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Nei Lopes é o enredo da Renascer de Jacarepaguá para o Carnaval 2023

A Renascer de Jacarepaguá contará a história do escritor, compositor, poeta, e pensador Nei Lopes que esse ano completa 80 anos de vida. O enredo será desenvolvido pelo carnavalesco Plinio Santos.

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“É uma grande honra poder falar desse gênio da cultura afro-brasileira nos seus 80 anos. Vamos comemorar juntos os 30 anos da Renascer e os 80 de Nei Lopes no dia 25 de fevereiro de 2023 na Intendente Magalhães”, disse o presidente André Augusto (Dedé).

História de Esperança Garcia é o enredo da Em Cima da Hora para o Carnaval 2023

A Em Cima da Hora anunciou que contará no Carnaval 2023 a história de Esperança Garcia, mulher negra escravizada que, no século XVIII, no Piauí colonizado, ergueu-se como voz da resistência e lutou contra os terrores da escravização. Confira abaixo a publicação da escola.

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“Esperança, combatendo a estrutura opressora da época, aprendeu a ler e a escrever, e usou o saber como arma de enfrentamento: redigiu uma carta denunciando os horrores do Piauí escravocrata e as violências que sofria, documento hoje considerado uma das primeiras cartas de Direito.

Em 2017, Esperança foi reconhecida pela OAB/PI como a primeira advogada piauiense e sua carta é também foi considerada uma das primeiras obras da Literatura Negra brasileira.

Assim, convidamos toda a nossa comunidade para ecoar a voz e a vida de Esperança Garcia!

“Esperança agoniza, mas não morre, brada! Ergue a cabeça, Esperança, e escreve! E ela escreveu para lutar pelos seus! Escreve, Esperança, tu que és verbo vivo da justiça de Xangô!”

Carnavalescos: Marco Antonio Falleiros e Carlos Eduardo
Enredistas: Victor Marques e Clark Mangabeira
Arte: Bruno Coelho

Sinopse do enredo do Paraíso do Tuiuti para o Carnaval 2023

Enredo: Mogangueiro da Cara Preta

O termo “especiarias” era conhecido na Europa nos séculos XIV e XV para designar temperos e condimentos, que não só davam mais sabor aos alimentos como serviam também para conservá-los, sendo alguns usados como remédios. Os preços altíssimos cobrados então causaram indiretamente o “Descobrimento” da América e do Brasil.

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Sua importância vai até os dias de hoje.

Quem nunca saboreou um mingau com canela ou um doce de coco com cravo da Índia – que até hoje mantém no nome sua origem?

Neste rol de especiarias, vamos listando a pimenta do reino, a canela, o açafrão, o anis, e até mesmo a noz moscada, natural da Indonésia, mas que se aclimatou muito bem na Índia, além do cominho e o curry. Na verdade, esses são alguns dos produtos que enriqueceram a mesa europeia a partir da Idade Média. Seu alto custo era cobrado por importadores que bloqueavam sua comercialização. A saída foi procurar um caminho direto a seus produtores, pelo mar – dando origem às “descobertas” de novas terras.

O comércio se tornou bastante comum entre o Ocidente e o Oriente.

E assim começa nossa história…

Conta-se que um carregamento de búfalos, originários da Índia, também fez parte desse grande rol de exportações.

Viajavam num navio que, devido a forte tempestade, acabou naufragando perto da costa brasileira. Muitos deles, milagrosamente, conseguiram se salvar nadando até a terra firme.

Chegaram a um lugar que, tal qual a Índia, era habitado havia milhares de anos. Desses antigos moradores, temos apenas restos de uma civilização admirável em seus trabalhos em argila, cuja fabricação era especialmente decorada.

Nossos búfalos sobreviventes se aclimataram muito bem nessa região. Foram se multiplicando e hoje formam o maior rebanho de búfalos do país. A terra que os acolheu era em alguns lugares alagadiça, e esses animais se refrescavam nesses oásis de águas cristalinas, por conta de sua constituição que lhes permitia sair d’água sem esforço graças a seus fortes músculos traseiros.

