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Em Cima da Hora abre os desfiles com irreverência, mas buraco em frente ao abre-alas compromete a evolução

A Em Cima da Hora abriu a primeira noite de desfiles da Série Ouro com alegria e irreverência, mas enfrentou problemas de evolução, formando um buraco considerável ao longo da avenida. Retornando à Marquês de Sapucaí após seis anos, a escola do bairro de Cavalcanti apresentou uma releitura do enredo “33 – Destino Dom Pedro II”, cujo samba é um clássico do carnaval de 1984. Além do belo samba-enredo, o destaque ficou por conta do casal de mestre-sala e porta-bandeira, Jonhy Mattos e Jack Antunes, que se apresentou com graça e elegância. O desfile durou 53 minutos. * VEJA GALERIA DE FOTOS DO DESFILE

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Fotos de Allan Duffes e Nelson Malfacini/Site CARNAVALESCO

Comissão de Frente

A comissão de frente da Em Cima da Hora exaltou os homens e mulheres que residem no subúrbio carioca e utilizam o trem como meio de locomoção. Os integrantes representavam diversos personagens do cotidiano do Rio de Janeiro: vendedores (de perna de pau), artistas, a beata, a gestante, a baiana, a menina de laço de fitas, a cartomante, o professor, o operário, o trombadinha e o policial. As fantasias eram simples, porém carnavalizadas e de fácil leitura. Todos eles interagiam com o elemento cênico de apoio, que simbolizava o vagão de um trem e vinha chacoalhando pela passarela do samba.

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As figuras típicas do subúrbio carioca ilustraram de forma irreverente o caos do transporte público no dia-a-dia da cidade, propiciando uma fácil leitura do público. A coreografia foi desenvolvida por Carlos Fontinelle em cima dos versos do samba e teve dois momentos: dentro e fora do vagão. A escola do bairro de Cavalcanti não só reproduziu a realidade dos suburbanos, como deu a eles um dia de glória na passarela do samba, tirando onda de artista no “famoso 33”. Em frente ao setor um integrante deixou cair um leque no chão, que foi recuperado logo depois. A apresentação da comissão durou cerca de 3m09seg em frente ao módulo de quesitos

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

O primeiro casal de Mestre-Sala e Porta Bandeira da Em Cima da Hora, Jonhy Mattos e Jack Antunes desfilou com a fantasia “Senhores do Tempo”. Os dois representavam a dança dos relógios e ponteiros que marcam o tempo dos suburbanos, que lutam para chegar “lá em Dom Pedro a tempo de bater cartão”. A indumentária de ambos trazia as cores da escola, azul e branco, com detalhes em prata e muito brilho.

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O casal realizou um bailado elegante e seguro, sem apresentar falhas que pudessem comprometer a exibição dos dois. Jonhy mostrou agilidade e leveza em sua dança, enquanto Jack esbanjou simpatia e graça nos seus giros. Ambos cantavam o samba a todo momento. Referências aos trechos do samba “o patrão mal-humorado/ Diz que mora logo ali” e “Imagina quem vem lá de Japeri” também estavam presentes na coreografia. A apresentação do casal em frente à cabine de jurados durou por volta de 1min30seg.

Harmonia

Apesar dos problemas de equalização do som da Sapucaí, a comunidade da Em Cima da Hora começou o desfile cantando o samba com empolgação. A ala “Trabalhador suburbano”, “Maquinistas” e a ala “Paixão pelo futebol” foram as que mais se destacaram em termos de canto. As demais alas da escola, como a ala das ciganas, por exemplo, possuíam alguns integrantes que não cantavam o samba-enredo por completo. A velha guarda, que desfilou nas laterais da última alegoria, cantou o samba do início ao fim.

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Enredo

A escola apresentou uma versão atual do enredo “33 – Destino Dom Pedro II”, que já havia passado pela avenida em 1984. Foi uma viagem de alma carnavalesca, que saiu do subúrbio e desembocou no carnaval da Sapucaí. A narrativa do desfile começou com uma espécie de embarque na estação do trem, “o famoso 33”. A partir de então, se iniciou o percurso enfrentado pelo trabalhador suburbano para chegar até o seu destino.

