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Grande Rio apresenta novos diretores artísticos

Allan Bastos, Ananda Dias e Caroline Mota são os novos diretores artísticos da Grande Rio. O trio, que começou a trajetória na escola mirim Pimpolhos da Grande Rio, é mais uma das grandes apostas para o próximo carnaval. Eles ficarão responsáveis por toda a parte coreográfica, de movimentos, eventos e shows.

 

Jorge Silveira: ‘enredo tem o objetivo de reconectar a espiritualidade do Salgueiro’

O Salgueiro lançou a sinopse do enredo “Salgueiro de corpo fechado”, na última quarta-feira. Em evento na quadra reuniu os compositores e a comunidade para estarem juntos na apresentação onde a sinopse foi narrada para todos os presentes, enquanto ocorria a apresentação artística da mesma, com elementos que estavam contidos no texto.

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Fotos: Matheus Morais/CARNAVALESCO

A apresentação ficou por conta de Paulo Pinna e Carlinhos do Salgueiro, e iniciou com Tia Glorinha e Sidclei, remetendo ao vídeo de apresentação lançado em abril. Ali, Tia Glorinha faz um fechamento do corpo no mestre-sala antes da apresentação percorrer os caminhos espirituais com uma saudação a Xangô, onde foram colocados os pedidos de todos os presentes para o Salgueiro em direção ao próximo carnaval.

Sinopse do enredo do Salgueiro para o Carnaval 2025

A apresentação seguiu com a sinopse em si, sendo proclamada por figuras como um Preto Velho, nas saudações iniciais; Sundiata Keita, fundador do Império Mali, e suas bolsas de mandinga com versos do Alcorão; um capoeirista, representando o sincretismo das práticas dos escravizados mandingos do Mali, em especial as bolsas de mandinga, com as orações cristãs e outros objetos, ocorridos no tempo da colônia; o cangaceiro Moreno, feiticeiro do bando de Lampião, e um dos “diabos dóceis” com quem ele sugeria pactos a Lampião para fechar o corpo; e um caboclo, representando o fechamento do corpo das tradições indígenas e na Jurema. Em seguida, um grupo se apresentou como iaôs na parte da narração sobre o candomblé, e outro grupo, por fim, representando Zé Pilintra e Maria Padilha na parte final da sinopse, onde se falou sobre o fechamento do corpo na Umbanda e também do próprio Salgueiro em si, pedindo proteção.

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Em seguida, ao término da apresentação, o presidente André Vaz agradeceu a todos os presentes, aos segmentos, ao carnavalesco Jorge Silveira, a equipe de criação, ao enredista Igor Ricardo, e aos compositores para que em mais um ano venha muita inspiração a eles.

Wilsinho Alves, diretor de carnaval, pediu inspiração aos compositores da escola, e elogiou o trabalho de Igor Ricardo e Jorge Silveira na elaboração do enredo e do texto. Ele relembrou então as regras e datas da escola. Além disso, destacou que fará uma audição interna antes da divulgação dos mesmos.

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Igor depois assumiu a palavra agradecendo a continuidade e a possibilidade de fazer este enredo na escola, pontuando que ele é denso e histórico, mas também popular e de fácil entendimento, indo da África, passando pela Bahia, até chegar no Rio, e com a presença de seu Zé incorporando vários setores, e encerrando com uma consagração a Umbanda carioca com uma grande exaltação a tudo que vem nos setores anteriores: “Ele agora está praça, nasceu. Não é mais meu, do Jorge, do Luan, do Wilsinho, do Ricardo. Esse enredo agora é do Salgueiro, e mais que isso, ele agora está nas mãos de vocês, compositores. Vocês tem a missão, como o Wilsinho falou, pois ano passado a gente teve uma brilhante disputa, era um enredo mais denso, mas ao mesmo tempo, vocês conseguiram fazer com que a disputa fosse a melhor disputa do carnaval”.

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Jorge Silveira encerrou falando sobre as mensagens de afeto e carinho que recebeu, e sobre a construção do enredo como uma construção de um corpo, um corpo coletivo do Salgueiro, e conclamou a comunidade a defender essa ideia, o enredo, e também ao samba escolhido. Jorge também comentou como espera que seu trabalho seja marcado na história da agremiação: “Eu sempre procuro olhar e observar a comunidade, e saber de que maneira o meu trabalho naquele ano pode contribuir acrescentando um tijolo na parede da história daquela escola. E eu, particularmente, sempre acredito que escola de samba tem identidade, tem característica, tem sua própria espiritualidade, tem sua trajetória. O enredo do Salgueiro tem o objetivo de reconectar a espiritualidade do Salgueiro. A gente está falando ao coração do salgueirense, a fé do salgueirense, para que a gente possa junto construir uma narrativa de luz para abrir os caminhos do Salgueiro”.

