A Primeira da Cidade Líder realizou no domingo seu único ensaio técnico previsto na temporada, em preparação para os desfiles do Carnaval 2023. O principal destaque do ensaio foi um elemento do quesito Evolução que provavelmente não será visto no desfile oficial, mas que entrará para a história do Carnaval só pela ousadia da aposta feita. A Líder será a quarta escola a desfilar pelo Grupo de Acesso II, no dia 11 de fevereiro, com o enredo “70 anos de uma escola diferente. Lá vem Salgueiro!”.
Fotos de Fábio Martins/Site CARNAVALESCO
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Comissão de frente
Em uma dança de duas passagens do samba de duração, a comissão de frente da Líder veio formada por 14 dançarinos caracterizados como malandros do Morro do Salgueiro. Em uma apresentação marcada pelo gingado digno da boemia carioca, o grupo fez referência a vários dos nove títulos conquistados pela Vermelho e Branco da Tijuca. A sincronia de movimentos estava caprichada, e serviu como amostra do espetáculo que viria pela frente.
Fica uma observação importante, porém. Antes mesmo da comissão chegar ao primeiro módulo, uma dançarina do grupo teve um problema com sua roupa. A jovem precisou pensar rápido, e com ajuda de funcionários que trabalhavam no camarote em frente conseguiu um pedaço de fita de isolamento para improvisar um cinto para retornar à pista. Jogada esperta, que rendeu aplausos de quem viu seu esforço.
Mestre-Sala e Porta-Bandeira
Que apresentação! O primeiro casal da Líder, formado por Fabiano Dourado e Sandra de Jesus, demonstrou em sua dança grande habilidade e sincronia. A felicidade em defender o pavilhão Azul e Amarelo era explicita nas suas expressões, com destaque para o sorriso contagiante de Fabiano, que não saía de sua boca mesmo durante os giros. A dupla foi muito aplaudida pelo público presente durante a passagem da escola.
Harmonia
Faltam palavras para definir o que foi a harmonia da Primeira da Cidade Líder. Com postura de escola do Grupo Especial, a comunidade cantou o samba a plenos pulmões, formando um coral primoroso junto ao time de canto e a bateria “Batucada de Primeira”. Os componentes brincaram o carnaval na sua essência durante a passagem pela Avenida.
Evolução
Escola passou inteira pelo meio da bateria. Está certo que provavelmente o regulamento não permite tamanha ousadia, mas o momento entrará para a história dos ensaios técnicos do carnaval de São Paulo. Os ritmistas da “Batucada de Primeira”, que vieram logo atrás da Comissão de Frente, pararam em frente ao recuo da bateria, que no Anhembi fica bem no meio da Avenida, mas ao invés de entrarem no recuo, o grupo foi simplesmente dividido em dois e abriram um espaço no centro. Por esse espaço, literalmente todo o restante da escola passou pelo meio da batucada da Primeira da Cidade Líder, que mesmo assim continuou a praticar as incontáveis bossas e paradinhas com referências explícitas a momentos consagrados do carnaval carioca, como foi o caso da batida “funk”, que foi febre nos anos 90 na Marquês de Sapucaí.
Em questão de andamento, a Líder foi impecável até este momento. A partir daí, largaram mão de se preocupar com o relógio, e “salgueiraram” durante todo restante da passagem, brincando o carnaval e ignorando completamente o tempo estourado em vários minutos. Coisa linda de se ver.
Samba-Enredo
Falando em “salgueirar”, o que foi esse desempenho do samba e do carro de som da Primeira da Cidade Líder? Monumental! O samba até parece que foi escrito pela própria escola carioca nos seus melhores tempos. Uma obra fácil de cantar, que começa fazendo referência a três dos maiores carnavalescos da história e que passaram pela Academia do Samba. A primeira parte é um verdadeiro carinho no ego da homenageada, com referências diretas à comunidade e à africanidade salgueirenses.
Do refrão do meio até o final, é pura referência aos nove títulos que marcaram a história do Salgueiro, mas todas elas encaixadas da forma mais genial possível. Destaque para o versos “E no Tambor da Academia, Chica da Silva foi meu apogeu”, que é cantado no mesmo ritmo do refrão principal do título mais recente da homenageada, de 2009. Com certeza um dos melhores sambas do ano no Grupo de Acesso II, e que funcionou perfeitamente neste ensaio histórico.
