Em mais uma quarta-feira tomando conta do Boulevard 28 de setembro, a Vila Isabel realizou seu ensaio de rua rumo ao Carnaval de 2025. Com mais uma grande performance de Tinga e com seu chão com canto na ponta da língua, a escola do bairro de Noel esteve cercada pela sua comunidade após a chuva da última semana, que acompanhou a apresentação com bastante ânimo. A Vila vai levar ao Sambódromo o enredo “Quanto mais eu rezo, mais assombração me aparece”, do carnavalesco Paulo Barros, encerrando o segundo dia de desfiles na segunda-feira de carnaval. O próximo ensaio da escola será na quarta-feira.
O casal Marcinho e Cris Caldas dançou suavemente e bem confiante no ensaio desta quarta, demonstrando mais uma vez o entrosamento entre os artistas. O casal veio apresentando a coreografia que já vem passando no Boulevard, com passos bem tradicionais e movimentos em momentos específicos da letra do samba, como no verso “chora viola, pra alma penada sambar” onde se encontram e dançam juntos rapidamente.
Harmonia
O chão da escola mais uma vez demonstrou a força de seu canto durante a apresentação da Azul e Branco no Boulevard, com muita constância no mesmo. A condução de Tinga mais uma vez fez a diferença para o canto da escola, em uma noite bem inspirada. Ao final do ensaio, o cantor falou com o CARNAVALESCO sobre seu parecer.
“A escola está feliz demais, e estamos sentindo que a escola quer cantar, quer desfilar, quer vibrar. Então a gente vai para a avenida de peito aberto, coração aberto. Se Deus quiser, mais uma vez, fazer um grande desfile, mas esse ano vai ser diferente, a comunidade está feliz demais com o nosso samba, com o nosso enredo. E vamos para ganhar o carnaval”.
Evolução
O Povo do Samba veio bem durante o treino desta quarta-feira, com uma evolução bem coesa. As alas vieram bem demarcadas e soltas, com várias fazendo as coreografias durante os refrões, relativos ao ritmo ou letra do samba. Moisés Carvalho, diretor de carnaval da Vila, falou sobre o resultado do ensaio.
“A Vila está fazendo seu dever de casa a cada ensaio, a cada quarta-feira. Os ensaios que a gente tem feito separadamente, tanto na quadra quanto no barracão, têm surtido grandes efeitos na 28. E mais um degrauzinho hoje, feliz com todos os segmentos, bateria, comunidade, carro de som, todos os casais, só agradecer. Cantamos muito, evoluímos muito e estamos prontos, a Vila vai te assombrar”.
Samba
O hino da Vila para 2025 foi bem defendido por Tinga mais uma vez, e todo o carro de som da escola, tendo um bom rendimento, bem animado, durante o ensaio desta quarta. Os versos da obra vem sendo bem cantados pelos componentes, em especial os refrões e a subida para o refrão final, que levam o componente a cantar mais forte ainda “Eu aprendi que desde os tempos de criança / A minha Vila sempre foi bicho-papão / por isso me encantei com esse feitiço / Que hoje causa rebuliço / Arrastando a multidão”.
Outros destaques
A “Swingueira de Noel” fez mais uma grande apresentação sob o comando de mestre Macaco Branco. A ala de passistas da Vila também se apresentou de forma bem animada e com bastante samba no pé.
No quesito Mestre-Sala e Porta-Bandeira, a Mocidade não precisa sonhar porque já vive sua realidade. O casal formado para o Carnaval 2020 se consolidou e hoje é quase certeza de notas máximas pela escola. Enfileirando bons resultados, a dupla mudou a coreógrafa, treina como atleta em um clube de futebol e se prepara para ser a primeira escola da novidade para 2025: os desfiles da terça-feira de carnaval. Bruna Santos, atingiu toda a esperança depositada nela, enquanto Diogo Jesus, venceu a rejeição para formar um casal aclamado e provar uma das tantas viradas na vida em Verde e Branco.
Diogo Jesus era o mestre-sala, quando Padre Miguel explodiu de alegria com o título da Mocidade de 2017. Bruna Santos, era a segunda porta-bandeira da escola. Diogo se envolveu em uma polêmica carnavalesca e deixou a Verde e Branca. Bruna, chamava a atenção pela qualidade de seu bailado. Em 2019, Diogo foi anunciado de volta para o desfile de 2020. Bruna, enfim foi promovida a defender a nota com o pavilhão da Estrela-Guia. Assim, é um resumo da história que uniu dois sambistas, que meteoricamente formou um dos mais poderosos dos casais de mestre-sala e porta-bandeira do carnaval.
Antes do desfile do reencontro com a Mocidade, Diogo Jesus precisou trabalhar dobrado. Afinal, ele precisava limpar a imagem dele com os independentes que torceram o nariz pela sua volta. Rejeitado, contou com o time de assessores da escola para a missão de recuperar o prestígio com a comunidade. E faltava a principal parte dele, que era ganhar o amor da torcida com nota. E quando, ao lado da Bruna, entraram na primeira cabine de jurados, o casal de Louva-a-Deus – a fantasia que usavam – não deu chance para dúvidas. Três notas 10 e duas 9,9. 29,9 pontos e o único décimo contado que foi perdido nos quatro desfiles que fizeram. Ponto final nesta etapa. A barra de Diogo Jesus estava finalmente limpa. Virou certeza de notas e, hoje, é aclamado em Padre Miguel.
“O carnaval, o futebol… Todo lugar que a gente ocupa de exposição de imagem, requer um cuidado. E naquela época eu não tive esse cuidado. Foi muito trabalho e culpo, positivamente, a toda a diretoria, Brayan, diretor de marketing, que fez um trabalho incrível de imagem comigo junto com o Rodrigo Coutinho, na época assessor de imprensa, e a direção da escola que me deu o suporte para trabalhar, junto com a Bruna, que do meu lado, conseguimos fazer um grande trabalho. E isso transformou positivamente nesse carinho que a comunidade tem com a gente. Então, eu acho que com muito trabalho e muita humildade a gente conseguiu, e eu consegui transformar isso”, explicou o mestre-sala.