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Colorado do Brás comemora primeira vez na Fábrica do Samba e fala sobre o desafio de abrir Grupo Especial

A Colorado do Brás está de volta para o Grupo Especial após dois anos no Grupo de Acesso I, a escola foi vice-campeã neste ano e já tem enredo para o retorno: “Afoxé Filhos de Gandhy no ritmo da fé”. Inclusive terá a festa oficial de lançamento no próximo domingo. O presidente Antônio Carlos Borges, famoso Presidente Ka, conversou com o site CARNAVALESCO e falou sobre as expectativas no retorno para o Grupo Especial.

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Fotos: Fábio Martins/CARNAVALESCO

“A expectativa são as melhores, estou muito feliz, feliz mesmo. Até porque tivemos três anos de Grupo Especial, e não tivemos oportunidade de adentrar aqui, na Fábrica do Samba I. Fizemos três carnavais do Especial na FUPE (Fábrica do Samba II), onde o barracão de lá não é feito para o Especial. Só de estar aqui, alcançar o objetivo, e superar. Carnaval na FUPE é uma superação, no Acesso também, o acesso é muito difícil”.

A grande novidade para a Colorado é estar estreando na Fábrica do Samba, já que mesmo no Grupo Especial por longo tempo, não tiveram um espaço devido ainda estar em obra nos barracões. Agora 100% entregue, com todas as quatorze barracões presentes, e treze agremiações presentes, o presidente Ká comemorou espaço, mas em processo de organização.

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“Estamos absorvendo, para nós é gigante, comparado com a FUPE, é gigante assim, então estamos adaptando. Entendendo o que vamos usar, o que não vamos, é muito banheiro, muita sala, estamos muito felizes, não sabemos nem o que fazer. Assim, estamos nos familiarizando, tivemos a semana todinha pintando algumas salas fazendo algumas coisas para colocar nossa cara. E as expectativas são das melhores, pois guarda tudo, faz carros com oito metros de altura, para sair com oito metros, lá na FUPE saímos com quatro metros, a metade. Então virava meio que um lego, assim era muito difícil, muita peça, era um desgaste. Então assim, saímos praticamente montados. A expectativa é das melhores, estamos vivenciando isso, estamos muito feliz”.

A Colorado do Brás ficou de 2019 até 2022 no Grupo Especial, e no ano do rebaixamento, acabou perdendo -0,5 décimos, devido a merchandising em uma camiseta usada por uma composição de uma alegoria, sem essa perda ficaria em sétimo lugar. Pois o foco é no retorno da agremiação do Brás ao Grupo Especial, e o presidente falou sobre uma novidade sob sua gestão que é encomendar um samba-enredo dentro de casa.

“Então estou feliz, escolhemos o enredo, realmente, Os Filhos de Gandhy, encomendamos o samba também, é uma novidade na escola, estou indo para o décimo primeiro ano de presidente e sempre fizemos eliminatórias, sempre recebemos samba. Esse ano optou por dar oportunidade dentro de casa, temos belos compositores que são o Leo do Cavaco, nosso interprete, o Acerola que é mestre de bateria, o Jairo, nosso diretor de carnaval. Ou seja, temos o material dentro de casa, então assim, optei por isso, em um consenso com a diretoria, optamos por fazer o samba dentro de casa, mexe alguma coisa, aqui e ali, acho que vai dar um bom samba. Vamos abrir o carnaval, se Deus quiser e passar passando, sempre, com alegria”.

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Com o bom resultado e retorno ao Grupo Especial, o presidente da Colorado revelou que o time está todo renovado, duas mudanças que não afetam os quesitos da escola, já que todos foram renovados para a próxima temporada do carnaval.