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O segundo setor da escola, denominado “Baldeando por aí”, trouxe mais personagens típicos dos vagões de trem, além de alguns de seus passatempos, como jogos de tabuleiro e carteado. Malandros, batuqueiros, sambistas, torcedores de futebol e até a inflação econômica, que segue em alta no Brasil atual, estiveram presentes no desfile. O setor final é o grande encontro dos foliões na estação do carnaval, onde eles podem enfim tirar onda de artista.

Alegorias e Adereços

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O carro abre-alas da Em Cima da Hora veio nas cores da escola e representou uma exaltação a todas as estações suburbanas. É pelas estações que boa parte da população da cidade circula para iniciar o percurso das suas viagens cotidianas. Um trem vinha na parte frontal do carro, que trazia engrenagens e relógios em suas laterais. A segunda alegoria simbolizou o comércio que ocorre ao longo das plataformas e os múltiplos personagens típicos dos vagões cariocas, trazendo na lateral uma barraquinha de comerciante ao lado de uma escultura de um pastor evangélico. Na parte traseira, havia uma pintura com os personagens do dia a dia.

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A terceira e última alegoria da escola foi um o desembarque dos foliões para o Carnaval, trazendo esculturas de uma máscara de carnaval, uma máscara da comédia e outra máscara da tragédia. No geral foi um conjunto alegórico simples, mas com um claro entendimento do que estava sendo representado. O acabamento no piso da parte superior dos dois primeiros carros alegóricos deixou a desejar.

Fantasias

O conjunto de fantasias apresentado pela Em Cima da Hora mesclou fantasias mais simples a outras mais acabadas, mas todas elas com uma fácil leitura de enredo. A primeira ala da escola de Cavalcanti representou o trabalhador suburbano. Em seguida, a ala das baianas estava fantasiada de mães suburbanas, que abençoam seus filhos e filhas todas as manhãs antes da saída para mais um dia de luta.

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A ala das passistas simbolizou a luta do suburbano contra a inflação de preços, que o obriga a rebolar para pagar as contas e alimentar sua família. A ala dos “Camelôs” trouxe o componente dentro de uma barraquinha de feira vermelha e amarela. A ala dos “Vendedores de balas” encontrou uma bela solução ao trazer balões infláveis em forma de pirulitos como adereços de mão. De modo geral, se viu uma escola muito colorida e de fácil entendimento visual.

Samba-Enredo

O samba-enredo composto por Guará e Serginho das Rosas é sem dúvidas um dos grandes sambas da história do carnaval. Nessa segunda passagem pela avenida, teve um rendimento satisfatório, apesar dos problemas do som da avenida, muito por conta da ótima atuação do intérprete da escola Ciganerey. Os componentes da Em Cima da Hora de modo geral cantaram o samba, porém a intensidade do canto não foi constante durante o desfile. Algumas alas cantaram mais do que outras, comprometendo a unidade sonora.

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Bateria

A bateria comandada por mestre Wando Antunes fez alusão ao samba batucado nos vagões do “trem do samba”, que costuma ocorrer no dia 2 de dezembro, o dia nacional do samba. Os ritmistas vieram de azul e branco vestidos como sambistas tradicionais, com um chapéu panamá branco de fita azul. A bateria Sintonia de Cavalcanti executou com sucesso as suas bossas durante o desfile. Uma delas fazia referência a batida do funk carioca no trecho do samba “O trombadinha quase sempre se dá bem”. Vale destacar que algumas baterias do subúrbio carioca têm a batida das suas caixas inspiradas no som emitido entre o choque das rodas e amortecedores do trem com os trilhos.