Para Bruna, a missão era da estreia e a pressão por corresponder às expectativas, além de ajudar ao Diogo a ficar bem com a torcida. Ela conseguiu muito mais que isso. Bruna virou holofotes para ela e, quando começa a girar com a bandeira, é velocidade e precisão que impressionam. Quando perguntada se já fez alguma reflexão sobre o que já conquistou nesses quatro anos defendendo o pavilhão da Mocidade, ela faz a linha de que cada ano é um ano e conta que ainda não parou para refletir sobre ter conseguido atender à esperança que depositaram nela.
“Eu ainda não acreditei em tudo que eu estou passando e vivendo. Graças a Deus, ao lado do Diogo, que com a sua experiência, vem me ajudando bastante. E ao lado de grandes profissionais que nos ajudaram a chegar até aqui. E, agora, treinando com a equipe do Fluminense, com o fisioterapeuta, com a Poli e o Pedro, o nosso preparador físico, o Saulo. Acredito que esse ano vai ser mais um trabalho incrível e que a gente possa superar mais uma vez as expectativas”, disse Bruna.
Casal atleta
Basta acompanhar as redes sociais dos casais de mestre-sala e porta-bandeira para ver a puxada rotina de preparação da dupla. É estúdio, academia, treino pesado e muito trabalho. Mas, a Mocidade foi além e deu ao seu casal uma rotina de atleta de alto nível. Uma parceria com o Fluminense F.C. fez com que Diogo Jesus e Bruna Santos suassem a camisa ainda mais, tendo treino de atletas de ponta para tirar de letra mais um desfile e, agora, com uma cabine a mais de jurados. Durante a final de samba, em outubro de 2024, Diogo contou ao CARNAVALESCO que uma parada a mais na cabine de jurados não mudaria em nada e que eles estavam preparados e sempre trabalharam para isso. O que ele não sabia, é que ia precisar ter treinos mais puxados, a partir de dezembro. Bruna, contou que os treinos no Tricolor das Laranjeiras é outra realidade e acrescentou:
“É um trabalho mais profissional. Não que a outra equipe não seja profissional, mas agora temos equipamentos de alto nível. Eles treinam pessoas de altos níveis. Então, a preparação está sendo incrível. O Fluminense está dando todo o suporte para a gente e estamos com pessoas incríveis ao nosso lado. A equipe está nos ajudando bastante, assim também como a nossa antiga equipe nos ajudou bastante no início do ano. Somos gratos a eles pelo que eles fizeram com a gente no início do ano, mas agora bola para frente porque mudou tudo e o Fluminense está nos ajudando, colocando mais pressão para ter um trabalho mais condizente com o desfile”.
Em lua de mel com a torcida
Diogo e Bruna não são queridos apenas pelo sorriso cativante. Eles ajudaram a salvar a Mocidade em apurações sombrias que a escola teve, principalmente, em 2023. Considerados, junto da bateria, garantias de notas, eles passam longe de preocupar a diretoria, que consegue colocar seus esforços em quesitos que não têm conseguido agradar aos jurados.
Sobre o assunto, Diogo costuma dizer que gosta da pressão e acredita ser consequência do trabalho do casal, e afirma lidar com tranquilidade com a questão de ser uma garantia de notas boas. Aplaudidos de ponta a ponta durante os ensaios de rua da Mocidade, o casal ganha carinho do público não só independente, mas de outras comunidades, como foi o caso do ensaio que fizeram em Nilópolis, no Encontro de Quilombos, organizado pela Beija-Flor.
“A gente fica muito feliz de receber esse carinho da nossa comunidade. E para a gente é um termômetro de ver que está entregando um bom trabalho, que a comunidade está gostando do que está vendo e que está apoiando, que também é algo bem importante para a gente. A gente nota que a comunidade está vendo todo o nosso esforço, e o trabalho que nós entregamos para eles”, disse a porta-bandeira Bruna.
Ganhando 10, mas trocando a coreógrafa
Ao final do carnaval de 2024, após mais uma apresentação nota máxima, Vânia Reis, deixou a função de coreógrafa do casal da Mocidade. Ela, que também integrava a direção de carnaval, se desligou da escola quando a comissão foi desfeita e assumiu o trabalho com o casal da vizinha Unidos de Padre Miguel. Vânia de trabalho reconhecido e resultados incontestáveis, foi substituída por Ana Paula Lessa (foto), que já ensaiou casais que foram campeões do carnaval por três vezes.
“Quando ocorreu a troca da coreógrafa, achamos que mudaria toda a visão do que a gente já fazia. Mas, a Ana é inteligente ao ponto de não mexer naquilo que estava dando certo. E também com a nossa experiência, conseguimos manter o trabalho e melhorar alguns pontos. A Ana está sendo incrível do nosso lado e está dando todo o suporte como coreógrafa. O casal precisa de uma visão de fora, uma pessoa experiente que olha nosso corpo. E a Ana tem essa experiência. Eu tenho certeza que está dando certo e vai dar certo”, falou o mestre-sala sobre sua nova ensaiadora.
Ana falou ao CARNAVALESCO sobre como ela recebeu a missão de pegar um trabalho já consagrado no carnaval: “Era um trio que funcionava muito bem e um trabalho que eu admirava. Então, exige mais de mim, da minha dedicação, da minha atenção. Mas eu costumo dizer também que cada pessoa que passa na nossa vida como direção, como uma visão crítica, artística ou estética, consegue contribuir. Então a frase mais perfeita para tudo na nossa vida é 'como nós podemos melhorar', mesmo que a gente seja incrível. E é em cima disso que é o trabalho. Não existe ninguém que seja tão bom, que não possa melhorar também, em qualquer aspecto. Então eu encaro como um bom desafio, não como uma coisa difícil, complicada ou negativa para mim ou para eles, mas como um bom desafio para todos nós”.