Outros destaques
O que não foi destaque no ensaio da Primeira da Cidade Líder? Antes mesmo de entrar na Avenida, o intérprete Thiago Melodiah pediu a namorada em casamento. A bateria “Batucada de Primeira” parece que encarnou o espírito da bateria do Salgueiro, a “Furiosa”, e fez uma das melhores apresentações de toda temporada 2023 de ensaios técnicos. Muitas bossas, apagões, paradinhas clássicas com referências explícitas aos ritmistas do Rio de Janeiro. O conjunto do ensaio em si foi brilhante em todos os aspectos. É como se a escola estivesse fazendo deste ensaio seu próprio “desfile das campeãs”.
Se a Primeira da Cidade Líder irá ganhar o Carnaval 2023 do Grupo de Acesso II, ninguém sabe. A única certeza que é de que, ao fecharem os portões da sua apresentação no dia 11 de fevereiro, o público estará em êxtase, e a escola nem precisa fazer 100% do que fez neste domingo para isso. Apenas venha, Líder. Aguardaremos ansiosamente por sua passagem.
A Estação Primeira de Mangueira trouxe uma amostra do que vai levar da Bahia para o desfile oficial, no ensaio técnico do último domingo. O aclamado samba-enredo funcionou muito bem no treino, sendo cantado até pelo público que lotou as frisas e arquibancadas. A comunidade mangueirense cantou muito e no final da apresentação, a Verde e Rosa deixou um gostinho do arrastão que pretende fazer encerrando a primeira noite de desfiles do Grupo Especial em fevereiro. O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, que teve Cintya Santos em sua estreia ao lado de Matheus Olivério, além da bateria dos mestres Rodrigo Explosão e Taranta Neto, foram outros pontos fortes do treino que teve duração de 1h10. Em 2023, a Mangueira vai apresentar o enredo “As Áfricas que a Bahia canta”, que está sendo desenvolvido pelos carnavalescos Annik Salmon e Guilherme Estevão. * VEJA AQUI GALERIA DE FOTOS DO ENSAIO
“Foi um ensaio bom, acho que a escola, atingiu 70% do desfile, até porque os 100% a escola tem que ter no desfile dia 19. Gostei muito do andamento da escola, gostei muito do canto, da bateria. Fizemos um bom desfile. A gente está sempre buscando melhorar. Os ensaios são pra isso, pra buscar a perfeição”, explicou Amauri Wanzeler, diretor de carnaval, que terá 3500 componentes no desfile.
Harmonia
O samba de 2023 da Mangueira foi bastante aceito pela comunidade desde as eliminatórias, e neste ensaio técnico o que se viu foi um canto dos componentes muito forte, a comunidade chegava a berrar. A escola cantou durante todo o ensaio, e em toda a sua extensão. A arquibancada também não deixou por menos e se envolveu com o samba. O desafio era achar alguém que não estivesse cantando nas alas. Até mesmo no início escola, em que se observou algumas coreografias, os componentes destas alas também cantavam o samba com muita vontade. Um dos destaque foi uma ala em que os componentes pareciam fazer referência ao maculelê com dois pequenos bastões.
Em seguida, já para o meios pode-se lembrar de uma ala logo depois do segundo carro em que os integrantes traziam pequenas imitações de tambores em verde e rosa. Mas há outras tantas alas que poderíamos citar que estavam cantando muito, isso desde os primeiros versos do samba entoados pela dupla Marquinho Art’Samba e Dowglas Diniz, que aliás mostraram que o entrosamento que tem apresentado em outros eventos pode funcionar na Sapucaí. Conduziram muito bem a excelente obra da Mangueira com correção, intensidade e simplicidade, sem inventar muito a troco de atrapalhar um samba que já se destaca por si só.
Samba-Enredo
O samba da parceria de Lequinho e companhia é um dos mais elogiados neste pré-carnaval e se destaca por possuir alguns pontos altos como os dois refrões e o bis após a segunda do samba com o “Eparrey Oyá”. O segundo refrão tem uma leve mudança de melodia na repetição o que dá ainda mais força na segunda vez que é cantado, fato bastante notado na empolgação dos componentes ao proferir estes versos. A obra funcionou muito bem no treino, sendo bastante cantado não só pelos componentes, como já falado, mas inclusive pelo público.