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Evolução

A Em Cima da Hora apresentou algumas falhas durante a evolução de seu desfile. Logo nos setores iniciais da Sapucaí a escola abriu um buraco de praticamente um setor inteiro, em frente ao carro abre-alas, que era empurrado com muita dificuldade. O problema persistiu até o final do desfile da Azul e Branco, com o “buraco” chegando aos setores finais do sambodramo. Depois do carro abre-alas a escola melhorou sua evolução, preenchendo mais os espaços da avenida, desfilando solta e sem fileiras exatas nas alas. A bateria não utilizou o segundo recuo e passou direto.

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A escola do bairro de Cavalcanti trouxe várias musas e destaques de chão entre uma ala e outra ao longo do desfile. A ala “Trombadinha e menina do laço de fita” era coreografada, e representava os jovens sonhadores que viajam em busca dos seus sonhos. Em frente a ala da “Pirataria” desfilou um “muso” e uma musa, que passou sem o costeiro no último setor. A escola trouxe, além da rainha de bateria, Tânia Daley, um rei, o Jorge Amarelloh, sambando à frente dos ritmistas.

Criança se fere gravemente em alegoria da Em Cima da Hora e desfile da Ponte atrasa uma hora

em cima hora desfile2022 58Uma criança de 11 anos sofreu um grave acidente na madrugada desta quinta-feira no Sambódromo. O ocorrido se deu na Rua Frei Caneca na saída da avenida e envolveu uma das alegorias do desfile da Em Cima da Hora. Em virtude da realização da perícia o desfile da Unidos da Ponte, terceira escola da noite, atrasou em uma hora. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, o estado de saúde dela é grave.

De acordo com informações do G1, a mãe e a menina estavam numa praça no Estacio, perto da Sapucai, lanchando. A menina se afastou da mãe pra olhar os carros alegóricos que estavam passando. De repente, a mãe foi avisada de que a menina tinha sido atropelada por um carro alegórico e foi prensada contra um poste. A Em Cima da Hora preferiu não comentar o ocorrido.

Fotos: Desfile da Em Cima da Hora no Carnaval 2022

Baianas do Cubango falam sobre a representatividade da fantasia: ‘Tradição da mulher negra’

CelimarCom belas fantasias, o Acadêmicos do Cubango desfilou na Marquês de Sapucaí na última quarta-feira. Na ala das baianas, a escola trouxe a representação de Chica Xavier na minissérie da Globo ‘Tenda dos Milagres’, de 1985. Na obra, a personagem lutava contra o racismo e a intolerância religiosa. Com roupas brancas, detalhes em dourado e bonito figurino, as matriarcas falaram sobre a importância da representação.

“O enredo fala sobre essa tradição negra, o respeito ao candomblé a nossa raça. Nós acreditamos em nossos orixás e trazemos um enredo falando disso tudo. É uma grande honra representar e falar sobre Chica Xavier e com essa fantasia da Tenda dos Milagres. Minha mãe é baiana há 40 anos, mas já tem 96 anos e não desfila mais, e eu herdei essa tradição dessa. A fantasia é muito linda, fala sobre a mãe das mães”, Celimar Fonseca, de 70 anos.

Lucia“Nós estamos representando a Chica Xavier como baiana autêntica que ele era, mãe de santo. Passamos nessa fantasia também a ideia dessa luta contra o racismo e intolerância religiosa. O desfile está muito lindo, e eu quero me aposentar dessa ala como campeã, ano que vem estou na velha guarda. Nossa fantasia é muito linda, o branco da paz, da alegria, do agradecimento à volta do Carnaval”, completou Lúcia Rêgo, de 76 anos.

Destaques do abre-alas comentam do enredo do Cubango: ‘Mais importante é essa homenagem a Chica Xavier’

WhatsApp Image 2022 04 20 at 23.34.13Segunda escola a desfilar nesta quarta-feira, o Acadêmicos do Cubango trouxe a história de Chica Xavier, atriz, produtora e importante personagem brasileira. Falecida em 2020, a artista, que também era mãe de santo e devota de Santo Antônio foi homenageada pela agremiação, que levou para avenida um abre-alas com a imagem do padroeiro. No carro também foi trazido a imagem de Nossa Senhora. Responsável pela iluminação do carro, Vinicius Almeida, de 28 anos falou sobre a alegoria.

