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Série Barracões SP: Vem Sankofa! Voltar ao passado e ressignificar o presente é o objetivo do Vai-Vai para o desfile de 2022

O site CARNAVALESCO visitou o espaço de alegorias do Vai-Vai e conversou com o carnavalesco Chico Spinoza, que explicou todo o desenvolvimento do desfile da escola para 2022. A agremiação irá para a avenida com o enredo “Sankofa”. O conceito do tema consiste em olhar o passado para ressignificar o presente, através de um pássaro africano chamado Sankofa e, segundo Chico, tem tudo a ver com o momento em que o Vai-Vai está passando.

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“Esse foi um enredo que eu ganhei anos atrás do Abdias do Nascimento. É extremamente bonito. Você pode dar uma ênfase maior em busca da soberania africana, porque é um enredo pré-colonial. Quando o soberano africano com as lendas e mitologias, quimeras e as fantasias africanas, saíram para o mundo. O Abdias me mandou esse enredo com uma dedicatória muito linda. É quase que uma obrigação nossa resgatar essa soberania africana. Eu tive com esse enredo engavetado por mais de 15 anos. Depois de muitas discussões com o Gabriel Melo (diretor de carnaval) e com o presidente Clarício Nunes, fizemos algumas reuniões, apresentamos algumas propostas de enredo e, em determinado momento, chegamos à conclusão que o melhor para a escola nesse momento seria fazer ‘Sankofa’, que é um pássaro mítico e negro que olha para trás com o objetivo de reconhecer o passado, entender o presente e redefinir o futuro. É um paralelo muito grande que acontece com o Vai-Vai, que foi para o acesso e conseguiu subir. Vamos olhar os campeonatos, o presente e redefinir o futuro para ver o que realmente queremos como escola”.

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Segundo o carnavalesco, os ideogramas africanos foram de maior interesse na hora de pesquisar e desenvolver todo o desfile da Saracura. Toda a questão da africanidade, também foi de suma importância.

“O Gabriel (diretor de carnaval) teve uma grande participação nisso. Quando a gente começou a entender os ideogramas, que são mais de 80, nós fomos pincelando e, cada um, entrava nos costumes ou nas lendas africanas, isso começou a nos dar um ânimo muito grande de poder mostrar essa proposta que esses ‘adinkras’ trazem. Por exemplo, você tem uma frase comum hoje em dia e extremamente relevante, que é o fato de ‘pé de galinha não mata pinto’. Apesar de ser um enredo pré-colonial, temos essas ligações com esses ditados populares”.

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Em questão de perda de componentes e pessoas importantes, talvez o Vai-Vai tenha sido a escola que mais sofreu com isso. Muitas pessoas queridas dentro da agremiação se foram e, com isso, já é declarado que várias homenagens serão feitas dentro do desfile. Isso se deve também à proposta do enredo, que é voltar ao passado.

“O nosso enredo nos obriga a olhar para trás e, no momento em que fazemos isso, vemos uma soberania impressionante do mundo do samba. A maioria já se foram, fazemos citações deles no último carro, que é onde volta para o nosso reduto oficial, nosso adinkra, que é a coroa do Vai-Vai, como os ramos de café. Então a gente cita toda essa soberania do passado”.

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O artista pregou cautela quando o assunto abordado foi o estilo do Vai-Vai na pista. Porém, terá um pouco de tudo.

“vai ter criatividade muito grande. Algumas pessoas costumam dizer que eu dentro das minhas necessidades de fazer carnaval, quanto mais apertado financeiramente, mais criativo eu me torno. Desde o último carnaval, nós encontramos o Vai-Vai em um buraco de dívidas. A gente está fazendo de nossas criações o nosso ponto de maior exploração. O público vai encontrar uma Vai-Vai criativa, com uma pretensão de luxo, maquiagem embaixo dos holofotes que pode refletir uma soberania e um ouro axante. Temos efeitos muitos simples de teatro em alegorias e outras coisas”.

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Uma sequência de impactos para o público

“Pode ser um misto de coisas. A gente espera que o público tenha um impacto com a comissão de frente, que se apaixone pelas aranhas. Nós estamos abusando da criatividade e da parceria. A gente tem um projeto criativo, temos um iluminador que está conosco há muitos anos, um ferreiro que trabalhamos muito bem um com o outro. Quando o carnaval foi adiado, ele falou para mim que daria para fazer alguns movimentos. Então, estamos conseguindo alguns resultados simples, mas muito bonitos”.

