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Acadêmicos de Niterói leva quadrilheiros para a Sapucaí

Com o enredo “Vixe Maria” e um samba com o ritmo contagiante do forró, a Acadêmicos de Niterói promoveu uma verdadeira festa junina no Sambódromo, na segunda noite de desfiles da Série Ouro.

“Hoje a Niterói está representando uma festa que é importante para o Brasil inteiro. De Norte ao Sul do país, todo mundo sabe fazer quadrilha, mesmo que com suas características regionais”, diz Nicolas Benício, quadrilheiro e diretor da primeira ala da escola, que vem representando as quadrilhas do Brasil. Para fazer isso com fidelidade, a Azul e Branca juntou componentes de diversas quadrilhas do Rio de Janeiro.

Nicolas

“Eu sou quadrilheiro desde criança, quando acompanhava meu tio nas festas juninas. Até tentei gostar de outros ritmos, mas não teve como, me apaixonei 100% pela quadrilha. É um amor que foi passado de família. Me encantei pelos brilhos, pelas estampas dos tecidos e pelas comidas típicas” compartilha Thales Amaral, de 25 anos, quadrilheiro da São Judas Show, de Anchieta.

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Apesar da maioria dos integrantes serem cariocas, Nicolas garante que as características da ala não tem distinção regional.

“A nossa ala traz uma representação da quadrilha do Brasil. Dançaremos os passos tradicionais de toda quadrilha, que são aqueles que vocês aprenderam na escola, como o anarriê, o alavantou e o túnel”.

O veterano Douglas Amaral, que dos 45 anos de idade já é quadrilheiro há mais de 20, estando atualmente na Gonzagão do Pavilhão, dá detalhes da fantasia da ala, e fala sobre como a endumentária se relaciona ao enredo.

“Estamos caracterizados com as cores nordestinas, bem vibrantes, na chita. Também trazemos os elementos de cangaceiros na roupa das damas, que tem uma saia grande de filó, então estamos bem juninos”.

Douglas

 

A apresentação foi feita em duplas, onde cada moço tinha a sua moça. Para contrastar com a experiência de Douglas, seu par era Lavínia Bruna, de 22 anos, que tem apenas um ano como quadrilheira na Gonzagão do Pavilhão. O pouco tempo não impediu a moça de desfilar pela Niterói, e ela fez questão de compartilhar seu sentimento em relação a isso.

“É gratificante ajudar a colocar a junção do Carnaval com festa junina na avenida. Por mais que não pareça, as duas festividades estão conectadas pelo amor pela folia”.

 

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“A quadrilha foi uma dança da corte europeia, que o povo mais humilde passou a reproduzir de uma forma jocosa, por isso, é conhecida como o teatro do povo, assim como as escolas de samba. Dessa forma, nada melhor do que uma escola no Rio de Janeiro mostrar o que é uma festa popular para o Brasil inteiro” complementa Nicolas.

Vigário Geral Carnaval 2025: galeria de fotos do desfile

Cordas de Prata: segundo carro da União do Parque Acari celebra Moacyr Luz e a Velha Guarda

A União do Parque Acari foi a segunda escola a se apresentar neste sábado na Marquês de Sapucaí. A agremiação apresentou o enredo “Cordas de Prata – O Retrato Musical do Povo”, sobre o violão, na tentativa de conquistar a tão sonhada ascensão ao Grupo Especial. A terceira e última alegoria da Acari, nomeada “Cordas de Prata”, exibia um grande violão prateado, em torno do qual vieram destaques e fotografias de grandes nomes da música brasileira, como Cartola, Beth Carvalho e Paulinho da Viola.

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“Esse carro representa a corda de prata, a Velha-Guarda, toda essa importância deles na composição da escola. Na frente, Moacyr Luz, o compositor do samba, com os amigos dele. A gente vai completar com a Velha-Guarda e, em cima, o destaque Júnior Bispo. Teve também as meninas”, disse o diretor da alegoria Richard de Oliveira Jesus, de 18 anos.