A terra a que chegaram tão bravamente, na verdade era uma ilha, a Ilha de Marajó, situada entre a desembocadura de um rio e o oceano. E seu povo tem por esses animais a maior reverência.

Aproveitando as influências de festas nortistas, Mestre Damasceno, grande artista popular marajoara, criou um “Búfalo – Bumbá”, uma adaptação do Auto do Boi, tendo como figura central o búfalo.

A presença do boi foi largamente disseminada entre os povos Bantos africanos que, no período da colheita, conduziam um boi estilizado, em procissão animada por cantos e danças.

Os escravos, cantadores de muitas gerações, usavam palavras e ritmos de seus universos poéticos, narrando aventuras de outros tempos e espaços, com histórias nas quais os bichos falavam, dançavam, cantavam e assombravam reinos humanos e os animais.

“Que já houve um tempo em que eles conversavam entre si e com os homens é certo e indescritível, pois que bem comprovado nos livros de fadas carochas. Mas, hoje em dia, agora, agorinha mesmo, aqui, ali e em toda parte, poderão os bichos falar e serem entendidos, por você, por mim, por todo mundo, por qualquer filho de Deus?!”

São histórias contadas pelas avós.

“Meu boi preto mogangueiro,
árvore para te apresilhar?
Palmeira que não debruça: buriti
– sem entortar…”

Os búfalos passeiam pela cidade, servem de montaria para a polícia e ajudam na coleta do lixo. E, à noite, ouve-se as vozes de mães ninando seus pequenos:

Boi, boi, boi da cara preta, pega essa menina que tem medo de careta…

Rosa Magalhães.
João Vitor Araújo.

‘Eles querem um show de abertura’, diz Saulo Finelon sobre trabalhar com Jorge Teixeira na Beija-Flor de Nilópolis

A Beija-Flor contratou a dupla de coreógrafos Jorge Teixeira e Saulo Finelon para lideraram a comissão de frente em 2023. Eles que estavam na Mocidade desde 2015, chegam com prestígio para fazer valer a estratégia da escola para o quesito: ter mais comunicação com o público e ser um número de impacto.

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Foto: Allan Duffes/Site CARNAVALESCO

Em busca de ir além da dança e de uma apresentação dentro do enredo, a Deusa da Passarela apostou nos criadores do Aladim voador para o lugar de Marcelo Misaidilis, hoje na Imperatriz Leopoldinense. Ainda que o quesito não estivesse comprometendo os resultados da escola, o objetivo agora é marcar presença, uma vez que as últimas aberturas de desfiles da Beija-flor não figuravam na lista das mais lembradas dos carnavais. Jorge e Saulo chegam justamente para dar notoriedade ao quesito, com a bagagem de profissionais que aprenderam a encantar o Sambódromo.

Há sete carnavais frequentando a Vila Vintém, eles colecionaram trabalhos que arrancaram aplausos do público. Se em 2015, o temporal atrapalhou os planos de literalmente incendiar a abertura do desfile, em 201616, o público ovacionou Dom Quixote colocando políticos na cadeia. Em 2017, a catarse marroquina com o Aladim que saía voando e a perfeição coreográfica, em 2018, alocaram Jorge Teixeira e Saulo Finelon de vez na galeria dos grandes trabalhos em comissões de frente. Os dois ainda colocaram uma máquina do tempo na avenida, em 2019, encantaram os espectadores com a história de Elza Soares, em 2020, e as flechas de Oxóssi, em 2022.

De casa nova, a dupla agora vai encarar uma torcida acostumada a vencer e uma escola que sempre é aguardada e favorita. Para Jorge Teixeira, o peso de ser um dos favoritos é minimizado pela confiança no trabalho a ser executado.

“Nós procuramos não pensar muito na questão do peso. Tentamos levar as coisas com muita naturalidade, confiamos em nós mesmos e já sabemos como gostamos de trabalhar. Então, se foi um convite, é porque a diretoria da Beija-Flor confia também. Sabemos da responsabilidade, do tamanho da escola para o carnaval, mas faremos um trabalho como fizemos sempre: buscando o nosso melhor”, afirmou Jorge, falando do convite da escola e o motivo que os levaram até Nilópolis.