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A sensação de abrir o sábado de carnaval

O Vai-Vai terá a responsabilidade de ser a primeira escolar a desfilar no sábado. A expectativa é muito grande, ainda mais pela festa da arquibancada, visto que a torcida vai em peso. Só de imaginar a arquibancada com as tradicionais bandeiras, já desperta ansiedade nos foliões.

Chico Spinoza, mostrou otimismo e pretende levar a agremiação ao desfile das campeãs.

“A maior sensação é o dever cumprido. Eu fui fardado a grandes momentos de sorte quando abrir carnaval. Eu não sei se lembram, mas em 2000, eu coloquei a Unidos da Tijuca em quarto lugar, e eu ainda estou arriscando um quinto lugar para o Vai-Vai, porque eu acredito na comunidade, na bateria, no canto e nessa força que a escola se torna quando acreditam no trabalho da gente”.

Como é assinar mais um enredo no Vai-Vai

Chico Spinoza tem uma grande história na comunidade do Bixiga. O artista está assinando o seu décimo carnaval pela agremiação, fazendo 3 passagens e conquistando 3 títulos do Grupo Especial (1998, 1999, 2008), além do atual título do Acesso I em 2020, totalizando quatro canecos. O carnavalesco declarou sua paixão pelo Vai-Vai.

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“Eu me fiz carnavalesco em uma escola de samba chamada ‘Deixa Falar’, que virou Estácio de Sá. Tenho uma paixão muito grande por lá. Nos deu um campeonato com o enredo paulista na cidade do Rio de Janeiro, que foi ‘Pauliceia Desvairada’. Quando eu fui convidado pelo Boni para fazer carnaval em São Paulo, ele me deu opções de escolas e eu escolhi o Vai-Vai. Nesses anos todos, eu vou e volto, porque é a minha escola de coração. Estando nela, meu coração já bate diferente”.

Conheça o desfile

Setor 1
“Representa a lenda que é exatamente o encontro com essa quimera que é o homem aranha. Ananse é metade homem e metade aranha. Ele é filho da mãe terra com o Deus criador. Por alguma esperteza, ele resolveu trazer uma cidade para sua tribo axante. Com suas histórias, trouxe o adinkra, ouro e tudo mais que estava dentro dessa cabaça. Esse primeiro setor é ponteado com coisas bem específicas. Temos bateria como o própri Sankofa, baianas como o conjunto de adinkras

Setor 2
No segundo setor, falamos da cultura axante, que é baseada na arte, tecido, ouro, ferro, nas máscaras. É bem representado pela segunda alegoria, que é uma das minhas mais queridas, porque eu trago um efeito já usado no Vai-Vai lá no passado. Eu olhei no meu passado para compreender o Vai-Vai também. Lá no passado, eu fiz um enredo aonde o reino do absurdo era a ‘era de plástico’, e eu faço um carro alegórico inteiramente de plástico de lixo”.

Setor 3
Nesse setor, a gente faz dois encontros. A escravidão trouxe para o continente, o Sankofa. Então, a gente faz uma alegoria que se chama ‘o forte do sinistro’, que é um forte de Elmina, na África, que por onde saiu os escravos. A gente faz isso pensando também no grande problema que aconteceu na África entre holandeses e ingleses que queriam o ouro de lá. No meio da alegoria, a gente vê nossa cultura renascer. Um baobá, uma árvore africana, que está meio morta, renasce com festival de cores em cada planta. Na última parte dessa alegoria, a gente faz esse encontro com Tabom, que é um bairro de Gana, por onde os brasileiros estão fazendo a diáspora”.

Setor 4
No último setor, é a coroa do Vai-Vai com o ramo de café, onde a gente canta ‘volta para o seu ninho’. Estamos cantando isso de uma maneira muito forte para os próprios componentes que é aqui que a gente vai aprender tudo e redefinir o nosso presente e o nosso futuro”.

Ficha técnica
Alegorias: Quatro
Componentes: 1800 componentes
24 alas

Grande Rio realiza último ensaio rumo ao desfile oficial e Perácio diz: ‘o título da Grande Rio fará bem ao carnaval’

A Grande Rio, vice-campeã de 2020, promete um desfile ainda melhor para o Carnaval 2022. O site CARNAVALESCO esteve presente no último ensaio antes do desfile oficial, que acontece na próxima semana. A quadra estava lotada, a comunidade abraçou a escola, os componentes estão com o samba na ponta da língua, e cantando forte para homenagear Exu. Diretoria e segmentos garantem que a escola está se preparando para realizar um desfile com foco total na conquista do seu primeiro título no Grupo Especial.

