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Grande Rio esbanja técnica em ensaio de rua marcado pelo entrosamento entre canto e bateria

A Grande Rio fez o seu penúltimo ensaio de rua na noite de sábado, em Caxias. O treino aconteceu na tradicional Avenida Brigadeiro Lima e Silva e contou com a presença da comissão de frente pela primeira vez, que já apresentou a coreografia oficial. Com andamento suave e samba na ponta da língua dos componentes, a comunidade mostrou que a letra não é um problema e cada sílaba da segunda parte, sai com bastante tranquilidade. Do que foi mostrado, a Tricolor está pronta para garantir boas notas nos quesitos harmonia e evolução no desfile que terá como enredo “Nosso destino é ser onça”, dos carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora.

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Fotos: Allan Duffes/CARNAVALESCO

“A minha avaliação deste ensaio é muito boa, porque estamos melhorando a cada semana e a escola está ficando cada vez mais madura. Esse foi o penúltimo ensaio de ensaio de rua, sem contar com o da Sapucaí que, para a gente já é uma prévia do desfile. Então, estou muito satisfeito e feliz com a comunidade. Todo mundo cantando, o pessoal comprou o barulho… É um trabalho que começou meses atrás, agora é sintonia fina, reta final. A escola está quase pronta”, avaliou o diretor de carnaval Thiago Monteiro.

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Não trovejou como estava previsto, tampouco choveu como esperado, mas escureceu porque já eram 21h50 quando começou o ensaio. A avenida decorada para o natal, apresentava simpáticos sinos e flocos de neve, em pleno calor de Caxias. E na pista, não teve gelo. Tudo acabou em fogaréu e depois se transformou em mar de suor, quando a aldeia Grande Rio fez um ensaio para provar que letra difícil não impede a comunidade de cantar. Uma alcateia bem organizada, com adereços de mão e impondo o samba com componentes comprometidos – ferozes – praticamente travestidos de pantera.

Comissão de frente

A começar pela comissão de frente. Primeira participação do quesito no ensaio de rua para o Carnaval 2024 e chegaram com o pé na porta, com direito a coreografia oficial. A coreógrafa Beth Bejani, que assina o trabalho ao lado de Hélio Bejani, explicou que a comissão esteve presente para compor o andamento da escola e deixar o treino completo. Ela ainda acrescentou que será o maior trabalho da carreira deles, mas fez mistério sobre o uso de elementos cenográficos: “O que vamos levar para o desfile é segredo, mas a comissão tem uma transformação. Ela tem dois atos no chão e mais outro ato, que será uma surpresa. Estamos muito felizes porque, sem dúvida, é o maior projeto da nossa carreira. Está muito trabalhoso, mas estamos nos dedicando para que tudo dê certo”.

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Na apresentação, ficou visível que os bailarinos deixaram espaços para interação com algum elemento, mas a coreógrafa não revelou para manter a promessa de surpresa. Mas, aqui está o que foi apresentado: Eles chegam na cabine no meio da segunda parte do samba e iniciam a apresentação com um componente representando uma onça, mas ele salta também com um passo de dança indígena. Depois, vira onça de novo. Os outros bailarinos fazem apoio a esse solo. Inclusive, a dança indígena é muito presente na apresentação. O ato 2, dá a entender a transformação da onça, mas isso só no desfile mesmo para saber detalhes, já que Beth Bejani fez mistério na entrevista. Então, o grupo fecha a onça, fazem uma coreografia e abrem de novo, quando acontece uma pausa, provavelmente para interação com elemento cenográfico. O ato 3, é justamente essa interação, quando a dança passa a ser dependente dessa surpresa que a Beth falou. Mas, a
dança foi muito bem sincronizada, marcada com gritos e um ótimo uso de espaço. Muito promissor.