O diretor de Carnaval Dudu Azevedo também mostra confiança na dupla. Ele conta que a ideia é fazer um show de abertura para, além da nota máxima, o público mergulhar no desfile e no enredo já no início. Dudu afirma que a escola está buscando ajustar os quesitos que podem se desalinhar com os planos da agremiação, como acontecia com Enredo e, agora, com Alegorias e Adereços, que deixa décimos preciosos pela pista, há 7 anos.

“A gente quer buscar uma comissão de frente que não tenha só o impacto de dança. Isso a gente tinha e ganhava 10, com o Marcelo Misaidilis. Mas, se viu a necessidade de ir além. Mesmo dentro do enredo, criar uma comissão que cause um ponto marcante dentro do desfile. Nisso, a gente tem total confiança de que o Saulo e o Jorge vão trazer para a gente”, disse o diretor de carnaval.

Dois pontos ajudarão os coreógrafos na construção de uma comissão de frente de impacto: primeiro é que a escola deu a eles a liberdade total para executar o trabalho. E segundo, é o entrosamento com Alexandre Louzada, que assina o enredo para 2023, ao lado de André Rodrigues. Jorge, Saulo e Louzada, trabalharam juntos na Mocidade entre 2016 e 2019. A dupla comemora o fato de que o carnavalesco os deixa à vontade para trabalhar e eles já sabem o que pode deixá-lo feliz ao retratar o seu enredo.

“Quando se tem um diálogo com o carnavalesco fica muito mais fácil. Porque, por mais que nós procuramos fazer um trabalho de autoria nossa, o carnavalesco também precisa ficar feliz. Afinal, nós estaremos retratando um enredo dele”, contou Saulo Finelon.

Agora, com enredo lançado, a dupla começa o trabalho de pesquisa e montagem. O trabalho deles será conhecido no desfile de 2023, quando a Beija-Flor levará para a avenida o tema “Brava Gente! O grito dos excluídos no bicentenário da independência”, que será, a partir da independência da Bahia, uma reivindicação pelos que lutaram no processo de se separação do Brasil de Portugal, mas não ganharam a notoriedade que mereciam, e ainda uma contestação do real significado de ser independente. Já o resultado final dessa comissão de frente, é conversa para depois da apuração.

Presidentes da Tijuca, Salgueiro e Tuiuti analisam posições de desfiles no Carnaval 2023

A equipe do site CARNAVALESCO ouviu os presidentes da Tijuca, Salgueiro e Tuiuti e os três analisaram as posições de desfiles no Carnaval 2023. Confira abaixo. * VEJA AQUI COMO FICOU A ORDEM DOS DESFILES

presidentes tijuca salgueiro tuiuti

Unidos da Tijuca, 4ª a desfilar no domingo (Presidente Fernando Horta)
“No fundo foi legal para a Tijuca, agora, colocação é isso aí, umas tem que desfilar domingo, outras tem que desfilar segunda-feira. E a Tijuca ela foi campeã desfilando no domingo, o negócio é a escola fazer um grande carnaval, e bola que segue. Aliás eu não tive nem a chance de sortear, porque sortearam na minha frente e já tiraram a bola máxima. Mas isso faz parte do jogo. Da minha parte, a escola vai fazer um grande carnaval e bola que segue. Eu sei que o domingo , pela contagem dos anos de carnaval, o domingo sai menos campeã, mas a Tijuca já foi campeã no domingo desfilando entre as primeiras.

Salgueiro, 5ª a desfilar no domingo (Presidente André Vaz)
“Eu acho que ficou bom, a gente sempre quer segunda, mas caiu domingo, a quinta escola, lado dos correios, vamos com tudo, estamos preparados. O dia que for o mais importante é a escola estar unida e fazer um carnaval a altura do Salgueiro”.

