Série Barracões: Tijuca se desprende de alegorias humanas e alas coreografadas, apostando em estética mais artesanal
Do desfile histórico de 2004 com o carro do DNA, passando pelos anos dourados sobre o comando de Paulo Barros, mas se mantendo em carnavais sem o artista, como 2007, 2008, 2015 e 2016, a presença do efeito visual de carros com grande quantidade de componentes sempre marcou a trajetória da Unidos da Tijuca neste século. Desde 2016 sem frequentar o desfile das campeãs, a escola parece ter decidido dessa vez realizar mudanças que possam acarretar em resultados mais positivos. A contratação do carnavalesco Jack Vasconcelos, terceiro colocado em 2020 com a Mocidade, pode ser um aceno em uma busca por uma estética diferente em 2022.
O artista está produzindo “Waranã – a reexistência vermelha” e recebeu a reportagem do site CARNAVALESCO no barracão para conversar sobre suas ideias para o desfile deste ano. Jack acredita que uma mudança na forma de concepção da plástica da Unidos da Tijuca será um grande trunfo para este carnaval.
“É o conjunto. É uma estética diferente de Tijuca, sem muita alegoria humana, de alas coreografadas que a Tijuca está acostumada, as pessoas vão ver uma Tijuca diferente do que estão acostumadas. Muito mais artesanal. No processo de construção do carnaval, é um carnaval que literalmente uma peça não é igual a outra, tudo muito manual de verdade. Os aderecistas estão trabalhando bastante desde o início do processo porque isso era de propósito. A gente não queria algo que fosse padronizado, a estética do desfile é toda no conceito de ser uma grande ilustração, o enredo é no formato de conto”, revela o carnavalesco estreante.
O artista explica que a escola trará um estilo próximo da arte “Naif”, arte mais popular, mais autodidata. Jack entende que esse caminho que a escola está trilhando e se afastando um pouco de um tom mais coreografado, pode ajudar em uma evolução mais espontânea dos componentes. “É como se a gente estivesse abrindo um livro e vendo as imagens desse conto. E ele é todo desenhado, como o enredo fala sobre os olhos do Kahu’ê, sobre o seu olhar mais infantil, ele tem uma pegada plástica mais ingênua que versa até com arte Naif. O enredo todo tem esse conceito, então eu acho que isso já vai chamar muita atenção. E o fato também da Tijuca estar com a proposta de fazer um desfile mais solto. Em termos de harmonia, isso vai chamar bastante atenção”.
Enredo do presidente ganha a cara de Jack Vasconcelos
A proposta de apresentar na Sapucaí o conto do guaraná veio como sugestão do presidente Fernando Horta. Prontamente aceita pelo carnavalesco, Jack utilizou como inspiração dois capítulos da obra “Sehaypóri: o livro sagrado do povo Satarê-Mawé”, do autor Yaguarê Yamã, escritor originário do povo que também será homenageado no enredo, o Satarê-Mawé. O livro que também é ilustrado por Yaguarê, gerou inspiração para diversas ilustrações de carros e fantasias feitas por Jack.
“Originalmente foi uma sugestão do presidente da escola e ele me perguntou se seria um bom enredo, e aí eu disse que sim. E a gente partiu para pesquisa. O que mais me encantou de cara foi a própria lenda. A lenda do Saterê-Mawé, a origem do guaraná e como isso estava ligado diretamente à origem do próprio povo. Eu achei aquilo muito bonito, muito poético”, revela.
Como já de costume em seus enredos, Jack não poderia deixar de trazer alguma questão importante para sociedade. Por isso, dentro da lenda do guaraná e da formação do povo Saterê-Mawé, haverá uma importante reflexão sobre a importância da preservação da cultura indígena.
“Eu achei pertinente também a gente trazer alguma questão indígena, trazer um pouco desse discurso para o nosso carnaval, porque eu acho uma pauta importante e de uma certa maneira o carnaval sempre versou sobre esses temas. Sempre foi uma linguagem que o carnaval ajudou a construir na cabeça do imaginário da população. Então eu acho que o carnaval historicamente tem um papel importante na preservação da memória da cultura indígena para os não indígenas”, explica o carnavalesco.
Jack também indica que a preservação da natureza, da cultura indígena e de seus lugares de direito não vai ter um setor específico, mas estará presente durante todo o desfile.
“A gente tem uma parte do enredo que aborda essa questão, mas é uma questão que eu acho que está meio que dentro do enredo inteiro. Tem uma hora que ela fica mais evidente, mas o título de ‘reexistência’ não é à toa. A gente fala sobre esses modos que a gente acabou encontrando no decorrer da história de se reinventar, ou de se transformar durante o processo histórico para se manter. Quem ensina muito isso para gente é a própria natureza, o próprio ciclo de vida e morte, de como a natureza funciona, então, eu acho que ela nos dá o exemplo disso”, esclarece.
Produção do desfile é dedicada e inspirada em Oswaldo Jardim
Autor do inesquecível desfile de 1999 que rendeu o retorno ao Especial à Unidos da Tijuca, o saudoso carnavalesco Oswaldo Jardim terá sua produção artística como inspiração para a produção do carnaval de 2022 de Jack Vasconcelos. O carnavalesco estreante pela escola do morro do Borel explica como a estética de Oswaldo se relaciona com os seus próprios conceitos e estilos.
“Ele é uma influência importante para mim. O Oswaldo tem uma pegada estética que me agrada muito e que me influenciou quando eu era ‘jovenzinho’ (risos), porque ele trazia um apelo visual muito forte. A cor dele chama muita atenção, ele se comunicava muito com a questão de cor e forma, e ele trouxe experimentos de outros lugares para o carnaval também, ele furou a nossa bolha de conceito do que é material de carnaval, por exemplo, ele conversou muito com as artes plásticas e isso sempre chamou a minha atenção”, revela.
Jack aponta que as inovações estéticas trazidas por Oswaldo dialogam muito com a própria forma que o saudoso carnavalesco se coloca em relação ao desenvolvimento de seus enredos. “Essas outras possibilidades de comunicação sempre me emocionaram muito, e mais tarde eu fui entender que não era só isso, isso era uma consequência da própria narrativa dos enredos dele. Então, começava pelo jeito que ele abordava os enredos. E aí eu fui vendo uma proximidade do que eu acreditava de carnaval com o trabalho dele. E eu acho que a gente vai ver muito disso na Tijuca deste ano também”.
Fama de grande enredista e antecipação de produção estética nas sinopses
Bastante elogiado pelo desenvolvimento de seus enredos, Jack Vasconcelos procura não ficar melindrado por elogios e explica que costuma buscar uma forma de passar os temas da maneira mais entendível e simples para todas as pessoas que acompanham o desfile
“Eu procuro não pensar nisso. Quando eu recebo uma sugestão, por exemplo, nem todo enredo que a gente trabalha foi nossa sugestão inicial, isso é normal. Mas eu procuro olhar para o tema que me é sugerido e pensar em como eu conseguiria fazer com que ele chegasse para o entendimento das pessoas da melhor forma, da forma mais simples, porque as pessoas precisam entender aquilo que a gente está falando”.
O carnavalesco esclarece que procura sempre já trabalhar a concepção visual de seus carnavais logo no início da produção do enredo, no desenvolvimento da sinopse, por exemplo. “Eu não sei como é o processo de criação dos meus colegas, ou dos enredistas, enfim, os processos são diferentes. Como eu estou acostumado a fazer os meus enredos, a fazer a minha pesquisa, eu não sei desassociar esse processo. Então, quando eu, por exemplo, lanço uma sinopse, eu já tenho o roteiro do desfile todo pronto, eu já sei as alas, o que elas querem dizer, o carro, o que vai ser, eu posso não ter os desenhos, mas eu já sei o que eles serão. Então, quando uma sinopse minha chega para o público, o público já sabe dos pontos que eu vou falar. Então, o compositor é a mesma coisa. Já tenho o desfile montado na minha cabeça e já sei como ele se comunica visualmente”, informa.
Nesse processo de produção visual em paralelo com produção inicial e escrita do tema, o carnavalesco explica que isso facilita até para que o artista possa dar o entendimento do desfile relacionando cada momento, cada sentimento que o setor quer passar para o público através da própria paleta de cores.
“Eu penso quais os setores que vão ter cores mais fortes, qual o setor que vai ser mais suave, que dá uma ideia maior de conforto ou de linearidade, não tem conflito, o outro setor é mais conflitante, e eu já sei que ali vai ter umas cores mais fortes e mais chocantes entre elas. Até para passar essa ideia para o público. Mesmo com a fantasia longe, a pessoa já vai ver que tem uma guerra, ou que tem um confronto, uma coisa, ou outra ‘vibe’”, revela.
Preservação ambiental e dos povos indígenas pode ser grande mensagem deixada por este carnaval de Jack Vasconcelos
Jack é conhecido em seus últimos enredos por sempre trazer, dentro das histórias a serem contadas, uma grande mensagem para a sociedade. Em 2018 pelo Paraíso do Tuiuti havia a questão da escravidão e do trabalho análogo ao escravo ou desvalorizado que permanecia até os dias atuais. Em 2019, a crítica aos políticos e a corrupção, e ano passado, na Mocidade, no desfile sobre a Elza Soares, além de toda questão do feminismo e do protagonismo da mulher, que Elza já personificava por si mesmo, o carnavalesco trouxe a valorização dos professores, a pedido da cantora. Para 2022, nessa estreia na Unidos da Tijuca, o enredo sobre a lenda de surgimento do guaraná, também trará como pano de fundo a preservação ambiental e da memória da cultura dos povos indígenas. Com o desfile, Jack espera conseguir tirar da sociedade uma visão romantizada e muitas vezes distorcida dos povos nativos.
