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Diretor de carnaval da Mocidade promete desfile emocionante, futurista e reflexivo

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‘É uma Mocidade com cara de Mocidade’, diz diretor de carnaval sobre desfile de 2025

O CARNAVALESCO conversou com o diretor de carnaval da Mocidade Mauro Amorim  sobre a sensação de voltar à escola onde começou sua carreira, a parceria com os carnavalescos Márcia e Renato Lage, o enigmático enredo e a relação com a comunidade da escola. O resultado, você confere abaixo.

Você foi diretor de carnaval pela Viradouro, Imperatriz e agora, em 2025, retorna à Mocidade, que foi a escola onde você começou, como integrante da equipe de harmonia. O que representa estar na sua escola do coração?

“Cara, eu sou um felizardo no carnaval por ter trabalhado nessas duas grandes empresas (Viradouro e Imperatriz), não são só escolas. Eu aprendi ali a estrutura de Carnaval, gestão de pessoas, gestão de Carnaval. Eu aprendi tudo ali. Hoje, eu consigo, na Mocidade, voltando para casa, depois de 10 anos muito distante, matar saudade de casa.”

A pressão é maior, tem um sentimento diferente?

“É complicado, mas é muito bom chegar no bairro em que você nasceu, que você cresceu. Meu pai, que não é ligado a Carnaval, hoje ligou para mim e falou: ‘O pessoal aqui da rua tá todo mandando um abraço para você. Eles querem saber quando você vai aparecer’, porque eu já não consigo aparecer lá na correria de Carnaval. É diferente porque tem esse contato muito próximo com a tua vida de infância, tem o contato com uma vida inteira.”

Como está sendo o trabalho com a Márcia e o Renato, agora só o Renato?

“O Renato é um ídolo. A primeira vez que eu pisei na quadra da Mocidade, ele foi campeão em 1996. Eu era moleque para caramba. Márcia era uma pessoa fenomenal e uma artista brilhante. Ela tinha uma energia ímpar. É bom demais poder estar perto dos meus ídolos.”

 O que esperar do desfile da Mocidade de 2025, em termos de alegorias e fantasias?

“Hoje eu até usei esse jargão, que parece muito clichezão, mas é uma Mocidade com cara de Mocidade, com uma assinatura visual muito forte do Renato. As pessoas que vão lá ao barracão olham e ficam muito felizes, porque estão vendo ali Renato e Márcia ilustrados no nosso trabalho.”

O enredo fala de futuro, tem uma preocupação socioambiental e menciona a estrela guia, o Cruzeiro do Sul. Explique essa proposta.

“Nosso enredo é um manifesto do bem, onde a gente não está aqui no tom de crítica, a gente está aqui no tom de que o futuro que a gente sempre sonhou chegou. O que que a gente faz de agora em diante? É máquina? Ser humano? É uma grande reflexão. A gente vai mostrar na Avenida grandes pontos de reflexão dessa tecnologia que a gente sempre sonhou, que é contemporâneo, que é o mundo que chegou hoje em dia. O que que a gente faz de agora em diante? Está tudo bem? Não está? A gente quer que o povo do Carnaval e principalmente o mundo veja nosso desfile e reflita um pouquinho. Vai ser emocionante.”

O independente sonha e sempre quer mais. O que você pode prometer para o independente de 2025?

“Um desfile de muita emoção. A escola adota uma postura pela primeira vez de 100% de alas da comunidade. Todas as fantasias são doadas para a comunidade. Vai lá, ensaia com a gente o período todo e olha o tamanho que tá a escola. Nos nossos ensaios, a gente teve que redimensionar muita coisa e replanejar muita coisa por causa do volume de gente frequentando os ensaios. Isso é muito bom. Ter a nossa comunidade forte, unida e acreditando no nosso projeto é maravilhoso. Dá uma estrutura de trabalho, dá uma segurança de trabalho para chegar aqui na avenida, que é muito grande”, finalizou Mauro.

‘Emoção estar aqui pelo Milton e pela Portela’: Portelenses contam expectativa para desfile oficial

À medida em que os dias se aproximam do desfile oficial, uma enorme expectativa
toma conta do coração portelense. A responsabilidade dupla de ser a última escola
a entrar na Avenida, feito que não ocorre desde 2006, e homenagear Milton
Nascimento, faz com que torcedores e integrantes da comunidade Azul e Branca
vivam uma ansiedade crescente.

Glória Ângela, de 72 anos, conta que a paixão pela Azul e Branca vem de outros
carnavais. Ela desfila desde 1973, mas garante que a emoção deste ano será
diferente, afinal, serão duas paixões num só desfile.

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Glória Ângela, de 72 anos, desfila desde 1973 Foto: Carnavalesco

“Eu adoro o Milton, ele é da minha época. É muito importante falar de Milton
Nascimento, porque ele é um ícone da nossa música popular brasileira e merece
todo o apoio e todas as homenagens, principalmente porque é uma figura ainda viva
na nossa história. É uma responsabilidade enorme tanto para a comunidade da
Portela quanto para a diretoria preparar um carnaval à altura dele e, principalmente,
para encerrar com chave de ouro o Carnaval do Rio de Janeiro”, confiante, disse
Glória.

A paixão pela Majestade do Samba e pelo rei da MPB vem de berço e atravessa
gerações. É o caso do garçom Cristiano Luiz do Nascimento, de 42 anos, que vai
desfilar na agremiação pela segunda vez. O amor pelo Carnaval e por Milton
Nascimento veio da mãe, que não estará presente na Avenida devido a uma cirurgia
no joelho. Para ele, a emoção é ainda maior.

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Cristiano Luiz do Nascimento, de 42 anos, vai
desfilar na agremiação pela segunda vez Foto: Carnavalesco

“A minha família acompanhava ele, e eu aprendi desde cedo a gostar muito. É uma
responsabilidade dupla para nós. Não é só por ele, mas pela Portela. É uma escola
22 vezes campeã, família e que está homenageando um rei da música brasileira. É
uma maravilha. A minha mãe é fã do Milton, portelense e não está aqui por causa
da cirurgia. É uma emoção estar aqui pelo Milton, pela Portela e por ela”, afirmou o
componente.

Para muitos, a homenagem ao artista também será um protesto e uma forma de
reafirmar o protagonismo da música popular brasileira. Isso porque no início do mês,
Milton foi a Los Angeles, nos Estados Unidos, para disputar o Grammy ao lado da
cantora norte-americana Esperanza Spalding, com quem gravou um álbum. Em um
post nas redes sociais, a artista revelou que a produção do evento negou uma
cadeira para que o brasileiro ficasse na área vip da cerimônia.

No Instagram, Esperanza repudiou a ausência do cantor e compartilhou a foto de
um cartaz que fez questão de segurar ao longo da premiação. O protesto foi
replicado pela comissão de frente da Portela durante o ensaio técnico na Marquês
de Sapucaí, no último domingo.

“Então, foi recusado a Milton um lugar nas mesas para a cerimônia deste ano. Isso
não me agradou. Não estou falando de uma vitória no Grammy. Estamos
comemorando a gloriosa vitória de Samara Joy, estou falando de uma cadeira física,
aqui nesta mesa em que estou sentada. Estou brava por essa lenda viva não ter
sido considerada importante o suficiente para sentar entre as pessoas da lista A”,
disse a artista.

Após a recepção, a equipe de Milton decidiu deixar a premiação. O caso
rapidamente viralizou nas redes sociais, e entre a comunidade de Oswaldo Cruz e
Madureira não foi diferente. Para Yuri Segantini, de 32 anos, desfilante pela primeira
vez na Azul e Branca, o sentimento foi de revolta.

“Para a gente, fica uma impressão ruim pelo fato da recepção que ele teve. É bom
para o brasileiro perceber e dar importância ao artista nacional, porque gostam
muito de valorizar artistas de fora do país. É importante valorizar a nossa música
popular brasileira e os artistas da casa, porque, às vezes, lá fora eles não recebem
a devida importância que tanto merecem”, comentou Yuri.