O time renovado: “A escola inteira foi renovada, praticamente, tivemos poucos desfalques, na verdade, foram ciclos que se encerram como segundo mestre-sala e porta-bandeira e a chefe da ala das passistas, ponto. O resto todo mundo permaneceu, todos os setores e até porque, o time que está ganhando não se mexe. Todo mundo supriu as necessidades, as expectativas, então estou muito feliz com a Colorado, com o trabalho, com meu povo. Estávamos nos sentindo muito tristes, injustiçados, e agora temos que provar que somos capazes e que merecemos ficar no Especial”.

Em relação a abrir o carnaval, não é novidade para a Colorado quando em 2019 terminou na 11ª colocação, o presidente Ka ressaltou sobre a estrutura: “Então, abrimos o carnaval no Hakuna Matata, sabemos a logística, que não é fácil reunir mais de mil e quinhentas pessoas, que é o mínimo, então sabemos que não é fácil, pessoas trabalham, é dia normal, mas é usar o estímulo. São dois anos no Acesso, então vamos fazer a nossa parte, vamos se envolver, se juntar, pedir para sair um pouco mais cedo do serviço, vamos trocar uma folga, não sei, vamos dar condições. Sair aqui da Fábrica é uma coisa muito legal, pois tem estação da Barra Funda, sair daqui é uma logística que pensamos e é isso, vamos sair daqui. O mais difícil é a infra, a logística de sair daqui e abrir o carnaval às 23 horas, tem que estar às 21h30 pronto. Então o mais obstáculo e dificuldade será essa”.

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Finalizando o papo com o CARNAVALESCO, o presidente da Colorado do Brás falou sobre o que esperar da agremiação voltando ao Grupo Especial e aposta no enredo: “Pode esperar um carnaval alegre, um carnaval feliz, a gente vem falando dos Filhos de Gandhy, que abre o carnaval da Bahia. Então estamos felizes com esse enredo, muito mesmo, agradecer os Filhos de Gandhy por dar oportunidade de falarmos sobre esse enredo, autorizar de falarmos de um bloco que tem mais de 70 anos, para nós é uma honra e vamos falar com perfeição para fazer um carnaval maravilhoso e passar passando”.

A Colorado do Brás será a primeira escola da sexta-feira de carnaval, dia 28 de fevereiro de 2025, e terá o enredo “Afoxé Filhos de Gandhy no ritmo da fé”.

Bateria da Botafogo Samba Clube inicia ensaios nesta sexta-feira

Dando o pontapé inicial na temporada, a bateria da Botafogo Samba Clube, a Ritmo Alvinegro, iniciará os seus ensaios nesta sexta-feira. Os encontros semanais acontecerão no setor oeste do estádio Nilton Santos, a partir das 20h. Após semanas de oficinas, o segmento, comandado pelo mestre Branco Ribeiro, dará início na busca dos 40 pontos na Marquês de Sapucaí.

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Foto: Wallace Lima/Divulgação Botafogo Samba Clube

“Estávamos contando os dias para dar início aos nossos ensaios, pois no próximo mês teremos pela frente a disputa de samba, e logo após os ensaios, então só paramos após o desfile. Eu, minha diretoria e todos os ritmistas não mediremos esforços para incendiarmos a Marquês de Sapucaí”, revela o mestre Branco.

Os ensaios também são abertos para todos que queiram integrar a bateria, mas para isso os mesmos devem saber já tocar algum instrumento.

Paraíso do Tuiuti realiza batizado de escola mirim neste domingo

O futuro começa agora e está garantido. O Paraíso do Tuiuti criou sua própria escola de samba mirim. Nas cores da escola raiz, azul e amarelo, O Grêmio Recreativo Escola de Samba Mirim Os Netinhos do Tuiuti teve a fundação no último dia 13 de maio. A cerimônia de batismo ocorre neste domingo, dia 9 de junho, com uma festa no Morro do Tuiuti, em São Cristóvão, a partir das 15h.

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Foto: ImaginaRio/Divulgação

Como manda a tradição no mundo do samba, em que todas as escolas têm uma madrinha, Os Netinhos serão apadrinhados pela Mangueira do Amanhã, agremiação mirim da Verde e Rosa.

“Eu tinha essa vontade de criar uma escola mirim há 16 anos. E nada como ser pelo tempo de Deus. Agora, nasceu a nossa escola mirim para formar os futuros sambistas da escola-mãe. Teremos casal de mestre-sala e porta-bandeira, passistas, mestre de bateria… O amanhã começou!”, afirmou Renato Thor, presidente do Paraíso do Tuiuti.

Neste primeiro momento, Os Netinhos desfilarão com 500 componentes.