“As fotos desses artistas representam a nossa história, de como surgiu o samba. Muita gente gosta de samba, mas não sabe como começou o samba nem a música popular brasileira. Foi a origem de tudo. É muito bom homenagear não só esses artistas, os músicos, como também a Velha Guarda, que são os que entendem bem melhor do que a gente tudo o que já aconteceu durante todos esses anos de samba na Avenida”, declarou a designer de joias Thauany Miranda, de 34 anos, que desfila há dois anos pela União do Parque Acari. Apaixonada pelo mundo do samba, Thauany cresceu frequentando a quadra da Unidos do Amarelinho e da Favo de Acari, que se uniram para formar a atual agremiação.

Thauany

Em 2025, a União do Parque Acari decidiu homenagear o mais tradicional dos instrumentos de corda, o violão, cuja influência é incontornável na história da música popular brasileira.

“O meu pai era violonista. O violão, para a música, é tudo. Vários compositores, cantores, tocavam violão. Paulinho da Viola é hors concours. O nome já diz: Paulinho da Viola. Dentre outros que tocam violão até hoje. Eu vou desfilar na Sapucaí pela minha comunidade. E pelo meu pai, o Seu Humberto, o Vascão, lá de Acari, que, graças a Deus, ainda é vivo”, compartilhou Washington Peixoto, conhecido como O Amoroso, de 54 anos, integrante da Velha Guarda. Washington está há cinco anos na escola.

“O violão tem muita importância para a música. Violão faz tudo na escola, em qualquer lugar. Violão faz qualquer tipo de música, qualquer movimento”, explicou a dona de casa Rita de Cássia, de 52 anos, que desfila há dois anos pela Acari.

Vigário Geral coroa Vagalume como Rei da Folia em alegoria que homenageou o cronista da cultura negra carioca

A Acadêmicos de Vigário Geral apresentou na Marquês de Sapucaí a história de Francisco Guimarães, mais conhecido como Vagalume. Importante cronista da virada do século XIX para o XX que jogou luzes sobre a cultura negra e periférica carioca e se tornou uma das maiores referências das práticas momescas. Em sua terceira alegoria, a Vigário coroou Vagalume como Rei da Folia e trouxe à frente da alegoria a família do saudoso cronista da cultura negra e periférica carioca.

Luciano Guimarães, bisneto de Vagalume, falou ao CARNAVALESCO sobre a homenagem que a Vigário está prestando a Vagalume. “É uma honra muito grande pela história de vida dele, pela luta que ele teve para abrir espaço para a cultura negra e periférica na sociedade carioca. Saber que uma figura como o Vagalume teve uma relevância na sociedade, o impacto de suas crônicas, a maneira como ele abordou as pessoas que não tinham visibilidade naquela sociedade, uma figura realmente que trouxe uma transformação. E saber que o Vagalume ainda é meu bisavô é uma honra dobrada”, declarou emocionado.

Impactada com a homenagem, Tasília Guimarães, neta de Vagalume e mãe de Luciano, revelou que o desfile foi uma oportunidade maravilhosa de celebrar o legado do avô. “Nunca frequentei escola de samba, é a primeira vez que eu venho aqui. Para mim, é uma homenagem enorme. Estou muito feliz. Estou bastante impactada porque é uma homenagem linda. Até o trecho samba, o nome do Francisco Guimarães, meu avô, eu fico emocionada. Eu acho que está sendo um momento maravilhoso para mim”, declarou.

Quem marcou presença como destaque principal da alegoria foi o ator Rodrigo França. O artista representou o Vagalume coroado da Vigário e falou sobre a importância do cronista para o protagonismo do povo preto. “Francisco Guimarães Vagalume mostra o quanto nós sempre tivemos uma intelectualidade preta que pensou o tempo, o espaço em relação à nossa cultura, das nossas necessidades de direito, de liberdade, o quanto a gente sempre buscou subverter uma lógica escravocrata que se perpetua até hoje, de uma certa maneira. Escravocrata de ideias, de comportamento, ainda muito eugenista”, afirmou.