Por outro lado, os portelenses reafirmam o papel do enredo em ressaltar a
importância de Milton Nascimento e a relevância da música popular brasileira, como
comentou o componente Kléber Gonçalves, de 29 anos.

Kleber Goncalves
Kléber Gonçalves

“O desfile da Portela vai fazer jus à importância dele. O portelense sairá em defesa
dele, com certeza. O Milton é um artista que faz muita diferença em nosso país.
Acredito que o que fizeram com ele no Grammy foi uma sacanagem, porque ele é
um grande músico, antigo, e que precisa ser respeitado”, enfatizou.

Com fantasias caprichadas e canto poderoso da comunidade, Vila Isabel encerra a segunda noite de desfiles com leveza

A Unidos de Vila Isabel foi a última escola a pisar na Avenida durante o segundo dia de desfiles do Grupo Especial. A apresentação da azul e branca foi satisfatória, com fantasias que se destacaram pelo capricho, criatividade e ótimo uso das cores. O conjunto alegórico teve um bom acabamento, mas algumas soluções do carnavalesco Paulo Barros não causaram o impacto esperado no público, especialmente pelo uso repetitivo de certos efeitos especiais, que geraram uma sensação de déjà vu ao longo do desfile.

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Inspirada no universo do terror e das assombrações, a escola transformou a Marquês de Sapucaí em um verdadeiro Trem Fantasma, apostando em uma estética sombria e recursos visuais marcantes. No entanto, a apresentação não foi isenta de imprevistos. A comissão de frente enfrentou dificuldades com o drone, que caiu em duas exibições, comprometendo parte do impacto da encenação. Já o casal de mestre-sala e porta-bandeira, com uma bela fantasia, teve sua apresentação prejudicada por uma corrente de vento que acabou enrolando a bandeira em uma das cabines.

Apesar dos desafios, a Vila Isabel desfilou com garra. Os componentes cantaram com muita empolgação do início ao fim, ajudando a escola a entregar um desfile bem construído e vibrante. A escola encerrou sua apresentação com um tempo total de 77 minutos.

Comissão de Frente

A Comissão de Frente da Unidos de Vila Isabel no Carnaval de 2025 foi coreografada por Alex Neoral e Marcio Jahú. A apresentação trouxe o tema “O Homem que Enganou o Diabo… Virou Assombração!”, inspirado na lenda de Jack Lanterna, uma figura popular do Halloween. Segundo a tradição irlandesa, Jack Mesquinho foi um homem que enganou o Diabo diversas vezes para evitar pagar sua conta. No entanto, ao morrer, foi rejeitado tanto pelo céu quanto pelo inferno, sendo condenado a vagar eternamente com uma lanterna feita de abóbora iluminada por carvão em brasa.

A encenação destacou a figura do Diabo, representando seu poder infernal e a maldição lançada sobre Jack. Para reforçar o clima sombrio, um tripé representando o inferno acompanhou a coreografia, criando um cenário visualmente impactante e alinhado ao enredo da escola.

A primeira apresentação foi excelente, com todos os efeitos previstos funcionando perfeitamente, incluindo o uso de fogo e drone, recurso também adotado por outras escolas neste ano. Na segunda cabine, a performance transcorreu de forma correta, mas, no final, a abóbora (drone) caiu, o que impactou diretamente a exibição seguinte, já que o equipamento subiu e voltou a cair. Apesar dos imprevistos, a última apresentação transcorreu sem problemas, garantindo um desfecho positivo para a comissão.

Mestre-sala e porta-bandeira

O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da Unidos de Vila Isabel foi formado por Cristiane Caldas e Marcinho Siqueira. A dupla representou a proteção dos passageiros do Trem Fantasma da escola, vestindo uma fantasia inspirada no Olho Grego, um amuleto conhecido por afastar o mau-olhado e atrair boas energias. Também chamado de “Olho Turco” ou “Nazar”, esse talismã tem origens antigas e atravessou diferentes culturas, sendo amplamente associado à proteção contra influências negativas. O figurino do casal foi um dos mais bonitos apresentados este ano.

* LEIA AQUI: Vila Isabel encerra desfile botando o Caldeirão para ferver com alegoria que espanta o medo e celebra a alegria

As apresentações alternaram momentos de excelência com outros de preocupação. A dança foi bastante coreografada e executada com muito vigor pela dupla. No entanto, houve imprevistos: na primeira cabine, uma pequena dobra na bandeira chamou a atenção. Já na segunda cabine de julgadores, uma corrente de vento atrapalhou o desempenho de Cris, resultando no enrolamento da bandeira e comprometendo a apresentação. Apesar disso, o casal manteve a elegância e concluiu sua participação com garra e dedicação.

Enredo

O enredo “Quanto mais eu rezo, mais assombração aparece!” foi desenvolvido pelo carnavalesco Paulo Barros. A escola transformou a Marquês de Sapucaí em um grande Trem Fantasma, levando o público a uma viagem pelo imaginário popular das assombrações, misturando o medo e a diversão do universo do terror. O enredo, criticado no pré carnaval passou de forma coesa e com uma proposta bem clara, inclusive com referências à Câmara Cascudo. Porém, não houve aderência do público, que reagiu de forma passiva à apresentação.

* LEIA AQUI: O trem fantasma da Vila Isabel arrepia e encanta na Sapucaí

O desfile começou com um gigantesco Trem Fantasma invadindo a Avenida, convidando a plateia a embarcar nessa jornada assustadora. A cada setor, novas “estações” revelavam diferentes criaturas do folclore e do imaginário coletivo, como fantasmas, almas penadas, bruxas, lobisomens e figuras icônicas do terror, tanto do Brasil quanto de outras culturas. Entre os destaques estavam personagens como o Boitatá, o Curupira, o Bicho-Papão, além de lendas urbanas e histórias macabras.

A Vila Isabel brincou com os medos de infância e as superstições populares, trazendo um desfile visualmente interessante, com alguns efeitos especiais e referências cinematográficas, ao melhor estilo Paulo Barros. O enredo também destacou a influência do Halloween e a forma como o medo pode ser transformado em entretenimento.

Alegorias e Adereços

A Unidos de Vila Isabel desfilou em 2025 com seis alegorias, todas inspiradas no universo do terror e das assombrações, transformando a Avenida em um verdadeiro Trem Fantasma. Cada carro contou com efeitos especiais que reforçaram a assinatura do carnavalesco. No entanto, alguns desses efeitos acabaram se repetindo ao longo do desfile, gerando uma sensação de déjà vu e não causando o impacto esperado no público. Ainda assim, o acabamento das alegorias foi correto, apresentando poucas falhas visíveis.

* LEIA AQUI: As Baianas da Vila Isabel: Guardiãs Espirituais do Carnaval de 2025

O Abre-Alas, intitulado “Embarque nesse Trem da Ilusão”, representava uma locomotiva sombria repleta de caveiras e fantasmas, remetendo aos brinquedos de parque de diversões, o melhor momento foi a presença de Martinho da Vila como o grande maquinista. O efeito sonoro emitido pela alegoria nos primeiros setores do desfile foi muito alto, sendo difícil ouvir o samba. Em seguida, veio “Fogo do Boitatá e Vento de um Saci-Pererê”, com um grande Boitatá incandescente na dianteira e um Saci em meio a um redemoinho na parte traseira.

A terceira alegoria, “A Noite dos Vampiros”, trouxe uma ambientação gótica com caixões, morcegos e figuras vampirescas, evocando o clássico imaginário dos vampiros. Já “Quem Tem Medo de Bicho-Papão?” representou os medos infantis, com um grande quarto onde sombras e criaturas assustadoras ganhavam vida. O desfile seguiu com “O Caldeirão Vai Ferver!”, reunindo personagens como bruxas, zumbis, espantalhos e outras figuras do Halloween, celebrando a diversão do terror.

Fantasias

O conjunto de fantasias apresentado por Paulo Barros foi o grande destaque do desfile da Vila Isabel. O carnavalesco apostou em alas volumosas, coloridas e de leitura extremamente clara, uma de suas principais marcas. Além do excelente acabamento, o figurino dos componentes trouxe soluções criativas que chamaram a atenção ao longo da Avenida, tornando a apresentação visualmente impactante.

