O presidente da Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo, Renato Remondini, o Tomate, celebrou com entusiasmo o sucesso do evento que definiu a ordem dos desfiles para o Carnaval 2026, realizado com presença do público, na noite deste sábado, na Fábrica do Samba. Em entrevista ao CARNAVALESCO, o dirigente exaltou a adesão do sambista ao evento e revelou novidades importantes para os próximos meses, entre elas, uma ação inédita no Dia das Crianças e a data do aguardado lançamento oficial dos sambas-enredo.
Renato Remondini, o Tomate, presidente da Liga-SP. Foto: Reprodução de internet
“A gente teve muito mais gente neste ano do que no ano anterior. Os nossos eventos já começam com sucesso e têm se consolidado como sucesso. O mais importante para a gente é ver o sambista feliz. É um dos nossos pilares, junto com a questão de critério de regulamento, que estamos debruçados nisso e discutindo muito, muito”, afirmou Tomate.
A realização do sorteio com presença do público foi uma inovação implantada para o Carnaval 2025 e aprovada pelos sambistas. A Liga-SP optou por repetir o formato, agora ainda mais estruturado e com maior participação popular, consolidando a iniciativa como um marco do calendário do samba paulistano.
Evento inédito para crianças no mês de outubro
Durante a conversa com a reportagem do CARNAVALESCO, Tomate revelou uma novidade que promete emocionar e envolver ainda mais a comunidade do samba: a realização de um desfile infantil inédito no dia 12 de outubro.
“Em outubro, vamos fazer no dia 12, pela primeira vez na história do carnaval de São Paulo, as escolas e as ligas do Estado, que vão trazer suas escolas mirins para desfilarem no Dia das Crianças. Serão mais de 5 mil crianças carentes que vão ser atendidas com brinquedos, comidas e tudo que merecem. Vamos mostrar a paixão que se chama carnaval”, anunciou o presidente.
O evento será realizado na Fábrica do Samba e contará com a participação de agremiações de todo o estado, reforçando o papel social e formativo do carnaval na vida de milhares de jovens.
Ingressos com desconto e data do lançamento dos sambas
O dirigente também divulgou que a venda dos ingressos para os desfiles do Grupo Especial do Carnaval 2026 já está disponível através do site Clube do Ingresso, com uma condição especial para quem se antecipar. * CLIQUE AQUI PARA COMPRAR O SEU INGRESSO
“A partir deste momento, no site Clube do Ingresso, a gente já começa a vender os ingressos para o Carnaval 2026. Todos os ingressos estão com 50% de desconto. Esse ano, 40 dias antes dos desfiles, não tinham mais ingressos. É bom correr para comprar com desconto”, alertou Tomate.
Outra informação importante confirmada pelo presidente é a data do lançamento oficial dos sambas-enredo para o próximo ano. Os tradicionais minidesfiles, que movimentam a Fábrica do Samba com apresentações ao vivo das obras, serão realizados no dia 7 de dezembro.
Com o sucesso do sorteio, ações sociais programadas e uma organização antecipada, o Carnaval 2026 em São Paulo já começa a tomar forma com grandes expectativas. A Liga-SP mostra que segue trabalhando para fortalecer o espetáculo, valorizar os sambistas e aproximar cada vez mais o público da festa.
