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O carnaval voltou! Após dois anos de espera, escolas da Série Ouro abrem os desfiles de 2022 na Sapucaí

Era 29 de fevereiro de 2020, ano bissexto. Os sambistas estavam encharcados de alegria e água mesmo em virtude de uma torrencial chuva na Sapucaí. A Viradouro encerrava o seu desfile campeão. Foi a última vez que se viu um desfile no solo sagrado das escolas de samba. Ninguém imaginava que o mundo sofreria um abalo do tamanho de uma pandemia como a de Covid-19, que só no Brasil matou mais de 600 mil pessoas, muitas delas sambistas. Mais de dois anos de agonia depois os apaixonados pelo carnaval se reencontram com as escolas de samba na noite desta quarta-feira na Marquês de Sapucaí. Sete agremiações da Série Ouro abrem a primeira noite de apresentações após inúmeros adiamentos em virtude da pandemia de Covid-19. Em Cima da Hora; Cubango; Unidos da Ponte; Porto da Pedra; União da Ilha, Unidos de Bangu e Acadêmicos do Sossego iniciam a disputa pela cobiçada vaga no Grupo Especial no Carnaval 2023. Os desfiles têm previsão de início para às 21h.

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Para acompanhar cada desfile e seguir o que mudou no regulamento para os desfiles de 2022, a reportagem do CARNAVALESCO preparou um guia com os principais pontos do texto que rege as regras dos desfiles desta quarta e quinta da Série Ouro.

* Tempo de desfile: Mínimo de 45 e máximo de 55 minutos. Caso alguma escola ultrapasse o tempo de 55 minutos, haverá a perda de 0,1 décimo por minuto excedido. Em contrapartida, caso alguma escola encerre seu desfile com tempo inferior a 45 minutos, terá a perda de 0,2 décimos por cada minuto faltante;
* Obrigatoriedades: Pode acarretar a perda de 0,1 décimo por descumprimento;
* Número mínimo de componentes: 900;
* Baianas: mínimo de 35. Não sendo permitida a presença de componentes do sexo masculino. Exceto diretores;
* Comissão de frente: Mínimo de 10 e máximo de 15 componentes aparentes;
* As comissões de frente podem usar elemento cenográfico. Porém, não pode ultrapassar 36 metros quadrados;
* Ritmistas: Mínimo de 130 componentes;
* Não pode ter na bateria instrumento com a marca de outra agremiação;
* Alegorias: Mínimo de duas e no máximo de três alegorias. Sendo permitido um tripé ou quadripé. Punição de 0,1 décimo pelo descumprimento;
* Tripé/ Quadripé: Não pode passar de 6 metros de largura e somente pode ter no máximo 02 pessoas;
* Não pode ter alegoria acoplada;
* As alegorias tem que ter uma escultura artística. Não pode ter apenas elementos vivos.

EM CIMA DA HORA

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De volta para Sapucaí, após sete anos fora, a Em Cima da Hora, será a primeira escola a abrir a temporada de desfiles do carnaval do Rio de Janeiro em 2022. Estando atualmente na Série Ouro, a azul e branco de Cavalcante irá reeditar na avenida o enredo “33 – Destino Dom Pedro II”, desenvolvido pelo carnavalesco Marco Antônio Falleiro. Enredo clássico da escola de 1984, a temática fala sobre o trem 33 que saía de Japeri (baixada fluminense) com destino a Central do Brasil. Leve, o samba está na ponta da língua dos componentes da escola. Pedido pela própria comunidade, quando a agremiação subiu para a Série Ouro, o carnavalesco Marco Antônio juntamente com a diretoria atendeu o solicitado. Durante a pesquisa para desenvolver o enredo, ou melhor, fazer uma releitura do próprio. O carnavalesco da escola acabou percebendo que apesar do samba ser de 1984, ele ao mesmo tempo é atual. * SAIBA AQUI COMO SERÁ O DESFILE

CUBANGO

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Após o quinto lugar no carnaval de 2020 com o enredo “A voz da Liberdade”, a Acadêmicos do Cubango está apostando tudo no novo enredo para 2022, “O amor preto cura: Chica Xavier, a mãe baiana”. Apesar do luxo nos carros elaborados pelos carnavalescos Raphael Torres e Alexandre Rangel, a escola pecou em problemas técnicos em algumas alegorias. Com o objetivo de corrigir esses erros, a agremiação investe pela primeira vez no talentoso João Vitor Araújo. * SAIBA AQUI COMO SERÁ O DESFILE

