Para o próximo carnaval, a bateria da Unidos da Tijuca pretende levar um total de três paradinhas para a avenida. Duas já estão sendo ensaiadas e assimiladas pelos ritmistas. A preferência é inserir a terceira bossa somente quando as duas primeiras já estiverem enraizadas mentalmente. Embora esteja utilizando timbal dentro de arranjos musicais, a adequação cultural ao enredo da escola não será somente por esse caminho. Casão buscará explorar os próprios tambores já presentes da bateria (os surdos de primeira, segunda e terceira). A musicalidade presente nas convenções ensaiadas dá ênfase aos toques de tambores, se aproveitando inclusive das diferenças entre os timbres para consolidar a sonoridade em meio à levada baiana presente na melodia do samba.

Uma característica marcante da bateria “Pura Cadência”, além do próprio andamento mais para trás e da bela afinação de surdos, é uma batida de caixas uníssona, consistente e com ampla ressonância acústica. Ressonância acústica é um termo físico que explica a propagação de sons emitidos com a mesma frequência, o que ocasiona um drástico aumento na amplitude. Isso ocorre devido aos caixeiros tijucanos emitirem um som limpo, uniforme e ressonante, enquanto tocam praticamente no mesmo volume, de forma leve e equilibrada. O ressoar das caixas da Tijuca serve como base sonora para os demais naipes do ritmo. A filosofia musical de tirar som da peça, sem dar pancada no instrumento auxilia demais na exibição de um alto padrão musical das caixas, bem como no restante da bateria. Esse é um dos nortes dentro da bateria tijucana, produção de ritmo com leveza, disciplina e educação musical. A preocupação é garantir que a musicalidade de cada naipe agregue valor sonoro ao conjunto da bateria.

Outra identidade musical da bateria da Tijuca diz respeito à ala de tamborins, com ritmistas mesclando os toques de dois por um (2×1) e três por um (3×1). Essa união rítmica de batidas distintas impacta positivamente o já destacado naipe de caixas de guerra, permitindo uma coesão musical. Com simplicidade e funcionalidade, as convenções rítmicas dos tamborins se pautam por aproveitar as nuances melódicas do samba-enredo da escola. Uma ala de tamborim que prefere não inventar muito, visando o impacto musical que pode agregar ao ritmo, sempre casando as batidas com o que a melodia da obra tijucana pede.

Segundo o mestre, essas peculiaridades fazem parte de um projeto voltado exclusivamente para auxiliar a agremiação. Como Casão costuma dizer, a bateria da Tijuca toca para a escola, pensando no canto, na dança e no melhor desfile possível para todos os segmentos. Harmonizar musicalmente todo o ritmo, levando em conta o conjunto da sonoridade produzida é o fio condutor do trabalho de Casagrande na bateria da escola do Borel.

Foto de Allan Duffes/site CARNAVALESCO

Mestre Casão aproveita para deixar um agradecimento especial ao carro de som da Tijuca, plenamente adaptado ao samba-enredo para o próximo desfile. Trabalhar com Wantuir que tem raiz fincada dentro da escola, além da talentosa e premiada Wic Tavares, tem permitido que a musicalidade tijucana aflore cada vez mais. Wic Tavares venceu o Estrela do Carnaval de revelação, entre outros prêmios, o que ajuda a sacramentar a nítida boa fase musical da Unidos da Tijuca.