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Assim como no ensaio técnico, a comissão de frente impactou e chamou atenção com sua dança e apresentação fortes. O ensaio contou com a presença da rainha de bateria, Paola Oliveira, e de seu namorado, Diogo Nogueira. Ele, portelense declarado, se mostrou confiante na vitória da escola da Baixada. Dentro da escola, a expectativa é que esse seja o maior desfile da história da agremiação.

“Todo ano nós fazemos grandes desfiles e grandes carnavais, esse ano o enredo vem a ajudar muito, nossos carnavalescos são geniais, a escola está mais uma vez com a expectativa de título, esse ano a empolgação é maior, estamos sentindo que a nossa hora chegou, estamos todos na busca para trazer o título, para a nossa, buscamos há muito tempo, acho que esse ano é o ano da Grande Rio, e acho que isso vai fazer bem ao carnaval, dar uma guinada”, comentou o presidente da escola, Milton Perácio.

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Harmonia e Samba

Não há dúvidas de que o samba da Grande Rio é um dos melhores do ano, não à toa é o mais executados nesse período pré-carnaval, vale destacar o desempenho avassalador de Evandro Malandro no comando do carro de som da escola, além de cantar com maestria, o intérprete impulsionava e incentivava o canto da comunidade com muita animação, o entrosamento do carro de som com a bateria do Mestre Fafá também merece ser destacado. É impressionante observar o quanto o componente da tricolor de Caxias está animado e feliz com o samba-enredo deste ano, todos cantam com muita garra e vibração, durante o ensaio Evandro Malandro e a bateria pararam várias vezes para que a comunidade cantasse quase que a capela a obra. Além dos refrões, outras partes do samba se destacavam, como “Boa noite moça, boa noite moço” e “Ô luar, ô luar… Catiço reinando na segunda-feira”.

thiago monteiro

“A expectativa para o desfile é a maior possível, está chegando o momento que a gente se preparou tanto, acho que a escola está bastante ansiosa, uma expectativa enorme de algo positivo, que possamos fazer o melhor desfile da história da Grande Rio, independente da colocação que tivermos, estamos muito felizes e satisfeitos com tudo que foi feito até aqui no trabalho pré carnaval”, disse Thiago Monteiro, diretor de carnaval.

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“Eu tô muito confiante, feliz e esperançoso de que dessa vez a gente ganhe o carnaval, mais uma vez, com todo respeito as nossas coirmãs, a Grande Rio escolheu o samba que pegou o Rio de Janeiro inteiro, a gente tem a responsabilidade de levar da melhor maneira possível esse samba para que ele chegue na Sapucaí e arrebate o público”, destaca o intérprete Evandro Malandro.

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

Felizes, o primeiro casal Daniel Werneck e Taciana Couto demonstraram o entrosamento de sempre, extremamente graciosos, riscaram a quadra esbanjando carisma, simpatia e uma dança que mescla o bailado tradicional com a modernidade dos dias atuais. No último carnaval eles encantam público e jurados, novamente eles tem tudo para repetir a dose, visto a leveza e alegria que dançam.

taciana daniel

“Queremos fazer uma excelente apresentação, que atenda a expectativa do público, a galera tá muito na espera da Grande Rio, então eu espero que toda a escola atenda a essa expectativa, no nosso ensaio técnico a gente pôde sentir a força do samba e temos certeza que no desfile oficial vai ser ainda melhor”, conta Daniel.

helio beth bejani

“Estou com as melhores expectativas possíveis, a escola no geral está linda, foi uma preparação bem longa, mas muito prazerosa, a comunidade cantando bastante, o trabalho no barracão excelente, toda equipe muito dedicada, então tenho certeza que a escola vai fazer um trabalho maravilhoso na avenida”, pontua Taciana.

Bateria

Espetacular, assim pode ser definida a Bateria Invocada do Mestre Fafá, indo para o terceiro carnaval no comando dos ritmistas, Fafá demonstra estar completamente à vontade, isso se reflete no trabalho da bateria, durante o ensaio a bateria realizou diversas bossas, em uma delas a bateria parava de tocar para que a escola cantasse o verso “Adakê, Exu, Exu ê Odará”, foi um dos pontos altos da noite.