UNIDOS DA PONTE

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Diretamente de São João de Meriti, Baixada Fluminense, para a Marquês de Sapucaí. A Unidos da Ponte vem de um carnaval muito criticado e considerado frio em 2020. Com o enredo sobre “Elos da Eternidade”, desenvolvido pelo carnavalesco Lucas Milato, a escola ficou na 12ª colocação da Série Ouro. Para o carnaval de 2022, a diretoria optou por trazer os carnavalescos Guilherme Diniz e Rodrigo Marques que já tiveram uma passagem pela escola. Com o enredo “Santa Dulce dos Pobres – O Anjo Bom da Bahia”, a escola vai levar para a avenida uma homenagem e a história da Santa Dulce, ou melhor, Irmã Dulce. * SAIBA AQUI COMO SERÁ O DESFILE

PORTO DA PEDRA

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A Unidos do Porto da Pedra é uma escola acostumada com o Grupo Especial, após 10 anos desfilando na Série Ouro, o sentimento de todos é um só: voltar para o lugar que de fato te pertence. A agremiação tem apresentado bons desfiles, ficando na terceira colocação em suas últimas três apresentações na Sapucaí. Para esse ano, o tigre quer voltar a rugir e sonhar com um lugar no Grupo Especial, para isso, conta mais uma vez com a carnavalesca Annik Salmon no desenvolvimento do seu carnaval, única mulher a comandar um escola no grupo. Com o enredo “O Caçador que traz alegrias”, a escola segue a linha de levar temáticas culturais para a avenida, a agremiação de São Gonçalo aposta na história de Mãe Stella de Oxóssi para emocionar a Sapucaí, escritora e yalorixá, ela lutou pelo respeito ao candomblé e marcou seu nome na história. * SAIBA AQUI COMO SERÁ O DESFILE

UNIÃO DA ILHA

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A União da Ilha teve no seu último carnaval, muitos problemas técnicos graves, e acabou rebaixada no Grupo Especial. De 2020 para cá, muitas movimentações aconteceram internamente, inclusive, uma nova votação para presidência por conta do falecimento do ex-presidente Djalma Falcão. Com a chegada do presidente Ney Filardi, a tricolor insulana iniciou um processo de resgate da alegria característica da Ilha. Pensando em não repetir os mesmos erros de 2020, a equipe de direção de carnaval em conjunto com os carnavalescos Cahê Rodrigues e o falecido, Severo Luzardo, chegaram na definição do enredo ‘O Vendedor de Orações’, sobre a padroeira do Brasil Nossa Senhora Aparecida. * SAIBA AQUI COMO SERÁ O DESFILE

UNIDOS DE BANGU

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Desde 2018 desfilando na Marquês de Sapucaí pela Série Ouro, a Unidos de Bangu é uma agremiação de respeito da Zona Oeste do município do Rio de Janeiro. A escola foi criada por conta de um bloco que teve a fundação feita por operários da extinta fábrica de tecidos de Bangu, que eram apaixonados por samba. No carnaval de 2020, a escola veio falando de “Memórias de um Griô: a Diáspora Africana Numa Idade Nada Moderna e Muito Menos Contemporânea”, no desfile tiveram erros que resultaram na 10ª colocação. Mas para este ano tudo será diferente, ainda mais falando em amantes do samba, é o que ela pretende levar para avenida neste carnaval. Nada de “bonecões gigantes” no desfile da Unidos de Bangu em 2022. Pelo menos é isso que o carnavalesco Marcus Paulo garantiu. Desenvolvendo o enredo “Deu Castor na cabeça”, que vai homenagear o mecena e contraventor Castor de Andrade, também vai contar a história do bicheiro com o bairro de Bangu. Quando Marcus chegou na agremiação, a diretoria logo disse que o enredo da Bangu para 2022 seria sobre Castor. * SAIBA AQUI COMO SERÁ O DESFILE

ACADÊMICOS DO SOSSEGO

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A Acadêmicos do Sossego pretende melhorar sua colocação e apresentação de desfile em 2022. Em 2020, a escola ocupou a oitava colocação da Série Ouro, com o enredo “Os Tambores de Olokun”, que teve o desenvolvimento dos carnavalescos Guilherme Diniz e Rodrigo Marques, que assumiram o trabalho faltando apenas 15 dias do desfile oficial. Agora, a escola do Largo da Batalha, em Niterói, optou pela contratação do carnavalesco André Rodrigues. Desenvolvendo o enredo “Visões Xamânicas”, o artista pretende levar para a avenida uma história atrelada ao presente e ao futuro. A ideia de falar sobre essa temática surgiu durante a quarentena, quando ele leu algumas reportagens falando sobre o processo de reestruturação de alguns lugares naturais com o afastamento da ação humana. Com as reportagens, André começou a ler o livro do líder Yanomami, Davi Kopenawa, e baseado na leitura ele começou a desenvolver o enredo. * SAIBA AQUI COMO SERÁ O DESFILE