Em termos de desfile permitiu que a escola tivesse uma fluência satisfatória e indicou para a “Tem Que Respeitar Meu Tamborim” caminhos muito interessantes para colocar um pouco da Bahia na Sapucaí, tanto em bossas que lembravam dos blocos de Axé Música, tanto em toque mais voltado para a religiosidade das crenças de matriz africana. Outra vez destacar o trabalho da dupla de intérpretes que soube compartilhar bastante a obra colocando o toque de cada um no cantar, respeitando a tradição mangueirense de sambas.
“Para mim, por tudo que eu passei no último ano, é uma grande vitória. Todos sabem disso. Não foi fácil. Chegar aqui hoje foi só o primeiro tempo, porque o que conta é o carnaval, mas cantar com o meu filho mais novo de coração significa o mundo. Sentaremos juntos para avaliar e decidir o que mais precisa ser feito para entregarmos o nosso melhor no dia do desfile”, afirmou Marquinho Art Samba.
“Esse ensaio técnico é um momento muito importante para nós. Conseguimos colocar em prática tudo que viemos construindo durante nossos ensaios de rua. Estamos ensaiando exaustivamente para buscar a perfeição, ainda que ela não exista. Buscamos a melhor forma de mostrar a escola na Avenida. Nosso time está muito satisfeito com o nosso trabalho. Se precisarmos ajustar algo, faremos até o dia do desfile, mas estou muito feliz com o que fizemos hoje. Quando estamos cantando, não conseguimos distinguir bem o que pode ser feito, mas eu vou assistir a gravação e procurar o que for necessário. Pelo que passamos na Avenida, não tenho que reclamar do nosso time do carro de som”, garantiu Dowglas Diniz.
Mestre-sala e Porta-bandeira
Cyntia Santos fez sua estreia em ensaios técnicos pela Verde e Rosa. A porta-bandeira bastante aclamada pelos últimos carnavais na Porto da Pedra não decepcionou o público que em diversos pontos da pista gritava o seu nome e demonstrava palavras de carinho e incentivo. A dupla, em sua fantasia, fez referência a Oxalá com uma vestimenta em que predominava o branco bem ajustado com alguns detalhes em prata. A coreografia que o casal apostou favoreceu Cintya e seus rodopios com força e intensidade. Desde o início do bailado já entravam no módulo com um pequeno giro. Mesmo com a parceria relativamente recente, pois foi formada para este carnaval, os dois já demonstraram muita sincronia e entrosamento, principalmente, nos passos onde havia alguma distância entre o casal.
Matheus fez seus já conhecidos passos intensos, velozes e que terminam com um pequeno salto, meio malandreado. E Cintya arrancava aplausos nos rodopios. Já no final da coreografia, a porta-bandeira girou em alta velocidade com a bandeira segurando com as duas mãos. A dupla arriscou alguns movimentos de corpo com um pouco mais do swing e ginga que o enredo pede. Uma grande apresentação no geral.
“O ensaio foi maravilhoso, fantástico, foi a estreia do casal furacão na avenida. Sai de casa falando que ia botar meu furacão para desfilar, viemos e funcionou. Eu falo que encontrei o amor da minha vida, a dança está maravilhosa, estamos em sintonia, com um trabalho muito árduo dia e noite, chuva e sol”, disse o mestre-sala.
“Podemos melhorar muita coisa, pois não existe perfeição na dança, existe trabalho e dedicação. A gente procura sempre a perfeição, vamos ensaiar. É muito importante estar aqui, ver a comunidade, a emoção para preparar o emocional, pois em muitos momentos eu me emocionei, chorei, mas bola pra frente e fazer a coreografia direitinho e fica ainda mais fácil tendo o Matheus do lado”, completou a porta-bandeira.
Evolução
A Verde e Rosa apresentou nesta apresentação uma evolução que começou de forma muito satisfatória, com intensidade, fluência, mas sem correria, brincando o carnaval e impulsionada por um samba já bem trabalhado e com um início de apresentação bastante agudo por conta da comissão, do casal e das primeiras alas com passos mais marcados. Ainda assim, a evolução deve ser o ponto que a escola precisa mais de atentar neste caminho de preparação até o desfile.