Paraíso do Tuiuti, 1ª a desfilar na segunda (Presidente Renato Thor)
“Na verdade, o Paraíso do Tuiuti é a sétima escola a desfilar na Marquês de Sapucaí. Somos a primeira de segunda-feira. Com certeza não vamos poupar esforços para conquistar nosso objetivo que é voltar ao desfile das campeãs. No último carnaval o Tuiuti não perdeu para ninguém, o Tuiuti perdeu para ela mesma, devido a alguns fatos acontecidos, mas estamos nos esforçando o máximo possível para que nós possamos acertar nos mínimos detalhes”.

Presidentes da Mocidade, Mangueira e Portela analisam posições de desfiles no Carnaval 2023

A equipe do site CARNAVALESCO ouviu os presidentes da Estação Primeira de Mangueira, Mocidade e Portela e os três analisaram as posições de desfiles no Carnaval 2023. Confira abaixo. * VEJA COMO FICOU A ORDEM DOS DESFILES

foto manga portela mocidade

Mangueira, 6ª a desfilar no domingo (Presidente Guanayra)
“A troca nos favoreceu bastante, é o que eu falei no início, é sorte né, no começo a sorte não estava muito boa, mas depois nós demos uma volta. Mangueirense gosta de encerrar o carnaval, de encerrar os dias. Já imagino aquele arrastão levando a Mangueira, Mangueira levando a galera”.

Portela, 2ª escola a desfilar na segunda (Presidente Fábio Pavão)
“O saldo é positivo, a gente queria desfilar na segunda-feira e conseguimos nosso objetivo mais uma vez, a Portela tem dado sorte nos sorteios, desfilando na segunda. Claro que a gente preferia, e todo mundo ou quase todo mundo preferia, desfilar no lado dos Correios, por isso a nossa intenção era ser ou terceira, ou a quinta de segunda, fomos a segunda de segunda, assim como a gente desfilou esse ano, nessa posição, e outras vezes também de forma recente. Toda vez que a gente desfilou segunda, a gente desfilou nas campeãs, e agora a gente vai fazer o nosso centenário, um desfile na segunda-feira para ser campeão. O último título de Renato Lage inclusive foi sendo a segunda escola de segunda, então é um local que várias escolas que desfilaram nessa posição já foram campeãs, e a Portela vai brigar para ser campeã também desse carnaval de 2023”.

Mocidade, 3º a desfilar no domingo (Presidente Flávio Santos)
“Não é o que queríamos, mas vamos brigar. Não ficou ruim também não, terceira. Era terceira ou quinta, preferia que fosse quinta, mas terceira tá bom também. Sendo domingo a gente vai brigar, vamos fazer um bom carnaval”.

Unidos da Ponte celebrará Mãe Meninazinha de Oxum com o enredo ‘Liberte nosso sagrado’

A Unidos da Ponte bateu o martelo para a sua temática do carnaval de 2023. A azul e branca levará para a Marquês de Sapucaí o enredo “Liberte nosso sagrado: o legado ancestral de Mãe Meninazinha de Oxum”, em que homenageia a saga contra o racismo religioso de uma das mais importantes Iyalorixás do Brasil. A narrativa celebra também a ligação da mãe de santo com a cidade de São João do Meriti, sede da Unidos da Ponte. A Unidos da Ponte será a segunda escola a desfilar na Marquês de Sapucaí, no sábado de carnaval, dia 18 de fevereiro de 2023, pela Série Ouro.

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Foto: Divulgação

O enredo desenvolvido pelos carnavalescos Rodrigo Marques e Guilherme Diniz, com a participação do pesquisador Tiago Freitas, contará a luta de Mãe Meninazinha que durou três décadas, para libertar a coleção de objetos sagrados que estava em poder do Museu da Polícia Civil e que foi transferida para o Museu da República, depois de uma campanha liderada por ela e várias lideranças religiosas de matriz africana. Antes dela, sua avó materna e mãe de santo, Iyá Davina de Omolu, já falava sobre a importância de libertar aqueles objetos sagrados apreendidos em batidas policiais, ocorridas durante o período do final do império até a Era Vargas.

A homenageada recebeu recentemente os carnavalescos no Ilê Omolu Oxum, onde revelou: “O Nosso Sagrado agora está em um lugar digno, sendo cuidado e tratado com respeito. O nosso próximo passo é organizar uma exposição no museu, a partir de nossa visão, além de criar um programa educativo para que as crianças sejam educadas sem preconceitos e mentiras a respeito do nosso povo”.