Camarote Kasa Carioca comemora primeiro ano na Sapucaí com vendas além das expectativas e presença de vips

O requinte e o glamour dos antigos carnavais são os ingredientes principais do Camarote Kasa Carioca, que estreia na Sapucaí em 2022 preservando a atmosfera que envolve o maior espetáculo da Terra: o samba. Projetado para receber 400 pessoas por noite de desfiles, o empreendimento é a aposta de Patrícia Hodara e Victor Araújo em um investimento ousado que reúne a expertise dos sócios no ramo de eventos , com a visibilidade e marketing de uma das escolas de samba mais badaladas do carnaval carioca, os Acadêmicos do Salgueiro, que se apresentará em todas as noites de evento.

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Foto: Anderson Borde/Divulgação

Com ambientes diferenciados e localizado em área disputadíssima, o SETOR 4 da Sapucaí, o Kasa Carioca conta com toda a comodidade e conforto oferecidos pelos principais camarotes, além da frisa all inclusive e das atrações, todas elas de samba, conforme explica Patrícia Hodara . “ A Sapucaí é o templo sagrado do samba e, ultimamente, os camarotes foram se diversificando. Nossa proposta é justamente manter a atmosfera do que acontece na pista de desfiles , com nomes que o sambista preza como Maria Rita, Xande de Pilares, Fred Camacho, Pretinho da Serrinha e muito mais”, comenta

O camarote também destaca-se pelos serviços como open bar &food durante toda a noite, além de transfer exclusivo e gratuito para o local. A preocupação em manter o bem-estar e a comodidade dos clientes é também ponto importante para Victor Araújo. “ O Kasa é um camarote onde todos os tipos de público encontrarãontretenimento e conforto, seja na frisa ou no andar superior, onde acontecerão as apresentações. Pensamos todo o tempo em projetar ambientes que satisfizessem o folião em todos os momentos”, diz.

Parceria com o Salgueiro

Dentro do projeto, a parceria com os Acadêmicos do Salgueiro é o que chama atenção. A bateria Furiosa e o elenco da escola se apresentarão todos os dias brindando os convidados com uma amostra dos shows que acontecem semanalmente na quadra da vermelha e branca. Segundo os sócios, a ideia é que o Kasa Carioca homenageie o carnaval como um todo. “ O Salgueiro é a nossa escola de coração e a escolha desta parceria também tem muito a ver com esta proposta de retratar o Rio Antigo e os carnavais maravilhosos e inesquecíveis desde a época da Rio Branco. O que queremos é que o nosso cliente sinta que faz parte da festa, mesmo sem estar desfilando. Esta é a experience que a gente quer que eles tenham “ explicam os sócios.

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Vips na estreia do empreendimento

Já em seu primeiro ano de realização, o camarote Kasa Carioca tem confirmados nomes como a atriz Dandara Mariana, o ator Charles Paraventi e a cantora Sandra de Sá. Para o domingo, dia destinado às crianças, o “reizinho” do camarote é o ator mirim Pedro Guilherme, quem recentemente fez sucesso na novela Amor de Mãe e na série Aruanas.

Os ingressos estão sendo vendidos no site do camarote www.kasacarioca.com.br e custam a partir de R$990 reais.

Serviço: Camarote Kasa Carioca
Localização: Setor 04 Marquês de Sapucaí
Valores: a partir de R$ 990
Link para venda: www.kasacarioca.com.br
Atrações : Arlindinho ( 20 de abril) , Sandra de Sá ( 21 de abril), Maria Rita (22 de abril) , Xande de Pilares ( 23 de abril). A bateria do Salgueiro se apresentará todos os dias.

Ao site CARNAVALESCO, Maju Coutinho fala da estreia no carnaval do Rio: ‘tem a ver com a minha ancestralidade, com negritude, com a sabedoria do povo negro’

A jornalista Maju Coutinho estreia na apresentação do carnaval “Globeleza”, da TV Globo, com Alex Escobar, âncorando os desfiles do Grupo Especial do Rio de Janeiro. Ela conversou com o site CARNAVALESCO e abaixo você confere o bate-papo.

O que você sentiu quando recebeu o convite para entrar na transmissão dos desfiles?