Mestre-sala e Porta-bandeira

Saindo a comissão de frente, chegou o primeiro casal, Daniel Werneck e Taciana Couto. Eles ganharam a nota 30 no último desfile e perderam um décimo, descartado, na última cabine. Muito aplaudidos pelo público, a leveza do mestre-sala chamou atenção. Os giros suaves da porta-bandeira casam perfeitamente com o bailado de Daniel. Na apresentação os dois investiram em finalizar giros com conexão de mãos, o que deu mostra de puro sincronismo do casal.

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No trecho entre “Kiô! Kiô, kiô, kiô Kiera” até “travestida de pantera”, eles bailam pelo espaço, dando ainda mais movimento à dança. Usam toda a pista e se encontram no meio para o segundo trecho “Kiô! Kiô, kiô, kiô Kiera”, quando apresentam passos de dança indígena. No final, ao início da virada para o refrão principal, Taciana para e Daniel dá um quarto de volta em torno dela, que começa a girar quando ele passa por sua frente. Uma beleza de apresentação.

Evolução

A partir daí um show de andamento em um ensaio que teve 62 minutos de duração. Só na cadência suave do samba, a escola foi no excelente embalo rumo ao final da pista. Adereços de mão deram volume, movimento às alas e preencheu a falta de fantasias. Deu bom efeito visual na pulsação da escola. Não foi identificado buracos, alas emboladas ou qualquer confusão de posicionamento. Foi possível perceber uma escola mais técnica que no ano passado, quando a Grande Ria pediu componentes mais soltos e brincantes, porém a mudança de comportamento não deixou a escola burocrática.

“A proposta é diferente entre você falar de onça e de Zeca Pagodinho. O espírito do enredo passado era algo solto, com irreverência. Esse ano, estamos cantando uma lenda Tupinambá. É onça, é uma fera. Não adianta você falar de pautas importantes com o comportamento do enredo passado, que é diferente da postura do Exu, diferente do Tatalondirá. Tem que ser diferente. E isso nos deixa feliz, porque entendemos que o público e a comunidade perceberam o personagem que eles vão defender”, explicou Thiago Monteiro, diretor de carnaval.

Harmonia

Sobre personagem que os componentes vão defender, um deles é o samba. E o canto está alinhado e uniforme. O destaque fica para as quatro alas seguintes ao carro de som, sem contar com os pandeiristas. Esse setor merece uma estrelinha da diretoria. Quanto ao desempenho, o carro de som jogando o canto para comunidade mostra a segurança da escola em relação ao trabalho realizado no samba, que toda a letra é cantada sem enrolar, apesar da dificuldade da obra.

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Samba-enredo

Trava-língua é só para os haters, porque em Caxias é tranquilo e favorável. O samba é entoado com força, graças ao trabalho didático que foi feito para que versos como “Yawalapiti, Pankararu, Apinajé, o ritual Araweté, a flecha de Kamaiurá” pudessem ser cantados sem nenhum problema. A levada cadenciada da obra também favorece ao canto e, com o carro de som da escola, a missão parece fácil: “O samba pode ser difícil para os outros, mas para nós é tranquilo. Escolhemos essesamba porque confiamos muito no material que temos. Sabíamos que seria tranquilo e não tem nenhuma parte que é incantável. Isso nos dá tranquilidade para saber quem está conosco, tanto o samba quanto quem está cantando ele”, disse Thiago Monteiro.

O cantor Evandro Malandro destacou o trabalho da escola de cantar cada letra e aplicar as pronúncias corretas para a comunidade: “Quando escolhemos o samba, com uma semana já estávamos estudando parte por parte da letra, martelando o segundo trecho, porque não é algo corriqueiro. Trabalhamos bastante e o resultado veio. O início da segunda parte ‘Yawalapiti…’ procuro cantar o mais explicado possível e começamos a trabalhar cada pronúncia com a comunidade. Se a gente não tivesse esse trabalho não íamos chegar ao resultado”, disse o cantor Evandro Malandro.

Bateria

O responsável por dar o ritmo ao samba, mestre Fafá, está trabalhando para recuperar as quatro notas 10, já que no último carnaval, levou um 9,9 descartado. Ele contou que, no curso para julgadores de bateria, ficou clara como será avaliação e ele já tem a receita para conquistar o décimo que faltou para o 40.