Entre os destaques, estiveram a ala 8, “Yacuruna”, inspirada na criatura mítica amazônica, a ala 10, “Rodeiro”, com uma representação marcante de seres fantasmagóricos, a ala 18, “Lobo Mau”, que trouxe um olhar sombrio sobre o clássico personagem dos contos de fadas, e a ala 23, “Beetlejuice”, referência icônica ao universo do terror. A combinação de criatividade, volumetria e riqueza de detalhes fez com que as fantasias fossem um dos pontos altos do desfile.

Harmonia

A sintonia entre o intérprete Tinga e o Mestre de Bateria Macaco Branco prova, ano após ano, que sempre há espaço para evolução. O carro de som da Vila passou de forma impecável, com uma execução afinada e envolvente. A introdução do samba, enriquecida pela participação de uma sanfona, trouxe um charme especial e um toque único à apresentação. O único senão, foi o início muito acelerado, mas que foi corrigido ao longo da apresentação.

Tinga, com seu vigor e energia de sempre, impressionou mais uma vez. O intérprete comandou o desfile com maestria, demonstrando carisma e técnica impecáveis. Os elogios também se estendem à swingueira de Noel comandada por Mestre Macaco Branco, que encantou o público com várias paradinhas, incluindo uma coreografada na cabeça do samba, agregando ainda mais dinamismo à apresentação.

Esse desempenho musical de altíssimo nível contagiou a comunidade, que cantou o samba com extrema empolgação. Apesar de alguns momentos menos explosivos, no geral, a obra foi interpretada com entusiasmo por todos os componentes.

Samba-Enredo

O samba composto por Raoni Ventapane, Ricardo Mendonça, Dedé Aguiar, Guilherme Karraz, Miguel Dibo e Gigi da Estiva passou pela avenida de forma segura, mesmo criticado no pré-carnaval, ele foi sustentado pelo desempenho harmônico e pela comunidade. Um destaque especial vai para o verso “Silêncio, ao som do último suspiro vai chegar”, logo após o refrão do meio, que foi cantado com muita força, assim como todo o refrão principal.

Evolução

A evolução da Vila Isabel se manteve constante ao longo de todo o desfile, sem grandes problemas aparentes. As alas atravessaram a Avenida com muita empolgação e alegria, destacando-se pela espontaneidade, um dos pontos altos da apresentação. No entanto, em alguns momentos, especialmente durante a exibição da bateria nas cabines dois e três, a ala que vinha à frente seguiu adiante antes do tempo, causando um pequeno espaçamento no cortejo.

Outros Destaques

O desfile contou ainda com alguns momentos especiais, a começar pelo esquenta poderoso com “Zé do Caroço” e o samba exaltação da escola. A presença de Sabrina à frente da bateria swingueira de Noel é um acontecimento, a japa atravessou a avenida representando a “Fonte de Alegria”, o público acompanhou com empolgação a passagem da rainha.

Técnico, Salgueiro tem plástica de qualidade e faz desfile de excelência para brigar em cima

Depois do quarto lugar em 2024, o Salgueiro mostrou em 2025 uma Academia mais madura em um desfile que abusou da técnica,sem deixar muitos parâmetros para perda de pontos. Com plástica de qualidade nos carros, apesar de pequenos detalhes de falhas de acabamento, a escola passou muito tranquila na pista com força em alguns quesitos que já vem muito bem ha alguns anos, como s bateria, casal e harmonia (canto da comunidade). Ótimos figurinos do carnavalesco Jorge Silveira e uma estreia sem sustos, mas com bom funcionamento da proposta do coreógrafo da comissão de frente, Paulo Pina, fazem com que o salgueirense possa finalmente estar mais esperançoso na apuração da quarta-feira de cinzas. Enredo e samba também passaram bem, inclusive, melhor que o ano passado. Com o enredo “Salgueiro de Corpo Fechado”, a Academia do Samba encerrou seu desfile com 78 minutos.

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Comissão de frente

Paulo Pina fez sua estreia no Salgueiro levando para a Sapucaí uma comissão com 30 integrantes que se revezavam na coreografia. O coreógrafo também trouxe um elemento cenográfico representando o próprio terreiro ancestral do Salgueiro. A cenografia era inspirada em um tabuleiro de Ifá, no qual são realizados os jogos de búzios, com referências a arte africana em todo seu entorno.

* LEIA AQUI: Matriarcas do samba, baianas do Salgueiro encarnam rezadeiras

Nas laterais traseiras, um “gongá”, um altar com divindades e elementos de proteção, alegoria de qualidade estética de bom tamanho favorecendo a visualização da comissão. Na coreografia de deslocamento, danças mais tribais, a partir de Marabô que abre os caminhos para o Salgueiro. Em seguida, estes componentes sobem no elemento, seguem na dança, até que acontece a primeira transformação, quando os “marabôs” dão lugar ao matriarcado com as mães de santo benzendo o lugar com ervas na mão.

* LEIA AQUI: Sou eu malandragem de corpo fechado! Última alegoria do Salgueiro retrata Zé Pilintra

No terceiro momento, o terceiro elenco traz elementos do carnaval como casal de mestre-sala e porta-bandeira (não o oficial obviamente) e rei momo, além de Xangô, o padroeiro do Salgueiro que é erguido com o carro tendo efeitos de fogo.

Mestre-sala e porta-bandeira

Elevando o pavilhão, o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira do Salgueiro, Sidclei Santos e Marcella Alves, vestiram a fantasia “De corpo Fechado”. Em um corpo-armadura simbolizam a proteção da alma salgueirense. A dupla representou o poder de imantar e resguardar o Salgueiro. nosso. A indumentária trouxe ainda assentamentos individuais para Xangô e Iansã, dois orixás guerreiros, dando força para a narrativa da criação de fé, que protege e nutre no sujeito o desejo para a realização de seus objetivos, enfrentando
os percalços e os inimigos.

* LEIA AQUI: Maculelê e Caxambu: O Salgueiro Exalta a Cultura Negra na Avenida

Na dança, o casal apostou em um bailado mais tradicional com destaque, mais uma vez, para os giros da porta-bandeira que os sustentou em sequências bem grandes, com uma intensidade bem sobrea e equilibrada. Já Sidclei preencheu bem o espaço com um riscado bem em consonância com a porta-bandeira. Uma dança bem correta, sem incidentes, dentro de tudo aquilo que é pedido para o casal, não tendo aparentemente requisitos para que o jurado não lhes atribua a nota máxima.

Enredo

Com “Salgueiro de Corpo Fechado” Jorge Silveira levou para a Sapucaí um apanhado com os rituais de fechamento do corpo. Dividido em 6 setores, na abertura, o Salgueiro trouxe elementos de proteção que evocaram a ancestralidade e os saberes religiosos de sua própria comunidade. O território do Morro, que deu origem à escola de samba entrou como um lugar rico de manifestações culturais e religiosas. Em seguida, a escola navegou por ritos de fechamento de corpo no Império Mali, território que ficou conhecido através dos séculos não só por sua riqueza material, mas por sua forte espiritualidade.

* LEIA AQUI: No abre-alas, a força do passado: Salgueiro celebra sua herança afro

O terceiro setor falava de como a religiosidade nordestina absorveu série de práticas e saberes formados durante o período colonial e abordou também as crenças religiosas populares presentes a partir do cangaço nordestino. O quarto setor abordou as florestas do Norte e Nordeste destacando elementos das culturas indígenas relacionados com a busca pelo fechamento corporal. Em seguida, o Salgueiro destacou práticas que buscam o fechamento de corpo da cultura candomblecista.

A Academia do Samba encerrou seu desfile com a Umbanda reunindo ritos e práticas cruzadas de diversas outras etnias como devoção a santos, entidades e orixás africanos na busca pelo fechamento corporal. A história foi muito bem contada a partir dos carros, mais do que nas fantasias, ainda que a leitura dos figurinos fosse satisfatória. Enredo bem redondo com aquilo que foi prometido no abre-alas e no enfoque um pouco mais aberto que o Salgueiro queria dar ao tema.