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Completamente integrada a bateria, a atriz Paolla Oliveira marcou presença na quadra da escola e mostrou muito samba no pé, ao lado do namorado, Diogo Oliveira, a rainha brincou, sambou e arriscou coreografias com os ritmistas, em uma das bossas, Paola tocou surdo e arrancou aplausos de todos.

fafa

“A expectativa é muito positiva, acho que a gente fez um bom ensaio técnico, claro que tivemos algumas falhas, mas que já foram corrigidas pela escola, a gente acha que será um grande carnaval, esperamos realizar um desfile como o de 2020, ou tão bom quanto, para se Deus quiser chegarmos a esse título”, disse o Mestre Fafá.

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Vila Isabel faz ensaio de bateria na Sapucaí e Macaco Branco celebra: ‘Maior enredo que a escola já teve’

Responsável por fechar o desfile das escolas de samba em 2022, a Vila Isabel foi à Marquês de Sapucaí nesta terça-feira para ensaio no setor 11. A pouco mais de uma semana para a apresentação oficial, a agremiação fez um treino com bateria e carro de som para ajustar os últimos detalhes. Mestre da Swingueira de Noel, Macaco Branco falou sobre o retorno do Carnaval após a pandemia e comentou a importância do trabalho com os ritmistas no Sambódromo antes do desfile.

“Parecia uma história sem fim esse Carnaval. Ficamos naquela incerteza de ‘será que vai ter? vai chegar abril e adiar de novo?’, mas agora está tudo se normalizando, com todo mundo vacinado, e vamos poder fazer a coisa que mais gostamos, que é o desfile das escolas de samba. Como o Perlingeiro disse, o desfile das escolas de samba não precisa ser no Carnaval. O Carnaval é do calendário católico, o desfile é tipo um ‘Rock In Rio’, é um mega evento, o maior espetáculo da terra. E não tem preço estar aqui novamente. Estão todos aqui emocionados e doidos para entrar na Avenida”, disse Macaco Branco, que completou:

“O ambiente aqui é tudo, o som, distância, arquibancada, tudo isso influencia. Mas só de estar aqui, ter uma noção do trabalho, é muito importante, é como se fosse treinar no Maracanã antes de um jogo. A 28 de setembro é estreita, não conseguimos colocar todos os instrumentos, aqui é diferente, já dá para trazer todo mundo. Minha esposa até brinca comigo e diz que eu estou morando no barracão. Está muito lindo, o trabalho do Edson é maravilhoso. A Vila Isabel está falando de Martinho, que é o maior ícone vivo da história da escola, e na minha opinião é o maior enredo que a Vila já fez. Agora tomara que traga mais um caneco pra gente também”, emendou.

macaco branco

Macaco Branco levará para o Sambódromo 276 ritmistas, com uma paradinha e três bossas planejadas, sendo uma delas reproduzindo o jeito cadenciado de Martinho da Vila. Em 2020, a Swingueira de Noel obteve nota máxima e o mestre da Vila Isabel quer repetir o feito este ano. O Carnaval de 2022 também será marcado pela introdução do metrônomo, que irá medir os bpm’s das baterias na Sapucaí. Macaco Branco explicou como o aparelho será utilizado.

“Os jurados explicaram pra gente que já utilizavam o metrônomo, a diferença é que antes era no celular, em aplicativo, e agora é o aparelho mesmo, digital, para todo mundo. Não vai ser usado para pegar lá da largada até o final, mas sim para o jurado ver o andamento da bateria no campo de visão dele. Se a bateria entrou com um andamento e saiu com outro, se a paradinha oscilou, se acelerou ou desacelerou, é mais para a análise naquele curto espaço de tempo na frente deles. Muita gente estava com medo achando que ia ser do início ao fim, mas não é”, explicou o mestre.

Há dois anos, a Vila Isabel ficou na 8ª colocação, com enredo ‘Gigante Pela Própria Natureza: Jaçanã e Um Índio Chamado Brasil’ e vai em busca do tetracampeonato na próxima semana. Os três títulos da escola foram conquistados em 1988, 2006 e 2013. Quem também marcou presença no ensaio foi a rainha de bateria Sabrina Sato, que esbanjou carisma e samba no pé. À frente do carro de som, Tinga demonstrou otimismo pelo desfile da Vila Isabel na próxima semana.

