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Laryssa Victória é a nova primeira porta-bandeira da Porto da Pedra

A Unidos do Porto da Pedra anunciou a chegada da porta-bandeira Laryssa Victória. Ela fará par com o mestre-sala Rodrigo França. Laryssa será apresentada oficialmente na Feijoada do Tigre, no próximo dia 27 de agosto.

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Foto: Divulgação

A responsável em conduzir o pavilhão do tigre de São Gonçalo iniciou a sua trajetória no projeto do mestre Manoel Dionísio com apenas 11 anos de idade. Dois meses depois, foi convidada para ser segunda porta-bandeira do Siri de Ramos, em 2015. No mesmo ano, entrou para o projeto Minueto do Samba, comandado Viviane Martins. Em 2016, recebeu o convite da Estácio de Sá para ser a segunda porta-bandeira da agremiação, até que, no dia 24 de novembro de 2021, dia do seu aniversário, a jovem porta-bandeira ganhou um presente de aniversário.

“No dia do meu aniversário e também dia do mestre-sala e da porta-bandeira, recebi o convite para ser a segunda porta-bandeira da Imperatriz Leopoldinense, escola qual estou renovada para o carnaval de 2023”, contou.

Laryssa, que fará jornada dupla em 2023, defendendo o pavilhão da Porto da Pedra e como segunda porta-bandeira da Imperatriz Leopoldinense, se inspira na dança de porta-bandeiras renomadas, como Rafaela Theodoro, sua madrinha do samba, além de Lucinha Nobre, Marcella Alves, Taciana Couto e Bruna Santos.

Em oito anos de trabalho, aprendizado e preparação, Laryssa vem sonhando com a oportunidade de escrever seu nome na história da Unidos do Porto da Pedra e no carnaval do Rio de Janeiro.

“Hoje um novo ciclo se inicia, uma nova casa e uma nova família. Eu espero e vou seguir o legado que foi deixado pela Cintya Santos, juntamente ao meu mestre-sala Rodrigo, iremos trabalhar com muita dedicação, amor e respeito a este pavilhão em busca dos 40 e o tão sonhado título! Peço licença a comunidade de São Gonçalo, todos os segmentos, para escrever a minha história junto com vocês. Cheguei para somar, para trazer o título e seguirmos rumo ao Grupo Especial”, disse.

Neta de Lampião visita a quadra da Imperatriz Leopoldinense e comemora enredo que exalta a cultura nordestina

Vítima de preconceito na infância pelo laço familiar com Lampião – Virgulino Ferreira da Silva -, a neta do cangaceiro Gleuse Meire Ferreira, de 66 anos, esteve presente na quadra da Imperatriz Leopoldinense no domingo para conhecer de perto a escola que contará as histórias de seu avô na Marquês de Sapucaí em 2023.

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Foto: Divulgação/Imperatriz

“Nossa infância foi muito difícil, principalmente na escola. O preconceito com nossa família era muito grande, mas a cultura e o tempo ajudaram bastante”, relembra a neta de Lampião e Maria bonita e filha de Expedita Ferreira da Silva.

Moradora de Aracaju, em Sergipe, estado onde Lampião foi assassinado em 1938, Gleuse está animada para o desfile da Imperatriz no ano que vem. A escola de Ramos levará para a Sapucaí o enredo “O aperreio do cabra que o excomungado tratou com má-querença e o santíssimo não deu guarida”, do carnavalesco Leandro Vieira.

“Nós já montamos um grupo no WhatsApp para virmos na Imperatriz na próxima feijoada, em setembro”, conta Gleuse.

O evento do dia 04 de setembro será a data de lançamento dos sambas que concorrerão ao hino oficial da escola para o próximo Carnaval.

“O enredo surge como uma vontade de falar de um pedaço do Brasil que vale a pena. O Brasil da cultura popular. Da oralidade. Da tradição da contação de histórias. O Brasil que delira e reinventa realidades, já que o mundo real não basta. O Brasil do cordel. Dos repentes. O enredo surge de um Brasil que a gente alimenta na memória afetiva como uma espécie de Brasil imaginário para suportar o Brasil real”, diz Leandro Vieira.

O tema se inspira em cordéis populares, como “A chegada de Lampião no inferno”, “O grande debate que teve Lampião com São Pedro” e “A chegada de Lampião no céu”.