Em grande festa na noite deste sábado, na Fábrica do Samba, a Liga-SP definiu a ordem oficial dos desfiles do Acesso 2, Acesso 1 e Grupo Especial para o Carnaval 2026. A entrada do público foi grátis e a casa ficou lotada. Todas agremiações puderam cantar seus sambas no palco. Durante o evento, foi anunciado o início da venda dos ignressos para os desfiles do ano que vem. * CLIQUE AQUI PARA COMPRAR SEU INGRESSO COM 50% DE DESCONTO
SEXTA
1 – Mocidade Unida da Mooca
2 – Colorado do Brás
3 – Dragões da Real
4 – Tatuapé
5 – Rosas de Ouro
6 – Vai-Vai
7 – Barroca Zona Sul
SÁBADO
1 – Império de Casa Verde
2 – Águia de Ouro
3 – Mocidade Alegre
4 – Gaviões da Fiel
5 – Estrela do Terceiro Milênio
6 – Tom Maior
7 – Camisa Verde e Branco
Grupo de Acesso 1
1 – Camisa 12
2 – Vila Maria
3 – Tucuruvi
4 – Mancha Verde
5 – Nenê de Vila Matilde
6 – Pérola Negra
7 – Dom Bosco
8 – Independente Tricolor
Grupo de Acesso 2
1 – Amizade Zona Leste
2 – Imperatriz da Paulicéia
3 – Torcida Jovem
4 – X-9 Paulistana
5 – São Lucas
6 – Peruche
7 – Morro da Casa Verde
8 – Imperador do Ipiranga
9 – Uirapuru da Mooca
10 – Primeira da Cidade Líder
A noite da última sexta-feira teve um grande evento na Zona Norte de São Paulo – mais precisamente no Jardim Japão, bairro em que fica a quadra de uma das mais tradicionais escolas de samba paulistanas. Na data, a Unidos de Vila Maria fez uma série de apresentações: do enredo para o carnaval 2026, intitulado “Do chão que alimenta a culinária que encanta: Brasil um banquete de sabores” e desenvolvido pelo carnavalesco Vinícius Freitas; até o do próprio elenco para o ciclo da folia de Momo – que conta com novos nomes.
A programação começou com um show da Velha Guarda da agremiação. Depois, os tradicionais alusivos da agremiação – “Você Mora No Meu Coração”, hino da escola; e “És Meu Pavilhão”, outro alusivo conhecido em toda a cidade.
Depois, alguns sambas-enredo históricos tiveram vez: “Aparecida – A Rainha do Brasil. 300 Anos de Amor e Fé no Coração do Povo Brasileiro” (de 2017), “A Vila Famosa é Mais Bela, Ilhabela da Fantasia” (2016), “Intolerância Não! Viva e Deixe Viver!” (2002) e “Nos Meus 60 Anos de Alegria – Sou Vila Maria, e Faço a Festa Resgatando do Passado Brinquedos e Brincadeiras de Criança” (2014).
Fotos: Will Ferreira/CARNAVALESCO
Depois da sequência, começaram as apresentações. Primeiro, os novos integrantes da agremiação. Mestre Marcel Bonfim foi empossado como o nome comandante da Cadência da Vila, bateria da escola. Como primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Kadu Andrade e Camila Moreira também receberam um cerimonial especial por parte da Associação de Mestres-Sala, Porta-Bandeiras e Porta-Estandarte de São Paulo (AMESPBEESP). Os três têm passagens marcantes na agremiação verde, azul e branco e o retorno teve muita emoção por parte de cada um deles e de familiares presentes no local.
Quem também foi apresentado foi Vinícius Freitas, novo carnavalesco da instituição. O clã em questão também teve um discurso muito aplaudido feito por Taiane Freitas, coreógrafa da comissão de frente da agremiação (premiada com o Destaques do Ano, votação popular do Estrela do Carnaval, organizado pelo CARNAVALESCO, como melhor comissão de frente do Grupo de Acesso I de 2025) e irmã do novo quadro da escola.
Mas… e o enredo?
Depois das apresentações, todos ansiavam por saber qual seria a temática a ser abordada pela Vila Maria em 2026. Com um vídeo, o enredo foi apresentado. Na película, Vinícius aparece mostrando o projeto em questão para a presidência e, logo depois, integrantes da escola participaram da produção.
Vale destacar que o vídeo deixou claro que uma linha cronológica será evidente, já que o início das imagens tinha a locução afirmando que o Brasil já era um local de fartura alimentícia mesmo antes da chegada dos europeus.
Palavra de quem fez
Ao ser perguntado sobre qual será o destrinchamento do enredo, Vinícius foi detalhista: “É um enredo em que todos vão se encontrar. E é um enredo riquíssimo, também culturalmente falando, pois ele ressalta muito, por exemplo, o quanto a alimentação, o quanto a nossa culinária, o quanto a nossa gastronomia influencia e faz parte da nossa identidade quanto o povo. Isso vem desde a ancestralidade, desde quando o Brasil ainda não era Brasil. Desde então, já havia alimentos nesse solo. A gente parte por toda a miscigenação, também – essa mistura de cores e sabores de todos os povos que passaram por aqui. Aí, finalmente, a gente chega no Brasil brasileiro – que é a nossa maior identidade como povo. É a riqueza dos nossos alimentos em relação ao ritual de se alimentar. São rituais brasileiros a hora do nosso cafezinho, a hora da nossa cerveja, a hora da nossa feijoada. Tenho certeza que todo mundo vai se encontrar na avenida, todo mundo vai encontrar o seu sabor na avenida e vai ser um espetáculo bem grandioso”, prometeu.
