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Série Barracões: Inocentes de Belford Roxo e ‘A Meia-Noite dos Tambores Silenciosos’

Inspirado em uma música do Lenine, a escola de Belford Roxo irá levar para avenida um enredo afro baseado na noite dos tambores silenciosos recifenses

A Inocentes de Belford Roxo vem de um carnaval que empolgou todos que estavam na Marquês de Sapucaí. Com um enredo desenvolvido por Jorge Caribé, homenageando uma das melhores jogadoras de futebol feminino no mundo, a rainha Marta, a escola fez um desfile vibrante. Para o carnaval de 2022, a Caçulinha da Baixada fez algumas mudanças e apostou no jovem carnavalesco, Lucas Milato. Ele juntamente com seu amigo pesquisador, Leandro Thomaz, desenvolveram o enredo: “A Meia-Noite dos Tambores Silenciosos”. Curiosidade! É a palavra que define como chegaram no processo de desenvolvimento do enredo. Por meio de uma música do Lenine, o carnavalesco começou a pesquisar sobre “a noite dos tambores silenciosos” já emergindo na temática. Que tem como um dos objetivos buscar entender o que é essa noite e retratar o povo preto, mas não da forma convencional.

“Um dos principais objetivos é retratar o povo preto, porém não da forma convencional e sim com as heranças que eles trouxeram para o Brasil com a diáspora africana. Óbvio que tem toda uma história de luta e resistência que será mostrada, mas vamos mostrar todas essas histórias por meio dessas heranças”, conta o carnavalesco.

Ele também ressalta que é importante compreender e entender o que são essas heranças e a importância desse enredo. “É impossível não falar disso, é um enredo que tem como norte, direcionamento e principal fundamento a ancestralidade. Tivemos um estudo muito forte da ancestralidade presente na noite dos tambores silenciosos. É isso que eu achei muito importante durante toda a pesquisa e desenvolvimento do tema”.

Mesmo com algumas dificuldades que a escola enfrenta para realizar o carnaval, Lucas Milato considera todo o trabalho feito como algo muito especial. Desde a confecção de fantasias, a montagem e preparação dos carros alegóricos. Segundo o artista, o conjunto do desfile é considerado o grande trunfo do que está sendo realizado. Desde do início da preparação, eles buscaram tentar colocar tudo no mesmo nível de qualidade, do abre alas até o último carro.

“Obviamente, o abre-alas vem maior e com mais detalhes, mas estamos tentando dentro do possível e dentro das dificuldades que são inúmeras, deixar o desfile bem compacto em nível de qualidade. A gente tem o abre alas muito bem detalhado, mas o carro que vem lá no final do setor também é especial e muito bem cuidado”, afirma Lucas.

Além disso, ao falar dentro da temática do enredo, Lucas também contou que gosta muito do tripé, pois ele vem retratando duas matriarcas da noite dos tambores silenciosos. São elas: Dona Santa e Mãe Badia, que eram as filhas de Oxum. Em entrevista para o site CARNAVALESCO, ele diz que o último carro é o que mais fala sobre o que é o enredo, pois sintetiza na leitura deles do que é o “Pátio do terço”. Esse carro possui um pertencimento grande e conta com todo um tipo de iluminação e detalhes para acontecer na avenida.

O carnavalesco da agremiação deixa muito claro ao ressaltar a importância da equipe de trabalho na Inocentes: “Todo mundo trabalha na mesma sintonia, no mesmo objetivo que é fazer com que o desfile da escola aconteça com louvor e que dê muito orgulho para a comunidade belforroxense. É uma escola que tem uma ligação muito forte com a comunidade e tudo isso culmina para o resultado final. É uma responsabilidade grande, pois a escola vem de um desfile grande, e a ideia é manter o mesmo nível e também tentar fazer até melhor em conjunto de desfile. A Inocentes não fazia um enredo afro bem forte já faz algum tempo. A comunidade abraçou muito o enredo e o samba. Estamos sentindo uma diferença muito grande no canto, porque ele melhorou muito”.

A pandemia de covid-19 fez com que todas as escolas de samba parassem com as suas atividades e funcionamentos dos barracões. Ficar um ano sem carnaval foi algo que mexeu com milhares de sambistas e profissionais deste segmento. Quando tudo foi liberado, mas mesmo assim mantiveram os adiamentos dos desfiles, se tornou um desafio desenvolver o que estava planejado. Para as escolas da Série Ouro, as dificuldades foram muitas, desde o financeiro até o desgaste mental de todas as pessoas envolvidas para fazer dar certo este carnaval. A Inocentes de Belford Roxo, mesmo com uma boa estrutura, passou por alguns apertos. O carnavalesco da agremiação, Lucas Milato, desabafou sobre essa questão de dificuldade.:

“Foi muito complexo, porque além da dificuldade financeira que existe na Série Ouro, os adiamentos mexem muito com o psicológico dos profissionais e com as estruturas das escolas. Porque tivemos que nos adaptar e readaptar diversas vezes”.