O carnavalesco e o diretor executivo da Imperatriz Leopoldinense, João Felipe Drumond, viajaram à Pernambuco na última semana.

“O objetivo era conhecer de perto a história de Virgulino Ferreira da Silva e enriquecer ainda mais a história que a Imperatriz Leopoldinense contará na avenida”, afirma João Felipe.

Em Recife, a delegação da Imperatriz visitou o Centro de Artesanato de Pernambuco, a Secretaria de Turismo e o Museu Cais do Sertão. Já em Serra Talhada, terra natal de Lampião, foram visitadas a sede da prefeitura municipal e o Museu do Cangaço.

Sinopse do enredo da Em Cima da Hora para o Carnaval 2023

Esperança, presente!

“Eu Sou hua escrava de V.S administração do Cap.am Antoº Vieira de Couto, cazada. Desde que o Cap.am pª Lá foi administrar, q. me tirou da Fazdª dos algodois, onde vevia co meu marido, para ser cozinheira da sua caza, onde nella passo mto mal. A primeira hé q. há grandes trovoadas de pancadas enhum Filho meu sendo huã criança q lhe fez estrair sangue pella boca, em min não poço esplicar q Sou hu colcham de pancadas, tanto q cahy huã vez do Sobrado abacho peiada; por mezericordia de Ds esCapei. A segunda estou eu e mais minhas parceiras por confeçar a tres annos. E huã criança minha e duas mais por Batizar. Pello ã Peço a V.S pello amor de Ds e do Seu Valim ponha aos olhos em mim ordinando digo mandar a Porcurador que ande p. a Fazda aonde ele me tirou pa eu viver com meu marido e Batizar minha Filha. De V.Sa. sua escrava Esperança Garcia”
(6 de setembro de 1770)

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A terra rachada como testemunha do Brasil da desonra: correm pelas veias dos rios, das matas e das fazendas a covardia da escravização. O terror branco que deixou nossa história podre e carcomida. Corrompeu pelas frestas da Capitania do Piauí setecentista o alvo flagelo contra corpos negros sequestrados, africanas vivências que lutavam diante da dor, jamais se curvando a qualquer senhor. Donas de si, negras e negros que resistiam. Existiam. Existem.

E lá por aquelas bandas esquecidas, entregue aos desprezíveis opressores e à vergonha dos grilhões, brotou Esperança. Nasceu Esperança. Dela, Orixá cuidava. Amparava-a com o machado da justiça. A filha nunca esquecida! Xangô do trovão contra injustiças, da brasa e da lava viva do vermelho do sangue dos corpos que são, estava lá, com ela. Xangô, justiceiro e guerreiro, dando seu Axé à preta cujo destino era esperançar todas as vidas negras. Guerreira que cresceu e aprendeu a ler e a escrever na Fazenda Algodões dos jesuítas, mesmo com o trabalho duro da roça, que deixava as mãos lanhadas pelo capim da terra seca. Trabalhava no pasto do gado, nas plantações, na casa, fiando algodão e o seu destino. Vivia na pobreza e na dureza, corpo sem descansar no chão batido, porém usava a sabedoria contra as dores da labuta imposta. Mulher, mãe, preta, escravizada! Esperança com tinta nas mãos e a pena como lança! O saber como arma! Kaô Kabecilê! Salve o Senhor da Pedreira e a defensora Esperança Garcia, labareda do fogo da justiça de Xangô! Quando então um marquês expulsou os jesuítas, ela foi levada por um capitão.

Agora escravizada em outra fazenda da Inspeção de Nazaré, separada à força do marido e dos filhos maiores, mais tortura em seu corpo, enquanto ela trabalhava na residência colonial como cozinheira, na rica cozinha… dos outros. A violência contra sua pele, carne e alma. Os rasgos das feridas. Esperança nunca com a cabeça baixa e o feitor que a peava. E a ira veio das entranhas, da força da ancestralidade: justiça! Eis a imposição! Não é não! Trovões de pancadas que virariam trovões de Esperança, da mulher que não desiste, que se levanta contra a violência! A mulher que é resistência, que fez a resistência, uma voz para múltiplas vozes, a fúria para fazer valer a sua vontade!