Junto dela, sua sobrinha biológica, Mãe Nilce de Iansã, coordenadora dos projetos sociais do terreiro e da Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde (Renafro), reitera a importância de se preservar a memória e a cultura das comunidades tradicionais de terreiro e afirma: nós aprendemos desde muito cedo aqui no Ilê Omolu Oxum a preservar e cuidar da memória herdada de nossos ancestrais, pois temos aqui o Museu Memorial Iyá Davina, fundado em 1997, com objetos sagrados de nossa linhagem de axé, que datam desde o Século XIX e remontam a história do candomblé no Rio de Janeiro.

Leia abaixo a sinopse

Nossos caminhos se cruzaram em solos de São João de Meriti.

Nesse encontro desenhado pelo rei senhor da terra, Omolú, pedimos sua benção e proteção Mãe, para que nosso Carnaval de 2023 eleve o poder da voz doce da brandura e do respeito. Que esse lembrar da escuridão traga cura aos corações perdidos, para que assim tudo se erga num brilho de libertação.

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ANTES DO NASCIMENTO DE MÃE MENINAZINHA, O ORIXÁ DE SANTO DE SUA AVÓ, OMOLÚ, FEZ UM COMUNICADO AO POVO DE AXÉ: “AQUELA MENINA, FILHA DE OXUM, SERÁ A HERDEIRA E LIDER ESPIRITUAL DO TERREIRO”.

“Esse é o grande pai Omolú, foi por ele que estou aqui. Dizem que ele é o Deus da doença. Omolú, para mim, é o Deus da saúde. Ele é o nosso médico. Quando você está doente a gente recorre a ele. Ele é o Deus da saúde”.

A doença não é só do corpo, é também do coração.

No coração do homem triste sempre fez morada o desejo de prejudicar e oprimir as
minorias.

Ainda faz.

Ainda tem muita tristeza no coração dos homens.

“Desde a década de 20 que nós somos perseguidos, que nossas casas são invadidas, que nossos sagrados são quebrados, que nossos babalorixás ancestrais foram agredidos fisicamente e expulsos de suas casas pela polícia”.

“Naquela época, a polícia invadia os terreiros, quebrava tudo, pegava o que era de Orixá e levava aquilo que era nosso, no maior desrespeito. Hoje, são grupos de fanáticos que invadem os terreiros e também quebram tudo. Nós estamos sofrendo o que nossos ancestrais sofreram. Gente, isso dói dentro da gente, isso dói”.

E de repente se fez escuro.
Silenciaram o atabaque.
Invadiram o terreiro.
Arrancaram o fio de contas.
Quebraram a imagem do Orixá.
Levaram a cabaça, o ajerê, o ados, o abará e o ekó.
Queimaram saia, alaká, Iketê, ojá, zinguê e tudo.
Prenderam o sagrado de Axé.
Chegou a escuridão. Se fez o pranto.
A polícia bateu, prendeu e fichou: “praticante de magia negra”.
A lei para o povo preto fere até tirar o sangue.
Na diáspora local, higienizaram o centro da cidade do Rio de Janeiro.
Todo povo de axé foi afastado para o que chamavam de distante.

Então, na boca da mata, reuniram-se os filhos do choro.

Fez-se o vento e a chuva.

O anúncio no Orum de Yá Davina apontava estrelas para um novo tempo de axé:

LEVANTE OS OLHOS E VEJA A COROA DE OXUM
LEVANTE OS OLHOS E VEJA A COROA DE OXUM
LEVANTE OS OLHOS E VEJA A COROA DE OXUM

Ali na beira e nas margens verdejantes se fez o sol. O brilho chegou.

“Nós estamos aqui para lutar. Nós nos chamamos resistência, nós resistimos até agora e vamos continuar resistindo. Resistir, conforme nós estamos resistindo, vem através da união, independente de nação. É Ketu, é Jeje, é Angola, é Umbanda, todos nós juntos, vamos resistir. E nós vamos continuar. Enquanto vida eu tiver, eu vou continuar nessa minha fala e nessa minha luta. Enquanto eu viver vou lutar por essa
religião. Eu por ela não mato, mas eu morro”.

