Desde 1985 produzindo arranjos para o disco de samba-enredo oficial da Liesa, o músico e produtor musical Alceu Maia teve, mais uma vez, a oportunidade de dirigir a produção e organização do álbum, sempre muito esperado pelo mundo do carnaval e por simpatizantes do gênero. Alceu é cavaquinista,violonista e compositor de música popular brasileira. Já gravou com diversos artistas da música brasileira, no mundo do samba, os mais notórios, Martinho da Vila, Clara Nunes, Chico Buarque, Leci Brandão, Alcione, Cartola, Zeca Pagodinho, Nelson Cavaquinho, Jorge Aragão, entre outros.

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Fotos: Lucas Santos/Site CARNAVALESCO

Sobre as faixas oficiais que foram gravadas pelas escolas de samba do Grupo Especial para o álbum oficial e para serem disponibilizadas nas plataformas digitais, Alceu Maia disse estar muito orgulhoso por ter a oportunidade de mais uma vez dirigir os trabalhos, já que produziu em conjunto com outros músicos em anos anteriores.

“Desde 1985 eu produzo arranjos para o disco. Antes, eu já tocava cavaquinho. Aqui é uma família, o Mário Jorge hoje está em uma função diferente, mas também já produziu há muito tempo. O Magro também é o coordenador do estúdio, curte muito esse trabalho, tem o Bessa (Leonardo Bessa) também. Todo mundo vibra muito, a gente não tem ninguém que não curta samba e samba-enredo aqui, inclusive, as meninas que trabalham na produção, na parte mais burocrática. Eu tenho muitos amigos compositores, eu mesmo já ganhei samba-enredo na São Clemente em 1990”, relembra o produtor.

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Com muitos anos acompanhando e participando da produção do disco oficial das escolas de samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro, Alceu apresenta algumas memórias de como eram as gravações e explica que este a ano a ideia é não tentar reproduzir o clima do “ao vivo”, em sua opinião, impossível para o estúdio.

“Esse disco foi feito no início em uma versão simples, era cavaquinho, voz e batucada. Os instrumentos de escola de samba eram gravados em estúdio. Depois de um tempo, foi para o Teatro de Lona, na Avenida Ayrton Senna, na Barra. Foi uma outra concepção de gravação, tipo uma mini bateria, coro de 30 pessoas, cavaquinho, violão, e uma concepção de tentar reproduzir um clima de ao vivo. Depois voltamos para o estúdio, e depois a gente fez na Cidade do Samba alguns anos e que era também nessa concepção de disco ao vivo. As escolas levavam 300, 500 pessoas para coro. E agora a gente voltou para o estúdio, tem alguns anos, e a coisa é completamente diferente. A gente não pode jamais querer fazer um disco de estúdio que reproduza o som da Avenida, o clima da Avenida. Nem você gravando na Cidade do Samba você consegue dar aquele clima, porque hoje em dia tem as exigências técnicas de um disco, de um áudio. Se você for gravar um disco ao vivo, coloca os microfones na batucada, na voz do cantor, não vai ficar legal. O disco ao vivo nunca é completamente ao vivo, porque a voz do cantor é gravada em estúdio, o coro é gravado em estúdio. Em estúdio é impossível você colocar o clima da Avenida e vice e versa”, explica o produtor.

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Mário Jorge e Alceu Maia

Complementando ainda sobre a concepção do disco, Alceu conta que a ideia é organizar o produto de uma forma que chegue mais limpo para o consumidor final, valorizando o aprendizado do samba.

“Esse ano a gente pensou em fazer alguma coisa mais ligada para o consumidor final mesmo. Aquele cara que eu brinco que é o sambista de início de ano, que compra o disco em dezembro, vai até acabar o carnaval, aí o disco fica lá na coleção. Essa paixão que o sambista consumidor tem, ele quer ouvir o samba, quer curtir o samba, conhecer para cantar o samba da escola dele, outros gostam de samba-enredo, querem ouvir todos os sambas”.

Alceu revela que houve uma conversa com as escolas para que a letra e a melodia fossem as grandes valorizadas no álbum, mais do que outros aspectos.

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“A gente sentiu uma necessidade, passei isso para a galera e o pessoal aceitou, de fazer as introduções mais rápidas. Porque às vezes eram coisas lindas, bem criativas, mas que faziam que demorasse para começar o samba propriamente dito. E, hoje em dia, a agilidade é muito grande. E para a gente se acostumar a essa velocidade da internet, a gente está fazendo com introduções pequenas. Em relação às bossas, é para valorizar mais o samba. A primeira a gente está vindo com menos chamadas, menos cacos, para o samba ficar mais limpo. E os mestres de bateria são super criativos, e a gente bateu um papo com eles para diminuir um pouquinho. Às vezes os mestres faziam coisas muito criativas, muito bacanas no disco, mas que não iam para a Avenida. Porque no disco se errar, faz de novo, na Avenida perde ponto. Eles compreenderam isso, fizeram coisas criativas, bacanas, uma vez só no samba, na segunda passada, e para valorizar a música que os compositores fazem com tanto carinho, e para valorizar os compositores que vão ver seus sambas sendo cantados ali e na Avenida”, esclarece Alceu.

Por fim, o produtor musical entende que o disco é um produto com bastante qualidade musical. Alceu contou também que tem recebido um boa avaliação dos profissionais das escolas que participam das gravações.

“Basicamente, ter as introduções menores para a música fluir mais rápido, a valorização da música, do samba-enredo, e a primeira vez já vem sempre na pancada, desde o início do samba já com bateria completa. A primeira passada do samba a gente vai colocar menos coro, para o pessoal poder aprender mais a música. A intenção foi fazer uma coisa tecnicamente e musicalmente bacana . Os comentários dos mestres, diretores de carnaval, pessoal que vem, diretores musicais das escolas, estou feliz que eles estão dando muita força por ter conseguido fazer isso, porque eles também curtiram a ideia. Achei bacana que eles abraçaram também”, finaliza Alceu.