“Eu fiquei muito feliz e honrada em substituir a Fátima Bernardes na transmissão do carnaval do Rio de Janeiro. Recebi essa missão com muito carinho, tem a ver com a minha ancestralidade, com negritude, com a sabedoria do povo negro, que é o carnaval, na maior expressão da nossa cultura. Meu coração está aqui como um bumbo. Eu estou muito animada para essa estreia, esse encontro com o Carnaval do Rio de Janeiro, uma festa poderosa e que mexe com os meus instintos mais profundos porque essa festa, o Carnaval, a negritude, o samba, estão na minha veia”.

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Fotos: João Cotta/Divulgação TV Globo

Tem noção que muitas meninas e meninos vão se sentir representados por você na transmissão? Qual é o tamanho da responsabilidade?

“Para mim já vale a jornada nesse planeta quando a pessoa diz que se espelha no meu trabalho, que eu represento muito. Espero retribuir comunicando bem”.

Você visitou barracões e quadras, o que sentiu das escolas de samba que não sabia que existia?

“O Carnaval é um universo que nos presenteia com muitos personagens inspiradores. Eu fico muito encantada com o casal de mestre sala e porta bandeira que carrega com orgulho e respeito o pavilhão da escola. É ato sagrado e lindo de ver”.

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Tem algum desfile inesquecível que você viu?

“Eu costumo lembrar dos sambas que me marcaram e acho que esse marcou muita gente: ‘Peguei um Ita no Norte’, de 1993. Um carnaval que eu não lembro de ter assistido, mas que está na memória também por conta da sonoridade é ‘Bum Bum Praticumbum Prugurundum’ e os carnavais de São Paulo, porque eu sou paulistana”.

O que você considera que não pode faltar na transmissão?

“Não pode faltar alegria na transmissão do carnaval! Diversão e energia também precisam estar presentes”.

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Qual será o estilo da Maju na transmissão: jornalístico, técnico, pura emoção ou alegria?

“Pergunta difícil: eu acho que a Maju da transmissão vai ser um misto de tudo isso. Pretendo levar pitadas de informação, muita emoção e alegria pra reverenciar o povo do samba”.

Mayara Lima é a nova musa do camarote Rio Praia

Um dos melhores e mais disputados espaços da Sapucaí o camarote Rio Praia confirmou mais um nome de peso no elenco de vips para as noites de folia. Além da rainha Gracyanne Barbosa que, pelo terceiro ano consecutivo brilhará como majestade do camarote, Mayara Lima , princesa do Paraíso do Tuiuti, será presença certa no local que fica em frente ao segundo recuo das baterias. A sambista que arrebatou a internet ao ter um vídeo seu em total sincronia com os ritmistas da escola de São Cristóvão, recebeu o convite para ser musa do camarote, junto com Mileide Mihaile.

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Foto: Denilson Santos/Divulgação

Com ingressos que custam a partir de R$1790, o Camarote Rio Praia celebra o quarto ano de realização, tendo como marcas principais o glamour, requinte e a excelente localização. O espaço de três andares, contempla 900 foliões por noite com total infraestrutura além de open bar e open food. Entre as atrações do espaço estão Mumuzinho, Belo, Diogo Nogueira, Israel e Rodollfo, Matheus Fernandes e Dudu Nobre.

Entre os serviços, transfer partindo do Pestana Atlântica Hotel, local do meeting point, além de customização estão incluídos no valor do passaporte, que pode ser adquirido na Bilheteria Digital ou através da Central de Vendas (21) 99994 3632.

Série Barracões: Portela promete desfile alegre e elegante em enredo com resgate às raízes africanas

O segundo ano dos carnavalescos Renato Lage e Márcia Lage no comando do carnaval da Portela promete ser repleto de simbolismo, força e ancestralidade. Através do enredo “Igi Osé Baobá”, a dupla pretende contar a história do Baobá, árvore sagrada africana relacionada à sobrevivência, sabedoria, ancestralidade e resistência. No carnaval de 2020, a Portela fechou a primeira noite de desfiles e realizou uma apresentação muito elogiada plasticamente, porém, erros na abertura da escola tiraram a chance da volta no desfile das campeãs após uma longa sequência de bons resultados, para esse ano, a azul e branca de Madureira quer voltar a estar entre as seis melhores escolas colocadas. No meio da turbulência que é o último mês de preparação antes do desfile, Márcia recebeu a reportagem do CARNAVALESCO no barracão para questionamentos e falou sobre como o enredo surgiu.