A festa de batismo será gratuita e vai acontecer na quadra do Quebra Tudo, no Morro do Tuiuti, bairro de São Cristóvão, Zona Norte do Rio.

Arranco leva comitiva para visitar Salvador e projetar desfile do Carnaval 2025

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Foto: Divulgação/Arranco

Em comitiva especial por Salvador, na Bahia, o Arranco está visitando lugares específicos em busca de inspirações e vivências para contar o enredo do Carnaval de 2025 “Mães que alimentam o sagrado”. Com a presença da carnavalesca Annik Salmon, da presidente Tatiana Santos e demais profissionais da escola, a viagem faz parte do roteiro de pesquisa de aprofundamento do enredo.

Sinopse do enredo do Arranco para o Carnaval 2025

Conheça o enredo da Acadêmicos de Santa Cruz para o Carnaval 2025

Em evento realizado na noite da última quarta-feira, a Acadêmicos de Santa Cruz recebeu seus segmentos e a comunidade e apresentou o enredo para o Carnaval 2025. A verde e branco da Zona Oeste levará para a Avenida “Os Sagrados Altares Tupiniquins”, de autoria e desenvolvimento do carnavalesco Cid Carvalho.

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“Este enredo é o fechamento de uma trilogia que iniciei em 2023, que começou com a degradação do território Yanomami, passando pelo último carnaval abordando o machismo como mal histórico, através do enredo sobre as bruxas, e agora com os altares Tupiniquins, que vai falar de três principais aspectos: Da fé católica e as crenças dos povos originários e negros escravizados, mostrando como elas se misturaram resultando em diversas manifestações culturais, nos levando a conscientização de que é fundamental respeitarmos a fé de cada um, independente dos dogmas impostos pelas religiões”, disse o carnavalesco.

No domingo, a partir das 14h, será realizada a primeira feijoada da temporada, com a apresentação da nova equipe de carnaval e participações das coirmãs Unidos de Bangu e da atual campeã da Serie Ouro, Unidos de Padre Miguel. A entrada custará R$ 2,00 ou 1kg de alimento não perecível. O prato de feijoada será vendido a R$ 15,00 e aluguel de mesas, com feijoada inclusa sai a R$ 60,00. A quadra de ensaios fica na Rua do Império 573 – Santa Cruz.

Confira a sinopse

Benditos sejam os ventos do progresso que dispersaram as nuvens da ignorância e fizeram resplandecer a luz do Renascimento sobre as trevas medievais, revelando a nova era do conhecimento, da valorização da ciência e da razão que, como uma poderosa onda, banhou o “Velho Continente”, embebendo-o da necessidade de navegar e desvendar os mistérios para além do “Mar Tenebroso”.

Então, abençoados por Nossa Senhora da Esperança, destemidos navegadores se aventuraram nas águas do Oceano Atlântico, que a desgastada imaginação medieval ainda acreditava serem habitadas por misteriosos seres marinhos.

Depois de 44 dias enfrentando os próprios medos, tormentas, calmarias e doenças, desembarcaram no “Novo Mundo” intocado e fascinante. Naquele cenário edênico, ergueram a cruz, montaram o altar e, diante do espanto dos navios, rezaram ali a primeira missa em nome do Deus cristão e do Reino de Portugal. Para aquela gente de pele avermelhada, aquele ritual estranho não fazia o menor sentido, porque eles acreditavam em Tupã, o Deus dos trovões; o seu altar era a própria natureza.

Eram aos rios, aos espíritos dos animais, ao poder curativo das plantas e à energia do sol, da lua e das estrelas, que os Pajés Anciões recorriam em seus rituais para conter doenças, para clamar por boas colheitas e fartura na caça, para vencer inimigos nas guerras e para celebrar os antepassados.

E os nativos, desnudos, livres e felizes, cantavam e dançavam para os seus deuses, despertando o velho imaginário europeu que, alimentado pela crença na existência de um Paraíso Terrestre e de um Inferno, se manifestou entre o encantado e o assustado.

Na carta de batismo das terras “descobertas”, Caminha, o escrivão da frota de Cabral, envolve os povos originários numa atmosfera de candura e ingenuidade, comparando-os a Adão e Eva, e as paragens, aos Jardins do Éden; já as crônicas escritas posteriormente, qualificariam os indígenas, como luxuriosos e pecadores, criaturas sem leis, sem alma e sem rei; polígamos, com suas “vergonhas à mostra”, portanto “selvagens” ao ponto de representar quase a não-humanidade.