“Eu acho que a gente tocando as pessoas sobre a importância de se ter atenção, sobre o ataque que a cultura dos povos originários vem sofrendo principalmente neste período, só isso já estará valendo, eu já vou ficar muito feliz se as pessoas se ligarem que a gente está trazendo para as pessoas que é importante elas se ligarem, tirarem um pouco a questão indígena de um lugar idealizado, as vezes até romantizado, e trazer para o real, para o agora, para o contemporâneo, então, se as pessoas se ligarem nisso, já está de bom tamanho “, espera o carnavalesco.
Carnavalesco acredita que samba na boca do povo ajuda e rechaça barracão atrasado
Sendo festejado em todos os eventos que Wic Tavares e Wantuir apresentam, o “Waranã da Tijuca” fez muito sucesso neste pré-carnaval. A obra mais melódica tem encontrado boa aceitação entre os sambistas. Em geral, isto pode gerar mais expectativas e cobranças para a realização de um grande desfile e para um bom desenvolvimento de enredo e apresentação da parte plástica. Jack não acredita que isso aumente a responsabilidade, mas festeja e aponta o sucesso do samba-enredo como motivação extra para o trabalho.
“Eu acho que ser aclamado antes do tempo como um dos melhores sambas e tal, massageia o ego da gente, dá uma alegria extra. Responsabilidade, tudo tem. Você fazer uma escola de samba já é uma grande responsabilidade, você já está botando o seu telhadinho de vidro de fora. O mais importante disso é ter um samba que a gente gosta de cantar, porque nem sempre o samba que se escolhe né…. (risos), mas a gente dá um jeito, a gente valoriza. Mas, esse é um samba que a gente ama, a gente canta com alegria, já dá um prazer de você está trabalhando no barracão sabendo cantar o samba, que a gente lá embaixo está trabalhando e cantarolando ele, sabe? Há um prazer com o samba que a gente canta, que a gente vai representar, e isso para mim é incrível”.
Aproveitando para falar sobre trabalho no barracão, houve muita conversa de que a Unidos da Tijuca estaria atrasada com seu barracão neste início de ano. O carnavalesco Jack Vasconcelos rebate esse discurso apresentando um planejamento da escola focado para abril e garantido que a Tijuca estará pronta e bonita no momento certo.
“Eu acho que todo mundo está atrasado porque o carnaval está atrasado. O carnaval não foi na data que tinha que ser. Então, essa questão de quem está atrasado já caiu por terra quando o pessoal pulou para abril. Então, essa questão não existe mais. Se tem gente trabalhando em algum barracão de escola de samba, a gente não pode dizer que alguém cumpriu o cronograma. Então a gente está ‘super’ tranquilo com isso. Não tem motivo para a gente correr, é uma bobagem, não tem premiação para quem acaba antes, se tivesse a gente já estava pronto”, encerra Jack.
Entenda o desfile
A Unidos da Tijuca levará para a Sapucaí, em abril, 5 alegorias, mais um tripé e um “pede passagem”, com 27 alas e cerca de 3200 componentes. O carnavalesco explicou um pouco de como estão divididos os setores da escola:
Primeiro setor: “Na entrada da escola a gente fala sobre os equilíbrios das forças positiva e negativa, que o enredo vai decodificar em Yurupari e Tupana, que fazem o equilíbrio de todas as coisas. A gente fala do equilíbrio, e como o enredo fala sobre ciclos, era importante a gente mostrar que as coisas não são só de um jeito”.
Segundo setor: “A gente fala sobre a lenda em si. Monã cria o Nusokén, que é o paraíso, o lugar idealizado, e aí a gente fala dos três irmãos, Yucumã e Ukumã’wató e a bela Anhyã-Muasawê, por quem os bichos são apaixonados, e quem consegue tocar ela que é a cobra, a engravida. E aí, quando ela fica grávida do Kahu’ê, os irmãos ficam varados de ciúmes dela, porque ela é a responsável pelo lugar, por ter o conhecimento da floresta nela. E isso cria uma inveja. E quando Anhyã engravida da cobra, os irmãos encontram um motivo para expulsá-la de lá”.
Terceiro setor: “Anhyã vai ter Kahu’ê fora dessa floresta encantada e nasce uma criança muito falante, muito feliz e espertíssima. E por ser uma criança muito esperta e curiosa, ela fica sabendo da castanheira sagrada dentro de Nusokén, onde eles não podem entrar mais, e ele vai querer comer a castanha dessa árvore. E ele entra em Nusokén, os tios ficam sabendo, e falam para o Yurupari, que é a força decodificada dentro do enredo como a força maléfica, e o Yurupari dá um ‘jeitinho’, se é que vocês me entendem, na criança”.
Quarto setor: “O Kahu’ê morre, a mãe aparece para levar o corpo do filho e Tupana manda ela tirar os olhos da criança e enterrar. E chorar em cima, regar com as lágrimas, e através disso o guaraná floresce. Desse guaraná ela faz o elixir”.
Quinto setor: “Ela rega onde está o corpo enterrado do Kahu’ê, e desse corpo que ela molha com esse guaraná nasce o primeiro Satarê-Mawé, e a tribo vem toda desse primeiro e depois o segundo que é o irmão, e começa a tribo a nascer desse elixir”.
Sexto setor: “A gente começa a falar desse povo, que é o povo do guaraná, que é um povo que cultiva o guaraná até hoje, essa reexistência vermelha tem a ver com a tribo, através do renascimento do Kahu’ê, uma coisa vai gerando outra, é uma ação ruim do Yurupari, que gerou uma coisa boa do Tupana, que gerou uma coisa maravilhosa que é uma outra tribo. E a gente fala de como Yurupari tenta perseguir ou reinar nessa floresta maravilhosa. E os ataques que as tribos sofrem, agora não só a Saterê-Mawé, mas como um todo, a cultura indígena e a gente reexistindo”.
Último setor: “A gente fala sobre essa natureza toda que dá um jeito de reexistir nisso tudo, por mais que se tenha queimada, garimpo ilegal, por mais que se tenha esses ataques as tribos e a cultura indígenas, essas tentativas de apagamento de memórias, ao longo da história, a gente dá um jeito, a natureza dá um jeito de renascer. E a gente fala também dessa reexistência que também acontece no plano espiritual, dessas entidades, desses caboclos, por que o Kahu’ê transcendeu, deu origem ao guaraná, que deu origem a tribo Satarê-Mawé e vai virar uma entidade. Hoje, onde acontece uma festa de criança, festa de Erê, o Kahu’ê está presente no formato do guaraná que é a bebida dessas festas”.
Ficha técnica do barracão:
Gerente de barracão: Pedro Veloso
Aderecista chefe: Laerte
Aderecista de carros alegóricos: Laerte
Projeto de alegoria: João Torres
Série Barracões São Paulo: Força de Carolina de Jesus é a mensagem do Colorado do Brás
O site CARNAVALESCO visitou o barracão do Colorado do Brás e conversou com o carnavalesco André Machado, que explicou todo o desenvolvimento do desfile da escola para 2022. A agremiação irá para a avenida com o enredo “Carolina – A cinderela negra do Canindé”, uma homenagem que irá contar toda a história da escritora Carolina de Jesus.
“Assim que eu entrei na Colorado, em uma reunião com o presidente Antônio (Ka), falei sobre as possibilidades de enredo, de Carolina de Jesus e ele queria saber a forma como eu iria contar, porque ele não queria coisas tristes na escola e eu mostrei e convenci que a gente não falaria de tristeza. Deu certo e a escola abraçou. Carolina Maria de Jesus nasceu pra mim há 7 anos atrás e, por ser um enredo que não tem patrocínio, demorou muito pra se tornar realidade”.
André Machado disse que se identifica com a história de vida da escritora e que o enredo ganhou mais verdade especificamente no Colorado. “Primeiro que eu me identifico muito com a história de Carolina de Jesus, porque eu já fui morador de favela. Quando eu li ‘Quarto de Despejo’, me emocionei algumas horas. Não sofri o que ela sofreu, mas eu me identifiquei. É um tema que eu sempre tive vontade de transformar em enredo, deu certo e teria que ser na Colorado, porque Carolina de Jesus viveu na favela do Canindé, que fica na área do Brás. Serviu até pro enredo ganhar mais verdade. Nada é por acaso. Eu desenvolvi o enredo em cima da palavra coragem, porque ela foi uma mulher corajosa. Mesmo passando fome, ela nunca desistiu”.
O carnavalesco se aprofundou no enredo, deu mais detalhes e se mostrou otimista quanto à colocação da escola. “Falando do enredo em si, eu propus para a escola falar de uma forma bem lúdica, mas não deixando de contar a verdade sobre Carolina Maria de Jesus. A gente faz uma analogia com a história da Cinderela. No caso da Disney, a Cinderela trabalhava muito e encontrou uma fada madrinha, levou ela para o baile e se tornou a Cinderela por conta de um sapatinho que um príncipe levou até ela pra ser provado. Na história de Carolina, ela também trabalhou muito, batalhou a vida inteira, passou fome e por ser negra e favelada, demorou muito pra se tornar escritora, até ser reconhecida como tal. A fada madrinha dela, no caso, foi o Audálio Dantas. Um jornalista que apareceu na favela do Canindé quando ela estava sendo desapropriada e conheceu Carolina de Jesus, ela mostrou o livro que estava escrevendo, resolveu publicar e, o livro ‘Quarto de Despejo’, acabou se tornando o livro mais vendido da época. Foram 10 mil cópias em uma única semana e 100 mil cópias em 1 mês e Carolina passou a ser uma celebridade”, disse o artista, que emendou ainda:
“Aí eu falo que foi a elite literária da época, porque vendeu mais que Jorge Amado e Clarice Lispector. Só que Carolina entendia muito de escrever, mas não entendia de matemática. Então, ela ganhou muito dinheiro, mas também perdeu na mesma proporção e as pessoas passaram a explorar ela. Engraçado é que a Carolina é passou a vida inteira sendo a negra escritora ou favelada escritora e a gente quer separar isso e colocar a escritora na frente. Ela sabe que foi negra, mas queria ser reconhecida como escritora, independente da cor. Essa é a mensagem que a Colorado quer passar e eu tenho muita fé que nós vamos chegar entre as cinco”.