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“O enredo surgiu por parte da escola, o Fábio Pavão (vice-presidente), que é o historiador, junto com a comissão de carnaval, desenvolveram essa pesquisa e nos ofertaram essa possibilidade de falar do Baobá, até porque na época do surgimento desse enredo houve todo um movimento de enredos afros, acho que muito motivado pelo caso do americano George Floyd. Surgiu assim uma vontade de fazer um movimento em prol da causa, a partir daí nós pegamos toda essa parte histórica e compilamos para que isso coubesse em cinco setores”, conta Márcia.

Após 50 anos, o portelense poderá cantar na avenida um enredo de temática africana e a escolha pelo Baobá não poderia se mostrar mais acertada, a árvore possui múltiplos significados, está ligada à ancestralidade, tem ligação com a religiosidade, é chamada de árvore sagrada , fornece alimento para a fauna e populações que vivem ao seu redor, além da resistência, já que os escravos trouxeram suas sementes para o Brasil como forma de ligação com sua terra natal. Assim como o Baobá, a Portela é uma escola com raízes profundas.

“Durante a pesquisa o mais interessante foi ver que apesar de toda mazela, de toda dificuldade, a essência, a realeza que está na alma deles, a cultura e o que viveram lá, não naufragou, nem com o tempo, nem com a dureza com que eles atravessaram. Eles eram povos que tinham príncipes, uma sociedade desenvolvida, e foram realmente dizimados, arrancados daquele pertencimento para virem aqui serem tratados como animais, mas lá na alma, no fundo, o orgulho ficou, eles não sucumbiram, e isso é o melhor que a gente encontra, não é pra justificar, nem pra suavizar, mas eles são incríveis, na dança, na música, na religiosidade, na culinária, é muito rico, é muita informação importante que nos foi deixado”, destaca a carnavalesca.

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Nos últimos carnavais o quesito comissão de frente tem sido o calcanhar de aquiles da Portela, nem mesmo quando foi campeã, em 2017, a azul e branca gabaritou o quesito, feito esse que não ocorre há mais de 20 anos. Para o próximo ano, a carnavalesca Márcia Lage conta que todos os esforços estão sendo feitos para que a comissão se destaque e seja o grande trunfo da escola.

“Espero que esse ano seja o ano da comissão, a gente aguarda ansioso para tirar esse estigma de uma comissão que não pontua, sinceramente estou esperando que esse ano venha, inclusive, eu estou cuidando pessoalmente para que dê tudo certo, os figurinos estão sendo feitos aqui no barracão, então a gente tá sempre dando uma supervisão, to metendo a mão na cola, enfim, todo esforço necessário para que a gente consiga pontuar”, conta Márcia.

Adiamento dos desfiles

A pandemia de covid-19 pegou todos de surpresa no ano de 2020 e com isso impossibilitou a realização dos desfiles no ano seguinte, o pré carnaval deste ano foi marcado pela incerteza. Para a reportagem do site CARNAVALESCO, Márcia comenta como foi para ela esse adiamento e como afetou a preparação da Portela para o desfile.

“Estávamos com o sangue fervendo para apresentar em fevereiro, mas aí surgiu o adiamento, o tempo é o tempo, para carnaval o tempo nunca é muito, sempre é pouco, teve o adiamento, entramos naquele momento de relaxamento, se disser que facilitou é uma verdade, mas às vezes aquela cochilada depois do almoço faz com que você perca o pique, nós demos uma cochilada natural, houve um delay, mas o tempo corre, falta um mês só, quando ver já está o desfile batendo na porta. Foi bom? Sim, mas nós estávamos preparados para terminar o carnaval em fevereiro, mas aí veio a bomba do adiamento”, conta a carnavalesca.

O trabalho na Portela seguiu dentro do planejado mesmo após o adiamento, porém, como dito por Márcia, o relaxamento foi natural, houve também a questão financeira, problema que a maioria das escolas enfrentam nos últimos anos.

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“Tudo foi postergado, a entrada da grana que entraria em fevereiro agora vai ser só em abril, sinceramente acho que como mês não combina, perdemos o calor do verão, perde-se público, muitos se programam para tirar férias em fevereiro, o emprego não vai te dar férias novamente para você vir para a folia, quem gosta mesmo do carnaval perdeu um pouco, foi confuso, em fevereiro, nos dias do carnaval, tivemos um evento enorme na Cidade do Samba, então é um negócio meio cabuloso, adiou mas teve e muita gente foi, pra mim ficou meio estranho e ao mesmo tempo eu não acho que facilitou a preparação, eram todos ensaiando, até que veio o balde de água fria. O desejo de ficar naquela última semana limpando carro ou vendo só ajustes finais deixou de acontecer há muito tempo, estamos sempre correndo contra o tempo, isso não é culpa da Portela, o carnaval tomou um tamanho muito grande”, pontua Márcia.