Diante dessa visão religiosa equivocada e preconceituosa, para os católicos portugueses não havia pecado em escravizar os indígenas em nome do lucro a qualquer custo. Porém, os “gentios”, que viviam em total liberdade, fugiam do trabalho forçado se embrenhando nas matas e, protegidos pelos deuses da natureza, jamais retornavam ao cativeiro.

Então, a crescente necessidade de mão de obra para as fazendas de cana-de-açúcar, fez a ganância colonial lusitana virar-se, então, para o continente africano.

Arrancados à força da terra natal, transformados em prisioneiros e jogados nos tumbeiros, os africanos atravessaram a Calunga Grande em viagens longas e desumanas onde muitos não resistiam e tinham os corpos jogados no oceano.

Ao chegarem aqui, os sobreviventes escravizados de distintas regiões da África traziam consigo diversas crenças que se entrelaçaram no terreiro colonial, modificando totalmente o cenário religioso com as suas divindades. Não raro, os representantes da Igreja Católica tentavam reprimir aqueles rituais que aconteciam nas senzalas, com seus batuques, cantos danças e rezas, diante dos “assentamentos” e altares improvisados.

É bem verdade que no caso da escravidão, a terra, assim como o mar, também tragou os corpos de milhares de cativos. Mas, Calunga Grande é o mar de Iemanjá, é a mãe que acolhe, é a enormidade de seu destino e de seu horizonte; Calunga Pequena é a terra de Omolu, o guardião da vida e da morte, e onde os corpos voltam a ser sementes.

Assim, mesmo diante de severa perseguição, as crenças dos negros escravizados e dos povos originários, encontram meios para sobreviver à imposição da fé cristã pelos colonizadores. E, mais ainda, se misturaram, tecendo uma religião sincretizada, com alma brasileira.

Mas, quem já passou pelas encruzilhadas sabe escolher os caminhos!

Com o tempo, essa mistura de crenças passou a fazer das ruas, os seus altares mais originais, manifestando-se nas tradições populares, no folclore, nas festas dos santos padroeiros, numa simbiose entre o sagrado e o profano, revelando através da festa do Divino Espírito Santo, do Reisado, da Cavalhada, dos Maracatus e dos Caboclinhos, essa extraordinária riqueza cultural.

E é em nome dessa riqueza, símbolo da miscigenação do povo desse país, que rogo aos deuses que abençoem a nossa agremiação para que a sua bandeira continue tremulando em nome de todos os perseguidos de ontem e de hoje, consagrando-a como guardiã desse imenso santuário tupiniquim.

Que a sua coroa, símbolo da sua história, resplandeça junto à coroa de Mãe Senhora de Aparecida e, juntamente com o poder das Yabás e os mistérios da Mãe D’água, nos guiem como matriarcas que são, porque toda mãe carrega o eterno; e façam de cada um de nós, filhos bem-aventurados e mensageiros da liberdade de credo.

É chegado o momento de colocarmos o que foi quebrado pela intolerância e pelo racismo religioso; de unirmos os retalhos, os pedaços sagrados de fé e esperança, e então entoarmos o nosso samba como um hino de paz, composto com a força dos versos sonoros de uma “Carta de Amor”.

Porque nós não andamos sós!
Eu, eu não ando só!

… “Eu tenho Zumbi, Besouro
O chefe dos Tupis, sou Tupinambá
Tenho os erês, caboclo boiadeiro, mãos de cura
Morubixabas, cocares, flechas e altares
A velocidade da luz, o escuro da mata escura
O breu, o silêncio, a espera
Eu tenho Jesus, Maria e José
Todos os pajés em minha companhia
O menino Deus brinca e dorme nos meus sonhos
O poeta me contou”…

O poeta me contou que foi esse mesmo menino Deus, que brincando e dormindo nos meus sonhos, me levou aos pés da Santa Cruz e me fez acreditar que é possível.