Nas apresentações do casal, a comissão andava demais em seu deslocamento pelo fim de apresentação própria, deixando um pequeno buraco algumas vezes, que depois era preenchido por Matheus e Cintya no início da dança. Outro ponto que a escola também pecou no ensaio, é ter acelerado demais o passo depois da saída de casal e comissão da pista. Talvez, pelo número expressivo de contingente da agremiação que fez um desfile com muitos componentes, algo bem parecido do que deve levar para o desfile, ressaltando um ponto que não se deve esquecer de elogiar, a participação da comunidade. Mas no geral não foi uma evolução comprometida por estes dois detalhes, inspira confiança de que possa ser perfeita no dia.
Comissão de Frente
Agora à frente do quesito na Mangueira, Cláudia Motta levou para este treino oficial uma comissão reverenciando o enredo que homenageia os cortejos afros da Bahia, com um toque feminino. Esta marca feminina estava presente na apresentação deste domingo nas mulheres de vestes douradas que representavam a divindade Oyá. A comissão de frente tinha em sua maioria e em maior destaque mulheres, ainda que houvesse alguns poucos homens que interagiam com as bailarinas.
A coreografia foi bastante pautada na dança, o que também dialogou bastante com um enredo que tem a música como uma de suas peças centrais. O deslocamento do grupo até os módulos julgadores também trazia bastante intensidade e a ginga baiana por parte dos componentes. Em um momento de grande destaque, uma das bailarinas dançava em uma roda enquanto o restante do grupo agachados fazia movimentos no chão como tocando tambores. Já no final da coreografia, no trecho “O samba foi morar onde o Rio é mais baiano”, os integrantes da comissão sambando para os jurados antes de partir para o deslocamento.
Outros Destaques
A “Tem Que Respeitar Meu Tamborim”, agora reunindo no comando a dupla de mestres Rodrigo Explosão e Taranta Neto, veio com seus componentes todos pintados com marcações tribais e levantaram um público ao se agachar e realizar bossas. Em alguns momentos pararam junto com o carro de som para fazer o samba se destacar na voz dos componentes, principalmente no refrão principal.
“Estou extremamente emocionado. A gente fica até sem graça de falar do nosso trabalho, sou crítico dele, mas hoje foi sensacional. A rotina do ensaio foi puxada para os ritmistas – terça, quinta-feira, sábado e domingo. Esse ano o carnaval está muito nivelado. Sabemos como é difícil organizar uma bateria, mas, Graças a Deus, deu tudo certo. Sempre tem alguns ajustes para corrigir, mas são mínimos detalhes. Vamos desfilar com 270 ritmistas. Estamos com três paradinhas para o desfile e o paradão da bateria e escola no refrão para ecoar o samba na avenida”, comentou mestre Rodrigo Explosão.
“O balanço do ensaio é o melhor possível. O ensaio foi bastante produtivo e conseguimos executar tudo que a gente vem ensaiando ao decorrer do ano. Agora são os mínimos detalhes, como o andamento, para a gente vir perfeitos para o desfile. Por hoje, acho que se melhorar, estraga. Agora vamos analisar os vídeos para ver se houve algum erro. Acho que deu tudo certo”, comemorou mestre Taranta Neto.
A rainha Evelyn Bastos estava fantasiada de Oyá Tope, senhora do Eco e do fogo, uma das denominações de Oya-Yánsà, e mais uma vez brindou o público com muito samba no pé e com a sua presença majestosa que impressiona, sambando inclusive no ritmo das bossas e convenções.
A presidente Guanayra Firmino em seu primeiro ensaio como mandatária da Verde e Rosa acompanhou o treino à frente da comissão de frente e do tripé em verde e rosa com os dizeres”Oyá por nós”. Antes do esquenta, o carro de som da Mangueira, acompanhado da bateria, cantou algumas músicas de ícones do carnaval baiano. A ex-bbb Thelma Assis, vencedora de uma das edições do programa, mostrou muito samba no pé completamente à vontade na agremiação.