Sobre o casal, a coreógrafa contou que sempre quis vê-los juntos e que se apaixonou ao ver o primeiro desfile e, ali, já tinha interesse em trabalhar com Diogo e Bruna. Ana aproveitou para elogiar os dois. Segundo ela, são disciplinados e criativos. E o trio vai precisar de criatividade para alinhar a dança tradicional ao enredo futurista da Mocidade. Ana se diz vanguardista, enquanto o casal é mais moderno. Bruna Santos explicou o meio-termo deste trabalho:
"A gente está mantendo a dança tradicional e estamos colocando alguns passos dentro do enredo, sim, mas nada que seja muito ligado, até porque nós precisamos manter a tradição e não tem como fugir muito, mas tem alguma coisa ou outra ali, sim, na coreografia, que remete ao enredo", contou a porta-bandeira.
Carnaval 2025
Para o próximo carnaval, a Mocidade será a primeira escola da terça-feira de carnaval (4 de março), com o enredo “Voltando para o Futuro – Não há limites pra sonhar”, desenvolvido pelos carnavalescos Renato Lage e Márcia Lage. Espera-se muito futurismo, mas o primeiro casal da Verde e Branca faz mistério quando o assunto é fantasia. Diogo e Bruna elogiaram suas indumentárias, mas nada os fez revelar se terá penas de faisão albino ou será uma fantasia intergaláctica.
Para abrir uma noite de desfiles, a missão do casal é conquistar os jurados e o público. Diogo Jesus, o mestre-sala, prometeu realizar uma coreografia marcante. Eles, que já treinam o número oficial nos ensaios de rua, precisam trabalhar para que o pavilhão da Estrela-Guia brilhe para as arquibancadas e no caderno de notas, ao mesmo tempo.
“Não é fácil fazer um trabalho que vai alegrar, vai emocionar todo mundo e, principalmente, o jurado. Mas também não é só para a cabine, é para o público em geral. A gente está com uma coreografia linda, limpa e vai trabalhar ela até o final, até o dia do desfile. Mas é uma coreografia que vai marcar e que já está nos marcando também”, concluiu o mestre-sala.
Estreante como autora de samba-enredo, Anitta assina a obra oficial que representará a Unidos da Tijuca na Marquês de Sapucaí no próximo Carnaval. Ao lado de renomados compositores do mundo carnavalesco, a artista mergulhou no universo das tradições afro-brasileiras para falar sobre Logun Edé. O orixá é filho de Oxum e Oxóssi e está associado à prosperidade, beleza, fartura e ao encanto. A parceria foi composta com a participação de Estevão Ciavatta, Feyjão, Miguel PG, Fred Camacho e Diego Nicolau, resultou em um dos sambas mais elogiados da safra e ganhou o coração da comunidade tijucana.
Para a passista e estudante de fisioterapia, Letícia Loureiro, de 23 anos, a excelência do hino e a visibilidade da artista vão ajudar e muito no desfile da Amarelo Ouro e Azul Pavão.
“Acho que deu muito certo. É o melhor samba desde 2003. Há uns 20 anos que a Tijuca não tinha um sambão desse. Acredito que foi muito bom para a escola em questão de visibilidade, lógico, e ela também é uma ótima compositora. Sou apaixonada nela. Ela se juntou com ótimos compositores que já fazem um ótimo trabalho na escola há muitos anos. Eu adorei”, opinou a passista.
Passista e estudante de fisioterapia, Letícia Loureiro
E a cantora do pop brasileiro não é a única estreante na Tijuca. Encantados pelo samba e enredo, filhos do Orixá também decidiram participar do desfile. É o caso do profissional de marketing, Bruno Fernandes, de 36 anos. Ele destaca que a entidade é pouco conhecida, mas pode ajudar a Tijuca no caminho da prosperidade, rumo ao título.
“Logun Edé é um orixá muito incompreendido. Ele é o último dos orixás e as pessoas ainda não entendem. A Tijuca vai poder contar sobre esse orixá, que é um orixá da prosperidade e alegria. Daí, vamos conseguir colocar a Tijuca num caminho de prosperidade. Vai ser um marco, porque é a cara da Tijuca. É o Odu, é cumprir seu destino e propósito”, confiante, afirmou o componente.
Profissional de marketing Bruno Fernandes
Já Rodrigo Santana, de 39 anos, participou de todas as disputas de samba e decidiu se inscrever em uma das alas após ficar encantado pelo hino. Para ele, a força tijucana somada à visibilidade de Anitta ajuda a mostrar a força do candomblé e na compreensão de Logun Edé.
“Esse samba me envolveu bastante. É a fé do povo. Logun Edé é um orixá que muita gente não conhece. Trazer quem é o orixá certamente fortalece a fé da população. É uma revolução para a religião, porque a religião precisa de pessoas que venham trazer e mostrar que o candomblé não é só uma coisa de esquina ou do passado. É algo que se renovou e cresce”, afirmou Rodrigo.
Rodrigo Santana, de 39 anos, participou de todas as disputas de samba
Com a força do orixá, a Unidos da Tijuca vai abrir a noite de desfiles na segunda-feira de Carnaval.
Vencedora do Destaques do Ano na categoria Representatividade Preta, Rafa BQueer tem uma longa história no carnaval carioca mesmo nascendo muito longe do Rio de Janeiro. Natural de Belém, ela é muito próxima de uma dupla reconhecidíssima de carnavalescos e já ocupou uma série de funções em escolas de samba.
Em entrevista dada com exclusividade ao CARNAVALESCO na entrega do Destaques do Ano, realizada na Biblioteca Parque Estadual no dia 09 de janeiro, ela falou sobre uma série de questões pertinentes à minorias no universo das escolas de samba e na sociedade como um todo.