Segundo André Machado, a força e inspiração para muitas mulheres, foram os vestígios de pesquisa que mais fascinaram o carnavalesco. “A força dela. Eu acho que ela serve de inspiração pra muitas mulheres. Tem uma passagem no livro dela ‘Quarto de Despejo’ que é muito triste, onde foram oferecidos ratos pra ela comer. E também por ser um enredo muito atual, falar da favela, dessa época de miséria reflete muito o que vivemos hoje. Principalmente pela quantidade de pessoas que estão nas ruas passando fome. Por exemplo, a gente liga a TV pra assistir um telejornal e vê pessoas na caçamba de lixo procurando ossos pra fazer uma sopa pra poder se alimentar. Isso a Carolina viveu e acho um enredo muito importante. Carolina é uma inspiração para tantas outras que estão catando papelão e que acreditam em um sonho. Ela deixou isso como um legado. Não importa de onde você venha, só tem que focar nos sonhos que você quer seguir e realizar”.
O artista promete inovar na avenida e, nos revelou, que carro o abre-alas será feito inteiramente de papelão, onde foi o começo da história de Carolina. Para o carnavalesco, esse momento do desfile irá impactar o público no Anhembi. “Têm dois momentos dentro do nosso desfile que vão ser bacanas. Estamos trazendo algo novo. Carolina Maria de Jesus era catadora de papelão, então eu resolvi o nosso abre-alas ser feito todo de papelão. Um material que acho que nunca foi usado dentro do carnaval. Talvez cause estranheza nas pessoas quando verem no Anhembi antes dos desfiles, mas a ideia é essa. Fazer com que a matéria-prima de qual a Carolina sobreviveu, seja uma alegoria também. Tem uma aula que é a ‘catadores de papelão’, onde 90% da fantasia é feita de papel e papelão. A gente fez um trabalho de pesquisa, de resina para impermeabilizar bem esse material, porque em São Paulo está sempre chovendo”.
Conheça o desfile
Setor 1
“No primeiro setor do desfile, eu faço uma analogia da Carolina de Jesus com a figura da libélula. Cientificamente, a libélula antes de se tornar libélula, é uma ninfa. Ela passa oito anos dentro d’água e depois ela vai subindo até virar uma libélula. Depois disso, ela morre em dois dias. Acho que a Carolina de Jesus foi isso. Ela passou a vida inteira trabalhando e, quando realmente ela conseguiu alcançar o que ela se propôs a fazer a vida inteira, ela morreu. Então, eu faço essa analogia com os arautos nessa abertura. Aí eu falo um pouco da ancestralidade da Carolina. Teve um avô escravo, que morava em Angola e veio pro Brasil como escravo”.
Setor 2
“Abro o segundo setor falando desse amor da Carolina pela literatura. Ela teve alguns problemas em Sacramento, onde ela teve o apelido de ‘Carolina do diabo’, por ter lido um livro de São Cipriano. As pessoas passaram a achar que ela fazia bruxaria. Com todo esse sofrimento dela e não podendo perambular pela cidade sem ser taxada como bruxa, ela resolveu ganhar o mundo e foi parar em Franca, fez uma passagem rápida em São Paulo, foi pro Rio de Janeiro e depois voltou pra São Paulo de vez pra trabalhar de empregada doméstica. Aí que começou a história dela de tristeza. Morou em albergue, chegou a catar papelão, até chegar na favela do Canindé com três crianças”.
Setor 3
No terceiro setor a gente fala sobre a carruagem, o grande baile, onde ela foi aceita pela literatura como grande escritora. Eu começo a falar de tudo o que ela ganhou, fechando o nosso carnaval assim. Ela gravou um LP, ‘Quarto de Despejo’, título de cidadã paulista, de mãe preta. Ela começou a fazer tanto sucesso que o livro passou a ser peças de teatro e filmes”.
Setor 4
“O último carro continua falando desse legado de Carolina, o quanto ela inspira outras mulheres. E também o quanto ela era apaixonada pelo carnaval. O carro fala exatamente da Colorado entregando o sapato de cristal, que é o conhecimento dela sendo uma grande escritora”.
Ficha técnica
Alegorias: 4
Componentes: 1600
Alas: 19
Escultura e pintura – Jô
Decoração – Deivid
Equipe de serralheria – Bruno Limão
Marceneiro – Marcelo Carioca
Entrevistão com Iza: ‘Seria um sonho ficar muitos anos à frente da bateria da Imperatriz’
Há dois anos fazendo parte também da família Leopoldinense, a cantora Iza se prepara para viver mais uma vez a experiência de pisar na Sapucaí à frente da Swing da Leopoldina, comandada por mestre Lolo. E, dessa vez, abrindo os desfiles do Grupo Especial. De volta à elite do carnaval, a escola vive um momento diferente, de muita organização, e de muita sinergia com a comunidade.

A presença de um ícone da música Pop, como a cantora Iza, é sinal dos bons ventos que sopram para o lado de Ramos. Mas, se engana quem acha que Iza é só mais uma artista se metendo no mundo das escolas de samba. Criada em Olaria, próximo a quadra da Imperatriz Leopoldinense, também pode-se considerar que a cantora é uma menina que saiu da comunidade, e a presença nos ensaios confirma além da simpatia, da simplicidade, muito samba no pé. Anos depois de ganhar o mundo, e fazer sucesso, ela está de volta também para ser exemplo para outras meninas da região de que é possível conquistar aquilo que sonha.
Em entrevista ao site CARNAVALESCO, durante ensaio na quadra da Imperatriz em Ramos, a cantora Iza falou sobre ser exemplo para as meninas do morro do Alemão e comunidades próximas a escola, sobre o sonho de permanecer no posto de rainha por muitos anos como outras referências, a alegria de voltar à Sapucaí depois de dois anos e a relação com mestre Lolo.
Você tem noção da sua importância dentro da escola, ou seja, muitas meninas do Complexo do Alemão sonham em ser uma Iza no futuro?
“Noção é meio complicado, mas eu fico muito feliz de receber perguntas como essa porque significa que alguém se inspira no meu trabalho, se inspira no que eu faço, com certeza, isso faz com que eu me sinta muito feliz de saber que o meu trabalho chega dessa forma para essa galera, que de certa forma me inspira muito também”.
Você veio com a Imperatriz do Acesso para o Especial, o que representa esse momento?
“Nossa, é uma coisa louca, né? É uma emoção muito grande, por mais que eu tenha experiência com os palcos, mas a Sapucaí tem uma energia muito diferente. E, eu sei que desfilando dessa vez, abrindo esse desfile, nós somos os primeiros depois de tanto tempo com saudade da Avenida, realmente vai ser uma emoção que eu não sei, que eu ainda não senti. Mas, eu estou muito ansiosa para esse momento”.
O que você projeta sentir quando pisar na Sapucaí após dois anos sem desfiles?
“Muita felicidade, muita gratidão, porque significa que a gente venceu, né? Esse momento. E que a gente está de volta, que as coisas estão voltando, é uma promessa que as coisas estão voltando ao normal. E, isso é muito especial, a gente não está só longe da Sapucaí, e eu segurei os meus shows ao máximo, para ser coerente com tudo que eu vinha falando ao longo da pandemia. Era necessário esperar o momento seguro, e eu sinto que agora é o momento”.
A escola está transformada, vive outro momento, pensa em ficar muitos anos à frente da bateria e virar referência como foi a Luiza Brunet?
“Olha, isso seria um sonho, né? Mas, na verdade, quem vai dizer é essa escola que é incrível, que me abraçou com muito carinho, para mim seria um prazer, mas eu acho que isso não é uma coisa que possa afirmar, mas seria lindo”.
A sua sinergia com o mestre Lolo parece que vocês se conhecem há anos. Como funcionou isso tão rápido?
“Eu fico muito feliz, na verdade é muito fácil lidar com o mestre Lolo, ele é um cara muito generoso, muito educado, muito talentoso e muito inteligente. É um ótimo guia, porque ele não está guiando só a bateria, ele me guia também, e isso é muito especial”.
O que esperar da fantasia da Iza no desfile de 2022?
“Olha, eu gosto muito de roupa, gosto de moda, gosto de fantasia, eu não posso revelar muita coisa, mas com certeza, a gente está se esforçando muito para entregar aquilo que a Imperatriz merece”.
O que você deixaria de mensagem para a comunidade da Imperatriz Leopoldinense?
“Ai meu Deus, agora é o momento, é um momento de retorno, é um momento de felicidade, de muita gratidão por fazer parte dessa escola. Então, o que eu acho que eu posso esperar é muita animação e muita felicidade de todos os componentes da comunidade que já vêm dando show em todos os ensaios, e eu tenho certeza que eles vão dar um show na Sapucaí também “.