Proposta visual do desfile

A plástica da Portela promete ser extremamente elegante, mesmo com um enredo africano, em que os tons mais escuros costumam ganhar destaque, Márcia garante que os tons da escola estarão presentes em todos os setores, a escola perpassa pelo azul branco e ouro, as cores quentes farão parte do desfile, porém, não é nada que choque, já que a ideia do desfile é mostrar a força de um povo e não suas mazelas.

“Como o portelense adora azul e branco, eu acho que eles vão se identificar com o abre-alas e com o último carro, que são os que mais tem as cores da Portela. Vamos esquentar a escola com tons terrosos, até porque remete a essa questão da árvore, da raiz, mas podem esperar uma escola bastante elegante, até como fantasia em tudo, não pegamos o lado mais doloroso, o objetivo principal é mostrar a força desse povo que veio pra como escravo, mas veio em pé, a força, o conhecimento e a realiza não se destruiu, podem ter tentado, mas está dentro ainda, isso ninguém tira.

Motivo de orgulho para todo portelense, a águia da escola promete ser tradicional, como de habitual, ela vem na abertura da escola e a carnavalesca afirma que ela terá detalhes africanos. Mesmo notabilizados por desfiles contemporâneos e de visual high-tech, Renato e Márcia fizeram carnavais primorosos usando a temática africana, público e crítica sempre aplaudiram seus trabalhos, principalmente no Salgueiro com os enredos Candaces, de 2007, e o Tambor, campeão em 2009.

“Eu acho que mais uma vez nós vamos conquistar o público e crítica, sem falsa modéstia, ao meu ver o trabalho está muito bom e vai surpreender, tem diferença fazer um afro numa escola de cor quente, tudo corrobora, a paleta é quente, tudo remete a calor, a coisa solar, outra coisa é fazer afro numa escola de tons frios, é uma coisa que devemos esquentar, mas sem perder a mão, sem virar Salgueiro, não pode Salgueirar aqui dentro, mas fica elegante, pelo o que vejo dos portelenses, eles estão felizes com que estão vendo”, conta a carnavalesca.

Entenda o desfile

A Portela será a segunda escola a entrar na avenida no dia 23 de abril, sábado, pelo Grupo Especial. A azul e branca buscará o seu 23º campeonato, e para isso contará com 28 alas e 5 carros alegóricos em seu desfile.

Setor 1: “A gente abre falando da sacralidade, que é a importância do ritual, da conexão da árvore, do aspecto simbólico da árvore, dessa conexão que ela faz entre o céu e a terra, com os orixás, toda essa parte envolvida nessa conexão espiritual. é um setor que a gente vem branco, ouro e azul”.

Setor 2: “O segundo setor entra na árvore como um elemento vital, que não só alimenta a vida dos humanos ali, mas ainda prossegue neste ritual de alimentar o espírito, da sabedoria, porque ela dá fruto, ela é reservatório de água, então ali você tem a árvore nesse simbólico do alimento e da vida material”.

Setor 3: “No terceiro setor a gente entra com a savana, que é uma vida importante dentro desse universo africano, até porque muitos dos símbolos desses animais, os dentes por exemplo, estão intrínsecos na cultura deles e nos rituais também”.

Setor 4: “Nesse setor a gente segue para a parte mais densa do enredo, é o navio negreiro, que é árvore tombada lá, que vem como um navio trazendo os escravos, mas atravessa, porém fecunda, as sementes vem pra cá e fecundam em forma de samba, de manifestação artística e cultural”.

Setor 5:”O último setor é uma ode ao samba, ao maracatu, todas essas expressões musicais de danças oriundas de influência afro”.

Fim da pulseirinha! Reconhecimento facial e comprovante de vacinação são os controles de acesso ao Camarote do King em 2022

O Camarote do King está com o meeting point a todo vapor. São mais de 1000 credenciamentos por dia para os desfiles da Série Ouro, Grupo Especial, Campeãs e Feijoada do King, que acontece no domingo, dia 24. Os ingressos de quinta-feira já estão esgotados e o camarote deve receber mil pessoas por noite.

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O camarote também emplaca novidades na forma de acesso. Esse ano não há mais controle por pulseiras. Desta vez o acesso será controlado por face id, o reconhecimento facial. Desse modo, cada cliente precisa ter o app King Ingressos baixado no celular, credenciar o comprovante de vacinação e também a foto de perfil. A máquina faz o escaneamento facial na chegada ao camarote e já valida o comprovante de vacinação.