Colaboraram Gabriel Gomes, Luisa Alves, Raphael Lacerda, Rhyan de Meira
Primeira escola a desfilar na terceira noite de ensaios técnicos do Grupo Especial, no último domingo, a Mocidade brindou o público presente na Sapucaí com uma apresentação correta com destaque para o casal de mestre-sala e porta-bandeira, Diogo Jesus e Bruna Santos, o excelente desempenho da “Não Existe Mais Quente”, de mestre Dudu, com o andamento característico da escola e alinhado a ótima apresentação do estreante Nino do Milênio. A evolução lenta nos cerca de 1 hora e 15 minutos pode ser alerta para o desempenho no dia de desfile oficial. A Mocidade levará para a avenida no domingo de carnaval o enredo “Terra de Meu Céu, Estrelas de Meu Chão”, desenvolvido pelo carnavalesco Marcus Ferreira. * VEJA GALERIA DE FOTOS DO ENSAIO
Logo no esquenta, a Estrela Guia de Padre Miguel mostrou a que veio. O estreante intérprete Nino do Milênio entoou diversos clássicos da escola, como “Mãe Menininha do Gantois”, “Ziriguidum 2001” e “Vira Virou”. Antes do início do ensaio, o presidente da Mocidade, Flávio Santos, discursou em incentivo à comunidade da Vila Vintém.
“Nesses ensaios, o mais importante é canto, evolução e marcação de cabine. Graças a Deus não houve, pelo menos não tomei conhecimento, de nenhum espaçamento maior ou buraco. Mas, mesmo assim, no ensaio técnico isso não me preocupa muito não. O que me preocupa é marcação de cabine, porque é muito importante para o primeiro casal, comissão, bateria para saber a posição certa de parar. Isso a gente treina muito. O saldo foi muito positivo, porque o canto foi muito bom e a escola foi muito boa. Sempre é bom melhorar, mas o mais importante é a resistência da galera, até porque a partir desse momento, os ensaios serão com mais peso e estarão usando fantasia. A parte técnica chegou num ponto ideal. Depois do ensaio, eu procuro em sites como o CARNAVALESCO para analisar através dos vídeos e saber se tudo foi feito. A Mocidade não é improviso. O mais positivo foi a alegria do componente, mesmo após uma chuva torrencial que caiu na Zona Oeste, a escola veio em peso”, explicou Marquinho Marino, diretor de carnaval.
Comissão de Frente
No ensaio técnico da Estrela Guia de Padre Miguel, o coreógrafo Paulo Pinna provou porque ganhou espaço no Grupo Especial do carnaval carioca. Na avenida, a comissão de fFrente da Mocidade levou 15 componentes, entre homens e mulheres, vestidos com roupas em tons de terra e verde, o que remete a retirantes nordestinos. Ao longo da apresentação, os componentes executaram movimentos muito expressivos, por vezes alinhados à letra do samba da escola, como na parte do “gente independente”, quando erguiam as mãos. A dança tinha dois pontos altos, no início e no final, quando um bailarino era erguido pelos demais. Durante toda a apresentação, os 15 componentes cantavam a letra do samba.
Mestre-Sala e Porta-bandeira
O casal de mestre-sala e porta-bandeira da Mocidade, Diogo Jesus e Bruna Santos, foi o grande ponto alto da apresentação da escola no ensaio técnico. Vestidos em uma bela roupa no verde da escola, a dupla desenvolveu com maestria e muita sincronia a coreografia ensaiada, que alinhava momentos de muita garra, como nos belos e intensos giros da porta-bandeira Bruna, e leveza, como na coreografia em cima das partes da “Rainha Bonita” e do “Cangaceiro” na letra do samba-enredo da escola, que era cantado pelo casal ao longo da avenida. A dupla era ovacionada pelos setores em que passava na Sapucaí.
Na apresentação do casal de mestre-sala e porta-bandeira da Mocidade se deu em frente ao módulo de julgadores do setor 3, quando os guardiões do casal deram pouco espaço para a apresentação dos mesmos, o que foi bravamente superado por Bruna e Diogo. Já no segundo módulo da julgadores, a questão foi ajustada pelos componentes.