Carnavalesco Vinícius Freitas
Se a linha cronológica está bem evidenciada tanto no vídeo apresentado quanto na fala do carnavalesco, ele próprio deixa claro que a parte estética também terá muito esmero: “Com certeza teremos surpresas! Modéstia à parte, como artista, a gente sempre busca essas surpresas. Em relação ao enredo, modéstia à parte, todos verão uma Vila Maria com bastante originalidade e luxo na avenida. É o que a gente preza”, destacou.
Originalidade
Alguns enredos com temáticas semelhantes já foram vistos no Anhembi. No carnaval 2004, por exemplo, que comemorava os 450 anos da cidade de São Paulo e tinha a obrigatoriedade de falar de temas relacionados ao município, X-9 Paulistana (com “Se Vens a Minha Casa Com Deus no Coração. Senta-te à Mesa e Come do Meu Pão) e Águia de Ouro (“Sou Mais São Paulo… Ana Maria Braga Conta 450 Anos da Culinária Paulistana) tinham a gastronomia como temática. Em 2017, o Rosas de Ouro apresentou “Convivium. Sente-se à mesa e saboreie”, contando a história dos banquetes.
Indagado sobre quais serão os diferenciais do desfile da Vila Maria de 2026 em relação aos lembrados pela reportagem e outros tantos, Vinícius também foi bastante explicativo: “Com toda a sinceridade e com toda a humildade, já começa com esse nome. É um nome fortíssimo: ‘Do chão que alimenta a culinária que encanta. Brasil, um banquete de sabores’. Isso aí, modéstia à parte… eu não canso de me arrepiar toda vez que eu falo e ouço. Mas eu sei que o maior diferencial vai ser essa comunidade. Disso eu tenho certeza. Essa comunidade aqui, graças a Deus, abraçou esse projeto com tanta humildade, com tanta força, com tanto entusiasmo, que eu tenho certeza que eles vão ser o maior diferencial na avenida desse espetáculo, desse desfile”, comentou.
Clamor pela arte
Durante a entrevista, Vinícius Freitas aproveitou para falar sobre critérios de julgamento – tema recorrente no universo do carnaval paulistano: “Só esperamos que o carnaval de São Paulo preze pela arte e julgue a arte. Para que ele não faça apenas uma conferência de certo ou errado. Senão, quem perde é o artista. O artista não pode pensar assim: ele tem que apresentar o melhor, ele tem que apresentar espetáculo. Afinal, o que o brasileiro tanto fala é que o desfile das escolas de samba é o maior espetáculo da Terra. E, infelizmente, o critério do carnaval de São Paulo está indo por esse lado. O carnaval é uma competição, mas o título é uma consequência. Você tem que apresentar o melhor espetáculo possível. Você tem que valorizar as pessoas que vão assistir – e elas querem ver coisas bonitas, querem ver criatividade. Não querem ver se está certo ou errado, pasta debaixo do braço. Isso aí, para mim, desculpa o palavreado, chega a ser medíocre. Eu tenho certeza que o carnaval de São Paulo vai, agora, prezar a questão do espetáculo, a questão da criatividade, a questão da arte. É isso que a Vila Maria, com toda humildade, com muito trabalho, vai buscar levar para a avenida”, vociferou.
Ideia
Nomes importantes da Vila Maria são os responsáveis pelo enredo em si. O primeiro deles, obviamente, é Vinícius. Ele, entretanto, citou outras pessoas: “O enredo veio do vice-presidente Marcelo Rocha. Nós nos unimos junto com o meu enredista, para montar esse enredo. Senti que era o momento porque é um enredo leve, é um enredo solto”, destacou.
Quem deu mais detalhes a respeito foi Júlio César Dias Alves, popularmente conhecido como Queijo, diretor de Carnaval e de Harmonia da agremiação: “Na verdade, teve uma ideia do vice-presidente, mas é uma ideia conjunta. Foi uma ideia dos dois, que foram criando essa ideia. A família do vice-presidente teve essa ideia junto com ele e, nesse caminho, tudo foi construído junto com o Vinícius… algumas pessoas foram construindo”, destacou.