Portela reúne torcidas organizadas do carnaval em ensaio show
A Portela vai promover nesta sexta-feira, 25, uma grande festa com as torcidas organizadas do carnaval. O evento começa às 21h e vai reunir torcedores de agremiações da Série Ouro e do Grupo Especial. Os ingressos já estão à venda pelo site: https://www.ingressocerto.com/sextou-portela-ensaio-show-portela-convida-uniao-da-ilhaencontro-das-torcidas-organizadas. Para animar ainda mais a noite, quem comprar uma mesa vai levar de brinde um balde de cerveja!

A Majestade do Samba abre a noite com seu show completo, com a participação de mestre Nilo e sua Tabajara do Samba, acompanhada pela voz inconfundível de Gilsinho. Além disso, teremos ainda a presença dos casais de mestres-sala e porta-bandeiras, Velha Guarda, baianas, passistas e participação de outros segmentos. Em seguida, as torcidas organizadas vão desfilar pela quadra acompanhadas pelos sambas de suas escolas, que serão interpretados pelo grupo Samba Enredo de Raiz.
á confirmaram presença a Nação Portelense, Família Portelense, Grito Altaneira, Guerreiros da Águia, Sangue Azul, SoberanoS, Raiz Mangueirense, Nação Mangueirense, Amigos da Águia, Nação Verde e Rosa, Independentes Mocidade, Família Tijucana, Apaixonados pela Santa Cruz, Guardiões da Águia, Explode Coração e Equipe Machine. Não fique de fora dessa!
Para participar do evento será necessário comprovar a vacinação contra a Covid-19. A comprovação poderá ser feita através do certificado de vacinação digital – disponível no aplicativo ConecteSUS -, pela caderneta de vacinação ou ainda pelo comprovante de vacinação, seguindo o calendário oficial do município, disponível em: https://coronavirus.rio/comprovacao/31196/ .
Serviço:
“Ensaio Show da Portela com encontro de Torcidas Organizadas do Carnaval”
Data: Sexta-feira, 25 de março
Horário: A partir das 21h
Local: Quadra da Portela (Rua Clara Nunes 81, Madureira)
Ingressos:
Ingresso Individual Antecipado– R$ 15,00
Ingresso Individual na Hora – R$ 20,00
Mesas – R$ 100,00
Camarotes Superior – R$ 600
Camarotes Inferior – R$ 400
Colorado do Brás é a atração do ‘ensaio turbinado’ nesta sexta no Rosas
A Sociedade Rosas de Ouro está promovendo ensaios pré-Carnaval com a presença de várias escolas coirmãs do grupo Especial e o próximo terá como atração a Colorado do Brás. O convite foi feito pela presidente Angelina Basílio, no último domingo (20/03), durante o esquenta do ensaio técnico da Colorado.

“Estamos num ano átipico para o Carnaval por conta dos adiamentos causados pela pandemia do coronavírus, porém um ano muito especial para a nação Azul e Rosa que está vivendo o “Jubileu de Ouro”. São 50 anos de história, cultura e resistência e estamos convidando a querida Colorado do Brás para abrilhantar nosso evento na quadra”, afirma Angelina Basílio, presidente da Rosas.
Todo elenco da escola, ritmistas da Bateria Ritmo Responsa, coordenada pelo mestre Allan Meira, time de canto liderado pelo cantor oficial Chitão Martins, ala dos casais de mestres-sala e portas-bandeira, baianas, passistas e demais setores, estão presentes para esse encontro especial.
“Vamos fazer uma grande festa na quadra da Roseira. Aceitei o convite da presidente Angelina na mesma hora. Somos amigos, parceiros, estamos sempre nos ajudando e nossas comunidades são muito amigas. Será uma honra para nós poder festejar o cinquentenário dessa escola tão charmosa, que é uma referência para todos os sambistas e para o Carnaval do Brasil.”, declara Antônio Carlos Borges, carinhosamente chamado de presidente Ká.
Além do show da Colorado do Brás, a Rosas de Ouro ainda terá roda de samba com os compositores da casa com a participação especial dos amigos do “Samba do Tatu” e o pocket de MPB com a cantora Glaucia Nasser. A quadra social fica na Rua Coronel Euclides Machado, 1066, com abertura dos portões às 21h.
Serviço:
Onde: Quadra da Rosas de Ouro
Endereço: R. Cel. Euclides Machado, 1066, Freguesia do Ó
Quando: 25 de março (sexta-feira)
Horário: abertura dos portões a partir das 21h
Finalizada! Fábrica do Samba é totalmente entregue aos sambistas de São Paulo
Enfim, o sonho se concretizou. Com a presença de autoridades municipais e integrantes das escolas de samba, os sete barracões que faltavam ser concluídos na Fábrica do Samba da cidade de São Paulo foram entregues pelo prefeito Ricardo Nunes (MDB) em cerimônia realizada na manhã desta sexta-feira. O local, que já abriga sete escolas do Grupo Especial, nas próximas semanas será ocupado pelas demais agremiações que desfilam na elite do Carnaval paulistano em 2022.

Sambistas comemoram a conclusão da Fábrica do Samba: ‘um sonho’
O clima era de euforia entre os sambistas que marcaram presença no evento, que contou também com a participação da bateria da Águia de Ouro. Os ritmistas conduziram até o palco o prefeito, seu casal de mestre-sala e porta-bandeira e a côrte do carnaval ao som dos seus instrumentos. Questionado sobre a importância da entrega dos barracões, o cantor Tobias da Vai-Vai exaltou a história do carnaval paulistano até chegar neste momento.
“Tudo isso é amostra da preocupação do poder público, do reconhecimento do poder público com a nossa cultura. Esse trabalho que vem de lá trás dos nossos ancestrais, das sementes que eles plantaram. Quem diria. É viver um sonho estar com essa estrutura toda”, disse.
A presidente da Rosas de Ouro, Angelina Basílio, era a cara da alegria no palco, e falou para o site CARNAVALESCO com bastante otimismo sobre o futuro do carnaval paulistano.
“Você ter um galpão de 8 metros, com todas essas instalações, almoxarifado e todos os itens de segurança. Todos os ateliês aqui. Aqui é o futuro. A Fábrica do Samba vai ser um dos maiores polos turísticos e culturais de São Paulo e do país inteiro. Além de ter os barracões de alegorias, vai ter show, exposições e outros eventos aqui dentro. Estou muito feliz. Estou há 50 anos no carnaval, 50 de Rosas de Ouro. Aqui é um sonho que se tornou realidade”, comentou.
As palavras de Angelina dão o tom da expectativa de que o Carnaval de São Paulo alcançará um outro patamar de excelência. “Aqui é um barracão adaptado, adequado, para que sejam confeccionadas as fantasias e as alegorias”.
Gratidão e ‘coragem’ fazem parte dos discursos dos presidentes da Liga e da Câmara
Em discurso realizado durante o evento, o presidente da Liga-SP Sidnei Carriuolo relembrou a trajetória percorrida até a conclusão das obras. “Gostaria de agradecer ao prefeito por concluir essa obra. Nós sambistas sabemos como é importante se fazer um desfile com paridade. Estamos dando um grande passo, e isso vai fortalecer o carnaval, quando todas as 14 escolas do grupo especial estiverem nesse espaço para fazer aquele trabalho maravilhoso. É uma luta que vem de vários anos. A gente espera retribuir na cidade de São Paulo com um carnaval maravilhoso. Sabemos o quanto está difícil fazer o carnaval esse ano, mas a vida está voltando ao normal e se Deus quiser, daqui pra frente, será muito melhor do que era antes”, disse.
O presidente da Câmara Municipal, vereador Milton Leite (DEM), exaltou a “coragem” da prefeitura, além de falar da importância da Fábrica do Samba para o carnaval da cidade. “Para investir no carnaval na pandemia tem que ter coragem. Para realizar essa obra, estávamos em dificuldade. O recurso federal não foi passado, e tivemos que fazer um apelo ao prefeito. Hoje temos uma casa de cultura. A Fábrica do Samba é uma fábrica de sonhos. É um espaço digno que traz o carnaval de São Paulo para outro patamar”, discursou.
‘Não sei sambar, mas sei cantar’
Com direito até a uma roda de samba improvisada, o prefeito Ricardo Nunes iniciou seu discurso brincando com os sambistas que estavam próximos ao palco. Chamou os icônicos cantores Ernesto Teixeira e Tobias da Vai-Vai para cantarem junto com ele versos de ‘O Samba da Minha Terra’, de Dorival Caymmi. “É um momento muito importante para a história da cidade de São Paulo, para nosso estado e para o nosso país, onde as imagens são transmitidas para o mundo todo. Vocês têm uma participação muito importante para a imagem, da visão que o mundo tem da nossa cidade”, exaltou o prefeito.
Ao falar sobre o andamento das obras, Nunes criticou o Governo Federal por não cumprir com sua parte no envio de verbas. “Tem momentos na vida que precisamos bater a mão na mesa e decidir. A obra era feita com recursos do Governo Federal e do municipal, e em um certo momento que até o momento desconhecemos o porquê pararam de vir os recursos federais. A obra foi ficando parada, se degradando e a gente com a necessidade de entregar essa obra. A gente optou por colocar recursos da prefeitura para concluir a obra, e hoje estamos entregando para vocês”, declarou.
Entrevistão com Luis Carlos Magalhães: ‘Meu grande orgulho é você encontrar uma Portela democratizada’
O presidente Luis Carlos Magalhães já está marcado na tradicional escola de Madureira ao tirar a Águia de um jejum de mais de 30 anos sem títulos, com a conquista do carnaval de 2017. Chegando ao final de seu segundo mandato, após muitos desafios, entre eles, ter substituído uma presidente com tanto apelo e respeito do portelense, como Marcos Falcon, Luis Carlos conversou com o site CARNAVALESCO.