A diretora executiva do Camarote, Lilian Martins, afirma que o credenciamento funcionou bem, mas que se deparou com um tempo maior do que o previsto, já que muitos clientes enfrentaram dificuldades de conseguir o comprovante de vacinação do ConecteSUS.

“Domingo foi um dos dias mais cheios aqui no meeting point, mas a gente acabou percebendo uma dificuldade das pessoas em acessarem o ConecteSUS para conseguir o comprovante de vacinação com QR Code. E o Aplicativo do King só libera a validação do ingresso, com o comprovante de vacinação anexado”, explicou.

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O credenciamento para retirada de ingressos e camisas começou no sábado, dia 16 de abril. Lilian também percebeu que neste carnaval fora de época, o público está sendo majoritariamente carioca. O Professor de Matemática Bruno Marcos Gomes é do Rio de Janeiro, já esteve na Sapucaí, mas irá assistir aos desfiles pela primeira vez em um camarote e está animado pela experiência.

“Eu comprei assim que acabou o carnaval de 2020, tinha um amigo que esteve no King, acompanhei pelas redes sociais e decidi que em 2021 iria ao Camarote. Ninguém esperava a pandemia e os adiamentos dos desfiles, mas eu tinha certeza que as escolas voltariam a desfilar. Estamos muito animados para voltar ao Sambódromo”, relatou.

Em 2022 o camarote de 1200 m² está decorado com a temática da Turquia, contará com espaço de beleza, open food e open bar e os badalados shows da Boate King com apresentações de Xandy de Pilares, Ludmila, Arlindinho, Rennan da Penha, Clareou, Molejo, Cordão do Bola Preta, Vou pro Sereno, João Gabriel e outras atrações.

Em 2022 o King também tem novos parceiros, além dos já tradicionais patrocinadores como a cerveja Petra, do Grupo Petrópolis, gin Beefeater, vodka Absolut, agora chegam ao reino do setor 8 a Coca-cola, o grupo Landim e a sorveteria Kibon.

Carnaval voltou! Público e personalidades do samba comentam sobre a expectativa para os desfiles no Sambódromo

Depois de aproximadamente 25 meses do último carnaval, público e desfilantes têm a chance de voltar ao solo sagrado da Marquês de Sapucaí com o objetivo de celebrar a vida e a alegria. Enfrentamos um novo desafio com a chegada e disseminação do coronavírus 103 anos depois do carnaval de 1919, o primeiro após a pandemia de gripe espanhola que dizimou milhares de vítimas. Graças à ciência, hoje podemos retomar as nossas vidas e ver o carnaval ocupar novamente o seu lugar de destaque na cultura popular brasileira. A reportagem do site CARNAVALESCO ouviu algumas pessoas que compartilham de um sentimento em comum: a paixão pela festa.

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Rosimery dos Santos com meia década de vida e de paixão ao samba. Ela que é cozinheira de profissão e integrante do departamento feminino da Unidos da Tijuca, sua escola de coração, não esconde o brilho no olhar ao pisar no Sambódromo após um longo intervalo de tempo. “Não só para mim, mas o retorno do carnaval para quem é do samba está significando muito. Como sambista, nós vivemos disso. Eu falo até para meu patrão o quanto sou apaixonada por esse universo. Eu nasci dentro do samba, sou sambista desde a barriga da minha mãe, há 50 anos. Eu acho tudo de bom, mesmo sendo um carnaval mais para frente, um pouco distante de fevereiro. As pessoas que amam vão passar nessa avenida muito emocionadas”, conta.

A sambista destaca também que a volta de Eduardo Paes à gestão da cidade traz um sentimento de alívio. “Ele é o nosso prefeito carnavalesco, então, eu acho que vai ser mais especial ainda. Acredito também que essas mudanças que ocorreram, de ter dois carnavais, devem prosseguir ano que vem. Tudo que muda é para melhor e eu torço por isso”, finaliza.

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Para o designer Pablo Sander, de 36 anos, o carnaval de 2022 representa, acima de tudo, a vida. “Estar aqui, sentir-se vivo, sentir que vencemos uma pandemia, que vencemos um desgoverno e tudo que jogava contra o ser humano. Poder vivenciar o carnaval novamente, saber quantas pessoas estavam com a gente que não estão mais hoje, é mais do que nunca uma vitória”, relata.