Esperança agoniza, mas não morre, brada! E ela escreveu para batalhar pelos seus. Escreve, Esperança, Tu que és verbo vivo da justiça de Xangô! Naquela realidade brutal onde pessoas negras não tinham acesso à educação, Esperança Garcia fez valer sua inteligência e nenhum doutor com ela se criou! Gritou, com palavras no papel, a carta ao governador, denunciando as torturas contra os negros – “Eu sou uma escrava de Vossa Senhoria da administração do Capitão Antônio Vieira do Couto, casada. Desde que o capitão lá foi administrar que me tirou da Fazenda Algodões, onde vivia com o meu marido, para ser cozinheira da sua casa, ainda nela passo muito mal”. Exigiu justiça. Peticionou seu desejo com coragem, ousadia e força para resistir – “A primeira é que há grandes trovoadas de pancadas em um filho meu sendo uma criança que lhe fez extrair sangue pela boca, em mim não posso explicar que sou um colchão de pancadas, tanto que caí uma vez do sobrado abaixo peiada; por misericórdia de Deus escapei”.

Usou a religião e pediu até o batismo da filha, além de confissão para ela e suas irmãs, tudo para vencer a tirania – “A segunda estou eu e mais minhas parceiras por confessar há três anos. E uma criança minha e duas mais por batizar”. A carta que virou símbolo de justiça, a carta que é o verdadeiro direito. A preta que lutou, reconhecida como a primeira advogada do Piauí, de punho erguido contra os opressores. Esperança é viva na bravura de denunciar o sofrimento com palavras – “Peço a Vossa Senhoria pelo amor de Deus ponha aos olhos em mim ordenando, digo mandar ao procurador que mande para a fazenda de onde me tirou para eu viver com meu marido e batizar minha filha”.

Então, escreve, Esperança, por favor, escreve! Naquele fim de mundo, escreve! Letras eternas que deram o primeiro sopro de vida à Literatura Negra brasileira.

Esperança viva nas suas escrevivências, fiando uma guia para Conceição. Esperança para todas as Marias, a voz da dignidade ressoando nas páginas da dos Reis e na vida nobre da de Jesus, juntas através das letras esperançadas! Esperança nos cadernos negros das páginas do Brasil, a alma jamais escravizada! Esperança para lembrar de lutar e reiterar que a justiça é a pedagogia do Esperançar.

Eis que chegou a hora de soltar o grito! De escreviver Esperança Garcia na Sapucaí! Em Cima da Hora, chegou a hora de Cavalcanti girar no Axé da mulher que jamais fraquejou! Sempre e para sempre, é tempo de exaltar a força das mulheres negras que pariram este Brasil! Então, gritemos nosso Azul e Branco na Avenida! Morro da Primavera, ergamos o punho com respeito e garra, e, sem medo, vamos em frente:

– Esperança, presente!

Carnavalescos: Marco Antônio Falleiros e Carlos Eduardo
Enredistas, Sinopse e Pesquisa: Victor Marques e Clark Mangabeira

Referências bibliográficas:
ALVES DA SILVA, Leandro (coord.). A carta de Esperança Garcia: uma mensagem de coragem, cidadania e ousadia. Universidade Federal de Pernambuco. Ministério da Cultura. Ponto de Cultura Quilombo do Sopapo. Porto Alegre: 2015.

LEAL, Maria Ivoneide. Quando a Esperança é símbolo de liberdade: um estudo sobre a história de Esperança Garcia e a construção de sua imagem. Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal da Fronteira Sul – UFFS. Chapecó: 2021.

MOTT, Luiz. Piauí Colonial: população, economia e sociedade. Teresina: FUNDAC – Coleção Grandes Textos, 2010.

MULHER, negra e escravizada: Esperança Garcia, a primeira advogada do Piauí. Portal Geledés. 11 de agosto de 2017. Disponível em: < https://www.geledes.org.br/mulher-negra-e-escravizada-esperanca-garcia-primeiraadvogada-do-piaui/?gclid=CjwKCAjw46CVBhB1EiwAgy6M4pA5z6bJlP7xnYSr4nbeBg8EA9NR_6AZaz4XCHk3L5tVlynDcWJDhoCkd0QAvD_BwE>.