Ele falou sobre sua relação com o portelense, o pagamento de dívidas, a democratização da escola, seus projetos para o departamento cultural da Liga do Grupo Especial, ao qual é diretor cultural, sua relação com os carnavalescos de renome que passaram pela Portela nos últimos anos, a frustração com o resultado do último carnaval, além das ações programadas para o centenário da Azul e Branca de Madureira em 2023.
O seu mandato está acabando, qual o balanço que você fez dessas duas gestões na Portela?
Luis Carlos Magalhães: “Eu posso começar pelo meu orgulho. Claro que a vitória no carnaval é o mais importante de tudo. É o mais emocionante, é o mais inesquecível, é o que vai botar meu nome nessa confusão toda. Mas, o meu grande orgulho é você encontrar uma escola democratizada. Se você concorrer, dentro das normas estatutárias, e tiver um voto a mais do que eu, você vai me derrotar! E mais importante do que isso, você vai governar. Que é diferente! Uma coisa é você ganhar, outra coisa é você governar. Estou falando isso em geral. Esse é o meu maior orgulho. Eu acho que o mérito que eu tive nisso foi, que é muito difícil você substituir um presidente. Ainda mais substituir um presidente como o Falcon. Com a liderança que ele tinha, com o carisma que ele tinha. Se você tem algo contra a escola, você bate lá na minha porta que eu vou ouvir. Então, foi muito difícil essa virada. Você administrar democraticamente, dividindo responsabilidades. Eu conquistei o que eu conquistei na minha vida pessoal fazendo isso, administrando democraticamente. E a pacificação da escola. Quando eu entrei havia treze brigas importantes. Não eram brigas de duas passistas no banheiro, não! Eram brigas de pessoas importantes da escola em cima do palco. A transição Falcon para mim, que foi uma transição muito difícil, por mais que se dê todo o mérito ao Falcon de ter recolocado a Portela no trilho, era uma situação difícil, porque eu não sou o Falcon, somos completamente diferentes. A questão da quantidade de dívidas que nós pagamos, das negociações que nós estamos fazendo. O IPTU nunca havia sido pago. Nós fizemos uma negociação. Dívidas é claro que a escola tem, mas todas administradas, a gente sabe quem a escola deve, quanto deve. E por fim, manter essa marca, a Portela é uma escola de ano inteiro, não sou eu que digo isso não, é uma ideia da administração, o ano inteiro você tem que ter Portela, e incentivando as atividades do departamento cultural que foi muito prejudicado pela pandemia, dando força a todos os sambistas de fora daqui, nos consulados. E o Monarco, que estava feliz, ia de tarde para sua salinha. A gente saber que nossa administração estava agradando o Monarco, isso é uma grande virtude nossa.
Você viu de dentro da escola de samba e antes era comentarista. A realidade é muito diferente quando a pessoa vive ativamente o dia a dia de uma escola?
Luis Carlos Magalhães: “É uma outra realidade, tem coisa que eu não aguento ouvir, tem coisa que eu não aguento ler. Claro que tem muita coisa boa, que houve uma renovação muito boa. E deve haver sempre. Mas, tem coisas que chega a doer. ‘Ah, porque a Portela fez isso e isso’. Pô, mas eu paguei do meu bolso (risos), entendeu? Mas tem coisa que chega a doer. Até porque a crônica carnavalesca é lugar de muito maluco, não é a crônica carnavalesca não, a comunicação carnavalesca. É uma coisa muito maluca. O cara lá da Bahia pode xingar sua mãe que você nunca vai encontrar com ele (risos). Então, o cara fala ali o que ele quer. Mas, o bom é não ver. Eu não vejo. Quando tem alguma coisa mais complicada, porque tem as vezes, aí a minha mulher me passa, eu olho e tal. Mas, é difícil você ficar olhando aquilo ali”.
O que representou para você o título de 2017?
Luis Carlos Magalhães: “Para mim é engraçado, porque eu nunca tive esse sonho de levar a Portela ao título, eu nunca achei que eu ia ser presidente da Portela. Eu nunca achei nem que eu ia ser diretor cultural. Como eu nunca achei que ia ser benemérito da Liesa. Eu estava satisfeito com o CARNAVALESCO (era comentarista do site). Uma coisa que me orgulha muito, é as pessoas me cobrarem que eu volte. Eu já fui padrinho de criança de leitor meu. Aquilo deu certo mesmo”.
Doeu muito ficar fora das campeãs em 2020?
Luis Carlos Magalhães: “ Ah, doeu! Doeu porque a escola estava muito bonita, cara. Foi um dos carnavais mais bonitos que eu vi da Portela. Claro que tem a questão técnica do julgamento, que é ali na sintonia fina. O cara achou isso. Claro que a comissão de frente não foi bem. Aquela coisa do Gilsinho até hoje eu não sei o que ele achou ali no carro de som. Até hoje eu não sei. Alguma coisa das fantasias. É uma questão pessoal. Eu acho que o julgamento não tem solução. Ah, se discutiu muito agora se fecha os envelopes no domingo e fecha depois na segunda, acho que nada disso é solução. Qual é a dificuldade toda? Acho que é uma coisa muito pessoal. Então, não adianta”.
Os portelenses questionam demais a comissão de frente ser o “calcanhar de aquiles”. Por que é tão complicado esse quesito para Portela?
Luis Carlos Magalhães: “Essa é uma pergunta que eu não consigo responder. Não consigo responder. Teve até comissões de frente que eu achei legal. Isso, porque isso também faz parte da maluquice do carnaval. Você vê, o Carlinhos de Jesus ganhou prêmio, e tirou nota baixa dos jurados. Quando eu vi que o nosso ‘calcanhar de aquiles’, que o nosso pavor, que é a comissão de frente, aí vi que a comissão de frente ganhou prêmio, eu falei ‘somos campeões’. Veio aquela surpresa que foi aquela nota, foi o primeiro carnaval dele, nós mantivemos o Carlinhos, mas é o ‘calcanhar de aquiles’. Esse ano também. É sempre um problema. Agora, vamos ver como vai ser. Não sei te responder isso, só sei que é o ‘calcanhar de aquiles’ “.
Vamos falar de disputa de samba-enredo. Todo mundo tem uma polêmica. É muito difícil ter um novo modelo e que no fim o samba campeão seja o consenso geral?
Luis Carlos Magalhães: “Mas consenso geral de quem? O que é consenso geral? Nós dois, nós três? Não há isso. A escolha de samba-enredo tem que ser, ou deveria ser uma escolha técnica. Não emocional. Ah, então vamos fazer três concursos? Vamos escolher um samba-enredo que a gente leve para casa, abra uma cerveja e uma sardinha frita para ficar escutando. Aí é um samba-enredo. Eu fiz isso com aquele samba do Martinho de 2010 do Noel Rosa, que foi um polêmico samba-enredo também. Então, eu não gostava. Rapaz, até que um dia eu entrei em uma roda de cavaco, aquele samba cantado no cavaco, só o cavaco, falei ‘que maravilha’. Mas esse é o samba para você ouvir comendo uma sardinha e tomando uma caipirinha. Tem um outro samba que invade a sua alma como é o ‘Sinha Olímpia’. Esse samba não tem uma vez que eu ouça que eu não me emocione. Como é o samba mais político de todos que eu conheci na minha vida, que foi o da Mangueira de 1988 ‘Liberdade, Ilusão’. Aquilo é o samba mais impactante politicamente, até hoje, eu não sei se vai ter outro. Que diz a verdade exata. Você tem o ‘ Kizomba’, que te pega como um furacão. Você tem o samba da Portela de 1985 ‘Gosto que me enrosco’, que me emociona para caramba. Você tem o samba do André e do Bocão ‘Muito prazer eu sou a Vila’, que me remete a minha infância em Vila Isabel. Esse é o samba que eu levaria para uma ilha deserta, para ficar ouvindo até morrer. Agora, é uma coisa muito pessoal também. Uma coisa é você escolher um samba, ter um samba preferido para ir para arquibancada e ver aquilo tudo. O carnavalesco tem uma visão diferente da sua, porque ele quer ver o enredo, ele está vendo as fantasias, a carnavalesca também, o Nilo Sérgio está pensando qual é o samba que favorece fazer umas bossas, o Gilsinho pensa ‘Ih mas esse samba vai cair aqui’, e você está todo emocionado. E ele vai para casa já pensando o que vai fazer para melhorar o samba, e ele faz mesmo, ele é danado. Então, tem uma porção de condicionantes para você escolher o samba. E, por outro lado, tem a questão do compositor, que existem compositores que acham que o samba deles é melhor. Tem outros que tem certeza (risos). É difícil. É difícil você aceitar, mas tem que aceitar. É democrático”.
Incomoda para você que é apaixonado por samba-enredo ter os problemas com Noca, Marquinhos de Oswaldo Cruz e agora o Samir e Neyzinho?
Luis Carlos Magalhães: “Vou dizer qual é a filosofia da coisa. Eu vou sempre às reuniões de compositores e o que eu digo é o seguinte: o dia que eu quiser fazer uma escolha de samba-enredo em paz, tranquila, eu vou fazer lá no mosteiro de São Bento. Agora, não é assim. A vida do sambista não é assim. Então, vamos fazer na Portela, vale tudo! Só não vale três coisas: ofender, agredir e tentar agredir. Todo mundo sabe disso e todo ano eu falo isso. E o que que houve lá naquela primeira briga? Houve agressão. Houve tentativa de agressão comigo. E, houve caso de expulsão, houve caso de suspensão e houve caso de cortar prêmio. O futuro a gente não sabe, porque, agora é o centenário da escola. O compositor da escola ser afastado no momento de fazer o samba do centenário é uma punição brava, complicada”.