Forma de pensar
Ao falar sobre o que representa para ela ser eleita como grande símbolo da Representatividade Preta no carnaval carioca, Rafa BQueer aproveitou para falar um pouco sobre a própria história com a folia e as referências que possui: “Eu tenho mais de dez anos de desfiles no carnaval do Rio de Janeiro. São mais de dez anos acompanhando o Leonardo Bora e o Gabriel Haddad nos carnavais que eles fazem. Já fui comissão de frente, sou destaque desde quando eles entraram na Acadêmicos do Cubango (na então Série A), também fui destaque da Grande Rio – e, agora, sou pesquisadora. Tenho uma paixão de criança desde quando morava em Belém do Pará com o carnaval do Rio. É muito bonito poder ganhar esse prêmio e saber que o que me deu esse prêmio foi a minha vivência dentro do campo da arte, dentro do campo da cultura, como uma travesti preta amazônida, atuante dentro de uma escola de samba, dentro do carnaval. A importância da existência das escolas de samba para a perpetuação de uma intelectualidade negra, de uma ancestralidade preta, da qual me orgulho muito. Para mim, é uma honra poder representar e ganhar esse prêmio”, pontuou.
Batalha diária
Grupos minoritários, infelizmente, costumam ser, na prática, marginalizados na sociedade de uma série de maneiras diferentes. Ao falar sobre avanços dos afrodescendentes no país e do quanto eles encontram guarida no carnaval, Rafa fez uma reflexão: “É uma luta constante. Eu estava pensando muito nos meus ancestrais que apanharam, que foram presos para que as rodas de samba existissem, para que as escolas de samba existissem. A luta do povo preto do Brasil é uma luta secular por direitos, por existência, por dignidade. A gente continua com essa consciência e com essa luta nos dias de hoje, na contemporaneidade, para que o samba seja esse lugar de perpetuação da cultura – mas, também, de educação. Escolas de samba são um lugar de encontro e de educação. Que tenham mais enredos afro-centrados, mais escritores, escritoras pretas presentes na criação dos enredos, nas pesquisas. É uma luta que vem de muito tempo e que ela ainda é muito importante para os dias atuais”, ilustrou.
E na decisão?
É bem verdade que as escolas do Grupo Especial do Rio de Janeiro possuem representantes de grupos minoritários na presidência. Almir Reis (Beija-Flor de Nilópolis) e Renato Thor (Paraíso do Tuiuti) são afrodescendentes, enquanto Guanayra Firmino (Estação Primeira de Mangueira) e Cátia Drumond (Imperatriz Leopoldinense) são mulheres. Ainda faltam, entretanto, muito mais quadros de gestão não apenas no universo carnavalesco, mas na sociedade como um todo, na visãod e Rafa BQueer.
Na visão dela, é preciso que mais oportunidades sejam dadas para grupos minoritários não apenas em cargos e funções – mas, também, quando se fala em capacitação: “Com certeza faltam minorias em cargos de gestão nas escolas de samba! Em uma escola de samba, a gente percebe que existem várias hierarquias. Ainda falta, sim, descentralizar os poderes, sobretudo econômicos – mas também, ao meu ver, o que existe é a falta de capacitação de profissionais. Éé um projeto que vem a partir da educação, a partir da inserção de pessoas pretas no universo das universidades, da academia. A escola de samba tem a consciência de que jovens pretos e pretas da periferia precisam de oportunidade de estudar e de se profissionalizar para chegar a cargos maiores de construção intelectual, de construção criativa. Hoje, isso é uma demanda importante para as escolas de samba”, comentou.
Safra de enredos benéfica
Das doze escolas que compõem o Grupo Especial carioca em 2025, sete terão temáticas afrodescendentes e duas homenagearão pessoas pretas. Para Rafa BQueer, o expressivo número nada mais é do que o reflexo da quantidade de pessoas de tal minoria no universo carnavalesco: “Na realidade, o povo preto sempre esteve dentro dos desfiles das escolas de samba. Só que esse é o grande momento da gente exaltar essa intelectualidade não só nos enredos, mas nos protagonismos, no lugar de fala. Se é uma festa que o povo preto criou desde os tempos do samba nos terreiros, que seja o povo preto não só cantando e dançando, mas também narrando a escrita dos enredos, narrando a criação das fantasias, podendo ter um protagonismo na mídia – inclusive lutando contra essa invisibilização. Não apenas o corpo negro presente, mas um corpo negro falante e atuante intelectualmente. Que bom, que maravilha que tenham mais anos com mais enredos afros e pretos – afinal, é uma festa preta e é uma festa onde majoritariamente as pessoas são pretas. Não sei porque existe um estranhamento ou um desejo de tentar barrar esse crescimento, porque é a ordem natural dos fatores: em uma festa com tanta gente preta e periférica, as pessoas querem falar de si e querem falar da sua própria história”, finalizou.
O Carnaval de 2025 está chegando, e o Camarote Rio Praia já iniciou a contagem regressiva para a folia com o evento “Esquenta Rio Praia”, realizado no último domingo, no Grand Caballero Lounge & Bar, localizado na Barra da Tijuca. Com menos de 50 dias para os desfiles na Marquês de Sapucaí, o evento foi uma prévia da energia que tomará conta dos dias de carnaval no camarote, com atrações como a poderosa bateria da Mocidade Independente de Padre Miguel e a roda de samba Samba à Bangu, que trouxe o melhor do samba e do pagode para os foliões. O evento também contou com a presença de celebridades e personalidades do mundo do samba, incluindo, o ator Samuel de Assis, embaixador do Camarote Rio Praia, e o mestre Dudu, da Mocidade.
“É maravilhoso estar aqui e sentir essa energia. O samba é a nossa essência, e o Rio Praia é um dos poucos lugares que realmente celebra isso. O evento é um aquecimento perfeito para o Carnaval de 2025. Estou muito animada para o desfile e para o que vem por aí”, disse a musa da Unidos de Bangu, Cíntia Barboza.