“A gente esperou tanto por esse Carnaval, então é uma alegria imensa e uma emoção muito grande. Vai ser um Carnaval de muita emoção, da gente agradecer muito pelo que a gente já passou. Ensaiar é sempre bom, ainda mais com o Macaco Branco e essa bateria maravilhosa. A gente veio aqui hoje afinar algumas coisas, sem as alas, baianas, velha guarda, pra gente saber se estamos no caminho certo. Dia de tirar todas as dúvidas pra quando chegar o grande dia a gente estar pronto”, disse Tinga, que finalizou:

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“A expectativa é das melhores, um samba maravilhoso, comunidade comprou o samba, além desse enredo lindo, que faz uma homenagem ao nosso grande mestre. Tenho certeza que vamos fazer um grande desfile, a Vila Isabel está linda, fantasias maravilhosas, e alegorias muito bonitas. Vamos em busca de mais um título”, encerrou o intérprete.

Leonardo Antan: ‘Força das escolas nos ensaios técnicos mostra disputa acirrada pro carnaval’

A cada fim de semana, desde o dia 12 de março, as escolas de samba voltaram a ocupar o solo sagrado da Marquês de Sapucaí. Reencontro mais que esperado após mais de dois anos de silêncio. Ocupar o centro da cidade com batuque, festa e arte é um ato fundamental. Envolve o grito de resistência dessas instituições culturais, que há exatos 90 anos estão se transformando e afirmando sua importância a cada folia.

Nos últimos carnavais, os ensaios técnicos foram cancelados algumas vezes. Um erro imperdoável. Já que o evento ajuda a divulgar os cortejos oficiais e a conectar a cidade com suas agremiações. Logo, voltar à Sapucaí tem muitas camadas políticas e culturais também nesse sentido. Ocupar a Sapucaí é voltar para a nossa casa, seja na pista ou na arquibancada.

Lembro até hoje do meu primeiro ensaio técnico, foi em 2007, lembro de chegar cedo na arquibancada com minha mãe no Setor 3. Naquela época, cada agremiação passava pela pista pelo menos duas ou três vezes. Os ambulantes passavam vendendo todo dia de coisa. Desde que foram criados nos meados da década passada, esses treinos são um momento especial onde as agremiações se conectam com um público que não consegue estar nos desfiles oficiais. Uma demonstração de que as escolas de samba continuam instituições populares em muitos sentidos.

A cada final de semana, as arquibancadas são lugares de reencontro, de afeto, de tupperwares recheados de salgadinhos, de isopores cheios de latões de cerveja. Nem só de desfiles podem viver as agremiações, é necessário muitos ensaios, finais de sambas, eventos que a cada dia e semana renovam nosso amor pela festa. Tudo é inesperado, surpreendente, afetivo, mágico.

Mas dito isso. Não é à toa que esses treinos ganharam o termo “técnico” no nome. Para além de toda a afetividade, se tornam um encontro importante entre público e escola, uma espécie de termômetro do dia oficial. Afinal, para que serve reunir todo o contigente de uma agremiação, sem fantasias e alegorias, só cantando o samba e evoluindo na pista? A dúvida nos vale numa questão mais anterior e que é definitiva pra festa e por isso mesmo impossível de responder: o que é uma escola de samba? Que magia faz uma?

Escola de samba é um corpo, uma arte coletiva, uma comunidade, uma rede. Mesmo sem fantasias, há ali uma escola de samba, na voz de seu intérprete, na batida de seus tambores, no bailar do seu pavilhão e seus defensores, no sambar e no evoluir de seus componentes. Pensando isso, diz o senso comum que se pode julgar num ensaio ao menos alguns quesitos, como samba, bateria, harmonia, evolução e um pouco de casal de mestre-sala e porta-bandeira.

Mas talvez esse evento realmente não tenha nada de “ensaio” ou até mesmo de “técnico”. Já que ele derrama tanto afeto, como disse nos parágrafos acima. Para além de marcar um reencontro, um flerte, em voltar a ocupar à Pista. O ensaio tem um caráter simbólico importante. Acho que hoje, a principal pergunta desse tipo de treino é: como tal escola vai se comportar?