“O enredo em si é muito forte, e esse carro é maravilhoso, muito bonito, que traz a nossa devoção a esses santos. Temos que prezar muito por eles, não só pela importância para nossa escola, mas como para a sociedade como um todo. É a força da escola que está representada na imagem destes santos”, disse Vinícius.

Alguns dos destaques do carro trouxeram a representação de iaôs, filhos de santo que passaram pela iniciação no candomblé. O abre-alas foi predominantemente na cor verde da escola, com detalhes em dourado, com esculturas de anjo, além das imagens de Santo Antônio dos dois lados. Léo Chocolate, que é mestre-sala da Mocidade Unida da Cidade de Deus, desfilou como destaque e falou sobre a representação.

WhatsApp Image 2022 04 20 at 23.34.13 2“O carro abre-alas é o nosso enredo, falando sobre a história da Chica Xavier e da iniciação dela. Traz o sincretismo religioso, o candomblé e todos os santos. É minha primeira vez desfilando em alegoria, então dá um nervoso. Mas o carro é muito bonito todo verde, aí vem o nosso contraste, todo de branco, dá um visual muito legal. A alegoria mostra toda a história da nossa personagem principal”, disse o mestre-sala de 35 anos.

“O mais importante eu acho que é essa homenagem a Chica Xavier, e toda essa religiosidade em torno dela. Foi uma pessoa muito importante na cultura, na tv, na religião. O carro está um espetáculo, vamos correr para a vitória, a intenção é essa. Está tudo muito bem confeccionado, bem legal, não está riquíssima, até porque não tem. Mas mediante ao que pode, está muito bom”, comentou Rejane Sabino, que também representou iaô.

Personagens de ala da Em Cima da Hora sobre o vagão feminino falam de importância da lei que instituiu obrigatoriedade

IMG 20220420 211921 778Instituído pela lei 4.373/06 que decretou obrigatoriedade de um vagão somente as mulheres durante os horários de pico pela manhã e também à tarde nos trens da cidade, a décima ala da Em Cima da Hora veio representando o “vagão feminino”.

Tendo em vista que por muitas vezes as mulheres têm os seus direitos violados, o vagão feminino é uma grande conquista. De uma importância superior, esta parte do trem destinada às mulheres nem sempre é respeitada. Mesmo nos horários em que deveriam ser, os homens não respeitam e também não há uma fiscalização por parte da Supervia.

Para a técnica de enfermagem, Eliane Alves, de 50 anos, que integra a ala, o vagão feminino não funciona por causa do desrespeito.

“Eles entram, ficam junto com nós mulheres e se aproveitam também. Por muitas vezes ficam se encostando e não é policiado. Os trens vivem lotados, e o vagão feminino é uma fuga para as mulheres que não querem levar esbarrões dos homens”, conta.

A falta de respeito no vagão é imensa e isso incomoda demais as mulheres que o utilizam nos trens. Algo que deveria ser um alívio, acaba se tornando sufocante para quem faz o uso. Quando a lei saiu, a felicidade foi tremenda, mas na prática não funcionou.

IMG 20220420 212044 576A professora Georgina Rodrigues de 55 anos também é integrante da ala e relata a maior dificuldade em usar o vagão feminino no dia a dia.

“Os homens usam o vagão que por direito é nosso, durante o horário que foi decretado por lei. E isso é muito difícil para a gente, porque no trem lotado as pessoas não conseguem obedecer uma simples regra. Eu me sinto totalmente desconfortável quando eles entram e isso é falta de consciência”.

IMG 20220420 212303 268Já a enfermeira Jussara Miranda, de 73 anos, preza pelo respeito das pessoas pelo vagão feminino. Para ela é importante ter um horário exclusivo, porém considera pouco e que poderia ser mais extenso.

“É importante ter uma separação do masculino e feminino, mas isso não funciona no cotidiano. Porque mistura tudo, não tem um horário maior e também os homens não respeitam, o que dificulta
muito”, expõe.