RODRIGUES DE SOUZA, Maria Sueli et al. (Org.). Dossiê Esperança Garcia: símbolo de resistência na luta pelo direito. Teresina: EDUFPI, 2017.

ROSA, Sonia. Quando a escrava Esperança Garcia escreveu uma carta. Rio de Janeiro: Pallas, 2012.

SITE: < esperancagarcia.org/>

SOUZA, Elio Ferreira de. A carta da escrava Esperança Garcia de Nazaré do Piauí: uma narrativa de testemunho precursora da literatura afro-brasileira.

LITERAFRO – www.letras.ufmg.br/literafro. Disponível em: letras.ufmg.br/literafro/arquivos/artigos/criticas/ArtigoElioferreira1cartaesperancagarcia
.pdf.

WILLIAM, André; RIBEIRO, Júnior. Documentário Esperança Garcia. Universidade Estadual do Piauí. Disponível em <youtube.com/watch?v=oTD5fRXu-wA>. 9 de maio de 2019.

Viradouro 2023: samba da parceria de Maninho da Cuíca

Compositores: Maninho da Cuíca, William Lima, Geraldo Sudário, Adilson do Cavaco, Greide Moreno e Chumbinho
Intérprete: Nego lindo, Léo e Valéria Lima

Trazida para o novo mundo
Por águas que apartaram o seu sonho infantil
E num delírio mais profundo
A história do seu futuro anteviu
A menina chorou
E com seu pranto todo mar se revoltou
Já no Rio de Janeiro foi levada ao sacramento
Lá vai Rosa Mara a dentro rumo as Minas Gerais
Dançava para espantar os seus AIS
Explorada no eldorado serviu de oferenda
Aos necessitados doou sua renda

Pega o tambor faça o tambor ecoar
A força de Courana chegou na dança do acotundá

Nos caminhos da crença era atormentada
Entre as rezas provações da longa estrada
Retornando sentiu a dor da mulher
Recebeu em seus seus braços a missão de fé
E se viu de repente
De manto e coroa reluzente
Em mais um devaneio, sonho ou aparição
E o rei dos encantados Dom Sebastião
Subiram girando com a leveza de um véu
É mais uma santa Negra no céu

Vai oh brisa, leva o meu canto por aí
Para que o mundo possa ouvir
A saga de uma negra divinal
Seleto, tesouro é o carnaval da Viradouro

Viradouro 2023: samba da parceria de Alcides Gargalhada

Compositores: Alcides Gargalhada, Elenice Carvalho, Déa Freitas, Viviane Souza, Marcello Nascimento, Ricardo Moraes, Gleison Souza, Joacir Laurindo, Jorge Ideia e Ricardinho
Intérpretes: Gleison Souza, Joacir Laurindo e Jorge Ideia

ESCRAVIZADA, DIVINAL, FEITICEIRA, BEATA, ESCRITORA, SANTA BRASILEIRA
ROSA MARIA, TRAZ LUZ PRO SEU POVO COM BRILHO NA ALMA E NA FÉ VIRADOURO
PEQUENA ESTRELA, SUAS PROFECIAS NO ESPELHO DAS ÁGUAS, COURANA PERFEITA
REVELADA, A MENINA CHOROU EM TERRAS CARIOCAS SE REBATIZOU

AINDA JOVEM, SEGUIU ROMARIA
PELAS MINAS GERAIS, SONHO E O MEDO A SEGUIA
SOFREU AO VER TOCAREM SEU CORPO
DIANTE A GAN NCIA, DA FOME DO OURO

NOITES ESCURAS, LUAR E FOGUEIRA
RODA SAIA, SAIA GIRA, LEVANTA A POEIRA
ONDE BROTAVAM OS SEUS ANCESTRAIS
NO CACHIMBO A FUMAÇA, A MÁGIA QUE TRAZ

LAVRAR, AS SAGRADAS ESCRITURAS
VIVER, A NEGRITUDE PURA
DO FEITIÇO QUE AJUDA, EM FORMA DE MILAGRES
OLHAI E CUBRA A TODOS NÓS, COM SEU MANTO DE BONDADE

DONS E VISÕES, O MAL NÃO IMPERAVA
NO AMOR DIVINO, O VENTO ACALMAVA
VOLTOU AO RIO, NAS MÃOS O ROSÁRIO
NAS LINDAS MISSÕES, COM O PADRE AO SEU LADO