Durante o Esquenta Rio Praia, o público pôde aproveitar a energia das atrações e a excelente estrutura do Grand Caballero Lounge & Bar, que se destacou pela arquitetura aconchegante. Segundo os organizadores, a ideia do “Esquenta” foi exatamente essa: aproximar o público da experiência que viverá no Camarote Rio Praia durante os dias de desfile.
Renato Andrade, gerente do Grand Caballero Lounge & Bar, falou sobre a estrutura e a experiência oferecida ao público do Rio Praia: “A nossa casa tem se tornado um local de destaque no Rio, especialmente durante o Carnaval, onde buscamos criar experiências diferenciadas para o público”.
“O evento é uma novidade para mim, porque eu não conhecia o espaço. Os amigos entraram em contato e estamos aqui com muita alegria. Trouxemos a galera de Bangu, o grupo todo, e estamos muito felizes em estar aqui”, disse o mestre Dudu.
O Camarote Rio Praia se destaca por seu conceito de ser 100% dedicado ao samba. Enquanto muitos outros camarotes se transformaram em boates de luxo durante o Carnaval, o Rio Praia se propõe a manter a tradição, celebrando o samba de raiz. Igor Figueiredo, responsável pela concepção do Camarote Rio Praia, falou sobre o line-up para 2025.
“Este ano, o nosso camarote vai continuar com a proposta de ser 100% samba. Vai ter muito pagode, e também queremos trazer um pouco das escolas de samba. A ideia é fazer um mix, com a presença das escolas do grupo especial e do grupo de acesso. Em alguns dias, vamos até misturar o samba e o pagode, mas em dias separados”.
Em 2025, o camarote apresenta uma proposta de temática inovadora, com um toque de nostalgia. O tema deste ano será inspirado nos carnavais antigos e na Lapa.
“Queremos trazer um pouco da história do samba, porque a Lapa é um dos berços do samba e do pagode”, explicou Igor. “O camarote será todo voltado para os casarões antigos da Lapa, mas com uma pegada mais glamourosa. Vamos resgatar essa história, mas sempre mantendo a essência do samba”.
Quando questionado sobre as atrações confirmadas para o Carnaval, Igor destacou grandes nomes: “Já temos um line-up maravilhoso para 2025. Vamos ter Belo, Pixote, Arlindinho, Thiago Soares, Marvvila, Thiago Martins e Xande de Pilares. Será um time de peso, representando o melhor do samba e do pagode”.
Para os organizadores e o público presente, uma coisa está clara: o Camarote Rio Praia conseguiu levar o samba a lugares ainda não atingidos, permitindo que a magia do Carnaval alcance novas pessoas e novas regiões da cidade, como a Barra da Tijuca.
Para Cláudia Rocha, que também esteve no evento, a proposta de levar o samba para outras regiões da cidade é essencial para aproximar as pessoas do Carnaval: “Eu sou professora e moro em Jacarepaguá. Foi muito legal ver o samba chegando aqui na Barra. A energia está maravilhosa e já estou ansiosa para o Carnaval. Esse tipo de evento é fundamental para levar a cultura do samba a todos os cantos do Rio”.
O mestre Dudu se mostrou bastante entusiasmado com a oportunidade de participar do evento. Para ele, levar o samba para diferentes regiões do Rio de Janeiro é algo essencial para manter a tradição e ampliar o alcance da cultura carioca.
“A gente fica muito feliz, é uma novidade para mim, porque eu não conhecia o espaço. Os amigos entraram em contato e estamos aqui com muita alegria. Trouxemos a galera de Bangu, o grupo todo, e estamos muito felizes em estar aqui”.
O ator Samuel Assis, embaixador do Camarote Rio Praia, não escondeu a satisfação em fazer parte do projeto. “Ser o embaixador do Camarote Rio Praia é muito especial. Estou muito feliz e honrado com esse movimento. Para mim, o mais importante é devolver o Carnaval ao lugar de onde ele nunca deveria ter saído: o lugar das pessoas pretas”, afirmou Samuel.
Além da qualidade das atrações e da energia contagiante do samba, o Rio Praia também se destaca pela localização estratégica no coração da Sapucaí. Situado em frente ao segundo recuo da bateria, o espaço oferece aos foliões uma visão única dos desfiles.
Thayane Pontes, frequentadora assídua do Camarote Rio Praia, compartilhou sua experiência. Biomédica de profissão, Thayane destacou: “Esse camarote é o melhor para quem ama samba. A localização é imbatível e o ambiente é muito acolhedor. Ano passado já vim, e agora estou muito animada para o Carnaval de 2025. Com certeza, será uma experiência única”.
Julia Rodrigues, responsável pelo marketing do camarote, explicou o diferencial da localização do espaço e as novidades nas novas cabines: “Estar em frente ao segundo recuo da bateria é uma localização privilegiada. O samba acontece ali, e o nosso camarote vai proporcionar ao público uma visão espetacular. Além disso, temos novidades, como as cabines próximas, entre os setores 9 e 10, o que vai melhorar ainda mais a visibilidade”.
Samuel também abordou a proposta de representar a cultura de forma mais inclusiva, sem abrir mão da essência que tornou o samba mundialmente reconhecido. “Quero tirar o foco da sexualização dos corpos e dar mais visibilidade aos homens do Carnaval. A ideia é colocar os homens na frente das câmeras e resgatar o espaço que sempre foi deles”, disse Samuel, refletindo sobre a importância de quebrar barreiras sociais e culturais.
Em uma conversa descontraída, a musa Cíntia Barboza compartilhou sua experiência no camarote e o que representa estar com sua comunidade e com os amigos de sempre: “Ficar em frente ao segundo recuo da bateria é algo único, a visão é perfeita para quem ama o samba. Estar no Camarote Rio Praia é maravilhoso, principalmente porque me permite estar com a minha comunidade, com o pessoal de Padre Miguel, Bangu e Realengo”.
Com o compromisso de manter viva a cultura do samba e levar essa energia para diferentes cantos da cidade, o Camarote Rio Praia segue firme na missão de ser o palco da verdadeira festa carioca. “É um privilégio poder levar o samba a lugares onde ele normalmente não chega”, comentou o mestre Dudu, da Mocidade, refletindo sobre a importância da proposta.