Alegorias e Adereços

No geral, um trabalho destacado do carnavalesco Jorge Silveira, com bom gosto sobriedade, mas com algumas pequenas falhas de acabamento. O Salgueiro saudou no Abre-Alas todas as suas ancestralidades. Na missão de fechar o corpo, cumpriu ritos presentes nas religiões de matriz africana. Na frente do carro, estava a figura de um preto-velho, detentor de toda a sabedoria ancestral e um grande defumador na frente do carro.

O primeiro tripé “Sou Herança dos malês” tinha cavalos muito bonitos na frente, mas demonstrou problemas de acabamento como ferro a mostra no pescoço do cavalo e desgaste na torre que vinha acima do carro. No segundo carro, seguiu o intuito do primeiro, mas agora evocando Xangô, padroeiro da escola, com quem a agremiação tem uma íntima ligação. Ocupando o centro da alegoria, a imagem do orixá foi representada guardada em todas as direções por representações de Exu Pimenta.

A terceira alegoria do Salgueiro trouxe na arquitetura do carro, o casario colonial que remete às construções do período colonial, trazendo ainda elementos presentes nas igrejas, como velas, altares, ostensórios, mostrando a opressão da Igreja e também objetos de proteção que eram usados por católicos, representando assim o sincretismo religioso que permitiu que os povos escravizados seguissem professando sua fé.

O quarto carro, “A Fé que habita o sertão” mostrou essa amálgama presente no cangaço, surgida de crendices e tradições seculares que foram sendo ressignificadas ao longo do tempo, reafirmando a mística crença de que os cangaceiros tinham o corpo bem fechado, trazendo consigo toda a ancestralidade da fé brasileira. O ambiente seco foi representado não só pela vegetação típica da região, mas pela grande carcaça de um boi que se estendeu por toda a alegoria, que era muito divertida e irreverente.

O quinto carro mostrou os ritos de origem indígena para fechamento do corpo. A geometria e as esculturas presentes na alegoria se inspiram nos elementos presentes em cultos do catimbó-jurema. Entre eles, o torpor dos cachimbos dos mestres catimbozeiros. Alegoria de estilo mais rústico e com excelente uso das composições. Mas teve problema de quebra em um de seus elementos em uma barra na parte de cima.

O último carro trouxe o processo de iniciação no Candomblé como um dos ritos mais importantes da religião. No carro havia representações de Iaôs, inspiradas nas obras do pintor argentino Carybé. Em meio a essas cabeças, o carro também trouxe uma quartinha, objeto geralmente feito de barro ou porcelana, com um formato que remete à criação humana. Em destaque principal, os elementos do carro remetiam à simbologia do soberano, por isso, dois opaxarôs, que mostram a ligação da criação do mundo e os caminhos atravessados pelo orixá, assim como um igbá, nome do recipiente sagrado onde
são assentados os objetos de culto à divindade. Uma lua com a figura de São Jorge vinha no final acima do carro. E a maior surpresa foi o primeiro casal que depois da dança veio no último carro em local destacado.

Fantasias

Jorge Silveira teve um apuro muito grande com o conjunto de fantasias do Salgueiro, imprimindo o seu estilo, ainda que os figurinos tivessem um pouco menos leitura do que os carros. Mas, com muita qualidade de acabamento, bom uso das cores, destacando o vermelho e branco da Academia onde era possível, mas sem se fazer refém e se utilizando da paleta de cores dentro do que cada setor pedia. Destaque para a ala de passistas veio com a fantasia “Com o diabo no corpo” , em uma bonita fantasia no vermelho e preto, representando o intuito dos cangaceiros que se ligaram também com o profano como arma de defesa.

Harmonia

O Salgueiro teve um bom canto da comunidade, como já é esperado da Academia do Samba. Os componentes mantiveram uma canto regular por todo o desfile, até mesmo no final quando a obra aumentou um pouco seus BPMs (batidas por minuto). O carro de som, comandado por Igor Sorriso, em sua estreia no Salgueiro teve um desempenho muito satisfatório em relação ao samba, aproveitando das nuances melódicas dele com o intérprete oficial realizando boas vocalizações, terças, enquanto o restante das vozes de apoio seguiam uma linha melódica mais reta. Bom trabalho do carro de som que se mostrou muito bem ensaiado e preparado.

Samba-Enredo

O samba é de autoria de Xande se Pilares, Claudio Russo, Betinho de Pilares, Jussara, Jefferson Oliveira, Miguel Dibo, Marcelo Werneck e W Corrêa. A obra foi muito valente e teve características muito intrínsecas ao estilo que o Salgueiro gosta de levar para a Sapucaí. Melodia de fácil assimilação, com alguns molhos como o refrão do meio “Tenho a fé que habita o sertão” que tem algumas características bem particulares, com campo harmônico que não é de forma tão comum levado para a Sapucaí.

O andamento foi para frente, como gosta a “Furiosa”, mas permitiu que as batidas “bem macumbadas”, “de curimba”, fossem produzidas na obra como algumas bossas no refrão principal, no “macumbeiro, mandigueiro”. Na parte final do desfile foi perceptível uma elevação da velocidasde do andamento, que nao teve grandes efeitos negativos a rítmica da bateria. Não foi um sacode, mas a obra passou satisfatoriamente.

Evolução

A evolução do Salgueiro foi excelente, com muita fluidez e técnica a escola foi tomando a pista, realizando as suas apresentações com muito tranquilidade, sem apresentar buracos, ou mesmo grandes espaçamentos, saiu da Marquês de Sapucaí com 78 minutos sem correria ainda com a bateria brincando um pouco nos últimos setores. Correta, a escola não apostou muito em alas coreografadas, mas na espontaneidade do componente e a relação que o Salgueirense tem com essa temática. Tudo pareceu muito natural. Fez com excelência e perfeição.

Outros destaque

Antes do desfile Igor Sorriso relembrou Quinho, fazendo em conjunto com o público o “Arrepia Salgueiro”. Xande de Pilares, um dos autores do samba, cantou “Erga sua cabeça” no esquenta e, junto com Igor Sorriso, o ponto “adorei as almas”. A bateria “Furiosa”, dos mestres Guilherme e Gustavo, representou “Jesuíno Brilhante”, uma das figuras mais marcantes do sertão nordestino e considerado o primeiro cangaceiro da história brasileira. Fizeram bossas com utilização do atabaque e de xaxado. A rainha Viviane Araujo veio de “carcará” com uma fantasia com detalhes em led.

Do Orun, Laíla comandou! Beija-Flor honra o mestre, faz desfile avassalador e se credencia ao título

A Beija-Flor de Nilópolis foi a segunda escola a pisar na avenida na segunda noite de desfiles do Grupo Especial e emocionou a Sapucaí com uma homenagem exuberante ao maior personagem de sua história, Laíla. Do Orun, o mestre pareceu comandar sua comunidade rumo a um desfile avassalador, como há tempos a escola não realizava. A apresentação seguiu os moldes da era em que Laíla ajudou a construir a identidade da Beija-Flor: a simbiose perfeita entre emoção e técnica. O famoso “rolo compressor nilopolitano” se fez presente, com uma escola coesa, vibrante e compacta. O conjunto visual criado por João Vitor Araújo foi imponente e honrou as características da Deusa da Passarela, garantindo um espetáculo à altura do homenageado.

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Além da força do enredo e da excelência plástica, o desfile também marcou a despedida oficial de Neguinho da Beija-Flor do comando do carro de som. O intérprete, no entanto, já adiantou que voltará no sábado das campeãs. E pelo o que a escola apresentou, não há como discordar dele: a Beija-Flor se colocou como forte candidata ao título e deixou a Sapucaí sob gritos de “é campeã”, tendo a melhor comunicação com o público até então.

O único senão foi uma falha na última alegoria, onde a faixa com a frase “Do Orun, olhai por nós” acabou se enrolando, impedindo sua leitura completa.