Para ele, Vagalume foi pioneiro por abrir espaço para que a cultura negra e periférica resistisse ao projeto eugenista que predominou como política do Estado brasileiro. “A gente está num momento eugenista onde se nega a cultura negra no Carnaval, a cultura de matriz africana no Carnaval, no Brasil inteiro. Vagalume foi pioneiro e continua existindo na nossa vida em relação a estar dentro da estrutura, estar dentro do sistema e subverter e buscar o melhor para a nossa gente”, declarou.

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No fim da alegoria, uma faixa com uma frase do cronista saia das mãos da escultura de um Pierrot, em que se podia ler: “O maior sucesso do samba é o carnaval (Vagalume)”.

A emoção do retorno: comunidade celebra volta da Tradição à Sapucaí

A segunda noite de desfiles da Série Ouro teve um gostinho especial para a Tradição, que retornou ao Grupo de Acesso depois de 11 anos desfilando na Intendente Magalhães. Apesar do longo tempo fora do brilho da Sapucaí, a escola honrou o nome ao manter uma comunidade fiel, que permanece ao seu lado nos altos e baixos.

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“Acompanhei a Tradição durante todos esses anos na Intendente Magalhães, onde ela enfrentava a falta de reconhecimento da mídia, que resultava na falta de estrutura e de dinheiro também. Por isso, vejo como ela é uma escola de garra”, comenta Sérgio Santos, de 51 anos, morador de Cascadura, que criou um carinho pela Azul e Branca desde que desfilou pela primeira vez na vida em 2001, ano da homenagem a Silvio Santos. O rapaz, que desfilou este ano na ala da bruxaria, ainda destacou que a comunidade está empenhada em fazer deste um momento histórico.

“Todo mundo está muito contente, pode-se notar pela quantidade de pessoas que estão desfilando aqui. Assim como diz o samba, a Tradição voltou, realmente! E voltou para o lugar de onde nunca deveria ter saído.”

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A agremiação de Madureira vem de uma linhagem da realeza do Carnaval carioca, já que é dissidente de ninguém menos que a Portela. Além de dividirem a Águia Majestosa como símbolo principal, as Azuis e Brancas também dividem o coração dos torcedores.

“Estou vivendo um sonho. Sou fanática pela Tradição, porque eu digo que ela é a filha da Portela, minha escola do coração. Sendo assim, eu amo também a Tradição. Estou super honrada em participar deste retorno à Sapucaí”, orgulha-se a baiana Penha Thomaz, de 69 anos.

“Estou muito feliz por estar fazendo parte de uma escola tão tradicional no Carnaval carioca, a qual tenho certeza de que vai continuar desfilando na Sapucaí, seja no Acesso ou no Especial. Estou confiante. E dá para ver pela plástica que ela fez um bom trabalho. O samba está muito forte, o qual a comunidade abraçou e está cantando muito. Está com muita harmonia, a escola está com uma pegada muito bacana, muito bacana”, conta, orgulhoso, o passista David Marques, de 38 anos, que desfilou acompanhado do seu amigo Marcos Vinícius, que também expressou a felicidade de representar a escola.

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“Sempre admirei a escola, que tinha diversos sambas antológicos que eu adoro, como o lendário samba do Silvio Santos. Quando surgiu a oportunidade de desfilar, nem pensei em recusar. Estou muito feliz por representar essa escola que, assim como o nome diz, é de tradição”, bradou Marcos Vinícius.

“Vamos dar o nosso melhor neste desfile, dançando e cantando bastante e entrando com muito axé, que reza não costuma falhar”, garantiu a dupla ainda na concentração.

A Tradição veio com um enredo forte, que celebra a espiritualidade humana representada por diversas crenças religiosas.