Durante as gravações para o projeto audiovisual da Liga-SP, o CARNAVALESCO conversou com o vice-presidente e diretor de carnaval da Acadêmicos do Tucuruvi, Rodrigo Delduque. O gestor maior contou sobre a fase que vive a escola e o segredo para isso. Também falou sobre o samba de 2024, que, segundo ele, tirou a comunidade da ‘zona de conforto’ e entre os sambas do carnaval paulistano do ano passado foi um dos que mais fizeram sucesso no pré-carnaval e no desfile, mudando olhares para a escola. Delduque elogiou a obra de 2025, que segundo os leitores do CARNAVALESCO, foi apontada como o melhor samba-enredo do ano e, além disso, o vice-presidente prometeu entrar na briga pela taça do carnaval.
Com a crescente da Tucuruvi no Carnaval 2024, qual é o verdadeiro objetivo para 2025?
“O objetivo é ser campeão, na verdade. A gente busca o nosso sonho, como diz o samba. A parceria foi muito feliz em fazer esse samba. A gente está todo dia, toda hora batendo na tecla que é ser campeão. Respeito as outras 13 coirmãs, sei que tem muita gente grande em busca do título, mas a gente também tem o nosso valor e o nosso objetivo”.
O samba-enredo do ‘Ifá’ fez sucesso no carnaval 2024 e os olhares para a Tucuruvi mudaram positivamente. Qual sua análise?
“Era um samba muito difícil, onde eu achei uma linha para tirar a escola da zona de conforto. Por ser muito difícil foi quando eu contra-ataquei toda a escola dizendo que nós tínhamos que cantar. E a dificuldade do samba, por incrível que pareça, fez a escola sair daquela zona de conforto. Foi um enredo maravilhoso que nos estabilizou para o carnaval daqui para frente por se tratar da minha religião e da primeira religião de matriz africana do universo. Também a parceria acertou e tirou daquela comodidade, onde a comunidade entendeu que tem que ensaiar e tem que entender o enredo. Não é só decorar o samba e, quando eles entenderam isso, tudo ficou mais fácil. Para 2025 a comunidade também entendeu isso e nós estamos dando continuidade nesse trabalho”.
O que espera do trabalho dos carnavalescos Dione Leite e Nicolas Gonçalves?
“Quando eu conversei com eles e com o nosso enredista Vinícius Natal, em relação ao enredo e ao visual da escola, deixei claro que eu queria algo diferente, queria algo que a Tucuruvi nunca tivesse feito, algo inédito. Eles atenderam, acho que foram até um pouco acima do esperado e eu acabei embarcando nessa loucura deles e eu fiquei muito feliz com o projeto. Realmente vai ser um visual diferente e eu convido a todos para ver”.
A Tucuruvi foi muito feliz encerrando o carnaval em 2024, mas vocês optaram por ser a quinta escola do sábado no próximo desfile. Por que dessa mudança?
“Encerrar o carnaval para nós era um desafio diferente. Nós já tínhamos aberto dois desfiles, que anteriormente quem subia era a primeira do ano seguinte. Existem alguns mitos no carnaval entre abrir e fechar e graças a Deus a escola conseguiu passar por esses dois obstáculos. O quinto lugar foi escolhido por estar ali naquela zona de horário com a avenida bem acesa, desfilando à noite. E aí, por nós já termos desfilado tanto como a primeira, quanto a última, agora esse ano a gente também buscou ali mais ou menos um meio da noite para estar se adequando a qualquer tipo de horário”.
Recém-estreante como mestre de bateria na “Qualidade Especial”, onde fez seu primeiro desfile em 2024, o mestre Léo Cupim conversou com o CARNAVALESCO e falou sobre as suas vivências no Acadêmicos do Tatuapé. O diretor da batucada da agremiação da Zona Leste é cria da escola, está desde criança e, logo no seu primeiro desfile, conseguiu concluir a missão de levar a nota máxima no quesito. Cupim falou sobre tudo isso e enfatizou que o seu trabalho é sempre pensado no conjunto da comunidade.
Qual foi a sensação no Anhembi como mestre de bateria pela primeira vez?
“A sensação foi incrível. O Tatuapé é uma escola que eu fui criado, desde a ala das crianças, passando a desfilar como ritmista, diretor de bateria e agora assumindo o cargo de mestre de bateria. Foi uma emoção e uma gratificação muito grande. Só tenho a agradecer a diretoria da escola que confiou no nosso trabalho e dar continuidade no que a gente já vinha fazendo”.
Você substituiu o mestre Igor, que ficou muitos anos na agremiação. Sentiu alguma pressão?
“Foi normal, até porque a gente já trabalhava em conjunto na filosofia da escola que é bem estabelecida. Nessas substituições a gente sempre busca dar oportunidade para quem é da casa e acho que isso foi natural”.
A estreia foi marcante por já gabaritar as notas no seu quesito. Como vê isso?
“Eu acho que cada carnaval é uma nova oportunidade de mostrar um trabalho. O carnaval passado já foi e as notas 40 a gente sempre busca ela para dar o suporte para a escola. A gente está em busca dela novamente, trabalhando muito. Nós comemoramos, mas lá no Tatuapé a gente tem um trabalho coletivo. Os objetivos individuais a gente deixa um pouco de lado e sempre prevalece o bem coletivo da comunidade prezando o desfile como um todo. Na bateria a gente pensa assim. Os arranjos, o andamento a gente pensa para favorecer a nossa escola e o nosso desfile. É isso que a gente vai continuar fazendo”
Como é trabalhar com um dos maiores intérpretes paulistanos, o Celsinho Mody?
“É maravilhoso, um amigo que eu tenho o privilégio de estar 10 anos trabalhando com ele. Desde que ele voltou à nossa agremiação, eu também estava retornando. Eu sou fã dele e é um privilégio eu estar mais um ano trabalhando com ele”.
