da Pedra; Darlin Ferrattry, do Império Serrano; e Wenny Iza, da Unidos de Bangu. A ex-rainha de bateria da Beija-Flor de Nilópolis Sônia Capeta também esteve entre as figuras ilustres que compareceram ao evento e até mesmo desfilou no palco.
“É muito bacana essa festa, essa celebração que o Milton Cunha faz para os destaque. Não é qualquer um que consegue desfilar com uma fantasia dessas, mesmo que fosse de graça. São verdadeiros artistas. Então, não só o Milton está de parabéns pela iniciativa, como todo mundo que participou desse evento maravilhoso. E desfilar no palco, ser homenageada também, foi a maior emoção, porque eu não esperava isso tudo. E sempre que me convidarem, vou participar”, declarou Sônia Capeta.
A festa teve também como atrações o tradicional desfile dos destaques de luxo e um show da Vila Isabel, que encerrou a noite. O evento teve apresentação de Milton Cunha, Meime dos Brilhos e Laiza Bastos, além de show musical do Grupo SER (Samba Enredo de Raiz). A oitava edição do Baile Glam teve patrocínio da Prefeitura do Rio de Janeiro, através da Secretaria Municipal de Cultura, e apoio da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) e da Rio Carnaval.
Fotos dos desfiles dos destaques