As componentes da ala estavam vestidas com uma fantasia na cor rosa com detalhes em dourado e estampa de flores, em que carregavam uma placa que tinha o símbolo feminino.

Rebolando com a inflação: ala de passistas da Em Cima da Hora fez referência à luta do suburbano contra a inflação

IMG 3686A ala de passistas da Em cima da Hora para o Carnaval 2022, representou a luta do suburbano contra a inflação, tema esse bastante atual e sofrido pelo povo. A inflação financeira sofre aumento contínuo, e os suburbanos por serem de classe mais simples, são os que mais sofrem e perdem o sono com todos esses perrengues.

A passista Eliane Nascimento, também comerciária, contou em entrevista ao CARNAVALESCO um pouco da representatividade carregada na fantasia.

“Estamos representando o dinheiro que o trabalhador vai em busca todos os dias. Estamos vivendo uma crise mundial, mas que aqui no Brasil já vem se arrastando há um tempo. Nossos políticos não estão preocupados em ver o que pode ser feito para melhorar a vida do cidadão, muito pelo contrário. Infelizmente o povo tem memória curta, então dificulta minha perspectiva de algo melhor”.

IMG 3690Cristiane Cruz de 50 anos, também passista, além de prometer muita garra para defender a escola, também nos contou o significado do enredo na sua vida.

“O enredo retrata a realidade da população carioca, quase toda a massa usa o trem como meio de transporte, fora a questão do comércio nos trens, as cantadas sofridas pelas mulheres, nada mudou. O tema é atemporal”, concluiu a dentista.

A passista Patrícia Araújo também não mediu palavras em relatar tamanha identificação com sua fantasia, uma vez que utiliza o trem como meio de transporte diário para chegar ao trabalho.

“Nunca me senti tão representada. Não digo nem só pela fantasia, mas também pelo samba já que cita o trem e as dificuldades que os empregados sofrem com seus patrões. Todos os dias eu pego trem, trouxe minha fantasia no trem lotado, então a escola retrata exatamente a minha realidade”, desabafou Patrícia.

IMG 3691A assistente administrativa de 34 anos também aproveitou para contar um pouco da sua luta ao enfrentar a realidade suburbana.

“O trem é a minha realidade. Eu moro em Nova Iguaçu e trabalho em São Cristóvão, então para chegar no meu trabalho, além do trem, eu pego um ônibus e uma van. Por estar sempre nessa constância, as vezes eu acabo sofrendo com a falta de trem. Nova Iguaçu ainda é um pouco privilegiado, já que de vez em quando tem um trem especial que sai direto da plataforma, porém nem sempre. Enquanto isso, a Supervia, está sempre querendo fazer reajustes nas passagens”, lamentou a passista.

Componentes da Em Cima da Hora contam perrengues no trem

IMG 20220420 210248 363Abrindo os desfiles da Série Ouro do carnaval de 2022, a Em Cima da Hora fez uma reedição do enredo “33 – Destino Dom Pedro II”, desenvolvido pelo
carnavalesco Marco Antônio Falleiro. E nada melhor do que falar sobre o trem e toda a viagem que é feita de Japeri até a Central do Brasil.

Constantemente é falado que os trens da Supervia estão com algum tipo de problema. Seja, o furto de cabos, atrasos nos ramais e até paralisações, os usuários que utilizam esse transporte sofrem bastante. Enfrentando adversidades diárias, a população não aguenta mais a precariedade da condução.

IMG 20220420 210853 117A equipe do site CARNAVALESCO conversou com algumas pessoas que utilizam o transporte e que desfilaram na azul e branca de Cavalcante. A motorista do conselho tutelar, Kelly Grande Rio, de 42 anos, conta sobre a dificuldade de usar
o veículo.

“É superlotado, as pessoas não respeitam nenhum pouco, falta respeito com as mulheres também. Fora que os atrasos são muitos, tem dia que chego atrasada no trabalho e não acreditam que foi por causa do trem”, diz Kelly.