“É até emocionante falarmos sobre porque acho que, de todos os anos que desfilamos juntos, esse ensaio técnico foi o que mais dançamos. O samba, a bateria, a escola cantando… tudo ajudou. A nossa coreógrafa preparou tudo com muito carinho, fomos realmente lindos na Avenida. Foi muito bom, principalmente ao longo dessa porta-bandeira que transmite toda a sua garra na Sapucaí. Como eu disse antes do ensaio, dançar com a Bruna deixa o coração quente. Todo jogador gosta de ter a torcida ao lado. Na pandemia vimos os estádios vazios, e o jogo não tinha a mesma emoção. Sentimos exatamente a mesma coisa. Precisamos do público. Acredito que hoje, tanto a Mocidade quanto a Mangueira, vão deixar a Sapucaí sentindo saudades até semana que vem, quando as outras escolas também arrasarem”, disse o mestre-sala Diogo Jesus.
“Sempre temos algo para limpar e com certeza hoje mesmo a nossa coreógrafa vai dizer o que precisamos ajeitar, mas como o Diogo falou, posso ser até desumilde afirmando isso, ela criou uma coreografia excelente. É completamente alinhada e dentro do enredo, trazendo inovação sem deixar a tradição de lado. Espero que Deus possa abençoar o nosso desfile oficial como abençoou o ensaio técnico”, completou a porta-bandeira Bruna Santos.
Harmonia
Na avenida Marquês de Sapucaí, a comunidade de Padre Miguel provou mais uma vez sua força. No ensaio técnico da Mocidade Independente, o canto da escola foi bastante notado durante todos os momentos e setores. As alas “Colheita do Algodão”, no início e “Caçador do gato Maracajá”, mais pro final, foram destaques no quesito. O refrão do meio do samba da escola, que termina em “Quem foi que fez?/Foi Deus do barro” foi cantado a plenos pulmões pela comunidade.
“É difícil a gente avaliar pois estamos ali em ação, mas a impressão que eu tive cantando foi de um ensaio muito bom. A Mocidade é isso, essa cadência, não precisa correr, o samba é bonito e precisa ser cantado. Acho que conseguimos alcançar nosso objetivo hoje aqui. O mestre Dudu é um cara carinhoso, maravilhoso e quando a pessoa é assim, tem uma luz, você consegue trabalhar melhor. Eu e o Dudu conversamos muito, ensaiamos muito para colocar o samba no lugar e eu estou muito feliz pois estou vendo que conquistamos o objetivo. O sentimento é o melhor do mundo”, afimrou o intérprete Nino do Milênio.
Evolução
No quesito evolução, a Mocidade não apresentou graves problemas, como buracos ou alas emboladas. Entretanto, ao longo da apresentação da escola, o andamentoo das alas em alguns momentos se deu de maneira lenta, por vezes arrastada, o que culminou no grande tempo de ensaio. A questão pode ter sido uma estratégia da escola para simular o desfile oficial. De positivo, pode se destacar a leveza e animação de diversas alas da escolas, muito levada pelo leve andamento da bateria, como a ala “Papangu de Bezerros” e a ala de passistas da escolas, com uma bela roupa verde com estampas floridas.
Samba-Enredo
Composto por Diego Nicolau Cabeça Do Ajax, Gigi Da Estiva, Leandro Budegas, Orlando Ambrosio, Richard Valença e W Correa, o samba-enredo da Mocidade Independente de Padre Miguel provou sua funcionalidade na avenida. O desempenho da obra foi impulsionado pelo ótimo desempenho de Nino Milênio em sua estreia na agremiação, juntamente ao seu carro de som e bateria de mestre Dudu, com o andamento típico das bandas de Padre Miguel. O refrão do meio da obra, do “Carro de Boi”, foi intensamente cantado pela comunidade da Zona Oeste.
Outros Destaques
A bateria “Não Existe Mais Quente” de Mestre Dudu mostrou, mais uma vez, um excelente desempenho na avenida. Durante a apresentação da escola, os ritmistas, que vestiam chapéus de cangaceiros, eram ovacionados pelo público da Sapucaí. O andamento leve, característica da escola, ajudou o desempenho do samba-enredo da Mocidade, que não cansou na avenida Marquês de Sapucaí. A bossa na parte do “Amassa” no samba foi um show à parte. A rainha de bateria, Giovana Angélica, apostou em uma bela roupa branca brilhante de cangaceira.