Você trabalhou com Paulo Barros, Rosa Magalhães e Renato e Márcia Lage. O que pode falar da relação de trabalho com eles?
Luis Carlos Magalhães: “Eu diria que isso para mim, para um cara como eu que tem a cabeça que eu tenho, a minha cabeça é voltada para emoção e cultura, o melhor de tudo é conviver com o artista. Não é você acompanhar o artista e bater palma para ele da arquibancada. É você viver o momento da criação. É diferente de você ver o serviço pronto. Você não imagina quando uma pessoa tem uma dificuldade e apresenta solução para aquilo. Isso que difere o artista de eu e de você. É muito bom ver o Paulo Barros fazer isso, a Rosa Magalhães fazer isso, ver agora o Renato e a Márcia fazendo isso. Eu digo que é o melhor momento. Agora, há as dificuldades também. Até hoje, o portelense não perdoa pelo desfile da Clara Nunes não ter sido campeão. Foi um momento muito difícil isso. Esse embate do presidente com a carnavalesca. Que aí, você tem que entender que o artista é ela. Agora, quem sabe do resultado que a comunidade quer sou eu. Então, a visão que a Rosa tinha da Clara Nunes, não era a visão que a escola tinha. A visão do artista era diferente da do sambista. A Rosa entendeu de botar ali um pouco da semana de arte moderna. E, isso ficou bonito, ficou, mas não era 100% Clara Nunes como o pessoal queria. Isso até hoje (risos), me cobram. E o desfile ficou bonito pra caramba, eu me emocionei, vejam aquele desfile. Agora, aquela era a Clara da Rosa, mas não era a Clara da Portela”.
Na sua cabeça e do seu grupo, qual é a ideia para a eleição na Portela?
Luis Carlos Magalhães: “Como todo concorrente a ideia é ganhar (risos). Eu gostaria muito de manter o trabalho, porque a Portela é complicada, e a Portela fica em Madureira que é um baú de ouro, e você sabe que hoje as escolas estão sofrendo influências. Da outra vez eu ia concorrer com o Escafura, ele ia bater chapa comigo, e nós entendemos que o importante era fortalecer a Portela. E assim fizemos. Ele abriu mão da candidatura dele para mim, em função das circunstâncias que ele também concordou, e agora é outra realidade, vamos esperar passar o carnaval, já vamos começar, mas a ideia nossa, nós não estamos falando em nomes. Vai chegar um momento que nós vamos sentar e ver qual é o melhor nome”.
Após sua saída da presidência o Luis Carlos Magalhães volta a ser comentarista ou vai descansar?
Luis Carlos Magalhães: “Eu não gostaria mais de comentar carnaval. Não sou nenhum garotão. Você ficar a noite inteira acordado, porque de manhã você não dorme, tenho filho pequeno, pô! Tem claridade, você não dorme. Eu tive que abrir mão, eu desfilei no Cordão do Bola Preta 25 anos seguidos. Então, eu tive que abrir mão porque não dá para você ficar comentando carnaval do Acesso, se você tem que acordar no sábado de manhã e você tem que chegar lá cedinho. Olha que eu tinha regalia pela minha história, pela relação que eu tenho com o Bola Preta, eu tenho regalia de ir lá em cima. Eu chego ali (risos), um segurança daqueles enormes me pega pelos fundilhos e me põe lá em cima. Mas, eu tinha que acordar muito cedo e aí você acaba perdendo. Então, eu não gostaria, agora, podemos discutir alguma outra coisa (risos)”.
Você é diretor cultural da Liesa. Como melhorar e trazer o sambista para mais perto do carnaval nessa parte cultural?
Luis Carlos Magalhães: “Isso aí também é uma coisa complicada de se entender. Porque, eu quando vim para cá, para ser diretor cultural, eu achei que eu ia fazer o que a equipe de direção cultural fazia na Portela. Que a minha praia é a área cultural. Nós fizemos um trabalho ali, de primeira. Elogiadíssimo. Quando eu vim para cá, eu constatei que aqui não é o departamento cultural. Aqui é um departamento de documentação. É muito diferente. A gente tem que documentar o carnaval, abrir isso aqui para pesquisadores, não é exatamente um departamento cultural. A Liesa é muito para dentro, a Liesa é das 12 escolas. Ela está ali representando o interesse das 12 escolas. E, ela faz tudo nesse sentido. Estou conversando aí com a diretoria nova, com os meninos, com o Pedro e com o Helinho, com o Perlingeiro (Jorge) também, para a gente fazer alguma coisa para fora. Ali tem um auditório lindo, quais são os projetos que eu tenho, que eu preciso amadurecer? Por exemplo, agora seria hora de você chamar o Leandro, por exemplo, da Mangueira, botar em uma mesa, ‘Ô Leandro, o que você quer do carnaval da Mangueira? Pegar o puxador da Mangueira e cantar o samba. E os compositores. Você fazer uma imersão em cada escola. Entendeu? Eu acho que isso seria bonito para caramba. A outra coisa é você no período fora do carnaval, pegar livros, por exemplo, o Simas (Luiz Antônio), escreveu um livro sobre não sei o que, o Leonardo Bruno escreveu um livro sobre não sei o que, o Felipe Ferreira também, traz aqui, faz um ‘happy hour’. ‘Olha Felipe, porque você falou sobre isso? ‘Ô Léo Bruno, porque você falou sobre isso’? Como você pesquisou isso? E botar o livro para vender ali, para eles ganharem o dinheirinho deles. É isso que eu pretendo fazer em termos de Liesa. A outra coisa é fazer uma coisa que é um sonho, que é fazer uma coisa mais moderna de comunicação com o desfile com quem está ouvindo, vendo o desfile, do que está se passando ali. É mais ou menos o “Roteiro dos Desfiles”, do Marcos Roza, aquilo ali é uma beleza, é um livreto. Se você é um aficionado, você quer saber detalhes. A ideia é fazer uma coisa mais moderna, mais comunicativa do ponto de vista da ciência e da informática. É difícil, mas vamos perseguir essa ideia. Eu queria também, mas é uma coisa pessoal, fazer também, cursos de história do samba lá para a Intendente. Só para os desfilantes, de graça. Quem sabe a Liesa dá um certificado. Às vezes você pega um garoto deles lá e ele não sabe quem foi Cartola. Eu dou aula disso em pós-graduação, e as pessoas ficam encantadas com aquilo. Você precisa levar esse tipo de informação para as pessoas, para que elas se orgulhem disso, projeto tem para caramba”.
Falando em finanças. A pandemia foi avassaladora. Qual foi o tamanho do impacto para a Portela?
Luis Carlos Magalhães: “Olha, impactou. Aí também a Portela é diferente, porque a Portela são gerações. De repente você barra um cara no camarote que está cheio pra caramba no camarote, só cabem 30 pessoas, e o ar-condicionado pifa. Aí vem uma pessoa que você barra e ele fala assim ‘quem é você para me barrar? Você sabia que eu sou neto do Tinhãozinho de Oliveira?’. Entendeu? Se você deixa essas pessoas não receberem, é diferente de não deixar uma pessoa que você não conhece. É a mesma coisa, mas é diferente. Porque aí tem uma pressão familiar. Teve esse impacto de a gente deixar o nosso pessoal sem pagamento durante um tempo, mas nós pagamos, atrasado, mas pagamos. Até de ajuda que nós recebemos para a escola, nós tiramos um pedaço para pagar o pessoal, dividimos ali direitinho. O impacto absoluto de ter perdido tantas pessoas e pessoas tão queridas, tão importantes para a escola. Esse foi o impacto, o mais é adaptação porque a gente acaba se adaptando. Ficamos com a quadra fechada, não podia ter feijoada, não podíamos alugar, vender os nossos shows. Isso, financeiramente, foi muito ruim. Agora, a gente vai se adaptando. Tá aí, o carnaval se fosse em fevereiro, a Portela estava pronta. Não sei se todas estavam, mas a Portela estava pronta”.
Sem o apoio público é impossível fazer um desfile competitivo?
Luis Carlos Magalhães: “Sem dúvida, e eu acho que tem que ser assim mesmo. Eu acho que uma coisa é o carnaval de Porto Alegre, aí a prefeitura dá uma ajudazinha, outra coisa o carnaval de Maceió, a prefeitura ajuda, bota uma decoração ali, agora o carnaval do Rio de Janeiro transcende a cidade. Ele alcança o Brasil e ultrapassa as fronteiras do Brasil e vai para o mundo inteiro. Tem que ser uma festa desse tamanho. Não adianta dizer que o carnaval é a maior festa do Brasil, que os desfiles de escola de samba são a maior festa do Brasil, e você não dá a estrutura que a escola precisa. Acho que tem que ter ajuda federal, estadual e municipal, não precisa ser muito não, precisa ser mais regular do que quantitativo. Você precisa saber que em março você vai receber tanto. Junho você vai receber tanto, novembro você vai receber tanto, e janeiro, se você receber isso, você pode planejar. Agora, como foi no tempo do Crivella, você ligava para a Rosa Magalhães e falava ‘Rosa nós vamos te pagar tanto’. Aí quando chegava em junho ele dizia que não ia pagar nada. E, eu tinha que dizer para a Rosa ‘olha, Rosa, eu tava brincando hein’ (risos). Tá entendendo? Era uma maluquice. Para ser um desfile na dimensão do que é dito sobre ele, do que ele atrai de turismo, do que ele fortalece a rede hoteleira, do que ele traz de recurso para a cidade, é preciso que seja uma festa de verdade. Não pode ser uma festa só popular. Porque a gente tem que ter banheiros limpos, tem que ter as alegorias firmes, as fantasias bonitas, os artistas bem pagos, aí precisa de dinheiro”.