NO FIRMAMENTO, DEVOTA A SANTANA, LUZ RELUZENTE, MULHER AFRICANA
FECHOU OS OLHOS E O CÉU INSPIROU, PRATICAR O BEM E LEVAR O AMOR
A VERMELHO E BRANCO ECOA SEU TAMBOR,
NO ALTAR DIVINO ENFEITADO DE FLOR

LÁ NO CÉU CLAREOU!!!
VIRADOURO, VIRADOURO…
OLHA SÓ QUEM VEM AÍ, RAIANDO O DIA NA SAPUCAÍ

Viradouro 2023: samba da parceria de Carlinhos Padaria

Compositores: Carlinhos Padaria e Beto Professor

Olhem às águas do mar!
Vamos contemplar uma profecia.
Vão se alagar
Histórias de um belo dia

Uma mulher misteriosa
Vai liberar da maldade
Uma menina africana,
Mostrar a ela a liberdade.

Com a fome de ouro,
Queriam tesouro, pisavam na paz
Como a menina chorou
No solo de Minas Gerais

Bato forte meu tambor ôô
Rezo forte, meu amor ôô
Minha gente canta orgulhosa
Do chão, brota mais uma rosa

Distante do calor familiar
Mostrou seu olhar pra devoção
Escreveu em pergaminhos
Gerou muita admiração

Voltou ao litoral do Rio
Buscou felicidade
Novamente a figura divinal
Mostrou seu manto de bondade

Vem, Rosa Maria!
Vem minha santa desfilar
Viradouro com alegria
Mostra você no altar

Viradouro 2023: samba da parceria de Altay Veloso

Compositores: Altay Veloso, Paulo Cesar Feital, Zé Gloria, Dra. Tatiane e Everaldo Bom Cabelo
Intérprete: Nino do Milênio

Dessa menina, lágrima da Guiné
Caiu nas águas cá no Rio de Janeiro
Foi uma saga a paixão dessa mulher
Trazida a ferro na tristeza do negreiro
Sangrou os pés no chão da Mantiqueira
Penou perseguição em Mariana
Na febre do ouro virou lenda
Doou ganhos de quenga aos pobres do luar
Ao voltar pro Rio, a obra prima
Das almas peregrinas resolveu lavrar

Salve o Sagrado Coração
Salve a Santa Madre de Jesus
Todo o povo ajoelhou
Diante do andor da Flor de Vera Cruz

Foi canonizada pela fé da multidão
Logo condenada pela santa inquisição
Ó! que arrogância eternizar no céu de anil
Uma Santa preta pro Brasil

Ô! Rosa nosso bem querer
Lhe foi negado no altar
Mas hoje a nossa Viradouro
Vai cantar em coro no Acontundá

Viradouro 2023: samba da parceria de Renan Gêmeo

Compositores: Renan Gêmeo, Raphael Richard, Rodrigo Gêmeo, Bebeto Maneiro, Marcelo Adnet, Carlinhos Viradouro, Gustavo Albuquerque, Bello, Baby do Cavaco e Ricardo Neves
Intérprete: Gilsinho

Nas águas de Uidá
O limiar da profecia
Enquanto a lágrima beijava o mar
Um rosto negro refletia
Courona menina
Quem é a luz da tua sina?
No seu olhar um candeeiro
A Rosa do meu Rio de Janeiro
Caminhou refém da ganância
Forjada na dor da intolerância
De muitos devotos, de pouca virtude
Que negam o valor da negritude

Sangue de Crioulo no rabo de arraiá
Liberdade é ouro em noite de luar
Incorporada no giro da saia
Alma alforriada no acotundá

Pra pelos anjos protegida
Pra por demônio vigiada
Filha alentada no divino,
No Rosário de Santana, abençoada
A fé emana do sagrado coração,
Que é a morada de Deus
Na fé ergueu a tão sonhada redenção
Em cada palavra
A voz retinta não se fala
No império da esperança já raiou
Um novo dia ao som ao som do tambor

Ê batucaê
Entrego a coroa da Viradouro
À Santa Negra no altar
Meu samba vai consagrar
Rosa Maria do povo