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“Este jurado que nos tirou 1 décimo, foi o mesmo que nos deu 10 nos anos anteriores. Temos que reconhecer quando erramos. Aconteceu uma falha e vamos trabalhar para reconquistar o 10 do jurado. Desde que cheguei, este é o ano que sinto a bateria mais feliz. A melodia do samba ajuda muito na forma que trabalhamos e estamos pulsando”, contou o mestre.

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Sobre o ensaio, Fafá contou que está nos ajustes finais. A apresentação foi daquelas que ele acostumou o público: envolvente. Vai levando no ritmo, balançando, quando a plateia percebe, já está entregue à bateria da Grande Rio.

“Está com 95% para o desfile. Estamos ensaiando demais e em crescente grande. Nosso último ensaio no setor 11 me deixou muito feliz, porque conseguimos o nosso objetivo. Conseguimos filmar e observar de vários ângulos para saber se algo estava saindo errado. Esses últimos ensaios de rua são mistos de sensações. Esse ano, a gente está querendo muito e espero que seja mais um ano de êxito para a bateria”, contou.

Ensaio Técnico

Se o Fafá curtiu o ensaio no setor 11, no dia 3 de fevereiro, ele terá uma experiência com toda a avenida. Isso porque, quis a natureza que as datas dos ensaios fossem mudadas e a Grande Rio fosse deslocada para participar dos testes de som e luz. Sobre ensaiar na Sapucaí com o som oficial do desfile, o diretor de carnaval contou que muda a estratégia. Segundo Thiago Monteiro, muda a forma de ensaiar, o posicionamento da bateria e das alas, mas que a escola vai encarar como um teste, porque é preciso fazer bonito no dia do desfile.

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Mestre Fáfá revelou que será uma alegria a bateria poder ser ouvida pela avenida toda: “Muda bastante coisa ensaiar com o som oficial, porque vamos conseguir fazer tudo o que queremos. Vamos conseguir nos ouvir bem. Para a gente é muito bom, porque o carro que usamos nos ensaios é difícil da escola inteira ouvir. Agora, seremos ouvidos na avenida inteira”.

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E depois do ensaio técnico, será a vez da Grande Rio colocar as fantasias e as alegorias para o jogo, no desfile. A Tricolor de Caxias será a quarta escola a desfilar no domingo de carnaval, 11 de fevereiro.

Fotos: ensaio técnico do Sereno de Campo Grande na Sapucaí

Entregador agredido a chicotadas no Rio vai interpretar João Cândido no desfile do Tuiuti

O entregador Max Ângelo dos Santos, que foi agredido a chicotadas em São Conrado, bairro da Zona Sul do Rio de Janeiro, no ano passado, aceitou o convite do Paraíso do Tuiuti e desfilará na agremiação neste Carnaval. Ele será João Cândido na terceira alegoria da escola, que representa o momento da Revolta da Chibata (1910). Max esteve no barracão da azul e amarelo, na Cidade do Samba, e conversou com o carnavalesco Jack Vasconcelos.

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Foto: Divulgação/Tuiuti

“O que aconteceu comigo, mais de um século depois da revolta liderada pelo João Cândido, não pode acontecer nunca mais. Vai ser uma responsabilidade muito grande representar esse herói na Marquês de Sapucaí. Fiquei muito honrado com o convite do Tuiuti”, afirmou Max, que é morador da Rocinha. Ele confirmou presença no ensaio técnico da agremiação neste domingo, na Marquês de Sapucaí.

Para Jack, a presença do entregador no desfile promete emocionar o público e alertar que casos de agressões ao povo preto não podem ficar impunes.

“A agressão sofrida pelo Max foi muito importante na definição do nosso enredo para o Carnaval. A gente não pode aceitar nenhum tipo de agressão, muito menos física e da forma que foi. O Max é um personagem muito simbólico dentro do desfile”, conta o artista.