Júlio César Dias Alves, popularmente conhecido como Queijo, diretor de Carnaval e de Harmonia da agremiação
Adílson José de Souza, presidente da instituição, confirmou a história: “No término de um carnaval já se é pensado no próximo tema. Nessa discussão de qual seria um tema ideal para a nossa escola, o Marcelo já tinha isso com ele. Apresentamos o tema ao carnavalesco e teve uma aceitação de primeira ordem do Vinícius. Com a técnica dele, com a disseminação de arte que ele tem, ele desenvolveu e montou toda uma estrutura que vai unir essa parte cultural com a parte prática para ter uma resposta do que é o encanto do desfile de carnaval”, refletiu.
Adílson José de Souza, presidente da Vila Maria
Aprovação total
O próprio Queijo destacou a diversidade gastronômica brasileira para defender a temática: “O vídeo mostrou muito o que é o enredo. A gente está falando que a gente adotou alguns continentes para a gente falar da comida cotidiana. Tudo que planta, por aqui, dá. O nosso chão é bem rico no Brasil. Todo mundo olha para o Brasil pela diversidade de alimentos. Tudo isso me encanta pela riqueza que vai ser no dia do Anhembi, vai ser diverso, todo mundo está pensando o que ser que vem por aí. E vai ter uma riqueza múltipla de vários continentes que nós adotamos como uma culinária nossa – que faz sucesso hoje no mundo inteiro”, destacou.
O diretor mostrou-se confiante na disputa do Grupo de Acesso I com a temática: “Se Deus quiser (e Ele quer), é com esse enredo que voltamos ao Especial, porque aqui tem muito trabalho. A gente teve um acerto muito grande no enredo e, agora, é para a gente acertarmos num bom samba. Nossa comunidade, hoje, mostrou que já está todo mundo aí, que a nossa equipe trabalha com os Harmonias, com a diretoria, com todo o elenco da escola – e está todo mundo preparado. É acertar um bom samba e trabalhar. Não tem segredo! O segredo da vitória é trabalhar. Sempre. E aí, se Deus quiser, ano que vem, estaremos lá em cima de novo”, observou.
Adílson também gostou do que virá: “é um enredo muito cultural, um enredo que vai falar da base de um povo, de um país que tem na sua essência a condição de melhores alimentos do mundo. Quando nós falamos que o Brasil é um banquete de sabores, é uma verdade muito grande. Graças a Deus somos privilegiados e vivemos isso. Esse banquete, a cada região, a cada lugar, tem a sua identidade, tem a sua cultura, tem a sua forma de ser. Sofremos influência mundial em relação à culinária. E, hoje, temos nesse Brasil imenso vários pratos, sabores e bebidas que encantam. Todos que ouvirem falar do enredo, de alguma forma, terão na boca algum lugar do nosso Brasil, já que o desfile vai remeter a alguma refeição que foi feita e que ficou marcada na memória, na essência de cada um”, finalizou.
Após estrear em 2025 na Marquês de Sapucaí, conduzindo a Estação Primeira de Mangueira, o carnavalesco Sidnei França segue para seu segundo ano, e, mais uma vez, apresentará um enredo autoral na Verde e Rosa. A agremiação levará para Avenida o enredo “Mestre Sacaca do Encanto Tucuju – O Guardião da Amazônia Negra”, que mergulha na história afro-indígena do extremo Norte do país a partir das vivências de Mestre Sacaca. Em entrevista ao CARNAVALESCO, o artista contou como surgiu a ideia e celebrou ter gabaritado o quesito Enredo neste ano. Veja abaixo o papo.
“Surgiu da busca por uma história que pudesse ser salva do cruel apagamento comumente imposto às figuras populares, bem como da vocação da Estação Primeira de Mangueira de jogar luz à nomes e fatos que expliquem o Brasil e o sentimento de brasilidade”.
O que até agora na pesquisa do enredo mais mexeu com você?
“Até aqui chamou a minha atenção de maneira especial a surpreendente presença da cultura negra no extremo-norte do país, contrariando a percepção errônea de que a Amazônia é homogênea e unicamente habitada pelos povos originários e aculturada pela população indígena”.
Após gabaritar o quesito Enredo o que você sentiu e como é ir para mais um tema autoral na Mangueira?