“A nossa ala fala sobre o direito de existir. Vem toda a população LGBTQIAP+, falando sobre a nossa necessidade também de rezar. É a nossa inserção no meio religioso, ao qual também temos o direito de pertencer. Nós também merecemos a espiritualidade. Por isso, estou muito feliz em desfilar em uma escola que teve a coragem de levar esse tema para a avenida”, relatou o dentista Gualter Silva, de 36 anos.

Tradição retorna à Sapucaí com enredo potente, mas enfrenta problemas de evolução e na parte plástica

A Tradição abriu os desfiles da Série Ouro neste sábado. Com um desfile bem colorido, uma comissão bem feita e um casal de mestre-sala e porta-bandeira em sintonia. A escola veio muito grande, o que comprometeu a sua evolução na avenida, além dos problemas com fantasias e acabamento nas alegorias. Terminando o desfile em 55 minutos cravados, as últimas alas precisaram correr para os portões fecharem no tempo limite.

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A escola do Condor levou para a sua volta para a Sapucaí o enredo “Reza”, de autoria e concepção do carnavalesco Leandro Valente, o enredo buscou celebrar as diversas formas de se conectar com o sagrado, seus deuses, seus santos e orixás.

Comissão de Frente

O intitulada “Não Demonize Minha Fé” a comissão apresentada pelo coreógrafo Tony Tara, era composta por 15 homens que representavam seres estereotipados como diabos, que apesar da imagem negativa, os seres orientam um homem “puro” que suplica ajuda aos céus, sendo então essas figuras lidas erroneamente como diabólicas, era uma representação dos Exus.

As fantasias eram bem acabadas, os “demônios” tinham led no tórax, que com a luz cênica causou um efeito visual interessante.

A coreografia consistiu em um homem “puro” e quase nu pedindo salvação aos céus e quem o ajudou foram os diabos, no entanto, para quem não sabia o objetivo da comissão, o entendimento ficou comprometido, uma vez que a apresentação não foi muito explícita e didática no seu objetivo. Mas isso não tira os louros de que foi uma apresentação bem feita, que fez um bom uso do elemento cênico chamado “O Barco da Fé”.

Houve um problema com a capa revestida de leds que o homem puro usou, os leds não estavam funcionando por inteiro e no segundo módulo de jurados, o motor dos leds caiu no chão, ficando a cargo do bailarino pegar diante dos jurados.

Mestre-sala e Porta-bandeira

O primeiro casal, Jorge Vinícius e Verônica Lima, desfilaram com a fantasia “Encontro da Magia da Noite com a Luz do Dia”, ele com uma fantasia azul cheia de brilhos prateados representou a lua e ela vestindo um figurino laranja e amarelo, também brilhantes, foi a figura do sol. As fantasias eram muito bonitas e bem acabadas, o contraste entre eles ficou agradável.

Representando a lua e o sol, o figurino do casal significava esses dois astros do céu que estão sempre observando as preces e orações do povo, seja noite, seja dia.

O casal apresentou uma dança bem executada, um bailado clássico e vigoroso. Verônica colocou sua experiência em jogo, não se importou com o vento, demonstrando domínio total sobre o pavilhão. Já o Jorge cortejou delicadamente a sua parceira e passou muita confiança em seu desempenho.

Um ponto de atenção foi que ao fazer giros mais fechados, o pavilhão encostava levemente no costeiro do mestre-sala. Mas esse fato não tira o brilho que o casal apresentou diante dos módulos de jurados.

Enredo

O carnavalesco Leandro Valente buscou falar das formas de fé que a humanidade tem nos seres sagrados das religiões. Trazendo a reza como uma força poderosa que une e fortalece as pessoas, mas como a intolerância religiosa também pode afastar.

Dividido em quatro setores, cada um abordando diferentes pontos acerca das rezas e preces, a escola mostrou como a reza é uma força que move a humanidade.