“Infelizmente só tem um né? Mas aproveitamos bastante e venho agradecer “papai do céu” por esse momento. A gente ensaia na comunidade, mas aqui é o local do jogo. Bom, só tenho a falar que a nossa bateria deu seu nome. A gente sabe que a nossa bateria é a mais esperada do carnaval carioca. Andamento perfeito. Não coloquei tudo e tem uma surpresa ainda. Isso é normal, é carnaval, é disputa. É um ensaio mas executei tudo que a gente vem fazendo no decorrer dos nossos ensaios. Quanto mais tempo de ensaio melhora. São 276 ritmistas. Geralmente, eu venho assim. Esse ano que eu coloquei duas zabumbas e dois triângulos para poder dar um ‘molhozinho’. O enredo pede o baião, o ‘forrozão’ e eu fiquei muito confortável”, comentou mestre Dudu.
A sempre muito elegante ala de baianas da Mocidade, vestidas de verde com saia estampada florida, deram um show na Marquês de Sapucaí. Ao longo do ensaio da Estrela Guia, diversas alas da escola portavam referências ao imaginário nordestino, dentro do enredo da escola. As alas coreografadas também se apresentaram muito bem na avenida.
A Mocidade Independente de Padre Miguel será a terceira escola a desfilar no Domingo de Carnaval. A Estrela Guia levará para avenida o enredo “Terra de Meu Céu, Estrelas de Meu Chão”, do carnavalesco Marcus Ferreira.
Colaboraram Luisa Alves, Raphael Lacerda, Rhyan de Meira
A bateria da Estação Primeira de Mangueira fez um ótimo ensaio técnico, sob o comando dos mestres Taranta Neto e Rodrigo Explosão. A musicalidade com algumas levadas baianas se revelou acertada, tanto do ponto de vista cultural, quanto musical.
Uma cozinha da bateria da Mangueira marcada pela pressão proporcionada pela afinação grave e ressonante do surdo de primeira. Surdos mor deram um invariável balanço ao ritmo, que ainda contou com caixas de guerra consistentes e equilibradas, além de repiques tecnicamente notáveis. O trabalho de educação musical realizado pelos caixeiros da Estação Primeira comprova a evolução do naipe, que agregou valor sonoro à bateria da Mangueira. Complementando a parte de trás do ritmo foi possível perceber uma adição à musicalidade provocada pelos “timbaques”. Uma fusão de timbal com atabaque, tanto na constituição da peça, quanto na sonoridade produzida.
Já na cabeça da bateria, as peças leves deram um brilho musical de profundo destaque ao ritmo mangueirense. Uma ala de chocalhos de qualidade notável foi acompanhada por xequerês que auxiliaram no preenchimento da musicalidade da bateria da Mangueira com eficácia. Uma ala de cuícas com elevada técnica também complementou a parte da frente do ritmo, ajudados por agogôs de duas campanas (bocas). Vale mencionar positivamente o naipe de tamborins mangueirense, com destaque musical absoluto entre as peças leves. Uma ala de tamborins que exibiu um desenho rítmico de certa complexidade, mas com profunda precisão ao longo da pista. O apelido da bateria “Tem que respeitar meu Tamborim” nunca veio tão bem a calhar, numa ala marcada pela nítida evolução musical de um carnaval para outro.
Algumas vezes pela Avenida, a escolha foi parar a bateria para fazer um “apagão” no refrão que precede o estribilho principal, retomando o ritmo ao se aproveitar da pressão proporcionada pelas marcações graves. Em todas as vezes que foi exibida houve ovação popular, se configurando em um acerto de interação com o público.
A paradinha de maior destaque musical pôde ser percebida a partir do trecho “Quando a alegria invade o Pelô”. Aproveitando a melodia da música para imprimir uma levada baiana, surdos mor e “timbaques” deram um balanço peculiar à bateria da Mangueira, se unindo a caixas de guerra consistentes para consolidar o ritmo. Para finalizar, novamente “timbaques” e surdos mor fazem um arranjo musical como se chamassem as caixas para a conversa rítmica. Nesse momento as caixas executam de modo sólido uma convenção que remete ao desenho rítmico dos tamborins, de alta complexidade, além de inegável impacto sonoro. Um acerto musical e cultural, dando ao samba-enredo da Mangueira exatamente o que a obra pede.