“Para eles acabarem com a religião eles teriam que acabar com a natureza”.

“Os orixás são elementos da natureza. Não se chega no mato para tirar uma folha e vai embora. A gente conversa com as folhas, com os matos, a gente conversa com a água, a gente conversa com a terra que pertence a Omolú. A gente conversa com a natureza. No quintal, a gente olha pra cima, olha pra baixo e a gente conversa e agradece, principalmente”.

Firmando o Ponto como Ponte de amor, todos eram filhos de um terreiro de chão batido.

Eram crias de Maria!
Iyá Maria do Nascimento Mãe Meninazinha d’Oxum.
Filha das águas.
Senhora da palha.
Herdeira do assentamento de Omolú: Num balaio de Salvador à Meriti.

Mãe da nação Ketu!
Mãe da nação meritiense!

Mãe da nação Ketu!
Mãe da nação meritiense!

TODO AQUELE QUE INICIA NO CANDOMBLÉ RENASCERÁ PARA UMA NOVA
VIDA.

“O candomblé é muito matriarcal. A presença da mulher é importantíssima, como mãe,
como filha e como acolhedora. A mulher representa tudo isso”.

Chegou um novo tempo de amor, luz e sabedoria:

LEVANTE OS OLHOS E VEJA A COROA DE OXUM

LEVANTE OS OLHOS E VEJA A COROA DE OXUM
LEVANTE OS OLHOS E VEJA A COROA DE OXUM

“Mãe, nós estamos aqui admirando a sua coroa. Orixá é maravilhoso. Orixá só nos
traz coisas boas. Eu sou feliz por ser de Orixá. Eu não poderia ser de outra religião, eu
tinha que ser de Orixá”.

EU VI A ESCURIDÃO, MAS TAMBÉM EU VI A CURA.
A ESCURIDÃO PRENDE. FERE. ROUBA.
A CURA PERDOA. DEVOLVE. RENASCE.
NÃO PRENDAM MAIS NOSSO SAGRADO.
NÃO INVADAM MAIS NOSSOS TERREIROS.

LIBERTEM SEUS CORAÇÕES DA DOR.
CANDOMBLÉ É ORIXÁ, É NATUREZA E AMOR.
NOSSO SAGRADO SÃO PEÇAS SAGRADAS DE NOSSOS ANCESTRAIS.
INVADIR O NOSSO SAGRADO,
A PARTE MAIS ÍNTIMA DE NOSSA VIDA,
É UMA DAS PIORES DORES.
QUANDO NOSSO SAGRADO ESTÁ PRESO,
NÓS TAMBÉM ESTAMOS PRESOS.

Eu vi a Coroa de Oxum porque o amor venceu.
Se firmou o Ponto como Ponte de amor.
Somos filhos da Mãe Meninazinha.
Mãe da nação Ketu
Mãe da nação Meritiense.

Carnavalescos: Rodrigo Marques e Guilherme Diniz
Texto: Tiago Freitas
Unidos da Ponte
Carnaval 2023

Sinopse do enredo da São Clemente para o Carnaval 2023

Enredo:  “O Achamento do Velho mundo”

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Era um dia quente e ensolarado na linda Pindorama! Naquele verão, Guaraci “Bola de Fogo” estava disposto a queimar a pele dos Tupis sem dó nem piedade. Mas acostumados a tanta luminosidade, eles lotavam a praia de Botafogo, aproveitando a exuberância do cenário. Seus corpos talhados, pintados e bronzeados compunham a paisagem do local, exibindo sua habilidade “pegando jacaré” na marola do mar. Os mais jovens deslizavam em suas canoas, enchendo de cor e vida o espelho d’água: “muiraquitã tatuado no braço, calção corpo aberto no espaço, coração. De eterno flerte”. Tupis de toda parte sempre vinham passar o verão na praia. O Porto de Pindorama se transformava no “point” da galera. Era feliz a gente desse lugar.