Cid Carvalho
Carnavalesco

Sinopse do enredo do Salgueiro para o Carnaval 2025

Enredo: “Salgueiro de Corpo Fechado”

Salve Deus

Corpo Fechado. Imune, invulnerável, à prova de bala, faca, coice de animal, graças a processos secretos de feitiçaria tradicional. O corpo fechado pode resultar de amuletos usados ao pescoço, livrando o portador de todos os perigos, morte súbita, prisão, agravo (injúria), ou por se ter submetido ao cerimonial do feitiço, muamba, catimbó, macumba, de variadas formas, quase dependendo de cada mestre a maneira e cerimonial do ato. Em geral, há o auxílio de cânticos rituais, sacrifícios de animais, velas etc.

Feitiço. Mandinga. Quebranto. Só ele sabe rezar. O preto velho mandingueiro veio para trabalhar. Adorei as Almas! Sempre no nosso caminho, aliviando qualquer penar.

Senhor Marabô, Exu dono da minha porteira, é aquele que vence toda demanda. Traz Exu Pimenta também para nos ajudar. Sentinela de Xangô, o meu protetor, firma ponto, ponto de fé.

Mau-olhado, espinhela caída, erisipela, vento virado, peito arrotado. Sai pra lá! Tenho meu corpo cruzado, fechado.

Sem medo de macumba, sem medo de quiumba, o Salgueiro prepara o tacho de óleo de oliva, arruda, guiné, alecrim, carqueja, alho e cravo. Com o sinal da cruz na fronte, no peito, nas mãos e nos pés, nossa escola vai entrar na maior encruzilhada do mundo, a Marquês de Sapucaí, de corpo fechado. A história e cultura do fechamento do corpo está inserida em um conjunto de crendices presente em religiões africanas e européias que sobreviveram à travessia do Atlântico.

Ao longo do tempo, o pacto para a proteção do corpo se diversifica e caminha com nuances próprias nas pequenas cidades do interior, na zona rural, na periferia, na cidade grande. Territórios de um mundo mágico-religioso, povoado de rezas, crenças, simpatias e benzeções.

A crença na invulnerabilidade chegou ao Brasil por meio dos mandingos escravizados, do antigo Império Mali, que eram ao mesmo tempo guerreiros, feiticeiros e seguidores do islamismo. Do nome desse povo, veio o termo mandinga, no sentido de feitiço, mágica, coisa-feita, despacho. Embora fosse seguidor da religião islâmica, o fundador do Império Mali, Sundiata Keita, possuía, conforme se acreditava, poderes mágicos vindos dos amuletos que utilizava. As chamadas bolsas de mandinga eram costuradas em pano ou couro com passagens do Alcorão, portadas junto ao corpo para trazer proteção e poder, que se intensificavam em proporção direta ao número de talismãs usados.

Trazidas à Colônia, foram adaptadas como “patuás terapêuticos” contra “males” do corpo e da alma. Supunha-se que as bolsas de mandinga tinham propriedades de cura e que fechavam o corpo contra doenças e feitiços. Na Bahia, as passagens corânicas foram substituídas por orações cristãs, acrescidas ainda de diversos elementos, como balas de chumbo, pedra de corisco, pólvora, olho de gato, osso de defunto, moedas de prata, sangue humano e de animais. A potência das mandingas estava no ritual que lhes conferia um poder místico após sua confecção. Eram cozidas dentro de bolsas e defumadas com incensos e ervas para depois serem benzidas e enterradas em encruzilhadas à meia-noite ou depositadas debaixo do altar de uma igreja para em cima delas serem rezadas três missas, o que as tornaria ainda mais poderosas. Além de acreditarem ter o corpo fechado ao usá-las, muitos daqueles que traziam tais objetos em volta do pescoço esperavam também que lhes trouxessem dinheiro, sorte e mulheres.

Da mesma forma, no sertão, existia a ideia de que o corpo do cangaceiro era magicamente fechado, protegido contra armas e munição. Muito supersticiosos, estruturavam suas vidas de acordo com uma série de rituais. Tinham obsessão por cobrir os próprios corpos com símbolos, emblemas e orações protetoras: estrelas posicionadas na frente e no verso de chapéus protegiam contra o olho gordo; as estrelas de oito pontas recordavam a macambira, uma planta espinhosa comum na região, que ninguém tocava; a flor-de-lis, representação do lírio, era um símbolo de pureza, atributo ironicamente admirado pelos bandidos. Crucifixos, rosários, o manto da Virgem Maria… Os sertanejos constituíram assim seu próprio “manto sagrado”, todos armados de mosquetões, excentricamente adornados, para cobrir o corpo masculino “aberto” pela mulher.