O dia a dia no transporte é precário, muitas das vezes a circulação dos ramais são interrompidas e os usuários ficam sem ter como chegar ao trabalho ou em casa. Com isso, alguns chefes não entendem o que o funcionário passa até chegar ali, o que foi o caso da advogada Viviane Rocha, de 41 anos.

IMG 20220420 210331 047A advogada relata sobre os problemas que enfrenta ao utilizar a locomoção.

“Quando o trem enguiça é o maior transtorno e temos que andar no meio do trilho até a próxima estação. É complicado para o meu chefe entender que moro longe, que dependo do transporte público e que infelizmente aqui no Rio ele é precário”, aponta.

Sempre é válido deixar claro o quanto o serviço que a Supervia oferece é precário. Mas o transporte também se tornou um meio em que pessoas que não encontram um emprego formal, trabalham para ter uma renda. Os vendedores ambulantes, conhecidos como ‘camelôs’ são os passageiros quando bate a fome ou sede. Provavelmente sem eles não teria graça pegar o trem. Além disso, é importante que os governantes olhem com mais cuidado para os trens e também para a quantidade de usuários que usam o meio. A professora de dança Stephanie Hansen, de 24 anos, fala como é necessário essa visão do governo para os passageiros.

“A falta de organização da prefeitura com a gente que usa o transporte é muito ruim. Acredito que precisam de um alerta, para que entendam que todos possuem o direito de usá-lo e que se torne mais acessível”, explica.

IMG 20220420 205821 840Os trabalhadores ultimamente estão sofrendo bastante com a precariedade do serviço oferecido pela Supervia. O que dificulta demais no cotidiano dos passageiros é a lotação do transporte. A auxiliar de contas, Thaís Duarte, de 22 anos, é uma entre milhares de usuários que sofrem com isso.

“O serviço é sucateado, a passagem está cara demais e os trabalhadores não aguentam mais os atrasos constantes. Quando o trem não está em bom estado, acaba ficando parado por muito tempo e isso nos prejudica demais. A viagem de Japeri até a Central é demorada e sufocante, e por muitas vezes o serviço deixa a desejar. Porém, com o trem conseguimos fugir um pouco do trânsito da cidade”, comenta Thaís.

As entrevistadas estavam no carro abre-alas “Embarque no famoso 33”, que era uma representação de um trem. Com as cores da escola, em azul e branco e também com alguns detalhes na cor cinza.

Benção maternal: baianas da Em Cima da Hora homenageiam as mães suburbanas

IMG 3680 1A tradicional ala das baianas é sem dúvidas uma das alas que geram mais expectativas não só do público, mas também dos próprios componentes. Esse ano, a ala das baianas da Em Cima da Hora, escola que abriu o Carnaval 2022, veio representando as mães suburbanas. Elas são as donas de todas as aflições e perrengues, além de abençoarem seus filhos e filhas antes da saída para mais um dia de luta mundo a fora.

Em entrevista ao CARNAVALESCO, a baiana Maria das Graças Carvalho da Silva de 53 anos, descreveu um pouco do sentimento em fazer parte de uma ala tão importante para a escola e aguardada pelo público.

“Eu desfilava na ala da comunidade, mas sempre fiquei muito encantada com a ala das baianas, justamente por representar a escola, além de ser referência em respeito e ancestralidade. A escola de samba sem a nossa ala, não é uma escola de samba”.

A assistente social também aproveitou para contar da sua relação com suas duas filhas, com quem afirmou ter uma ótima relação, já que as duas sempre as apoiam, independente do que for.

“Eu fico sempre preocupada com minhas filhas, mas procuro sempre orientar, principalmente com esse mundo violento em que vivemos. Hoje você confiar no outro ser humano, é algo extremamente difícil, então tento sempre passar isso para elas. Mas independente disso tudo, a vida não pode parar, temos que enfrentar nossa luta diária e torcer para que não aconteça nada de ruim”.

IMG 3678 1A baiana Maria da Conceição Casemiro de 63 anos, atual cozinheira, também se mostrou bastante satisfeita com a representatividade de sua fantasia.