Outros nomes já confirmados

O ator Izak Dahora também vai marcar presença na apresentação do Tuiuti. O eterno saci do “Sítio do Pica-Pau Amarelo” estará em um dos tripés do desfile, representando o João Cândido em outra fase da vida. O jornalista Ernesto Xavier e o próprio filho do Almirante Negro, Seu Candinho, farão as demais interpretações.

Na folia deste ano, o Tuiuti vai desfilar com o enredo “Glória ao Almirante Negro!”, desenvolvido pelo carnavalesco Jack Vasconcelos, homenageando a vida e história de João Cândido, marinheiro brasileiro que se empenhou na luta contra os maus-tratos, a má alimentação e as chibatas sofridas pelos colegas. A azul e amarelo será a quinta a desfilar na segunda-feira de Carnaval.

Freddy Ferreira analisa a bateria do Império Serrano no ensaio na Sapucaí

Um ótimo ensaio técnico da bateria do Império Serrano, comandada por mestre Vitinho. Um ritmo da “Sinfônica do Samba” de boa equalização e equilíbrio. Tanto faz o ponto onde se estivesse na bateria do Império, era possível conferir qualquer naipe que fosse, graças a boa distinção entre os timbres. Isso possibilitou uma fluência rítmica considerável entre as mais diversas peças.

Uma bateria “Sinfônica do Samba” com sua levada clássica foi percebida. Com sua afinação de surdos tradicionalmente pesada, seus marcadores de primeira e segunda foram exímios durante todo o ensaio. Os surdos de terceira contribuíram com um balanço simplesmente irrepreensível. As caixas de guerra, com sua histórica batida rufada, reinaram musicalmente. O complemento dos naipes médios ainda contou com uma ala de repiques acima da média e bem coesa.

Na cabeça da bateria do Império, uma ala de cuícas segura foi notada. Assim como um naipe de chocalhos altamente técnico, que tocou de forma integrada com uma ala de tamborins esplêndida. É possível dizer, inclusive, que o tamborim imperiano parecia um só durante todo o cortejo do Reizinho de Madureira, exibindo um desenho rítmico bastante ligado ao samba-enredo do Império Serrano. As peças leves ainda contaram com o luxuoso complemento do histórico, além de absurdamente musical, agogô da Serrinha. Na parte da frente do ritmo também foi possível perceber atabaques, que adentravam o corredor da bateria para a realização de bossas, utilizando duas baquetas, fazendo referência ao Aguidavi sagrado.

As bossas da “Sinfônica” eram plenamente inseridas no enredo de vertente africana da escola. Eram arranjos de elevado grau de dificuldade de execução, além de bastante complexidade. A bossa musicalmente mais atraente era a da cabeça do samba, que mesmo extensa, foi bem executada durante todo o treino. Além do êxito cultural de conectar a sonoridade ao tema da agremiação, é importante ressaltar que a bateria do Império Serrano foi ovacionada por onde se exibiu.

Mestre Vitinho e toda a bateria do Império estão de parabéns pelo grande ensaio técnico, ao exibirem um ritmo consolidado e conectado ao enredo da verde e branco de Madureira. Uma “Sinfônica do Samba” caminhando para mais um desfile de alto nível foi apresentada.

Freddy Ferreira analisa a bateria da São Clemente no ensaio na Sapucaí

Um ensaio técnico muito bom da “Fiel Bateria” da São Clemente, sob o comando do estreante mestre Marfim. Um ritmo bem integrado às tradições musicais clementianas, sem abrir mão por exemplo, da clássica e genuína subida de quatro dos surdos. Uma sonoridade equilibrada foi exibida.

Uma parte de trás do ritmo com a tradicional afinação de surdos clementiana mais pesada foi notada. Marcadores de primeira e segunda foram seguros durante todo o ensaio. Assim como os surdos de terceira garantiram o bom balanço complementando os graves. Já pelos naipes médios, repiques coesos tocaram de forma integrada à caixas de guerra de virtude musical, garantindo uma sonoridade de destaque.