O primeiro setor, chamado “Quem Nos Guia Não Dorme”, explorou a dualidade entre a luz e a sombra, a comissão de frente, o primeiro casal, o abre-alas “Existe uma força maior que nos guia. Está no meio da noite e no clarão do dia” metade azul e metade amarelo, assim como a primeira ala “Reza Para Quem É Da Noite E Reza Para Quem É Do Dia” mostraram a onipresença de um Deus que não abandona quem pede por ele.

O segundo setor, “Reza Para Pedir e Reza Para Agradecer” , trouxe as divindades do ar, do mar e das águas, do fogo e da terra, no qual a reza tanto serve para suplicar ou agradecer por algo.

O setor “Reza Para Curar” veio logo em seguida, abordando a cura obtida através de feitiços, bruxarias e práticas esotéricas, colocando o sagrado como um lugar de cura, com seus banhos de ervas, entre outras práticas.

E, por fim, o último e quarto setor “Reza Por Um Mundo Melhor”, que trouxe as rezas por um mundo antirracista, não homofóbico, que luta pela preservação da fauna e flora e pelo direito à vida.

Harmonia

O carro de som passou muito bem pela avenida, mas não é possível dizer o mesmo sobre o canto da escola, que passou desequilibrado pelas alas. Mesmo com o bom desempenho do intérprete Tuninho Jr. a escola apresentou questões com um canto irregular.

Alegorias e Adereços

As alegorias da Tradição apresentaram problemas de acabamento. Como a cabeça da escultura do abre-alas estava com problemas no pescoço, um boto na terceira alegoria estava com uma perfuração bem evidente. No entanto, mesmo com esses problemas, é preciso dizer que os projetos eram ambiciosos e bonitos. Um ponto a ser relevado é que não houve soluções pobres ou preguiçosas de acabamento, os carros vieram bem revestidos.

Fantasias

A escola apostou em fantasias vibrantes e conceitualmente interessantes, mas a execução deixou a desejar. Já na primeira ala, muitos componentes precisaram segurar suas saias, e em outros setores, faltou padronização nos figurinos, pois haviam elementos faltando em fantasias da mesma ala.

Mas o problema mais notório do quesito foi a questão do tamanho das fantasias, muitos componentes desfilaram segurando suas fantasias, pois eram muito maiores que os seus tamanhos.

Ao contrário das alegorias, a escola apresentou soluções bem simplórias para a execução de suas fantasias.

Samba 

Com a autoria de Pretinho da Serrinha, Fred Camacho e Diego Nicolau, passou de forma correta na avenida, o público comprou o samba e mesmo com o canto irregular, algumas alas o cantaram bem. O samba foi muito apropriado para celebrar a volta da Tradição para a Sapucaí, além de ir de encontro com tudo que o enredo propôs.

Evolução

A escola veio bem grande, o que contribuiu para a evolução arrastada da Tradição na avenida. Além disso, faltou uma direção de harmonia mais precisa para garantir um melhor fluxo pela Sapucaí. Momentos de pausa, como a musa parando para fotos, causaram espaçamentos que impactaram o andamento do desfile. A última ala, dedicada aos compositores, também estava muito grande, obrigando a escola a literalmente correr no final da avenida para cumprir o tempo limite.

Outros destaques

O carro de som e a bateria garantiram a energia do desfile, sustentando a escola mesmo diante dos desafios enfrentados. Apesar dos problemas de evolução e acabamento, a Tradição mostrou força e emoção no seu retorno à Sapucaí.

Freddy Ferreira analisa a bateria da Vigário Geral no desfile do Carnaval 2025

Um desfile muito bom da bateria “Swing Puro” da Acadêmicos de Vigário Geral de mestre Luygui. Um ritmo com uma profunda pressão sonora e com potência musical foi exibido. Uma musicalidade bem integrada ao samba-enredo da agremiação foi apresentada.
Na parte da frente do ritmo, um bom naipe de tamborins tocou interligado a um exímio naipe de chocalhos. Uma boa ala de agogôs tocou com segurança. Assim como cuícas sólidas também complementaram o preenchimento sonoro das peças leves.