Por conta dos adiamentos, a maioria das escolas também teve que diminuir o quadro de funcionários e com a Inocentes não foi diferente. De acordo com o carnavalesco, o carnaval foi muito difícil porque tiveram que lidar com adiamentos e isso influencia diretamente na vida das pessoas que dependem disso para sobreviver. “Estávamos com o barracão lotado de funcionários e a gente teve que reduzir o quantitativo e fazer toda uma readaptação para esse novo prazo. E não prejudicar nenhum funcionário nosso, pois todo mundo depende muito disso para sobreviver. Acham que o carnaval é só festa, mas não entendem toda a necessidade, todo o fundamento e importância do processo de execução que essa
festa que exerce na vida de milhares de pessoas, relata Lucas”.

Entenda o desfile

Para a montagem deste desfile, a escola rebobinou a fita e buscou entender como tudo aconteceu e surgiu. Mas sem especificar data ou algo do tipo, e sim como a noite dos tambores silenciosos se tornou um grande evento cultural atualmente.

Primeiro setor: “A gente inicia com o ápice do ritual que é meia-noite, quando as alfaias do maracatu se iniciam, com as louvações aos eguns. Esse é o nosso primeiro setor, o ápice do ritual, que é quando se inicia a louvação ao Oiá Ibalé que é o orixá responsável, a deusa dos mortos. Responsável por conduzir os Oguns do iae para Orum. É o setor que a gente faz menção aos ogãs, que falamos justamente sobre essa ligação de ogum e aie e sintetiza todo o desfile. A gente tem a figura de Oiá Ibalé, dos babalorixás que rege todo esse ritual. Falamos muito sobre essa ancestralidade presente nesse momento do ritual”, explica Milato.

Segundo setor: “Retratamos a chegada do povo negro aqui no Brasil com a diáspora africana. Como é retratado? Falando sobre as heranças que trouxeram com eles aqui para o país. É o setor que citamos o sincretismo religioso, a irmandade dos homens negros, as coroações dos reis do congo. Por meio dessas heranças, a gente dialoga com a chegada deles aqui no Brasil e todo o processo de resistência e luta que eles enfrentaram”.

Terceiro setor: “Falamos sobre a evolução dessas heranças, que culmina com o surgimento das Maracatu Nações que são de extrema importância para a noite dos tambores silenciosos. Caracterizamos nas nossas alas e no nosso carro, o Maracatu Nação. É um setor que a gente busca elementos dos maracatus pra contar um pouquinho da história deles. Trazemos a figura da Calunga, falamos do porta estandarte, do rei e da rainha do Maracatu”.

Tripé: “O tripé que fala sobre a Dona Santa e Mãe Badia. Dona Santa, rainha do maracatu e gigantesca. Ele retrata a Dona Santa que é de extrema importância para a noite, uma das matriarcas das noites dos tambores silenciosos. E tentamos retratar nesse tripé, a passagem de bastão dela para Mãe Badia. Como diz no samba: ‘Chama Dona Santa o espelho de Badia’. Mãe Badia tinha Dona Santa como uma referência, porque quando Dona Santa se foi ela passou o bastão para Mãe Badia tocar essa parte mais ancestral da noite”.

Quarto setor: “A gente retrata a noite dos tambores silenciosos como ela é hoje, falando dessa ligação do sagrado e do profano presente na noite. A gente fala de toda a luta do povo negro atualmente, citando esse grito que rompe o silêncio da manifestação. Esse grito pedindo o fim de todo esse preconceito que permeia a história do povo negro. É o setor que clamamos por dias melhores e tudo isso exaltando o negro. Finalizamos com o último carro, o “pátio do terço” como disseminador da cultura afro-brasileira, que é o que ele é hoje”.

Ficha Técnica
Número de alegorias: 1 tripé na comissão de frente, 1 tripé durante o desfile, e 3
alegorias.
Número de alas: 17 alas
Carnavalesco: Lucas Milato
Diretora de barracão: Sandra Pinheiro
Diretora artística: Luana Rios
Diretor de carnaval: Saulo Tinoco
Pintores: Andrey e Itamar Terra
Ferreiro: Marcelo
Carpinteiro: Bira
Iluminação: Wagner
Equipe de Parintins: Mega e sua turma
Escultor: Kataki

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