“É fundamental para um carnavalesco e sua equipe a liberdade de contar histórias de maneira autoral e preservar sua percepção particular e autêntica sobre tudo. Gabaritar o quesito Enredo foi a consequência de um forte trabalho em equipe, onde cada decisão estético-visual respeitou a argumentação proposta desde a sinopse do rnredo até a defesa do projeto perante os julgadores, no chamado livro Abre-alas”.
A Estação Primeira de Mangueira apresenta seu enredo para seu Carnaval de 2026: “Mestre Sacaca do Encanto Tucuju – O Guardião da Amazônia Negra”, que mergulha na história afro-indígena do extremo Norte do país a partir das vivências de Mestre Sacaca. O enredo é assinado pelo carnavalesco da agremiação Sidnei França. E dá início ao triênio do centenário da agremiação.
A Estação Primeira de Mangueira apresenta seu enredo para seu Carnaval de 2026: “Mestre Sacaca do Encanto Tucuju – O Guardião da Amazônia Negra”, que mergulha na história afro-indígena do extremo Norte do país a partir das vivências de Mestre Sacaca. O enredo é assinado pelo carnavalesco da agremiação Sidnei França. E dá início ao triênio do centenário da agremiação.
De origem negra e indígena, cernes da formação do Amapá, Raimundo dos Santos Souza, personagem central da Verde e Rosa apresenta os encantos que viveu no seu território. Ao ser apelidado como Sacaca, uma titulação xamânica, ele navegou pelos rios que cruzam a
região Norte do Brasil, entrando em contato com diferentes populações tradicionais.
Mestre Sacaca tornou-se um personagem brasileiro de profundos saberes sobre o manuseio de ervas, seivas, raízes e elementos que compõem a Amazônia Negra amapaense. Utilizava seus conhecimentos no tratamento de doenças e do cuidado comunitário por meio de garrafadas, chás, unguentos e simpatias. Por isso, também ficou conhecido como “doutor da floresta” em diferentes cidades das terras Tucujus – expressão oriunda de um grupo indígena que habitava essa região, e que atualmente é utilizada para se referir ao povo desse estado.
Para além dos atendimentos e dos pedidos diários de cura, disseminou receitas e simpatias com a publicação de livros e de seus programas em rádios locais. No cotidiano, portanto, promovia a medicina ancestral e também o poder das ervas, manuseando a natureza em um equilíbrio entre ciência e espiritualidade.
Sacaca também foi marabaixeiro (alguém que pratica ou participa do marabaixo, uma manifestação cultural afro-amapaense que combina música, dança e ritual). Participou ativamente da maior manifestação cultural desse estado, e integrou-se ativamente ao carnaval do Amapá, outro importante festejo da região. Foi Rei Momo por mais de 20 anos, além de fundar blocos e escolas de samba do estado. Tornou-se um defensor e estimulador dos tambores da Amazônia Negra.
Nascido em 1926, o Xamã Babalaô – como foi chamado em uma canção póstuma composta por Ricardo Iraguany e Enrico Di Miceli – ainda é presente na memória do povo amapaense. Sua família segue perpetuando seus saberes, conhecimentos e vivências. Sacaca, cujo nascimento se aproxima do centenário, dedicou sua vida à defesa da floresta e das tradições, práticas e culturas afro-indígenas. Por essa razão, a Mangueira, contadora de diferentes histórias brasileiras, celebra essa figura que é uma das caras do nosso país diverso e de dimensões continentais.
“Estamos falando de algo inédito na historiografia da Mangueira: tratar de costumes afro-indígenas. Mesmo no Brasil, muitas vezes ainda predomina uma visão monolítica sobre a Amazônia, com muitas narrativas e personagens ainda inexplorados ou sem ter a devida atenção”, avalia Sidnei França, carnavalesco da Mangueira. “Com sua vocação de contar ‘outras histórias’, a Mangueira vai apresentar Mestre Sacaca, um legítimo representante dessa floresta afro-indígena”, conclui.
Maricá deu nesta nesta sexta-feira um passo histórico na valorização do saber popular ao lançar oficialmente a Universidade Livre do Carnaval. Em cerimônia realizada na quadra da União de Maricá, autoridades, artistas e nomes consagrados do mundo do samba celebraram a criação da primeira instituição brasileira inteiramente dedicada à formação, pesquisa e profissionalização voltada para o maior espetáculo cultural do país: o carnaval.