Na cozinha da bateria da Vigário, uma afinação bastante pesada foi notada, ajudando a proporcionar impacto sonoro principalmente em bossas, além da tradicional virada para subida do samba, com pancadas consecutivas da primeira. Marcadores de primeira e segunda foram firmes, mas com precisão. Surdos de terceira deram bom balanço à parte de trás do ritmo da “Swing Puro”, inclusive com participação luxuosa em bossas.

Bossas altamente potentes foram realizadas. Um leque que primou por dar ênfase ao impacto sonoro envolvendo a afinação mais pesada do Acesso, garantindo assim uma nítida pressão dentro dos arranjos. O trabalho diferenciado de terceiras e caixas nas paradinhas merece menção musical positiva.

Uma apresentação muito boa da “Swing Puro” de mestre Luygui. Apelidada informalmente de “Tropa do Amassa”, os ritmistas da Vigário Geral fizeram jus ao nome, numa passagem explosiva e impactante de sua bateria.

Águia de Ouro 2025: galeria de fotos do desfile

Fotos: Rebeca Schumacker

Hoje o sol nasceu mais cedo pra te ver! Baterilha homenageia maestro e executa bossa inovadora na Sapucaí

A União da Ilha foi a oitava e última escola a se apresentar no primeiro dia de desfiles da Série Ouro na Marquês de Sapucaí, já na manhã de sábado. O enredo, “BA-DER-NA! Maria do povo”, se debruçou sobre a história da bailarina italiana Marietta Baderna, que viveu grande parte da vida no Brasil e, ao ficar associada às lutas populares, vinculou seu sobrenome injustamente à balbúrdia e confusão. Coração pulsante da escola, a Baterilha encarnou a Orquestra Nacional Brasileira.

“A bateria da Ilha vai homenagear o maestro Giannini, fundador da primeira Orquestra Brasileira, a Orquestra Nacional Brasileira, e marido da nossa homenageada Marietta Baderna A bateria vem fantasiada de orquestra, de banda. Eu vi na apresentação do enredo que, além de estar homenageando o maestro, a bateria referencia também a festa popular, que a Marietta saía com o povo fazendo uma banda fanfarra”, disse o mestre de bateria da escola, Marcelo Santos.

Um dos pontos altos do desfile foi a realização, pelos ritmistas, de uma marcante bossa na Sapucaí, que misturou instrumentos de orquestra, como lira, prato e bumbo, à clássica cadência do samba.

“A bateria hoje vai se tornar uma grande orquestra na Sapucaí. Vai ser uma grande orquestra de 240 ritmistas. Vamos fazer uma bossa justamente que vai lembrar bem uma apresentação de uma orquestra em toda cabine de jurado. A gente vai fazer essa junção. Ela vai começar com a bateria tocando, do nada a bateria para, a banda entra e depois as duas vão tocar junto, fazendo uma grande confraternização de ritmos para fazer essa grande homenagem ao samba e também à banda fanfarra em homenagem ao maestro Giannini”, prometeu Marcelo, pouco antes de entrar na avenida.

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O artifício agradou não só ao público, como aos próprios ritmistas, em suas diversas origens e perspectivas.

“A bossa é de bandinha. O nosso mestre misturou todas as etapas de instrumentos que correspondem à banda. Eu não vou contar direito, porque vai ser surpresa para vocês. Vocês vão ver na realidade lá na frente e vão ficar emocionados”, garantiu a professora do Ensino Fundamental Fátima Tavares, a Fafá do Chocalho, de 67 anos. Com longa trajetória carnavalesca, Fafá já foi coreógrafa de ala da comunidade e caiu na bateria, em suas palavras, por um descuido, ao experimentar de forma despretensiosa tocar um instrumento.