A Beija-Flor apresentou o enredo “Laíla de Todos os Santos, Laíla de Todos os Sambas”, desenvolvido pelo carnavalesco João Vitor Araújo. O tema homenageou Luiz Fernando do Carmo, o Mestre Laíla, um dos personagens mais importantes da história da escola e do carnaval. A apresentação se encerrou aos 76 minutos.

Comissão de Frente

A Comissão de Frente, coreografada por Jorge Texeira e Saulo Finelon, apresentou o conceito Terreiro de Laíla, uma encenação simbólica que conectava o homenageado à espiritualidade e à cultura do samba.

Tendo Exu como figura central, os bailarinos representaram entidades espirituais e guardiões da fé, recriando um terreiro sagrado onde Laíla era evocado para reviver sua trajetória. Com passos marcantes e elementos cênicos, como pontos riscados no chão, a performance exaltou o legado do mestre do carnaval e sua presença eterna na história da Beija-Flor.

* LEIA AQUI: Beija-Flor de Nilópolis revive “Ratos e Urubus” em um dos momentos mais emocionantes do Carnaval 2025

A apresentação começou no chão, com uma coreografia forte e o figurino como aliado. Em seguida, os bailarinos subiam no tripé, e uma sequência de efeitos cênicos intensificava a dramaticidade do número: labaredas surgiam, velas ascendiam no palco e no tripé, que, adornado com ebós e guias, se transformava em um altar. Nele, imagens de santos emergiam de tambores, enquanto um menino representando Laíla surgia em cena. Os tambores com LED exibiam chamas e projeções do próprio Laíla, criando um espetáculo visual emocionante. Foram quatro apresentações impecáveis, levando o público ao êxtase em todas elas.

Mestre-sala e porta-bandeira
O casal Claudinho e Selminha Sorriso, referência no carnaval carioca, representou no desfile de 2025 o conceito “Odu do Destino – A Confirmação do Ori Ancestral”. O figurino trouxe o branco como cor predominante, simbolizando luz e serenidade. Selminha representou o tabuleiro Merindilogun, sistema oracular de adivinhação, enquanto Claudinho incorporou a queda dos búzios (kauris), reafirmando a importância da confirmação do destino pela força espiritual.

As apresentações seguiram a linha clássica que consagra o casal, trazendo movimentos precisos e cheios de elegância. A dança incorporou passagens marcantes do samba, como no trecho “dobram atabaques no quilombo Beija-Flor”. A sintonia e a sincronia entre eles foram evidentes.

Em alguns giros, Selminha ajustou a condução da bandeira para manter o controle absoluto do pavilhão, sem comprometer a limpeza dos movimentos, demonstrando sua habitual técnica e experiência.

Enredo

A Beija-Flor de Nilópolis prestou homenagem a Laíla, um dos maiores diretores de carnaval da história, responsável por transformar a escola e influenciar toda a estética dos desfiles. O enredo de autoria do carnavalesco João Vitor Araújo celebrou sua genialidade, sua paixão pelo samba e sua conexão com a ancestralidade e espiritualidade.

* LEIA AQUI: Emocionada, a comunidade da Beija-flor de Nilópolis em redenção no desfile que homenageia Laíla

O carnavalesco optou por dividir a narrativa em seis setores diferentes que representaram diferentes facetas de sua trajetória, o desfile percorreu sua relação com os orixás, especialmente Xangô e Oyá, sua visão inovadora sobre o carnaval e o impacto de seu legado. A escola também exaltou sua liderança na Beija-Flor e seu papel na revolução técnica dos desfiles, reforçando a identidade da comunidade nilopolitana.

Desde seu anúncio, o enredo despertou grande atenção no mundo do samba, especialmente na comunidade da Beija-Flor, que ansiava por uma narrativa que dialogasse diretamente com sua história. Falar de Laíla não era uma missão fácil, mas tudo foi construído de forma coesa, garantindo um entendimento imediato. Isso resultou em uma comunicação poderosa com o público, que se conectou profundamente com a homenagem.

Alegorias e Adereços

A Beija-Flor de Nilópolis apresentou alegorias impactantes para homenagear Laíla, exaltando sua espiritualidade, genialidade e influência no carnaval. Cada carro retratou um capítulo de sua trajetória, combinando símbolos religiosos, culturais e comunitários em uma narrativa visual marcante.

Pelo segundo ano consecutivo, o carnavalesco João Vitor Araújo demonstrou pleno entendimento do que a comunidade gosta, entregando um desfile exuberante, com imponência, fácil leitura, um uso primoroso das cores e acabamento impecável.

O grande ápice do desfile foi a escultura de Laíla, fiel à sua imagem e profundamente emocionante. O único ponto negativo ficou por conta do último carro: a faixa “Do Orun olhai por nós” acabou se enrolando, impedindo que fosse vista com clareza.

O 1º carro, “Xangô Me Guia”, abriu o desfile exaltando Xangô, orixá da justiça e protetor do homenageado, com seu machado duplo e uma cenografia imponente, o símbolo da escola teve destaque e remeteu o Beija-Flor brilho de fogo do desfile campeão de 2008. Em seguida, o 2º carro, “Ninguém Tem Mais Fé do Que Eu”, representou a forte espiritualidade de Laíla, misturando elementos das religiões afro-brasileiras e cristãs. O 3º carro, “Sabedoria que Valida o Protagonismo da Negritude”, celebrou o compromisso do carnavalesco com a valorização da cultura negra, destacando a resistência e identidade do samba. A iluminação foi a grande aliada dessa alegoria, quando as luzes da Sapucaí se apagavam, ela brilhava.

O desfile seguiu com o 4º carro, “Maestro Regente de Nossa Gente – A Perfeita Simbiose Entre o Erudito e o Batuque Popular”, ressaltando sua genialidade musical e sua capacidade de unir sofisticação técnica e tradição. O tripé, “Odoyá, Iemanjá! – O Cumprimento da Promessa”, trouxe um agradecimento a Iemanjá, simbolizando uma promessa feita por Laíla em vida.

O 5º carro, “Vem Comandar Sua Comunidade”, destacou seu papel como líder e referência na Beija-Flor, com um relicário repleto de símbolos da história da escola, foi sem dúvidas o momento mais emocionante do desfile. Encerrando o desfile, o 6º carro, “O Cristo Preto Me Fez Quem Eu Sou”, fez referência ao histórico desfile de 1989, trazendo a imagem de um Cristo negro e um encontro simbólico entre Laíla e Joãosinho Trinta, eternizando o legado dos dois mestres. Nele, a faixa central não conseguiu ser lida com clareza, comprometendo a execução final.

Fantasias

Um exemplo de como vestir uma escola de samba com luxo e volume, sem comprometer a evolução dos componentes. O carnavalesco João Vitor Araújo reafirmou seu nome entre os grandes da nova geração, entregando um conjunto de fantasias que remeteu aos tempos áureos da Beija-Flor, mas com uma estética renovada e cheia de identidade.

As alas impressionaram pelo acabamento primoroso e pela leitura clara do enredo. Um dos grandes destaques foi a ala das baianas, que representou Oyá com esplendor exuberante e saias amplas e ricas em detalhes. Outras alas também chamaram atenção, como: ala 10, “Negras Poderosas – Matriarcas de Ébano”, ala 23, “A Apoteose do Cisne” e ala 24, “Comunidade Beija-Flor – A Nação do Griô”.

O trabalho cuidadoso no figurino garantiu que a escola brilhasse sem perder fluidez, provando que é possível unir imponência e funcionalidade na avenida.

Harmonia

Um verdadeiro espetáculo de Nilópolis e de todo o departamento musical da escola, a harmonia da Beija-Flor foi um dos grandes destaques do desfile. O carro de som brilhou com a presença luxuosa de Neguinho da Beija-Flor, que se despediu da avenida em seu último desfile oficial pela agremiação. Desde o esquenta até o final, a emoção tomou conta de todos. Ao lado dele, Nino do Milênio e Leozinho Nunes garantiram a sustentação necessária para que Neguinho conduzisse o samba com maestria.