Na frente do ritmo da “Fiel Bateria”, uma ala de cuícas correta tocou entre um naipe de chocalhos eficiente e uma ala de tamborins de qualidade técnica, que executou uma convenção rítmica pautada pela melodia do samba-enredo clementiano.

Com bossas simples, mas altamente funcionais, a apresentação dos arranjos ao público garantiu uma interação bem bacana, principalmente numa paradinha onde a bateria se abaixava no refrão do meio, que foi bastante aplaudida pelos presentes. As bossas se aproveitavam da melodia da obra da agremiação de Botafogo para consolidar o ritmo com pressão. Embora não fossem complexas, é possível dizer que provaram seu valor com impacto sonoro, sem contar o aspecto dançante presentes nos arranjos.

Uma “Fiel Bateria” bem ajustada e equilibrada para o desfile foi apresentada, sob a regência de mestre Marfim. Os ritmistas da escola preta e amarela do bairro de Botafogo têm motivos de sobra para saírem felizes do treino caprichado que realizaram, além de confiantes na almejada nota máxima para o próximo Carnaval.

Freddy Ferreira analisa a bateria da Vigário Geral no ensaio na Sapucaí

Uma excelente apresentação no ensaio técnico da bateria “Swing Puro” da Acadêmicos do Vigário Geral, comandada por mestre Luygui. A escolha foi por um ritmo atrelado ao enredo da escola. Ritmistas, em sua maioria, usavam vestimentas juninas, assim como as bossas esbanjavam nordestinidade.

Na cozinha da bateria, uma afinação extremamente acima da média foi percebida. A distinção entre timbres se manteve muito bem definida, o que ajudou na integração musical de todo o ritmo da “Swing Puro”. Marcadores foram seguros e firmes durante o cortejo. Surdos de terceira contribuíram no balanço da parte traseira da bateria da Vigário. Caixas de guerra e taróis ressonantes deram consistência musical aos naipe médios, que ainda contaram com repiques coesos e com nítida virtude sonora.

Na parte da frente do ritmo, um naipe de cuícas de qualidade e uma ala de agogôs eficiente , com uma convenção rítmica baseada nas nuances do samba ajudaram no preenchimento da sonoridade das peças leves. Um naipe de chocalhos de nível técnico incontestável tocou de forma entrelaçada com uma ala de tamborins de bastante qualidade, que executou um desenho rítmico que mesmo com certa complexidade, se mostrou funcional pela Avenida.

As bossas da bateria da Vigário Geral usavam a seu favor a pressão provocada pelas marcações pesadas. Uma musicalidade de profundidade foi apresentada, com destaque pela nordestinidade presente nos arranjos, sendo o principal deles a bossa do refrão principal com um ritmo junino explosivo, envolvente e dançante. Durante as passagens também foi possível constatar nuances rítmicas interessantes e de bom gosto, demonstrando versatilidade.

Um ensaio técnico que mostrou uma bateria “Swing Puro” praticamente pronta para o desfile oficial. Bossas juninas se mostraram funcionais, tanto no ritmo, quanto para canto e dança dos componentes. Mestre Luygui saiu da Avenida certamente orgulhoso do treino grandioso da bateria da Vigário Geral na Sapucaí.

Freddy Ferreira analisa a bateria do Sereno de Campo Grande no ensaio na Sapucaí

A bateria do Sereno de Campo Grande de mestre Vinícius fez um um ensaio técnico correto, que foi melhorando do meio para o final, conforme convenções e bossas foram sendo mais executadas e aprimoradas durante o cortejo.