“Fui pra escolinha para curtir. Eles acharam que eu tinha ritmo, fui fazendo teste e consegui entrar para bateria. Eu sou ritmista da Baterilha há exatamente 8 anos”, relembrou.

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“Esse ano a gente vai fazer uma bossa misturando instrumentos de orquestra que quem esteve aqui no ensaio técnico viu que saiu pegando todo mundo”, afirmou o jovem Erick da Paixão, de 22 anos, há 7 anos na Ilha. Erick é insulano e trabalha em uma pizzaria com atendimento ao cliente.

“A sensação de tocar em uma bateria é incrível. É um sonho para todo mundo, ainda mais para as pessoas que olham a bateria passando e pensam ’um dia eu quero estar lá, um dia eu quero desfilar’. Eu comecei a assistir uma final do samba-enredo em 2018, 2018 para 2019. De lá, gostei. Comecei a procurar informações sobre as escolinhas de bateria da ilha. Comecei a fazer a escolinha, depois eu subi. Estou aqui até hoje. É uma bateria que tem muita história e muita tradição. A ilha para mim é tudo”, contou Erick.

Erick

“Fazer parte de uma bateria é muito mágico. As pessoas que veem de fora não entendem o sentimento. Só quem está dentro sabe como é a emoção de ver tanta gente assim vendo o trabalho de tanto tempo sendo realizado. Ser uma menina em meio a tantos homens crescidos é bem desafiador, não é o comum de se ver, mas tem que ser normalizado. Todo mundo pode fazer o que quiser e todo mundo deve experimentar coisas novas. Eu, principalmente, adorei vir para a escola de samba. É um lugar muito acolhedor para mim”, finalizou a estudante de 16 anos Laura de Andrade, cuja primeira experiência como ritmista se deu em 2022, pela Lins Imperial.

Laura

Freddy Ferreira analisa a bateria da União do Parque Acari no desfile do Carnaval 2025

Um ótimo desfile da bateria “Fora de Série” da União do Parque Acari, comandada pelos mestres Erik Castro e Daniel Silva. Um ritmo com uma sonoridade simplesmente ímpar e uma equalização de destaque foi exibido. Impressionante que no segundo ano no grupo de acesso esses mestres já tenham colocado a bateria da Acari entre as melhores da Liga RJ. O grande desfile de hoje culminou para ajudar a chancelar esse pensamento.

Na cabeça da bateria, um naipe de tamborins técnico tocou interligado a uma boa ala de chocalhos. Cuícas ressonantes também auxiliaram no trabalho das peças leves.

Na parte de trás do ritmo, uma afinação extremamente privilegiada de surdos foi percebida, com marcadores de primeira e segunda tocando de modo firme e seguro. Surdos de terceira deram um balanço bastante envolvente ao ritmo acariense. Repiques coesos tocaram junto de um belo naipe de caixas de guerra. É possível dizer, inclusive, que a ressonância dos caixeiros fizeram o instrumento servir como base de amparo musical às demais peças.

Bossas bem conectadas a melodia do samba-enredo foram notadas. A bateria da Acari aproveitou muito bem as nuances melódicas para consolidar o ritmo dos arranjos através das variações, fazendo um trabalho musical intuitivo, além de orgânico. Participação de todos os naipes nas bossas impressionam, pelo conjunto sonoro de raro valor, aliado a boas execuções nos dois últimos módulos.

Uma grande apresentação da bateria da União do Parque Acari, dirigida pelos mestres Erik Castro e Daniel Silva. Uma conjugação sonora de destaque dos mais diversos naipes foi exibida. Um ritmo condizente ao apelido “Fora de Série” foi exibido. Sempre pautado pela classe musical, equilíbrio sonoro, além de uma brilhante equalização de timbres. Um desfile que coloca o ritmo da “Fora de Série” da Acari em nítida evidência, após mais um grande trabalho.