A bateria, sob o comando dos mestres Plínio e Rodney, teve um papel fundamental na sustentação do samba e no reforço ao canto da escola. Tradicionalmente conhecida por desfilar de forma mais reta, desta vez apresentou uma sequência de bossas impressionantes, além de um grande paradão, que destacou ainda mais a potência vocal da comunidade.

Aliás, a comunidade teve um protagonismo absoluto no cortejo. O famoso “rolo compressor” da Beija-Flor voltou de forma avassaladora, com todas as alas atravessando a avenida com o samba na ponta da língua.

Samba-Enredo

O samba-enredo da Beija-Flor, composto por Romulo Massacesi, Junior Trindade, Serginho Aguiar Centeno, Ailson Picanço, Gladiador e Felipe Sena, já era um sucesso em Nilópolis antes mesmo de ser oficialmente escolhido. Na avenida, confirmou sua força e manteve um alto rendimento do início ao fim, impulsionado pela entrega da comunidade e pela potência do carro de som.

Com uma melodia envolvente e versos marcantes, o samba brilhou especialmente nos trechos que antecedem o refrão principal e, claro, no próprio refrão, que ecoou de forma arrebatadora na Sapucaí: “Da casa de Ogum, Xangô me guia, da casa de Ogum, Xangô me guia, dobram atabaques no quilombo Beija-Flor, Terreiro de Laíla, meu griô.” A obra se mostrou perfeita para embalar a homenagem a Laíla, unindo força, identidade e emoção em cada verso.

Evolução

O diretor de Carnaval, Marquinho Marino, solucionou os problemas de desfiles anteriores e conduziu a Beija-Flor a uma evolução quase impecável. Apesar da grandiosidade da escola e de seus imponentes carros alegóricos, o desfile transcorreu de forma fluida, sem grandes paradas e com alas extremamente compactas.

A apresentação equilibrou técnica e emoção na medida certa. Os componentes atravessaram a avenida com espontaneidade, entrega e energia, transmitindo a garra característica da comunidade nilopolitana.

Outros Destaques

A frente da Bateria Soberana, Lorena Raissa esbanjou carisma e samba no pé, grávida de seu primeiro filho, foi um momento especial. Além dela, a Beija-Flor contou com outro grande nome de sua história: Raissa de Oliveira, eterna rainha da escola, que desfilou com a imponência de sempre, reafirmando sua conexão com a comunidade nilopolitana.

No primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, a homenagem a Laíla ganhou ainda mais emoção com a participação especial de Pinah, símbolo da escola e grande referência do carnaval, e de Luiz Cláudio, filho do homenageado, que acompanhou de perto a apresentação de Claudinho e Selminha. Momentos que reforçaram a grandiosidade do tributo ao mestre e fizeram da passagem da escola pela avenida um espetáculo ainda mais memorável.

Tijuca tem samba e trabalho primoroso de fantasias como destaque, mas passa por problemas de evolução

A estreia de Edson Pereira trouxe uma escola com boas soluções estéticas, principalmente nas fantasias, que tinham excelente apuro estético, acabamento impecável, desenvolvimento de detalhes, materiais de qualidade e uma leitura satisfatória. O samba, muito elogiado no pré-carnaval, passou muito melhor que nos ensaios técnicos, com grande domínio de Ito Melodia e um canto excelente da comunidade do Borel. Porém, a escola pecou em evolução, apresentando buracos em mais de um módulo e em vários momentos do desfile. A comissão de frente mostrou excelentes soluções, mas o casal de mestre-sala e porta-bandeira foi irregular em algumas passagens. A Tijuca também exibiu qualidade visual em seus carros alegóricos, alguns imponentes como o Abre-Alas, mas com problemas de acabamento que não devem passar ilesos. Com o enredo “Logun-Edé – Santo Menino Que Velho Respreita”, a Unidos da Tijuca encerrou seu desfile em 77 minutos.

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Comissão de Frente

Comandada pelas estreantes na Tijuca Ariadne Lax (ex-Estácio de Sá) e Bruna Lopes (ex-São Clemente), a comissão “Tudo Começa no Orum” trouxe a origem da saga de Logun-Edé no mundo espiritual dos orixás. Os integrantes iniciaram no chão e utilizaram um cenário impressionante com elementos como um vulcão estilizado e um portal em LED, que alternava imagens do orixá com efeitos visuais. Na cena do mergulho no poço de gel azul, as coreografias sincronizadas e o uso do LED criaram um momento mágico. A coroação de Logun-Edé por Oxalá, com uma coroa em formato de pavão, encerrou a narrativa com simbolismo. As fantasias, de alto padrão visual, complementaram a proposta criativa que cumpriu seu papel de introduzir a história.

* LEIA AQUI: Baianas da Tijuca levam o cuidado matriarcal para a Sapucaí

Mestre-sala e Porta-bandeira

O casal Matheus André e Lucinha Nobre representou a conexão entre Orum (mundo espiritual) e Ayê (terra) através de fantasias bipartidas: tons claros acima (Orum) e terrosos abaixo (Ayê), com búzios simbolizando a ligação entre as dimensões. Apesar da qualidade dos materiais e do contraste visual impactante, a coreografia foi conservadora, com momentos de desconexão na primeira apresentação. Lucinha, conhecida por suas bandeiradas vigorosas, pareceu menos energética, e um erro na enrolação da bandeira no quarto módulo pode custar décimos na avaliação.

* LEIA AQUI: Entre o Borel e a Avenida: Logun-Edé na Alma Tijucana

Harmonia

Ito Melodia, apoiado por vozes jovens como Tem-Tem Jr e Toninho Jr, liderou um samba potente e bem executado. Superando críticas anteriores sobre notas graves, o intérprete brilhou com domínio técnico e energia, realçando a qualidade da obra. O único ponto de melhoria seria equilibrar melhor as vozes femininas em certos trechos para contrastar com sua potência. A comunidade do Borel, engajada, elevou o canto coletivo, criando expectativas positivas para a nota do quesito.

Enredo

O enredo “Logun-Edé”, há anos aguardado pela comunidade do Borel, conectou a mitologia do orixá (cujas cores coincidem com as da escola) à identidade local. Edson Pereira dividiu o desfile em seis setores, iniciando no Orum e explorando desde o nascimento mítico do orixá até sua consagração no Borel. A narrativa fluida integrou elementos ancestrais e contemporâneos, como a travessia para o Brasil e a juventude da comunidade, reforçando o vínculo emocional com a agremiação.

* LEIA AQUI: Com Oxum de ponta a ponta, Oyá também traz a força feminina na história de Logun-Edé da Tijuca

O primeiro setor retratou a gestação sagrada e o nascimento mítico de Logun-Edé, no Ayê. Em seguida, a Tijuca mostrou Logun-Edé sendo reverenciado pelo seu povo como Príncipe de Ilexá. Na tradição iorubá, para um ser humano tornar-se orixá, deve ser notável em suas características, linhagem e feitos durante sua trajetória. No terceiro setor vimos o Logun-Edé sendo educado por toda uma aldeia em Ilexá, para exercer sua função de guerreiro, defensor e condutor do povo. Logo depois, Edson Pereira apresentou as batalhas de Logun-Edé em defesa de seu povo durante as guerras entre o Império de Oyó e o Reino do Daomé. O quinto setor fala sobre a travessia encantada dos ijexás em direção ao Brasil, com Logun-Edé renascendo no Novo Mundo. A Tijuca encerrou seu desfile com a atualidade de Logun-Edé na juventude do Borel e a sua consagração na Unidos da Tijuca.

Evolução

O ponto mais frágil do desfile. A escola apresentou espaçamentos frequentes, principalmente entre alas e carros alegóricos. No módulo 1, um buraco significativo surgiu entre a ala dianteira do carro “Meus Afoxés” e a alegoria, que teve dificuldades de locomoção. No módulo 2, o problema persistiu em menor escala, e na cabine 2 houve outro buraco próximo ao carro “Refúgio em Abeokutá”. A falta de compactação e a fluidez irregular, com aceleração no final, comprometeram a avaliação.