Outra bossa que merece menção musical é a do refrão do meio. Nela todos os ritmistas se abaixam, exceto os solistas com “timbaque”. Os demais vão se levantando conforme a sonoridade vai recebendo amparo de diversos naipes. Um arranjo musical que aliou ritmo a movimentos sincronizados, garantindo interação popular.
Uma apresentação da bateria da Mangueira de mestres Taranta Neto e Rodrigo Explosão de dar orgulho a toda nação mangueirense, além de emocionar sambistas em geral. O ritmo da verde e rosa se manteve plenamente integrado ao belo samba-enredo da escola do morro de Mangueira, se aproveitando de suas nuances melódicas para pautar suas convenções, aliando bom gosto musical a uma simplicidade que se revelou sofisticada.
A bateria da Mocidade Independente de Padre Miguel fez um ensaio técnico muito bom, comandada por mestre Dudu. O ritmo de aspecto mais grave da bateria “Não Existe Mais Quente” (NEMQ) foi complementado por um trabalho soberbo das peças leves.
A cozinha da bateria da Mocidade foi marcada pelo trabalho genuíno e acima da média envolvendo suas marcações. Com sua peculiar afinação invertida de surdos, sendo a primeira com timbre mais agudo e a segunda com uma resposta mais grave. Os surdos de terceira proporcionaram um balanço envolvente a bateria “NEMQ”, que junto de repiques esbanjaram boa musicalidade, aliada a caixas de guerra com sua batida tradicional, com acentuação única. Uma parte de trás do ritmo condizente com uma bateria que possui uma levada fundamentada e vinculada às suas tradições musicais.
Já na cabeça da bateria, as peças leves deram molho exemplar a parte da frente do ritmo da escola de Padre Miguel. Uma ala de chocalhos simplesmente espetacular foi notada, tocando de forma entrelaçada com um naipe de tamborins excepcional. A musicalidade tanto de chocalhos, quanto de tamborins com suas respectivas convenções rítmicas adicionaram valor sonoro incalculável ao ritmo da bateria da Mocidade.
Vale ressaltar a sonoridade das cuícas independentes, sendo percebidas inclusive um pouco mais distante do ritmo da verde e branco da zona Oeste. Cabe mencionar a última fila da bateria, composta por agogôs de duas campanas (bocas), acrescentando uma sonoridade metálica que casou com uma afinação mais grave, complementando a musicalidade da bateria da Mocidade Independente de Padre Miguel com nítida qualidade musical.
A paradinha na cabeça do samba possui concepção criativa pautada por complexidade, além de ser de elevado grau de dificuldade de execução. Com direito a algumas viradas dos caixeiros, sem contar os surdos de primeira, segunda e terceira ecoando em um solo.
Na bossa do refrão do meio, um swing envolvente foi percebido, aliado a um impacto sonoro provocado pela participação das marcações no arranjo musical, sem contar os tapas em contratempos e uma retomada que possibilitou pressão ao ritmo da bateria da Mocidade Independente.
O breque no trecho do samba “Alumia o teu povo em procissão” contribuiu no dinamismo sonoro da bateria “NEMQ”. Por vezes uma bossa foi apresentada logo em seguida. Primeiramente se aproveitando do toque provocando balanço das terceiras, para depois exibir uma musicalidade nordestina extremamente envolvente e bem pontuada, culminando numa retomada explosiva.
A paradinha do refrão principal impressionou pela constituição musical elaborada e refinada. Tapas em conjunto envolvendo diversos naipes, logo deram lugar a uma levada nordestina, sendo consolidada com o balanço dos surdos, junto de tapas dos tamborins em contratempo. Além de permitir uma sonoridade ímpar e execução precisa, a bossa em questão está inserida no que solicita o melodioso samba-enredo da escola de Padre Miguel.
Mestre Dudu tem motivos para comemorar o grande ensaio com seus diretores e ritmistas, ao apresentar uma bateria “Não Existe Mais Quente” devidamente preparada para o desfile oficial, além de intimamente conectada à cultura musical nordestina. Um ritmo que casou plenamente com a temática da Mocidade Independente de Padre Miguel.