É um momento de ver a energia da agremiação, de como ela pode se comportar na pista, tirar dúvidas sobre o rendimento de um samba, ou de o quanto a comunidade está envolvida com enredo e samba. A cada carnaval, diversos fatores vem se tornado decisivos para levar uma escola ao título. É assim, que a cada ensaio temos uma noção do que prepara cada escola ,e do nível de engajamento dos seus componentes.

Passadas as doze agremiações do especial e quinze do acesso também, vimos aqui um nível excelente nos ensaios técnicos. A maioria das agremiações fez ensaios com qualidades, que mostra uma disputa acirrada em todos os níveis da tabela, do campeonato ao rebaixamento.

Esses desfiles serviram para gerar debates e promover reavaliações de algumas agremiações e seus quesitos. Por exemplo, das que tinham seus sambas mais criticados até aqui, Portela e Mangueira, souberam manter um nível de ótimo rendimento nos seus treinos. Em especial, a azul e branco teve um ensaio com uma excelente harmonia. A bateria e carro de som conseguiram tirar do samba tudo de melhor que ele podia oferecer. Já a verde e rosa, mostrou uma garra sobre forte chuva e apostou na força de um enredo que fala de sua própria gente.

Forte chuva que atingiu também a Paraíso do Tuitui, que não desanimou e se valeu de uma boa comunicação com a arquibancada. Foi um dos ensaios mais animados da temporada, pelo menos da arquibancada do Setor 2. Caráter explosivo que também deu a largada pro Salgueiro, quando o público puxou o samba da Academia antes mesmo que ele fosse entoado pelos cantores da alvirrubra.

Salgueiro e Beija-Flor levaram contingentes enormes para Avenida, sendo prejudicadas pela falta de sonorização da pista. Um assunto polêmico a cada domingo, aliás, que eu confesso entender ambos os lados. De um lado, estão os contrários a utilização da sonorização padrão do desfile por matar a possibilidade de ouvir o canto da escola. Do os outros, a críticas de que a qualidade do som e seu alcance prejudica os ensaios.

Da ótima safra de enredos e sambas ninguém duvida, mas o que temos vistos a cada dia é muita garra e vontade dos foliões de ocupar da pista da Sapucaí. A saudade é força motora de cada desfile técnico. A Imperatriz, por exemplo, se valeu dela em seu samba e enredo. Uma agremiação que vem fazendo todos os seus deveres de casa e se posicionando de maneira forte, emocionada e motivada. É bonito ver a escola assim. E não bastasse tudo isso, no último domingo, o Loolamacumba, mostrou a força de duas agremiações com sambas fortes e potentes. Grande Rio e Mocidade fizeram um show.

Encerrando a temporada, a Viradouro se valeu já da sonorização completa da pista e uma nova iluminação, mais cênica, nos setores do meio da pista. A atual campeã mostrou a força da sua comunidade, além do já conhecido entrosamento entre seu carro de som e sua bateria, que imprimiu um ritmo mais acelerado ao seu samba.

É difícil até pontuar a que melhor ensaiou, na minha visão. É impressionante o que as escolas fazem a cada semana na Sapucaí. Até aqui, bons ensaios de todas do Especial, com pequenos erros aqui e ali. Todo mundo matando a saudade da pista com vontade. É uma disputa muito acirrada que se desenha, a ser decidida a cada décimo. Foi uma excelente temporada de ensaios técnicos. E resta chegar os dias de desfiles e a magia que só aquela pista tem.

Eliminada do BBB22, Natália recebe a bandeira e convite para desfilar na Beija-Flor

Após ser eliminada do Big Brother Brasil 22, da TV Globo, na noite desta terça-feira, a mineira Natália recebeu a bandeira da Beija-Flor e recebeu oficialmente o convite para desfilar na escola de Nilópolis.

“Você foi convidada para desfilar na Beija-Flor representando o BBB em uma situação super especial”, revelou o apresentador Tadeu Schmidt.

Com 83,43% dos votos, Natália deixou a casa, mas mostrou muita emoção com o convite para desfilar na Beija-Flor. “Meu Deus. Estou arrepiada e muito honrada”, disse.

Com coreografias, bateria do Sossego ensaia na Sapucaí e mestre Laion projeta: ‘Fechar o primeiro dia com chave de ouro’

O Acadêmicos do Sossego realizou o último grande teste antes do desfile da próxima semana. Nesta segunda-feira, a escola de Niterói fez um trabalho específico de bateria no setor 11 do Sambódromo. Com direito a duas coreografias, a Swing da Batalha fez bom ensaio, e mestre Laion, que vai para o terceiro ano no comando da bateria, comentou sobre a importância do treino na Marquês de Sapucaí.