Nós vemos muitos jovens na bateria Qualidade Especial. É uma característica que pretende sempre manter?
“Eu acho que a comunidade do samba tem que prestar atenção sobre isso de trazer os jovens para o carnaval. Eu acho que isso deve ser um trabalho não só das baterias, mas como das presidências, diretores… Trazer essa rapaziada mais jovem para fazer parte do mundo do samba. A gente lá no Tatuapé dá oportunidade para as crianças, para os jovens. Isso faz parte do nosso trabalho”.
Como virá a Qualidade Especial no próximo desfile?
“A bateria Qualidade Especial é como a gente trabalha nessa linha de vir ajudando a escola, trabalhando para a evolução, para a harmonia, ajudando a nossa ala musical, que modéstia à parte é incrível, uma das melhores que a gente tem aí. Nós vamos sempre trabalhar em conjunto e ver o que é melhor para a nossa comunidade. Tenho certeza que em 2025 a gente vem forte para o tricampeonato beleza”.
Em meio a situação de violência a qual o bairro de Vila Isabel está passando, a Unidos de Vila Isabel conseguiu realizar seu primeiro ensaio de rua de 2025. A Azul e Branco pediu paz tanto neste primeiro ensaio de rua quanto no último de 2024. Componentes da escola almejam dias mais tranquilos para que as atividades da Vila possam ocorrer normalmente, principalmente, no período de pré-carnaval, além da busca de segurança no bairro.
O CARNAVALESCO conversou com alguns destes componentes durante o primeiro ensaio da escola na última quarta-feira, além de duas figuras fortes da escola, o intérprete Tinga e o mestre Macaco Branco.
Para o mestre de bateria da escola, o trabalho vem sendo continuado apesar da situação das últimas semanas em Vila Isabel, muito por conta da preparação feita em meses anteriores pela bateria.
“Graças a Deus, a gente faz um trabalho que começa ali em junho, focado no ritmo da Vila e depois, quando escolhe o samba, um arranjo todo em cima da melodia, da métrica. Então, conseguimos trabalhar mesmo com todas essas conturbações, conseguimos fazer com que a galera ensaie e tenha um bom aproveitamento. Por exemplo, a gente fez um ensaio maravilhoso e não foram esses ensaios que não tiveram, que atrapalharam o nosso trabalho. A bateria da Vila hoje está muito bem consolidada, os ritmistas, se desfilarem amanhã, estariam prontos para poder defender o título para a Vila Isabel”.
Macaco Branco falou sobre a questão da violência de forma ampla, desejando paz para o bairro não somente agora, mas ao longo do ano que está iniciando.
“O lance da violência está no Brasil todo. Não é só aqui no Rio de Janeiro. Eu viajo muito, trabalho a tocar e vejo praticamente meio que a violência no nosso país inteiro. Então o meu apelo é para as forças e aí os governadores dos estados do Brasil todo e principalmente o nosso aqui do Rio de Janeiro que tem um olhar com mais carinho para a nossa população para que consigamos ter uma segurança para a gente poder ir para a rua sem ter que ter medo de ser furtado se perder um celular sem uma bala perdida e sem essas coisas. Se Deus quiser o ano de 2025 vai ser muito próspero e que nos livre de todos os males que tem e que passam no nosso caminhar”.
Já o compositor Breno Medeiros comentou sobre como a falta de segurança pode afetar a escola, mas confia nas decisões que a escola vem tendo para auxiliar e proteger seus componentes.
“A Vila está tentando driblar a falta de segurança do jeito que pode, porque, ano passado, a gente já teve um ensaio de rua cancelado por motivo de violência e com diversas semanas de tiroteios, de noites mal dormidas, moradores daqui sofrem e querendo ou não, isso leva eles a terem medo de sair com a sua escola. Não estão errados e a Vila também não está errada de buscar avisar o melhor para o componente. Só que, infelizmente, isso pode acabar impactando no desfile da escola. Porque quanto menos ensaio, menos a escola querendo ou não se prepara para a avenida”.
Washington Salgadinho, um dos diretores de bateria da Swingueira de Noel, também conversou com o CARNAVALESCO sobre a força da escola em meio a toda a situação do bairro.
“Infelizmente, está acontecendo esses episódios dessa guerra, que está prejudicando os moradores a descer, a fazer o nosso ensaio, mas, com fé em Deus tudo vai voltar ao normal e todo mundo vai poder vir ensaiar e voltar à tranquilidade do bairro de Noel. Mas, a Vila está se preparando, e vai fazer um belo carnaval e um belo desfile. E como fala, a Vila vai te pegar, e vocês vão ver só na Marquês o que vai acontecer”.
Por fim, Tinga ressaltou como a comunidade vem pedindo paz e buscando o melhor para o bairro e para seus moradores e componentes, não deixando de lutar para fazer um grande carnaval na Sapucaí.
“Morro dos Macacos, Pau da Bandeira e adjacências, a gente pede paz sempre para a nossa comunidade. Muitos dos nossos componentes moram na comunidade, moram no Morro dos Macacos. Então, se tiver um problema, a gente não pode descer para poder vir para o ensaio, e é muito complicado, a maioria das pessoas da Vila Isabel são da comunidade. Então, a gente sempre pede paz, para que fique tudo bem, e para a nossa escola fazer mais um grande desfile, chegar lá e mostrar a força da nossa escola”.
Estreando na Mocidade Unida da Mooca, Emerson Dias é um intérprete nacionalmente conhecido. Ao chegar na agremiação que, atualmente, está no Grupo de Acesso I, o profissional revelou uma série de cuidados que tem com a voz, técnicas que utiliza para se comunicar com o público, e, de quebra, relembrou algumas de suas referências.
Tudo isso foi revelado em uma entrevista exclusiva para o CARNAVALESCO realizada na noite em que a agremiação gravou a faixa para o CD das escolas de samba do carnaval 2025.