Samba-enredo

Com autoria coletiva (incluindo Anitta, Luiz Antonio Simas e outros), o samba destacou-se pelo refrão vigoroso (“Logun-Edé!”) e versos poéticos como “Orixá menino que velho respeita”, sintetizando o enredo. A melodia, com contrastes entre graves e agudos, foi bem executada por Ito Melodia e interagiu com o público, amplificada pela bateria “Pura Cadência” (Mestre Casagrande). O trecho “Oakofaê Odoyá” poderia ter ganhado mais destaque com vozes femininas, mas manteve seu impacto.

Fantasias

Um dos quesitos mais fortes. As baianas, como “Sacerdotisas de Ilexá”, misturaram verde, azul-pavão e amarelo-ouro com maestria. Edson Pereira harmonizou as cores da escola em detalhes sem excessos, usando iluminação para realçar texturas (como efeitos led). As fantasias dos componentes da comissão de frente e do “Exército do Daomé” (passistas) foram elogiadas pelo acabamento e criatividade.

Como nas baianas, em outras fantasias, Edson conseguiu incluir o amarelo ouro e azul da escola em diversas fantasias nos detalhes, não ficando cansativo e mesclando bem com diversos outros tons. A paleta de cores foi um destaque assim como o acabamento. Outro ponto positivo, foi que o carnavalesco também soube aproveitar bem a iluminação do sambodromo com algumas fantasias tendo efeito de ded ou se destacando com cores que brilhavam no escuro. Ótimo conjunto plástico.

Alegorias e adereços

O conjunto alegórico da Unidos da Tijuca era formado por cinco carros e um tripé. Edson apresentou carros grandes, com boas soluções estéticas, bom uso das cores da escola, principalmente nos detalhes, com algumas esculturas que era grandes, mas não necessariamente destacadas nos detalhes. Porém, os adornos dos carros em geral eram muito bem feitos, com maiz riquesa de finalização, ainda que alguns tivessem um ou outro problema de acabamento, muito pelo grande tamanho das esculturas.

O Abre-Alas, com dois módulos, trouxe a poder de Oxum sobre o universo e a gestação sagrada de Logun Edé, fruto do seu desejo por Erinlé. Na primeira parte vem Oxum no centro da alegoria na forma de uma majestosa mulher. Já a segunda parte representou a importância de Erinlé para a manutenção e perpetuação da linhagem e a chegada mítica de Logun-Edé ao Ayê. Um carro imponente e grande como gosta o Edson, com muitos movimentos de esculturas. A segunda parte deslumbrante com muito apuro estético, brilhante e com algumas pitadas na cor da escola, mesmo entregando em sua maioria um tom mais amadeirado. O único ponto negativo foi uma quantidade significativa de poeira no chão da alegoria.

O segundo carro “Sou eu, sou eu” trouxe o o príncipe Logun-Edé, herdeiro de Oxum e Erinlé, consubstanciando à sua própria natureza. O terceiro carro “Refúgio em Abeokutá” falou do centro de chegada dos ijexás, após o encantamento de Logun-Edé na guerra, e de sua partida em travessia encantada em direção ao Brasil. Apesar de bonito, o acabamento no rabo do peixe presente na alegoria não era tão bom.

A quarta alegoria “meus afoxés” mostrou a celebração do axé de Logun-Edé, o mais novo dos orixás, por meio de seus afoxés, candomblés de rua embalados pelo ritmo ijexá, sendo liderado por Oxalá, o mais velho dos orixás. A alegoria também pareceu um pouco mais empoeirada no chão da estrutura. O último carro ” O meu Borel” encerrou o desfile com a alegoria representando o Morro do Borel, onde Logun-Edé, como pavão, sempre esteve zelando pelo vigor da juventude. É neste lugar, berço da Unidos da Tijuca, em que o seu axé é imortal. Foi o carro, talvez, com menor qualidade estética, mas que conseguiu ter um bom efeito dentro da iluminação cênica.

Outros destaques

A bateria “Pura Cadência”, de mestre Casagrande, representou o ” Exército de Ilexá” , liderado por Logun-Edé, que resistiu às investidas de Oyó ao seu território e foi um dos últimos a sucumbir às forças do Daomé. Ótimas bossas afros sem precisar de instrumentos diferentes dos corriqueiros da bateria. Os passistas da Unidos da Tijuca vieram com a fantasia “Exército do Daomé” com o Reino de Daomé sendo referenciado com a serpentes ao redor do chapéu do componente, tudo nas cores da Tijuca. Muito bonita.No esquenta Ito cantou o ótimo samba de exaltação “O dia vai chegar” , o “É segredo” e o ótimo” “Obatalá”. Apesar das problemas em evolução, a ala coreografada “Jovens com os passos ligeiros como os da lebre” fizeram passinhos muito legais e tinham carisma.

Freddy Ferreira analisa a bateria da Vila Isabel no Carnaval 2025

Um desfile exemplar da bateria “Swingueira de Noel” da Unidos de Vila Isabel, comandada por mestre Macaco Branco. Um ritmo equilibrado, bem equalizado e com ótima fluência entre os mais diversos naipes foi exibido. Paradinhas com sonoridade bastante integrada ao samba da escola deram brilho musical à bateria da Vila.

Na cozinha da “Swingueira”, uma afinação sublime de surdos ajudou na equalização da bateria da Vila, além de permitir impacto sonoro graças ao peso das marcações. Marcadores de primeira e segunda forma firmes, mas tocando com segurança, além de precisão. Belíssimo trabalho envolvendo as terceiras da Vila Isabel, principalmente nas caprichadas participações nas frases musicais nas bossas. Repiques de boa técnica tocaram juntos de uma consistente ala de caixas de guerra com seu tradicional toque reto e de um naipe potente de taróis com sua genuína batida rufada. Um trabalho muito competente dos médios, adicionando profundidade musical à bateria vilaisabelense.

Na parte da frente do ritmo da Vila, um naipe de cuícas se apreendeu com solidez, ajudando a marcar o samba, contribuindo com um feijão com arroz bem temperado. Uma ala de chocalhos de extrema categoria coletiva tocou de forma uníssona interligados a um naipe de tamborins potente e ressonante. O louvável casamento musical entre tamborins e chocalhos na Vila Isabel foi o ponto alto do belíssimo trabalho envolvendo as peças leves.

Bossas profundamente conectadas à obra da escola do bairro de Noel foram exibidas. Arranjos que se aproveitaram do impacto sonoro provocado pela pressão dos surdos tradicionalmente pesados. Simplesmente sensacional o trabalho dos surdos de terceira fazendo frases musicais dentro das bossas, seguindo com classe e qualidade técnica as variações presentes na melodia para consolidar seu toque. Um conjunto de bossas para componentes dançarem, evoluírem e se sentirem impulsionados pelo grande trabalho de criação musical. A paradinha com sonoridade imitando o som de um trem fez sucesso pela dancinha dos ritmos, sem contar sua ligação com primeiro apelido da bateria da Vila Isabel. Ainda na década de 60, após vencer um concurso de ritmos de baterias no Maracanãzinho, a bateria de mestre Ernesto passou a ser culturalmente conhecida como Locomotiva de Noel, por fazer um autêntico ritmo no miudinho. Importante lembrar que mestre Ernesto que moldou e forjou a identidade musical da bateria da Vila, herdada e preservada pelo saudoso Amadeu Amaral, o grande mestre Mug. A retomada da bossa do trecho “Silêncio” tem um impacto sonoro expressivo, sem contar que o charme do arranjo é subir bem parecido como a bateria da Vila Isabel faz nos seus esquentas do setor 1 desde os tempos de Mug. Um leque de bossas não só conectado ao samba da Vila, mas a própria história musical da bateria.

Um desfile irrepreensível da bateria “Swingueira de Noel” da Vila Isabel, dirigida por mestre Macaco Branco. Um ritmo impactante, com boa pressão sonora do peso dos surdos, mas com bastante equilíbrio foi exibido. A apresentação no último módulo de julgador foi soberba, num cortejo da bateria da Vila que tem tudo pra gabaritar e talvez disputar eventuais prêmios.