“É gratificante demais estar aqui. Foram dois anos nessa saudade muito grande. Para nós sambistas, isso aqui é nossa maior paixão. Foi muito difícil todo esse tempo de pandemia, perdemos muitos amigos. Ainda ocorreu esse adiamento, e a preparação que já estava rolando ficou incerta. Atrapalhou um pouco o planejamento, a logística, porque tem muita gente que vem de fora também. Mas agora não tem mais isso, faltam poucos dias para o nosso Carnaval. É otimismo total para o desfile”, disse Laion, antes de completar:

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“Hoje foi só acertar pequenos detalhes, o trabalho está pronto. No nosso ensaio técnico vimos algumas coisas que precisávamos consertar. No ensaio de rua também oscila muito o número de ritmistas, então é muito importante fazer esse ensaio aqui. Conseguimos colocar aqui hoje todo o time de chocalho, de cuíca, ala de marcação. Aqui a galera dá uma importância maior também, é como se fosse um ensaio técnico 2. Agora vamos chegar para o desfile semana que vem com total confiança”, emendou o mestre da Sossego.

Desde 2017 na Série Ouro, o Acadêmicos do Sossego fez a melhor apresentação na história em 2020, quando ficou na oitava colocação. Neste ano, a escola levará para a Avenida o enredo ‘Visões Xamânicas’. A Swing da Batalha levará 230 ritmistas para o desfile no dia 20, com três bossas planejadas e uma subida na cabeça do samba. Mestre Laion projetou o desfile da agremiação e demonstrou otimismo na apresentação do Sossego.

“O projeto de Carnaval da Sossego eu acho que é o maior que a escola já fez até hoje. Tenho certeza que vai brigar pelo título. Com relação a bateria, estamos vindo em uma crescente de bons resultados. O primeiro ano foi de bons resultados, o segundo melhor ainda, e agora o objetivo são os 40 pontos. As ideias estão bem elaboradas e ousadas, que fazem parte da minha linha. Nós vamos fechar o primeiro dia dos desfiles com chave de ouro”, finalizou o mestre.

Quem também esteve presente no ensaio foi a equipe do carro de som, comandada por Nino do Milênio. Em conversa com o CARNAVALESCO, o intérprete falou sobre o retorno do Carnaval após a pandemia do coronavírus e também demonstrou otimismo pelo desfile do Sossego.

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“Nos últimos meses, o Carnaval ficou numa situação muito indefinida que chegava até doer o coração da gente que é apaixonado por isso aqui. Muitos vivem disso aqui e eu também. No dia do ensaio técnico foi como se tivesse acontecido pela primeira vez, parecia que eu tinha desaprendido. Foi uma situação muito difícil para o mundo todo, mas ainda bem que está se normalizando. E ainda tinha muita hipocrisia, porque várias coisas podiam ocorrer, mas o nosso Carnaval não. Mas está tudo caminhando bem agora”, comemorou Nino, antes de finalizar:

“Todo ensaio é muito importante. Além desse aqui hoje, ainda teremos mais um na quarta-feira, que será o último antes do nosso desfile. Hoje acertamos algumas coisas que mestre Laion pediu, e eu também com a minha equipe do carro de som. Estou muito feliz com a repercussão do samba, com os elogios e com o barracão da escola também. Vocês podem esperar um Acadêmicos do Sossego maravilhoso. Como dizia nosso samba em 2020, ‘Pra Sossego fazer história’. Então esse ano, vamos fazer história”, completou o intérprete.

Liga-RJ começa venda de arquibancadas para os desfiles da Série Ouro

A Liga-RJ começa nesta quarta-feira, dia 13 de abril, a partir das 10h até 16h, a venda das arquibancadas para os desfiles da Série Ouro. Os ingressos para os setores 2, 3, 4, 5, 6, 7 e 8 custam R$ 25. O ingresso para o setor 9 está R$ 50. O pagamento tem que ser feito em espécie sem limitação de quantidade/pessoa.

Os interessados podem adquirir no stand de atendimento localizado na passarela do samba, atrás do setor 11, de segunda a sexta-feira, de 10h às 16h. Rua Salvador de Sá (embaixo da Elevada de São Sebastião)

serie ouro