Nomeado reitor da Universidade, Milton Cunha não poupou palavras ao defender a legitimidade da cultura popular como campo de conhecimento e força econômica.
“O lugar de fala do carnaval no Brasil é da negritude. A partir deles, do talento, que se estruturam as manifestações carnavalescas. A resposta à arrogância da caretice é essa universidade livre. Aqui, os saberes estão equipados em todas as linhas”, afirmou Milton, que também é psicólogo, cenógrafo e comentarista de carnaval, com sólida trajetória acadêmica.
Segundo ele, o novo espaço é mais do que um centro de ensino: é um núcleo de resistência. “A voz hegemônica nos despreza porque quer continuar dona do poder. Mas a gente da cultura popular diz não. Temos o mesmo direito. Devolvemos muito mais dinheiro do que investem na gente. Somos a potência do nosso povo”, declarou, sob aplausos.
Ao lado de Milton, estarão na Reitoria Colegiada da universidade Evelyn Bastos, rainha de bateria da Mangueira, diretora cultural da Liesa e voz ativa na luta pela valorização da mulher negra, e Antônio Carlos “Vovô do Ilê”, fundador do tradicional bloco afro baiano Ilê Aiyê. Evelyn emocionou o público ao relembrar sua trajetória: “Sou nascida em um território onde a escola de samba é amparo de vida. Vi o samba resgatar autoestima. Essa universidade está sendo construída na nossa mente e coração há muito tempo”, disse.
A Universidade Livre do Carnaval de Maricá já nasce com ousadia: oferecerá mais de 60 cursos livres e técnicos, com planos futuros de graduações nas áreas de cenografia, produção cultural, indumentária e outras especialidades que sustentam o carnaval. Também abrigará a Rede Brasileira de Estudos do Carnaval (REBECA), que promoverá pesquisas e intercâmbios acadêmicos sobre o tema.
A criação da universidade é iniciativa da Prefeitura de Maricá, por meio da Secretaria de Cultura e das Utopias. O secretário Sady Bianchin, em tom emocionado, destacou a força do projeto. “É um momento de muita alegria. Estamos concretizando a utopia de uma universidade livre do carnaval. Aqui não somos colônia. Estamos construindo nossas próprias utopias, baseadas em Darcy Ribeiro”, declarou, defendendo uma construção coletiva de saberes vindos das ruas, dos terreiros e dos fundos de quintal.
A primeira-dama de Maricá, Gabriela Lopes, também exaltou o projeto. “É um grande marco da cultura da cidade. Vamos formar pessoas para o futuro do carnaval. O Milton é uma criatura divina, e a Evelyn é inspiração. O carnaval é a maior divulgação do Brasil para o mundo”, afirmou.
Lançada oficialmente em janeiro de 2025, a universidade é mais um passo de Maricá para se afirmar como território do carnaval não apenas na celebração, mas na formação, na economia e no pensamento crítico.
Em participação no programa “Sem Censura”, da TV Brasil, nesta sexta-feira, que foi em homenagem para Ney Matogrosso, o carnavalesco Leandro Vieira, da Imperatriz Leopoldinense, contou como foi a primeira conversa para convencer o artista aceitar ser enredo da escola de samba para o Carnaval 2026.
“Esse desejo é antigo. Não é novidade. Brinco com ele que rondava uma lenda que ele tinha negado. Eu tinha essa vontade. Alguns artistas eu olho e digo que nasceu para ser enredo de uma escola de samba. Como nunca ninguém pensou? Descobri que pensaram e ele não quis. Agora, vi livro, teatro, cinema e pensei que a porteira estava aberta. Tinha o telefone dele, mandei mensagem, passou um tempo e ele me respondeu. Joguei pesado e pedi inicialmente para não me negar o direito de sonhar. Acho que ele ficou constrangido de negar o direito de sonhar para alguém e falou que eu podia sonhar. Ele é tudo. Isso vai enchendo de imagens para além da figura, um desbunde visual”, afirmou Leandro Vieira.
Ney confirmou o papo e disse: “Eu falei que ele podia sonhar. Juntou a fome com a vontade de comer”, disse o artista, feliz com a homenagem de Leandro Vieira e da Imperatriz.