E tinha dança, tinha festa, harmonia, tolerância, azaração e respeito. Biscoito de polvilho e mate bem gelado; guaraná e suco de caju. Todos os dias celebravam, desde o nascimento de Guaraci até o surgimento de Jaci, brilhante e prateada no céu do lugar. Esses dois bailavam livres pelos ares do local ao som dos hits do momento. As tabas se iluminavam pra festejar a noite efervescente. Um paraíso de gente feliz e bem resolvida, que não queria guerra com ninguém.

Mas esse dia reservava uma surpresa: ao pousar sobre as infinitas águas, o grande rio espreguiçou-se em um mar de calmaria e tranquilidade. A serenidade perene se espalhou para além dos limites da gigantesca Pindorama e carregou consigo lindas canoas, remadas pelos filhos de Tupã, guiando-os ao desconhecido.

Tendo apenas Jaci e Guaraci como guias, após um tempo flutuando “de boa” pelo espelho d’água, treze canoas aportam numa terra estranha, desconhecida até mesmo pelo Cacique e pelo Pajé, que era seu “fechamento”.

Os Tupis viajantes desembarcam numa terra de nativos de pele clara e escondidos debaixo de vestes extravagantes. Eles pareciam ter suas verdades embrulhadas como uma casca de fruta. “Todo mundo vestido, mas que loucura!” – exclamou o Cacique espantado! A terra de hábitos estranhos e ocas de pedra arregala os olhos dos “embaixadores de Tupã”. Mas sem perder tempo, esperto que só, o Pajé envolve os nativos ofertando seus presentes trazidos nas canoas encantadas: colares, cocares, frutas, biscoito de polvilho, mate (patrimônio imaterial de Pindorama), biquíni de crochê, caça e pesca de boa qualidade, já pensando naquele “comes e bebes” maneiro, típico da praia de Botafogo.

O Pajé logo “desenrola” uma “Primeira Pajelança”, pra abrir os caminhos e limpar aquela aura estranha do Velho Mundo. E a arte e a generosidade dos Tupis encanta os nativos, que penduram nos pescoços os colares e reverenciam a nobreza da alma dos navegantes das canoas encantadas!

Ao contrário do que se possa imaginar, os bravos viajantes de Pindorama nada usurparam dos “pobres” nativos, inocentes, perdidos em seus “não me toques” e “rococós”. Os Tupis, de alma altiva e brilhante, contaram suas histórias em volta de uma fogueira no centro das ocas de pedra; lendas de bravura e amor; de sabedoria e respeito à terra e aos animais, aos espíritos da floresta e aos antepassados. Também “rolou” uma dança bem animada, onde os Tupis ensinavam os nativos a rebolar “daquele jeito”, quebrando tudo. Um pouco constrangedor no começo, mas tolerância e paciência são virtudes de Pindorama.

Num rito de celebração, os mestres pintaram nos corpos dos nativos seus temas e símbolos, abençoando aquela gente e aquela terra. E pintados, se fizeram iguais aos filhos de Tupã, numa só tribo. Sem preconceitos, felizes, dançando num baile animado ao som do “pancadão” dos hits que faziam sucesso no verão.

E o amor de Pindorama se espalhou pelos corações. Agradecidos, os nativos do Velho mundo entregam as chaves da cidade ao Cacique, que chefiava a caravana dos Tupis. Um gesto de generosidade que cabe a todo líder de verdade, que entende seu papel.

Uma grande Taba foi erguida à Tupã e o Deus maior tomou assento nos corações dos nativos, comemorando o dia do “achamento” do Velho Mundo. Parecia um dia de festa na praia de Botafogo, regada à guaraná e suco de caju. Nada desse papo estranho de “colonizar”. O povo de Pindorama era muito mais evoluído que isso nas ideias e no coração: eles fizeram foi um carnaval!

E essa história foi contada de geração para geração, mantendo viva a lenda dos filhos de Tupã que atravessaram o infinito azul, e ensinaram ao Velho Mundo que trocar generosidade vale mais que a ganância. Treze canoas guiadas pelo amor de Jaci e Guaraci, até os limites da imaginação.

Jorge Luiz Silveira
Carnavalesco