O que sentiu quando adiaram os desfiles de fevereiro para abril?
Luis Carlos Magalhães: “Eu me senti muito contrariado. Porque uma coisa é o leigo, outra coisa é um ser bem informado. Na Portela nós tínhamos isso. O nosso vice-presidente, diretor de carnaval, Fábio Pavão, se eu quiser saber alguma coisa sobre pandemia, eu ligo para a casa dele. Porque ele sabe tudo. Aqueles números, vai ter essa progressão aqui. Ele sabe isso tudo. Nós achávamos que podia ter o carnaval em lugar fechado que você tivesse controle como tem na Portela. Você quer fantasia? Cadê a vacinação completa? Aí ela ganha fantasia. E, no carnaval também tem que ter isso, tanto para quem vai desfilar como para quem vai vender guaraná, cafezinho, sanduíche. Nós acreditamos que no carnaval poderia ser feito isso. Carnaval da Sapucaí, carnaval de escola de samba. Agora se decidiu isso, a plenária das escolas de samba com os técnicos, médicos da prefeitura, vai ter desfile porque está seguro. Conclusão, o que era seguro não vai ter, e o que não era seguro, vai ter. Como é complicado você ser o prefeito em uma hora dessas. E a gente sabe, nós que estudamos o carnaval, que é o enredo da Viradouro, toda vez que o carnaval é adiado, ele acontece duas vezes. A gente está careca de saber disso. Como vai segurar um bloco de Benfica? Você segura um bloco de Ipanema que você conversa, agora um bloco de Benfica, de Cascadura, do Morro do Pinto vai sair. Vai ter festa fechada. Como tem jogos de futebol, como tem as raves, como tem festa da Anitta, o problema, é que quando é o poder público, ele pode dizer para não ter. Estabelecer multa, mas o particular não, ele chega e faz. É muito complexo isso tudo”.
Com o falecimento do Monarco a Portela ficou sem presidente de honra. Terá alguma eleição? E quem você gostaria de indicar para assumir?
Luis Carlos Magalhães: “Nunca teve eleição. É uma coisa natural. Não pensamos ainda, que é muito recente. Assim chutando aqui, estou pensando nisso agora, nesse momento, porque eu estou com ela na cabeça, que é Dona Olinda, de repente a gente convida Dona Olinda para ser a presidenta. Não sei, isso aqui eu estou inventando agora. Pura maluquice minha. Mas não estamos pensando em fazer eleição, pode ser que surja naturalmente o nome. No passado nós tínhamos muitos nomes, hoje os grandes pais fundadores da Portela estão mortos, um dos últimos foi o Monarco, ainda que não seja um pai fundador, mas é um carregador, é um homem que se atribuiu a missão de contar a história da Portela, de seus baluartes, pela importância que ele tinha diante de nós. Ele foi um nome natural”.
Por fim, o que espera do ano do centenário portelense, o que a escola pensa de ações durante o ano e o que não poderá faltar no enredo?
Luis Carlos Magalhães: “ Olha, não pode faltar Portela (risos). Isso é complicado. Portelense é um bicho danado porque você faz um samba de terreiro, um samba do cotidiano, do dia a dia ali da escola, dos casos, dos romances. Outra coisa é o samba exaltação, que você fala do Paulo (da Portela), do Caetano e do Rufino, fala do Candeia, não adianta, você explicar para os caras, samba de terreiro, é samba de terreiro, porque todo mundo faz samba exaltação. Só fala da Portela. Se acontece isso com o samba de terreiro, imagina no samba do centenário. Não pode o cara chegar e fazer um samba assim ‘Porque saí da casa do Candeia, fui para a casa do Manacéia, e depois fui para a casa do Walter Rosa, encontrei com Rufino…’, não pode isso. Agora, eu não sei nem qual vai ser a leitura do enredo. De repente, deixar por conta do compositor. Centenário, se vira. Entendeu? Mas, eu acho que o que não pode faltar é um histórico. Eu me lembro de um samba da Renascer de Jacarepaguá que falava sobre o Candeia, feito pelo Claudio Russo, Moacyr Luz e Tereza Cristina, era um samba tão bonito, e falava sobre a alma do Candeia, não falava ‘Candeia foi um policial truculento, e depois levou os tiros e transformou sua cabeça’. Não é isso. A Teresa Cristina conhece muito o Candeia. Eles fizeram o samba com tal profundidade da alma, porque eu estou falando isso, porque de repente você consegue traçar um painel da Portela sem contar a história da Jaqueira, onde a Portela foi fundada, sem falar do Paulo, Caetano e Rufino, sem falar da bandeira que representava a bandeira japonesa, e depois foi copiada por todas as escolas, você faz um panorama, não é superficial, é uma coisa sentimental da Portela e vai ficar muito mais bonito do que um samba desses descritivos. Pensamos em ações do centenário o ano todo. Nós vamos começar agora, quando começa o ano do centenário, algumas coisas nós já fizemos, a sala de troféus não deixa de ser já uma programação do centenário, a coisa do Monarco que nós fizemos, aquele painel, e nós vamos contratar um grande profissional para fazer uma festa da cidade. Que não é só uma festa em Madureira, não é só uma festa na Rua Clara Nunes, nós queremos que seja uma festa da cidade, e que seja uma festa que englobe todas as escolas, que quando você fala em 100 anos da Portela, você está falando de 100 anos do desfile. Você está englobando todas as escolas, então nós vamos conversar com todas as escolas para elas poderem participar também. Mas, de repente vai ter coisa em Copacabana, aí é por conta do profissional”.
Série Barracões: Inocentes de Belford Roxo e ‘A Meia-Noite dos Tambores Silenciosos’
A Inocentes de Belford Roxo vem de um carnaval que empolgou todos que estavam na Marquês de Sapucaí. Com um enredo desenvolvido por Jorge Caribé, homenageando uma das melhores jogadoras de futebol feminino no mundo, a rainha Marta, a escola fez um desfile vibrante. Para o carnaval de 2022, a Caçulinha da Baixada fez algumas mudanças e apostou no jovem carnavalesco, Lucas Milato. Ele juntamente com seu amigo pesquisador, Leandro Thomaz, desenvolveram o enredo: “A Meia-Noite dos Tambores Silenciosos”. Curiosidade! É a palavra que define como chegaram no processo de desenvolvimento do enredo. Por meio de uma música do Lenine, o carnavalesco começou a pesquisar sobre “a noite dos tambores silenciosos” já emergindo na temática. Que tem como um dos objetivos buscar entender o que é essa noite e retratar o povo preto, mas não da forma convencional.
“Um dos principais objetivos é retratar o povo preto, porém não da forma convencional e sim com as heranças que eles trouxeram para o Brasil com a diáspora africana. Óbvio que tem toda uma história de luta e resistência que será mostrada, mas vamos mostrar todas essas histórias por meio dessas heranças”, conta o carnavalesco.
Ele também ressalta que é importante compreender e entender o que são essas heranças e a importância desse enredo. “É impossível não falar disso, é um enredo que tem como norte, direcionamento e principal fundamento a ancestralidade. Tivemos um estudo muito forte da ancestralidade presente na noite dos tambores silenciosos. É isso que eu achei muito importante durante toda a pesquisa e desenvolvimento do tema”.
Mesmo com algumas dificuldades que a escola enfrenta para realizar o carnaval, Lucas Milato considera todo o trabalho feito como algo muito especial. Desde a confecção de fantasias, a montagem e preparação dos carros alegóricos. Segundo o artista, o conjunto do desfile é considerado o grande trunfo do que está sendo realizado. Desde do início da preparação, eles buscaram tentar colocar tudo no mesmo nível de qualidade, do abre alas até o último carro.
“Obviamente, o abre-alas vem maior e com mais detalhes, mas estamos tentando dentro do possível e dentro das dificuldades que são inúmeras, deixar o desfile bem compacto em nível de qualidade. A gente tem o abre alas muito bem detalhado, mas o carro que vem lá no final do setor também é especial e muito bem cuidado”, afirma Lucas.
Além disso, ao falar dentro da temática do enredo, Lucas também contou que gosta muito do tripé, pois ele vem retratando duas matriarcas da noite dos tambores silenciosos. São elas: Dona Santa e Mãe Badia, que eram as filhas de Oxum. Em entrevista para o site CARNAVALESCO, ele diz que o último carro é o que mais fala sobre o que é o enredo, pois sintetiza na leitura deles do que é o “Pátio do terço”. Esse carro possui um pertencimento grande e conta com todo um tipo de iluminação e detalhes para acontecer na avenida.
O carnavalesco da agremiação deixa muito claro ao ressaltar a importância da equipe de trabalho na Inocentes: “Todo mundo trabalha na mesma sintonia, no mesmo objetivo que é fazer com que o desfile da escola aconteça com louvor e que dê muito orgulho para a comunidade belforroxense. É uma escola que tem uma ligação muito forte com a comunidade e tudo isso culmina para o resultado final. É uma responsabilidade grande, pois a escola vem de um desfile grande, e a ideia é manter o mesmo nível e também tentar fazer até melhor em conjunto de desfile. A Inocentes não fazia um enredo afro bem forte já faz algum tempo. A comunidade abraçou muito o enredo e o samba. Estamos sentindo uma diferença muito grande no canto, porque ele melhorou muito”.