Moreno, um cabra bem famoso, o feiticeiro do bando de Lampião, conhecia todas essas formas de pactos e ritos para fechar o corpo. O cabra cujo a volante tinha raiva por ele e o bando sempre escaparem contou que fechou os corpos de quase todos os aliados, fazendo-lhes patuás poderosos; e ainda santificou-lhes os anéis para que tivessem uma mira certeira e uma argúcia mortal no manejo dos punhais. Aos mais perigosos e mais procurados pela polícia, Moreno ensinou como se “envultar” (ficar invisível) através de pactos com “diabos dóceis”. Reza a lenda que Lampião quase sempre declinou dessas feitiçarias. Temente a Deus e afilhado de Nossa Senhora, ele “não queria ficar devendo favor ao Diabo”. O chefe dos cangaçeiros só aceitou levar um sinete na aba dianteira do chapéu que lhe concedia talentos premonitórios. Quando foi abatido no cerco de Angico (Sergipe), Lampião estava usando um outro chapéu, estava “desprotegido”. O “chapéu mágico” fora devolvido ao próprio Moreno, que dele recortou o sinete e o guardou consigo até sua morte, aos 100 anos.

Fé ou superstição? Sempre há quem enfrente as crendices de peito aberto. Mas se a ideia é fechar o corpo, haverá aqueles que procuram, nas rezas e nas devoções, uma calmaria para o desassossego. Para todos os males que atingem o corpo e a alma do homem, sempre há uma reza para curar. Corpo e espírito não se separam. Hoje, várias cerimônias para fechar o corpo são feitas pelo país. Essa prática visa tornar a pessoa invulnerável não apenas a armas, como também da inveja, doenças, má sorte etc.

Contra a panema, no linguajar indígena, desgraça, infelicidade, poderes sobrenaturais são exercitados com adornos de santos combinados com velhos espíritos da selva, os “encantados”. Pessoas que estiverem acometidas pelo “roubo de sombra” só tendem a ser consideradas curadas quando benzidas a partir do ritual da pajelança, um ritual de restabelecimento espiritual. O pajé dança, canta o toante e o maracá, carrega plantas, penas. Nas cerimônias Pankararu, o “remédio do mato” recobra do flechamento, quando “bichos ruins” ou entidades malignas desejam se apossar do espírito da pessoa. Aqui a cura vem do poder da mata. A mata tem uma gente que tem muito poder.

Jurema Preta, senhora rainha, és dona da cidade, mas a chave é minha. É tupereneguê, é tuperenaguá, salve o povo da Jurema, deixa os mestres trabalhar.

Em uma religião que celebra a vida, é fácil perceber que um corpo saudável é uma obrigação essencial. O corpo no Candomblé alcança e representa o sagrado, traz sentimentos, sensações e emoções. Com banhos de ervas (abô), passes magnéticos e palavras encantadas, para formalizar e sacralizar o ritual de fechamento de corpo, usa-se o contra egum. Uma ferramenta de defesa confeccionada em palha da costa, podendo conter búzios e/ou contas referentes aos Orixás ou Divindades, que possui uma grande quantidade de axé, agindo sobre a áurea eliminando todas as energias negativas e doenças do corpo. Somente o corpo doente pode encontrar essa cura; somente a ferida que dói, uma hora cicatriza.
É o corpo que se fecha, como uma casa que veda suas frestas.

E no meu terreiro, Salgueiro, quem me protege não dorme. Advogado dos pobres e doutor das doenças da alma, do corpo e do espírito, mestre da jurema, Exu na Quimbanda, Preto Velho na Linha das Almas, feiticeiro, mandingueiro, orador, rezador, catimbozeiro, dono da magia. Defensor dos feitiços e das magias negativas. Trabalha em todas as linhas espirituais, tanto na direita quanto na esquerda da Umbanda, Quimbanda, Catimbó… Seu Zé é um mistério divino. Mestre curador porque faz cura, trabalhos de virada. Malandro da Lapa. Acompanhado de sua Falange de Malandros, atua como protetor da minha casa. Vigia quem entra e quem sai, toma conta do entorno para me defender. É bom, pois faz o bem, mas, quando está “virado”, manda a maldade de volta para quem enviou. Despacha, se vinga. O inimigo cai, eu fico em pé.

Porque eu tenho meu corpo fechado, tenho um malandro do meu lado pra me acompanhar. Que Seu Zé me proteja daquilo que não posso ver! Que meus inimigos não me vejam nem de noite, nem de dia, nem no pingo do meio dia. Que assim seja.