Foto: Gustavo Lima/CARNAVALESCO
Muitos cantores têm vários e vários cuidados. Alguns não tomam nada gelado, descansam bastante e etc. Quais que são os seus cuidados para fazer uma gravação?
“Essa geração dos anos 2000, digamos assim, é uma geração que se prepara muito. A gente tem acompanhamento de fonoaudióloga, a gente tem professor de canto, a gente estuda arranjo, a gente estuda várias coisas. Comigo não é diferente: eu venho de uma linhagem que a gente busca sempre a perfeição para que a entrega seja sempre perfeita – ainda mais hoje, em que o quesito Harmonia é muito integrado ao carro de som. A gente procura sempre estar dosando as coisas e fazer um um equilíbrio de todas essas questões”
Na hora de fazer a gravação, você busca mais a técnica, alcançar todas as notas e etc ou você vai com o coração e preza pela emoção?
“Alcançar as notas, me desculpa, mas é obrigação de todo cantor. Não adianta um desenhista que não saiba desenhar, então não adianta: cantor tem que saber cantar. Ele tem que alcanãr a nota, estar afinado, estar dentro da escala musical. Isso é, para mim, uma premissa que o cantor tem que ter. Quanto à questão de emoção, eu jogo muito, eu não consigo ser menos. Eu acho que o grande lance, o grande barato do carnaval, do samba-enredo, é justamente quando o público, o povão, compra o barulho do cantor. E cabe ao cantor saber entender o que o povão quer cantar. Eu acho essa troca muito importante. É o meu estilo de cantar. O meu estilo é o povo, o meu estilo é ir para a galera, é subir no caminhão, é subir em cadeira, é cantar nas alturas”
Quais são as suas grandes referências pensando em intérpretes?
“Eu aprendi tudo isso que te falei com o Dominguinhos do Estácio. Se você conseguir cantar numa região em que o povo te alcance, o povo vai te retribuir. Dali, vai parecer que, se você tem dez pessoas cantando com você, vai parecer que tem 100. Essa é uma técnica que eu aprendi muito com esse meu grande professor, alguns dos meus grandes pilares, obviamente: Quinho de Salgueiro, Dominguinhos do Estácio e meu tio Celino Dias”
Após ser coroada a nova madrinha do Arranco do Engenho de Dentro, Mari Mola fez sua estreia oficial no cargo com um emocionante minidesfile na Cidade do Samba. Ex-Rainha do Carnaval em 2023, ela aceitou o novo desafio em uma escola onde as mulheres são protagonistas, e não escondeu a emoção e a alegria de estar ali, especialmente representando a ala LGBTQIAPN+.
Para Mari Mola, chegar ao Arranco é uma experiência única. Ela considera um “presente” fazer parte de uma escola que, como ela mesma afirma, tem suas bases solidamente construídas por mulheres. Em um momento de recomeço em sua carreira, a sambista ressalta a importância de estar no Arranco, uma escola com uma forte presença feminina.
“O Arranco é um terreiro muito forte e chego em um momento de uma carnavalesca mulher, é um terreiro construído por mulheres. Eu chego num momento muito especial, uma escola de chão forte de mulheres e nesse enredo que fala de mãe, do sagrado de ser mãe e alimentar seus filhos e todos os outros que estão no caminho, acho que foi um presente ser madrinha do Arranco nesse meu momento de recomeço, mas principalmente ser madrinha da ala LGBT, porque eu acredito que foi uma bandeira que mais levantei durante o maior marco da minha história carnavalesca, sempre falando que sou uma mulher bi sexual, e eu consegui reinar. E estar aqui é maravilhoso”.
Mari Mola sempre lutou pelas causas LGBTQIAPN+. Por ser uma mulher bissexual, ela ressalta que ainda tem muito caminho a percorrer e que sua luta, embora significativa, ainda é um pouco diante do que pode ser feito por causa. Ela falou sobre como se sente ao ser apontada como uma referência dentro do carnaval carioca por seu protagonismo.
Foto: Cristiano Martins/CARNAVALESCO
“Eu me sinto uma formiguinha dentro de todo esse trabalho porque a comunidade é enorme, tem muito a ser feito, temos que trabalhar muito ainda e tem muita coisa a ser feita para que a causa realmente seja olhada com dignidade da forma que tem que ser. Não é como me sinto e sim o que estou aqui pra fazer, e estou disposta a servir como uma manivela, para que esse movimento seja cada vez mais respeitado”.
Mari, que vem da comunidade do Tuiuti, falou sobre a importância da visibilidade que finalmente estão dando aos sambistas que, assim como ela, vieram de comunidades. Ela destaca que este é um momento especial e único, pois sempre foram essas mulheres que carregavam a escola na Avenida, mas estavam perdendo espaço.
“Essas meninas estarem retomando o protagonismo, porque lá no começo quando o samba era marginalizado, ninguém queria ter esse protagonismo que a gente assumiu. Agora, a gente está retomando e em um momento especial, momento que o carnaval está sendo entendido como essa festa enorme. Essa visibilidades para quem faz este trabalho há muito tempo é muito especial e é um marco”.
Mari Mola é uma mulher que nunca levou desaforo para casa. Ela não foge de nada que a incomode, e as redes sociais muitas vezes se tornam um campo de batalha para ela. Embora hoje tente ser mais paciente, ela reforça que não deixará de se posicionar.
“Eu sou da briga. Sinto vontade de brigar discutir, sou dessas. Agora estou tentando me segurar um pouco mais. Depois que fui rainha do carnaval, me seguro um pouco mais, para ser mais fina, blasé. Escutar e tentar mostrar com trabalho. Acho que as pessoas gostam de falar mal do carnaval, mas eles tem que admitir que é o que movimenta nosso país e nossa cidade. A gente vai crescer cada vez mais, só vem ocorrendo mais mudanças, patrocínios incríveis vindo. Estamos vendo os rostos das meninas das comunidades por aí em campanhas publicitárias, virando influencer com esse movimento da internet. Vão ter que aturar a gente”.