Na parte traseira do ritmo da bateria “Swing da Coruja”, uma boa afinação de surdos foi notada, sendo o destaque o agudo da segunda. Os marcadores apresentaram bastante firmeza, enquanto ditavam o andamento, por vezes um pouco excessiva, o que ocasionou em leves desajustes principalmente quando a bateria se locomovia pela pista. É um momento onde todos que tocam surdo devem redobrar a atenção enquanto andam, evitando assim desajustes sonoros. Importante ressaltar que essa instabilidade não ocorreu quando o ritmo estava parado. O balanço dos surdos de terceiras foi eficiente, inclusive com participação conceitual importante em bossas. Nos naipes médios, caixas de guerras corretas foram percebidas, com repiques que em menor quantidade ressoavam menos, fato que ainda pode ser tranquilamente contornado acrescentando mais ritmistas no naipe, buscando um preenchimento mais consistente na sonoridade.

Já na cabeça da bateria, uma ala de cuícas funcional tocou junto de um naipe de agogôs eficaz, que pontuou a melodia do samba com eficiência rítmica. Uma ala de chocalhos com bom volume auxiliou no complemento das peças leves, assim como uma boa ala de tamborins executou um desenho rítmico funcional, baseado nas nuances da melodia da obra da escola de Campo Grande.

As bossas buscavam o impacto musical através das variações melódicas do samba-enredo, tentando usar a seu favor a pressão das marcações. De maneira geral, é possível dizer que suas execuções foram melhorando ao longo de toda pista, conforme a maioria dos ritmistas foram assimilando de forma orgânica e apresentando fluidez na hora de fazer os arranjos.

Pode ser dito que foi um treino positivo para bateria “Swing da Coruja” do Sereno de Campo Grande, comandada por mestre Vinícius. Agora é focar nos detalhes e ajustes finais para fechar a temporada com louvor, em busca da nota máxima.

Zé Paulo diz que samba de 2024 da Mocidade já lavou a alma e desabafa: ‘Tem muita gente com medo de falar coisas para o bem do carnaval’

Zé Paulo Sierra tem história na Sapucaí. Depois de nove anos na Viradouro, agora ele assumiu o microfone da Mocidade Independente de Padre Miguel, marcando o carnaval sendo a voz de um samba que se transformou em um hit, explodindo nas plataformas de áudio por todo Brasil. Com o samba da Mocidade para 2024 voando alto, o CARNAVALESCO entrevistou o cantor para saber um pouco mais sobre o samba, o ensaio técnico e a parceria com mestre Dudu.

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Você acha que já pode cravar que o pré-carnaval desse ano já lavou a sua alma após o ano de 2023?

“Já! Até agora a gente e Porto da Pedra fomos as únicas que ensaiamos. Não foi debaixo de chuva, teve o problema do som, mas acho que o contexto do ensaio, comunicação com o público, a própria escola cantando, a bateria mesmo com a dificuldade de entendimento com o carro de som que não funcionava, o comportamento do carro de som, a gente fez um trabalho dentro da possibilidade. Na minha opinião, muito bom. Agora a gente tem essa segunda chance, é mais uma chance de lavar a alma de novo. Com previsão de chuva, vamos ver se realmente os ensaios vão ser confirmados, pela meteorologia caiu muita chuva a partir de sábado e domingo, mas estamos feliz para caramba, isso que importa”.

Quando que você percebeu que o samba desse ano de 2024 iria viralizar? Você teve essa percepção?

“Na verdade, a gente sempre achava que o samba poderia ter um alcance grande, uma aceitação muito boa, até porque a gente conviveu mais tempo com o samba nas eliminatórias. Mas, confesso que chegar ao ponto que chegamos: primeiro lugar no Rio de Janeiro em uma noite de Réveillon, décimo lugar no Spotify Brasil, é uma surpresa, acho que para todo mundo e um privilégio para o carnaval. A gente tem um samba como protagonista na música popular brasileira. É muito bom para a gente, mas aumenta a nossa responsabilidade. De fato é um privilégio para os sambistas”.

O departamento de marketing da Mocidade é muito elogiado, qual é o tamanho da importância desse trabalho para a Mocidade como um todo?