Texto: Igor Ricardo
Carnavalesco: Jorge Silveira

Referências bibliográficas:
ANDRADE, Mário de. Música de Feitiçaria no Brasil/ Mário de Andrade. 2. ed. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia, 2006.
CALAINHO, Daniela Buono. Metrópole das mandigas: religiosidade negra e inquisição portuguesa no antigo regime. Garamond, 2008.
LOVO, Arianne Rayis. Caminhando junto: produção de cura, corpos e “caminhos” a partir das rezadeiras Pankararu. Unicamp/SP, 2018.
MAUÉS, Raymundo Heraldo. Um aspecto da diversidade cultural do caboclo amazônico: a religião. Estudos avançados, Quixadá: Uiniquixadá, 2005.
NERY, Vanda Cunha Albieri. Rezas, Crenças, Simpatias e Benzeções: costumes e tradições do ritual de cura pela fé. Centro Universitário do Triângulo – Uberlândia/MG, 2004.
SANTIAGO, Luís. O mandonismo mágico do sertão: Corpo fechado e violência política nos sertões da Bahia e de Minas Gerais (1856-1931). Loope Editora, 2021 (2ª edição).
SANTOS, Vanicléia Silva. As bolsas de mandinga no espaço Atlântico: século XVIII. São Paulo, 2008.

Vídeo com a leitura da sinopse

Diretor da Liesa revela que álbum ao vivo do Carnaval 2024 teve um crescimento de 200%

O diretor de Relações Institucionais da Liesa, Hélio Motta, participou nesta quarta-feira da mesa “Samba-Enredo na Era Digital”, no Rio2C, o maior encontro de criatividade da América Latina, que acontece na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. Durante o papo, ele revelou que o álbum ao vivo do Carnaval 2024 teve um crescimento de 200%.

helio liesa
Foto: Reprodução de internet

“O álbum do estúdio reflete o ambiente pré-campeonato. É uma pressão gigantesca em termos de produção para cada escola ter o seu melhor fonograma. A gente entrega para o público 50% do nosso espetáculo antes dele acontecer. Esse ano gravação aqui na Cidade das Artes, na Sala de Orquestra. Trouxemos todas escolas e ficou muito bacana. O álbum ao vivo é a captação de todo mundo junto, a emoção que só a gente consegue captar. A ideia é tentar trazer a emoção da Sapucaí para dentro de casa. Tentamos traduzir isso. O sistema de áudio no carnaval é super complexo. O espetáculo é realizado com as pessoas andando e os fogos acontecendo. A captação é complexa. O álbum ao vivo temos que captar. Temos curva de aprendizado. Crescemos mais de 200%”.

Hélio Motta contou que há três anos a Liesa mudou e “conversa mais com o público consumidor”.

“O evento era totalmente offline. A Liga não conversava com o consumidor final. Nos últimos três anos, nós criamos uma marca do evento, a Rio Carnaval, para poder se comunicar diretamente. Nesse caminho de remodelação que apresentamos a mudança significativa para Liga e para gravadora. Com a parceria com a ONErpm tivemos acessos aos dados e com isso criamos novos produtos para atender diretamente qual era a demanda do público. Agora, a gente pode ter acesso a todas ferramentas. Podemos perceber comportanto e hábitos do consumo. A produção do estúdio é para um campeonato que vai acontecer em fevereiro dentro do Sambódromo. É diferente de qualquer artista ou indústria fonográfica. Quando a gente lança o álbum de estúdio é muito alto e o consumo é gigantesco. Na ideia de renovar o público, quando entra o álbum ao vivo, tem o sambista que consome o ano inteiro e o público que tem a experiência de entretenimento. O ao vivo tem o uso contínuo. Continua na playlist de muita gente. Após o campeonato quem gosta de samba quer escutar o ao vivo. Agora, a gente tem que fazer todos álbuns. Não podemos voltar atrás”.

O dirigente da Liesa contou novidades que podem surgir no futuro. “Tivemos quatro sambas entre os virais do Brasil. O algorismo não vê a emoção, ele percebe o play. Estamos desenvolvendo estratégias para estarmos ainda mais em evidência nas plataformas. A tecnologia nos ajuda a trazer na imersão. A partir deste momento, vamos poder trazer o público para dentro da Avenida”.