Freddy Ferreira analisa a bateria do Salgueiro no Carnaval 2025

Um excelente desfile da bateria “Furiosa” do Acadêmicos do Salgueiro, comandada pelos mestres Guilherme e Gustavo. Um ritmo que contou com uma impactante pressão sonora das marcações pesadas, junto de um conjunto de bossas de musicalidade ímpar, plenamente integradas ao que a obra da Academia do Samba solicitava.

Na cozinha da “Furiosa” foi possível notar uma afinação de surdos bem pesada, totalmente inserida no DNA musical da bateria do Salgueiro. Marcadores de primeira e segunda se exibiram com firmeza, mas de modo seguro. Brilhante o destacado trabalho envolvendo os surdos de terceira do Sal. O brilho musical das terceiras salgueirenses deu um molho bem envolvente tanto em ritmo, quanto nas apresentações caprichadas em bossas. Repiques coesos tocaram integrados a caixas de guerra com boa ressonância e uma ala de taróis de qualidade, dando aquele genuíno molho Furioso ao ritmo da escola branca e encarnada da Tijuca. Atabaques também se fizeram presentes, sendo vitais no belíssimo trabalho das paradinhas. Repiques solistas também desfilaram com Cowbell, uma espécie de agogô de uma só campana (boca), mas com uma sonoridade mais seca e sem a ressonância mais metalizada de agogôs.

Na parte da frente da bateria do Salgueiro, um naipe de showcalhos se exibiu com classe e talento técnico, tocando de forma uníssona junto de uma ala de tamborim eficiente e ressonante. O entrosamento rítmico de tamborins e chocalhos foi um dos pontos altos nas peças leves. Uma ala de cuícas competente mostrou boa técnica, ajudando no preenchimento da cabeça da bateria do Torrão Amado.

As bossas do Salgueiro eram pautadas por uma musicalidade ímpar, aliada a uma boa pressão sonora, proporcionada pela afinação de surdos mais pesada. Os arranjos seguem exatamente o que pedia o samba salgueirense, tanto em melodia quanto também na letra. Destaque para a musicalidade da bossa do refrão do meio com um arranjo que misturou Baião e Maracatu, remetendo ao sertão. Já na segunda do samba, a mais elaborada construção musical arrancou aplausos do público, com direito a toque de atabaques e repiques solistas tocando Cowbell, evidenciando a versatilidade rítmica acima da média da “Furiosa”. O trabalho valioso das terceiras em bossas merece menção musical, pela complexidade e dificuldade de execução, além do inegável talento sonoro.

Um desfile excelente da bateria “Furiosa” do Salgueiro, dirigida pelos mestres Guilherme e Gustavo. Um ritmo salgueirense que apresentou uma impactante pressão sonora de surdos, junto de bossas de musicalidade diferenciada. A apresentação na última cabine de jurados recebeu uma ovação popular, coroando um trabalho de destaque dos irmãos salgueirenses. Ritmistas, diretores e os mestres têm motivos de sobra para retornar com o caminhão de peças para a rua Silva Telles orgulhosos de um grande desfile da bateria “Furiosa”.

Freddy Ferreira analisa a bateria da Beija-Flor no Carnaval 2025

Um desfile muito bom da bateria “Soberana” da Beija-Flor de Nilópolis, sob o comando dos mestres Rodney e Plínio. Uma conjugação sonora valiosa de todos os naipes foi obtida, graças a um ritmo muito bem equalizado e equilibrado. Bossas orgânicas também ajudaram na grande apresentação nilopolitana, graças a um leque recheado de musicalidade intuitiva nos arranjos.

Na cozinha da bateria da Deusa da Passarela, uma afinação de surdos extremamente privilegiada permitiu uma equalização de timbres que proporcionou uma ótima fluidez musical aos mais diversos naipes. Marcadores de primeira e segunda tocaram com segurança, assim como as terceiras imprimiram um balanço envolvente a bateria “Soberana”. Repiques técnicos tocaram de modo coeso junto de um naipe de caixas de guerra com bom volume. O tilintar metálico das tradicionais frigideiras nilopolitanas brilharam. A parte de trás do ritmo também contou com atabaques e agogô de duas campanas (bocas), com participação importante de ambos numa bossa na segunda passada do refrão principal.

Na parte da frente do ritmo da azul e branca de Nilópolis, um naipe de cuícas seguro ajudou no preenchimento da sonoridade da cabeça da bateria da Beija. Assim como um casamento musicalmente valioso entre tamborins e chocalhos foi o ponto alto das peças leves. Chocalhos de grande qualidade musical tocaram entrelaçados a uma ala de tamborins com uma impressionante sonoridade coletiva.

As bossas da bateria da Beija-Flor eram intimamente conectadas à brava canção nilopolitana. Uma criação musical de bom gosto, se pautou nas variações melódicas para consolidar os arranjos, numa lição de intuitividade e um trabalho orgânico de destaque. Os arranjos possuem uma sonoridade que ajudou a impulsionar os desfilantes pela pista, graças à musicalidade dançante das bossas.

Um grande desfile da bateria “Soberana” da Beija-Flor de Nilópolis, dirigida por mestres Rodney e Plínio. Um ritmo bastante equilibrado e com uma sublime equalização de timbres foi exibido. Tudo junto de bossas dançantes e bem integradas ao samba da escola. Uma bateria da Beija-Flor que se apresentou em busca da nota máxima e pensando na melhor evolução possível para sua aguerrida comunidade. Houve ovação popular na bela apresentação no último módulo de jurados, encerrando um desfile poderoso da “Soberana”.

Freddy Ferreira analisa a bateria da Unidos da Tijuca no Carnaval 2025

Um ótimo desfile da bateria “Pura Cadência” da Unidos da Tijuca, comandada por mestre Casagrande. Um ritmo equilibrado, com brilho sonoro das caixas de guerra e bossas bem integradas samba, além de conectadas ao enredo.

A parte de trás do ritmo tijucano exibiu uma afinação primorosa de surdos, junto de marcadores de primeira e segunda precisos. Louvável o belo trabalho dos surdos de terceira do Pavão. Deram balanço fazendo ritmo, assim como nas execuções das bossas. Uma ala de repiques coesa tocou junto de um naipe extremamente acima da média de caixas de guerra. Simplesmente sublime o conjunto sonoro do ressonante toque das caixas da “Pura Cadência”, servindo de base de amparo musical para os demais naipes da bateria.

Na cabeça da bateria da Tijuca, um naipe de tamborins eficiente e funcional fez um bom trabalho, misturando um carreteiro de 2 por 1 e 3 por 1. O toque casou muito bem, impulsionado pela exímia batida das caixas. Chocalhos de grande valor sonoro apresentaram um trabalho de destaque. Cuícas de virtude técnica também contribuíram no preenchimento musical das peças leves com um toque ressonante.

As bossas da Unidos da Tijuca pautavam o toque através das nuances melódicas e do que o belo samba tijucano solicitava. Sempre preocupado com uma condução rítmica de desfile limpa, mestre Casão jogou mais uma vez com o regulamento debaixo do braço, exibindo o musical leque de bossas mais nas cabines julgadoras. Na cabeça do samba, uma bossa com sinal de batida de cabeça do Orixá se aproveitou de tapas ritmados e finalização com molho intenso das caixas e impacto sonoro dos surdos. O toque de Ijexá na segunda passada do refrão do meio era simplesmente encantador, com direito a repiques fazendo alusão musical ao toque do agogô, demonstrando boa versatilidade rítmica. Isso sem contar a bossa da segunda do samba, um Aguerê executado pelos próprios naipes tijucanos, com a sinalização da bossa sendo o arco e flecha de Oxóssi. Muito boa a concepção criativa das bossas tijucanas, bem conectadas ao enredo de matriz africana da escola do Borel.

Um desfile grandioso da bateria “Pura Cadência” da Tijuca, dirigida por mestre Casagrande. Um ritmo com potência sonora permitida pela afinação de surdos de qualidade e bossas bem casadas ao que pedia o samba-enredo tijucano. A exibição no último módulo foi impecável, sendo capaz de garantir a pontuação máxima.