A pandemia de covid-19 fez com que todas as escolas de samba parassem com as suas atividades e funcionamentos dos barracões. Ficar um ano sem carnaval foi algo que mexeu com milhares de sambistas e profissionais deste segmento. Quando tudo foi liberado, mas mesmo assim mantiveram os adiamentos dos desfiles, se tornou um desafio desenvolver o que estava planejado. Para as escolas da Série Ouro, as dificuldades foram muitas, desde o financeiro até o desgaste mental de todas as pessoas envolvidas para fazer dar certo este carnaval. A Inocentes de Belford Roxo, mesmo com uma boa estrutura, passou por alguns apertos. O carnavalesco da agremiação, Lucas Milato, desabafou sobre essa questão de dificuldade.:
“Foi muito complexo, porque além da dificuldade financeira que existe na Série Ouro, os adiamentos mexem muito com o psicológico dos profissionais e com as estruturas das escolas. Porque tivemos que nos adaptar e readaptar diversas vezes”.
Por conta dos adiamentos, a maioria das escolas também teve que diminuir o quadro de funcionários e com a Inocentes não foi diferente. De acordo com o carnavalesco, o carnaval foi muito difícil porque tiveram que lidar com adiamentos e isso influencia diretamente na vida das pessoas que dependem disso para sobreviver. “Estávamos com o barracão lotado de funcionários e a gente teve que reduzir o quantitativo e fazer toda uma readaptação para esse novo prazo. E não prejudicar nenhum funcionário nosso, pois todo mundo depende muito disso para sobreviver. Acham que o carnaval é só festa, mas não entendem toda a necessidade, todo o fundamento e importância do processo de execução que essa
festa que exerce na vida de milhares de pessoas, relata Lucas”.
Entenda o desfile
Para a montagem deste desfile, a escola rebobinou a fita e buscou entender como tudo aconteceu e surgiu. Mas sem especificar data ou algo do tipo, e sim como a noite dos tambores silenciosos se tornou um grande evento cultural atualmente.
Primeiro setor: “A gente inicia com o ápice do ritual que é meia-noite, quando as alfaias do maracatu se iniciam, com as louvações aos eguns. Esse é o nosso primeiro setor, o ápice do ritual, que é quando se inicia a louvação ao Oiá Ibalé que é o orixá responsável, a deusa dos mortos. Responsável por conduzir os Oguns do iae para Orum. É o setor que a gente faz menção aos ogãs, que falamos justamente sobre essa ligação de ogum e aie e sintetiza todo o desfile. A gente tem a figura de Oiá Ibalé, dos babalorixás que rege todo esse ritual. Falamos muito sobre essa ancestralidade presente nesse momento do ritual”, explica Milato.
Segundo setor: “Retratamos a chegada do povo negro aqui no Brasil com a diáspora africana. Como é retratado? Falando sobre as heranças que trouxeram com eles aqui para o país. É o setor que citamos o sincretismo religioso, a irmandade dos homens negros, as coroações dos reis do congo. Por meio dessas heranças, a gente dialoga com a chegada deles aqui no Brasil e todo o processo de resistência e luta que eles enfrentaram”.
Terceiro setor: “Falamos sobre a evolução dessas heranças, que culmina com o surgimento das Maracatu Nações que são de extrema importância para a noite dos tambores silenciosos. Caracterizamos nas nossas alas e no nosso carro, o Maracatu Nação. É um setor que a gente busca elementos dos maracatus pra contar um pouquinho da história deles. Trazemos a figura da Calunga, falamos do porta estandarte, do rei e da rainha do Maracatu”.
Tripé: “O tripé que fala sobre a Dona Santa e Mãe Badia. Dona Santa, rainha do maracatu e gigantesca. Ele retrata a Dona Santa que é de extrema importância para a noite, uma das matriarcas das noites dos tambores silenciosos. E tentamos retratar nesse tripé, a passagem de bastão dela para Mãe Badia. Como diz no samba: ‘Chama Dona Santa o espelho de Badia’. Mãe Badia tinha Dona Santa como uma referência, porque quando Dona Santa se foi ela passou o bastão para Mãe Badia tocar essa parte mais ancestral da noite”.
Quarto setor: “A gente retrata a noite dos tambores silenciosos como ela é hoje, falando dessa ligação do sagrado e do profano presente na noite. A gente fala de toda a luta do povo negro atualmente, citando esse grito que rompe o silêncio da manifestação. Esse grito pedindo o fim de todo esse preconceito que permeia a história do povo negro. É o setor que clamamos por dias melhores e tudo isso exaltando o negro. Finalizamos com o último carro, o “pátio do terço” como disseminador da cultura afro-brasileira, que é o que ele é hoje”.
Ficha Técnica
Número de alegorias: 1 tripé na comissão de frente, 1 tripé durante o desfile, e 3
alegorias.
Número de alas: 17 alas
Carnavalesco: Lucas Milato
Diretora de barracão: Sandra Pinheiro
Diretora artística: Luana Rios
Diretor de carnaval: Saulo Tinoco
Pintores: Andrey e Itamar Terra
Ferreiro: Marcelo
Carpinteiro: Bira
Iluminação: Wagner
Equipe de Parintins: Mega e sua turma
Escultor: Kataki
Grande Rio faz ensaio de bateria com quesitos específicos na Sapucaí e Fafá comenta: ‘União em busca do título’
A Grande Rio deu mais um passo em busca do título inédito no carnaval. Na última quinta-feira, a escola voltou à Sapucaí após mais de dois anos para fazer o ensaio de bateria. No Setor 11, a agremiação de Caxias fez bom trabalho e a bateria promete grande desfile no dia 23 de abril. Mestre Fafá comemorou o retorno ao Sambódromo e falou sobre a importância do treino na Passarela do Samba.
“Sensação é de gratidão de voltar aqui. Eu trabalhei na linha de frente ali na escola no auxílio com cesta básica, então sei o quanto foi difícil e doloroso perder pessoas queridas dentro da escola. Felicidade de estar aqui com meus amigos, ritmistas, que são minha segunda família. Viemos aqui hoje corrigir algo que ficou pendente no ensaio de rua, por conta de acústica e outros motivos. Conversei com a direção de carnaval para que viesse só a bateria, comissão e casal, que são quesitos, para que houvesse essa união. Estamos trabalhando muito em conjunto para alinhar e descobrir o que falta para esse tão sonhado título”, disse, antes de emendar:
“Apesar do setor 11 ser só um pedaço da Sapucaí, é aberto. Ainda bem que temos esse espaço. Abrimos o cabine de jurados, temos uma pessoa lá filmando. Depois vamos ver como o som está chegando até lá, se a bossa está entrando limpa, isso que é o mais importante. Saber como o som está na pista não importa, o que vale é o que está chegando para os jurados. Sobre o metrônomo, acho que temos que esperar para ver como vai ser utilizado, se vai ser na frente, em uma largada, em uma retomada de bossa, abrange muitas coisas. Mas tem a questão do sentimento também, cada bateria tem uma característica. É uma discussão sem fim, mas vamos aguardar pra saber como vai ser usado, e partir daí entender o que temos que fazer na frente dos jurados”, completou Fafá.
No último Carnaval, a Grande Rio bateu na trave novamente e ficou na segunda colocação, assim como em 2006, 2007 e 2010. A tricolor caxiense levará para a Sapucaí 270 ritmistas, com quatro bossas, sendo duas delas para a comunidade soltar a voz. Uma das paradinhas contará com atabaques e timbal. Fafá comentou que os componentes está cantando como nunca para impulsionar a escola rumo ao campeonato.
“A escola está pulsando muito. Deixo aqui uma mensagem de carinho e gratidão pela comunidade, o que eles tem feito pela Grande Rio é surreal. Estamos fazendo duas paradinhas para deixar os componentes cantarem, literalmente. A comunidade está ensaiando três vezes por semana, e estamos revezando ritmistas para poder ensaiar junto com eles. A Grande Rio vem com muita humildade e temos a total noção que o Carnaval vai ser muito mais disputado que o de 2020. Os dias de desfiles estão muito equilibrados. Acho que para escola ser campeã, tem que estar unida, não adianta eu pensar na bateria, Hélio e Beth pensarem na comissão, Evandro pensar no carro de som. Se a gente estiver unido, tenho certeza que vai ser mais fácil almejar o campeonato. Já conversei com a diretoria para não deixar o oba-oba desse bom samba tomar conta, na minha bateria não tem salto alto. Vamos com muita humildade tentar beliscar esse caneco, acho que chegou a nossa hora”, encerrou o mestre.
No Setor 11, os segmentos presentes deram show e mostraram a força da agremiação de Caxias para 2022. Quem também fez grande trabalho na Sapucaí na última segunda foi Evandro Malandro. O intérprete conduziu o samba com maestria e mostrou mais uma vez a potência da voz no Sambódromo. O cantor também falou sobre a emoção de retornar à Avenida e projetou o desfile da Grande Rio no mês que vem.
“É um misto de muita alegria com apreensão. É um lugar de muita choradeira, poder estar aqui na Sapucaí de novo. Todo sambista que passar aqui pela Sapucaí tem que fazer um belo desfile, porque a gente perdeu muita gente no meio da pandemia. É uma responsabilidade ainda maior, de defender esses sambistas que se foram e mostrar que aqui é o nosso lugar”, comentou Evandro, antes de finalizar.
“Aqui é o palco oficial, então é muito importante estar aqui na Sapucaí, foram dois anos sem vir. Temos que pisar aqui, ver como funciona, acústica, carro de som, sentir a estrutura. A gente precisa disso pra deixar tudo ajustado para o ensaio técnico e para o desfile. A Grande Rio vem muito bem. Com todo respeito a nossa co-irmã Viradouro, mas estamos confiantes que vamos buscar esse caneco. Vamos aproveitar esse bom momento que a escola vive, em todos os setores. Nosso barracão está muito lindo. Sabe criança esperando o Natal e Páscoa, sou eu aguardando esse Carnaval, com muita ansiedade e expectativa”, concluiu.