“Acho que o Bryan (Bryan Clem, diretor de marketing da Mocidade) comanda o departamento de marketing, que é um trabalho fundamental na projeção do que vem acontecendo. É claro que tudo acontece de maneira muito louca, porque você dorme em um dia, no dia o samba está viralizado, são coisas que a gente não vai saber explicar nunca, mas acho que o marketing da Mocidade é muito importante dentro da própria Mocidade e também para estourar essa bolha do carnaval. Eles tem muita ideia, são uns caras muito criativos, acho que isso é bastante importante para o carnaval, é uma forma de fazer marketing diferente, eles acertam em cheio”.

Você falou um pouco sobre o carro de som, vocês acham que se ajustou tudo que tem que se ajustar nesse sentido para o ensaio que vai ter agora, a expectativa de que o carro de som vai estar melhor?

“A gente vai saber no dia. É a primeira vez que a gente vai testar esse carro. Se der tudo certo, não tiver nenhum problema com chuva, de não colocar ninguém em risco, a gente vai testar esse carro no domingo. Como seremos a primeira, teremos a responsabilidade de testar o caminhão, mas acredito que a Liesa deve ter tomado as providências cabíveis. A Century é uma empresa tanto de som quanto de estúdio que é bem gabaritada no mercado, grava os melhores. Já captou o som esse ano da gente da gravação de áudio das faixas, então acredito que a gente vai ter uma condição melhor sim”.

Durante o ensaio falaram que você teve a coragem de falar que o som estava seguindo ruim. O que você pensa desse momento?

“No carnaval, isso serve para a imprensa também, tem muita gente omissa, puxa-saco, parcial e com medo de falar coisas para o bem do carnaval, e isso é muito ruim. Porque quando você emite uma opinião crítica para o bem é para o bem comum. Não tenho nada contra ninguém, acho inclusive que o Rick (Ricardo Mello, fundador da Rick Sound) já contribuiu muito para o carnaval, isso merece ser exaltado, mas é porque eu gosto do Rick, que eu tenho um carinho por ele que se tiver alguma coisa ruim a gente tem que falar, até para que ele possa melhorar também. Acredito que aquilo possa ter sido uma fatalidade e ele possa, daqui para frente, melhorar o trabalho dele. Quando eu falei do som jamais foi com o intuito de tirar ninguém. Essa parte de tirar já não cabe a quem falou, cabe a quem comanda, então se eles decidiram por isso é uma resolução deles. As coisas têm que ser faladas sim, com respeito, emitindo opinião sem ofender ninguém para que o carnaval cresça, porque é isso que a gente quer. A gente ama o evento, a gente ama o samba, o carnaval e a gente quer ver melhor sempre, então quando a gente fala alguma coisa é para melhorar, sem ofender ninguém, é claro”.

A sua relação com o Dudu ela parece estar muito bem, super tranquila. Como é que foi o seu encaixe com a bateria?

“O Dudu é um cara incrível. Além de um talento ímpar, tem essa bateria na mão. Filho de quem é, do mestre Coé. Um cara que vive Mocidade, cresceu na Mocidade, conhece muito e é muito fácil trabalhar com ele, porque é um cara que ouve muito, também ouço muito o Dudu. A gente tem uma relação boa de carinho um com o outro, é o que eu falo, a gente quer sempre o melhor do outro. Se o Dudu vê alguma coisa errada no carro de som que ele acha que pode melhorar para funcionamento da bateria ele fala com a gente. Se a gente acha que tem alguma coisa ali que pode melhorar para funcionamento… você está vendo agora aqui a gente falando coisas que a gente possa colocar até para não atrapalhar, porque o chocalho faz um movimento que a gente não quer que atrapalhe a sanfona. A gente está sempre ligado um no outro para que as coisas aconteçam da melhor forma possível. Dudu é um querido, merece tudo de bom. Bateria faz um trabalho incrível, ensaiam demais. Uma bateria que tem que ser muito respeitada, porque ainda mantém as tradições da sua fundação. É um privilégio muito grande cantar com a ‘Não Existe Mais Quente'”.