“Os meus filhos já estão adultos, então hoje em dia eu consigo respirar melhor”, brincou. “Na época em que tive meus dois filhos sozinha, confesso que foi muito difícil. O mundo hoje está uma loucura, não basta só aconselhar os filhos, porque a cabeça dos jovens infelizmente é muito fraca, e as mães que sofrem. Hoje em dia eu não teria filhos”, afirmou.

A auxiliar de serviços gerais Zélia dos Santos Bento de 63 anos, também nos contou em entrevista sobre a emoção de estar se sentindo representada. Baiana há 20 anos, a dona Zélia contou que o carnaval é a sua verdadeira paixão.

“A sensação de não saber se nossos filhos atingirão suas metas ao final do dia é muito angustiante. Fico muito preocupada quando
meus filhos demoram a chegar em casa, seja por condução ou até mesmo perigos do mundo a fora, mas graças a Deus nunca aconteceu nada a nenhum deles”, concluiu aliviada.

‘Será um carnaval histórico’, declara Rei Momo

Por Lucas Santos e Walter Farias

O carnaval do Rio de Janeiro está oficialmente aberto. Nesta quarta-feira, o prefeito Eduardo Paes entregou a chave da cidade ao Rei Momo no Palácio da Cidade, em Botafogo, na Zona Sul do Rio. A festa estava marcada para acontecer em fevereiro, mas precisou ser adiada por conta da pandemia do coronavírus.

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Foto: Lucas Santos e Walter Farias

O prefeito falou da emoção de poder voltar realizar o carnaval com segurança e pediu para que os foliões aproveitem a festa com responsabilidade.

“Depois de dois anos que a população do Rio de Janeiro e do ano inteiro tanto sofreu com essa pandemia e agora podemos chegar nesse momento, mesmo que o carnaval tenha sido adiado para uma época diferente do ano, mas a gente poder comemorar essa festa fantástica da cultura popular brasileira, da força da nossa gente, da nossa ancestralidade, das nossas origens, essa celebração que sai das favelas cariocas, dos cantos mais distantes dessa cidade e do maior espetáculo do mundo. Então, pra mim é uma honra e uma alegria de estar aqui como prefeito para poder passar o comando da cidade para o Rei Momo, para a rainhas e princesas. Quero dar boas vindas à todos e que possam nos próximos dias celebrar a vida, celebrar com responsabilidade, respeitando as regras e que a gente possa comemorar com muita alegria”, declarou Eduardo Paes.

A corte do carnaval carioca 2022 é formada por Wilson Dias, que está no posto pela 5ª vez, o vice é Alex de Oliveira Silva, a rainha é Thaiana Rodrigues Pinheiro e Luara Neto Lino e Deisiane Conceição de Jesus são 1ª e 2ª princesas. O Rei Momo exaltou a manifestação cultural que é o carnaval e declarou que será uma festa inesquecível.

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Foto: Arquivo pessoal

“Passamos dois anos de muita angústia, de muita tristeza, muito choro e, nesse momento vivemos uma situação atípica, mas teremos um carnaval histórico. O carnaval é a maior manifestação cultural e neste momento estamos apoiando todas as agremiações e, tenho a plena certeza de que com a euforia dos foliões cariocas, vamos fazer uma festa inesquecível. Que nesse carnaval só reine a alegria, a espontaneidade, o consentimento de todos nós. Declaro aberto o carnaval carioca. Viva o samba”, disse o Rei Momo.

A rainha revelou para o site CARNAVALESCO qual era o sentimento de fazer parte da realeza do carnaval e de voltar a pisar na Sapucaí oficialmente depois de dois anos.

“É muito gostoso quando a gente faz o que gosta, o que ama. Fui uma escolhida pelos meus ancestrais para levantar a bandeira do samba, para resistência para não deixar o samba morrer e não deixar a arte da dança morrer. Então, com esse crescimento do samba no pé de modalidade, estou muito feliz e ansiosa. Feliz com essa galera que está nos abraçando e com essa representatividade de sermos passistas e estarmos onde merecemos”, declarou a rainha Thaiana Rodrigues Pinheiro.