Foto: Reprodução de TV
Batizado de “Camaleônico”, o enredo celebra o artista, a obra e a virtuosidade performática do intérprete de sucessos como “Sangue Latino”, “Rosa de Hiroshima”, “O Vira”, “Homem com H” e “Metamorfose Ambulante”. A entrega da sinopse, onde Leandro Vieira irá realizar a explanação do enredo para os compositores interessados na disputa, será no dia 27 de maio, na quadra da escola, localizada na Rua Professor Lacé, 235, em Ramos. A Verde e Branco será a segunda a desfilar no domingo de carnaval, dia 15 de fevereiro de 2026.
Para celebrar o início do PodCARNAVALESCO SP, a equipe do CARNAVALESCO recebeu a presidente campeã do carnaval, Angelina Basílio, que comanda a Rosas de Ouro desde 2003. No programa, ela conversou sobre diversos assuntos, entre eles o campeonato de 2025. A mandatária da Roseira falou bastante sobre os sinais que recebeu para ter a certeza do título, o crescimento do samba, o fim do jejum após 15 anos, o projeto “Sou Roseira” e outros fatos que culminaram no troféu da agremiação.
A gestora contou que sofreu perseguição da própria família antes do carnaval e teve que ler coisas desnecessárias, mas, apesar disso, tinha certeza do título da Roseira. Angelina também declarou que escolas de samba devem seguir uma linha, sem ficar trocando de presidentes.
“Eu tenho primos na Brasilândia e tive que ler comentários: ‘Esse ano ela derruba a escola’. Eu tinha certeza de que a Rosas de Ouro seria campeã, porque o tempo no espiritual é diferente, e no tempo da escola de samba você precisa perseverar. Não adianta ficar trocando de presidente, tem que seguir uma linha”, disse.
Sinais para o campeonato
Angelina ainda diz que, às vezes, não acredita no título. Em certos momentos, ela acorda e se pergunta se realmente é campeã do carnaval, até pelo tempo sem vencer, visto que a agremiação carrega em seu pavilhão oito estrelas.
“Essa vitória… eu ainda acordo e falo: ‘Você ainda foi campeã, Angelina?’, e depois durmo de novo. Foram longos 15 anos com carnavais belíssimos. A Rosas de Ouro não tem medo de ousar em enredo. Depois de todo esse tempo, não é fácil. Por isso, você deve ficar ligada nos sinais. A mulher tem muita intuição, e é por isso que dá certo em escola de samba”, declarou.
Céu azul e rosa: A emoção do carnaval
Ainda falando em sinais, a presidente comentou sobre o dia do ensaio técnico, em que o céu ficou nas cores da escola justamente na hora de entrar na pista, além do crescimento do samba-enredo desde a sua escolha na final.
“Um sinal lindo foi no ensaio técnico, quando o céu ficou azul e rosa, após as 19h. Outra coisa foi quando o samba-enredo ganhou. Ele tomou forma e a comunidade abraçou. Foi até tema de casamento agora”, contou.
Pé atrás com o enredo, mas depois virou apego
Em um momento de descontração do podcast, Angelina contou que não gostava do tema, mas que foi convencida pelo enredista Roberto Vilaronga. Ele teve que incluir elementos de memórias afetivas para convencer a gestora a aceitar o enredo.
“Eu não gostava desse enredo no começo, mas depois veio o Fábio Ricardo e o Roberto Vilaronga. Fazia tempo que não tínhamos um enredista, e eu falei para ele: ‘Me convença’. Ele brinca até hoje, dizendo que nós iríamos contar a história dos jogos. Eu falei que precisava me remeter a uma lembrança afetiva. O último carro teve peão, bolinha de gude, Luigi, Mário, cubo mágico, batalha naval, Banco Imobiliário… Eles me convenceram”, comentou.
Projeto ‘Sou Roseira’
Outro fato que contribuiu para o título foi o projeto “Sou Roseira”, no qual, pagando um valor pequeno, o participante ganhava carteirinha e camiseta, mas havia ensaios específicos visando uma melhor performance da escola na avenida.
“A gente teve um projeto maravilhoso chamado ‘Sou Roseira’. Eles tinham que assinar ponto e ensaiar de fato. Deu certo, e começaram a cantar muito forte. Eles pagaram 70 reais para ter a carteirinha, que é linda, e a camiseta, que é uma coisa ilusória, mas tinham que ensaiar”, completou.