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Alegre, Doralice Lima de 65 anos é telefonista no dia a dia. Já em seus momentos de folga, veste a camisa da sua escola do coração, a Unidos do Viradouro. Ela que desfilará na ala das perucas, não escondeu o sorriso ao regressar para a Sapucaí. “O sentimento aqui dentro é que eu tirei a máscara e agradeci à Deus. Perdemos muitos amigos, mas onde eles estão, estamos dançando e celebrando para eles e por eles”, comenta com os olhos marejados.

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A dançarina e coreógrafa Lizandra Duarte é desfilante da Grande Rio e aguarda ansiosa para o dia do desfile de sua escola do coração. “Para mim é um prazer estar aqui no Sambódromo de volta ao carnaval que nos fez tanta falta. Essa alegria, essa diversidade cultural que nos faz vibrar, que é nosso maior patrimônio. Eu me sinto muito feliz de estar aqui participando e espero que tudo dê certo para todas as escolas”, destaca.

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Para os profissionais que trabalham com a festa, o regresso é, acima de tudo, um alívio. Figurinista e projetista de carnaval há 25 anos, Roberto Monteiro acredita que o sentimento é de encerrar um ciclo. “Nós guardamos essa energia durante praticamente dois anos, principalmente com quem trabalha com o carnaval, com escola de samba. Mais do que foliões, temos um comprometimento profissional e acumulamos essa energia que finda um ciclo. E após isso, vem a renovação. A sensação é essa. Eu defendo a Viradouro tem dois anos e a escola onde eu comecei no carnaval, então, fecha campo semântico e cria uma alegria que se redobra”, ressalta.

Quem também compartilha da mesma percepção é Tarcísio Zanon, um dos carnavalescos da vermelho e branco de Niterói. “Ao definir o enredo, houve o entendimento de que teríamos que trazer uma mensagem de esperança para o coração das pessoas. Quando descobrimos essa história de que a 103 anos atrás o povo carioca conseguiu ressignificar a história da população carioca e brasileira por meio do carnaval é incrível. O carnaval de 1919 foi o firmamento para que nós estejamos aqui nesse momento, é mais do que significativo”, diz.

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Com o coração repleto de felicidade, Zanon destaca que o samba continua cada vez mais vivo. “Em 1919 foi o primeiro ano em que o samba se tornou o maior ritmo do carnaval, então, isso só demonstra a sua força, a força da nossa gente e do carioca. Eu estou muito emocionado com tudo isso. É a retomada, a celebração da vida e o amor por essa festa linda que vamos declarar aqui. Independentemente de qualquer coisa, de qualquer rivalidade, o carnaval vive disso e é o momento em que o sambista vai retomar o seu lugar e viver tudo o que ele ama”, reitera.

Artista e comunicador do Camarote do King, Jimmy Ieger eleva o papel da arte ao dar a devida importância na vida de profissionais que têm o carnaval como uma fonte de renda. “Eu criei o slogan do Camarote do King que é ‘aqui a nossa arte não para’, ou seja, eu acho que pessoas precisam de pessoas. Nós fazemos parte do maior espetáculo da Terra, então, isso impactou muito. Eu como artista, que sempre saio para fazer entrevistas com pessoas, vou às quadras das escolas de samba e não conseguia fazer isso na pandemia porque não tinha. Sendo um pouco mais pragmático, a principal dor foi de não poder exercer arte na prática, afinal, ela não se faz apenas na teoria. Até um livro que você vai ler é assim. E isso se expande para os carnavalescos, os artesãos, para os componentes, aderecistas. O carnaval é um compilado de múltiplos artistas unidos em um só lugar com um objetivo comum”, cita.

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Ieger lembra também de profissionais impactados em cadeia ao longo dos últimos anos, como maquinistas, engenheiros, jornalistas e outras tantas. “Graças a Deus eu, assim como alguns outros, tiveram a oportunidade de seguir com seus empregos e muitos não, inclusive no show business. Eu acredito que o momento mais nostálgico será o carnaval histórico para o mundo a partir da próxima semana. A pandemia trouxe toda a destruição sentimental e corporal, mas trouxe também toda a parte de reflexão e do novo. Tudo o que vai vir será o novo. Nunca foi reformada como agora. As luzes são inéditas. A alegria das pessoas em estar batalhando pelo seu melhor”, comenta.

Ao Pablo, Roberto, Tarcísio, Jimmy, Rosimery, Doralice, Lizandra e tantos outros apaixonados pelo carnaval, o desejo é de que seja inesquecível. Nesta quarta-feira, ao soar a primeira sirene da Marquês de Sapucaí, corações de sambistas pulsarão forte e em perfeita harmonia. Finalmente, o maior espetáculo da Terra vai começar.