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Série Barracões SP: Império de Casa Verde utiliza a literatura para protestar

Vencedor de três Estrelas do Carnaval (incluindo o de Melhor Escola), premiação organizada e entregue pelo CARNAVALESCO, em 2024, o Império de Casa Verde surpreendeu todo o mundo do carnaval paulistano para a temporada. Em 2025, a agremiação desfilará o enredo “Cantando Contos. Reinos da Literatura”, desenvolvido por Leandro Barboza e com uma linha criativa bem diferente da que estava sendo feita no Tigre Guerreiro há dois anos.

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Para ouvir de profissionais importantes da agremiação como se deu o processo de construção do carnaval azul e branco, o CARNAVALESCO foi até o barracão da agremiação para entrevistar Rogério Figueira, o Tiguês, diretor de carnaval da instituição. Vale destacar que, ao contrário de todas as coirmãs do Grupo Especial, o Império mantém um barracão próprio, ao lado da própria quadra, na rua Brazelisa Alves de Carvalho – ao lado da Dispersão do Sambódromo do Anhembi.

Surgimento por uma paixão em comum

Dos enredos mais comentados de 2025, a temática desenvolvida pelo Império teve uma diretriz bastante clara: “A gente preferiu fugir um pouco do lugar comum. A gente entende que o carnaval tem sempre uma mesmice envolvida. A temática é sempre a mesma. Ou é afro, ou é algo indígena, mas sempre voltado para orixá, para a escravidão, para o sofrimento negro, para o sofrimento indígena. A gente entendeu que chegou a hora de mudar isso. Nosso presidente é um cara que gosta muito do lúdico, é um cara que gosta das histórias, que sempre tem alguma coisa por trás. Eu sou um amante da literatura e, em um dia numa reunião, entre outros enredos que a gente tinha, eu sugeri a literatura”, destacou o diretor.

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A ideia, entretanto, teria uma lapidação ainda maior graças a outro imperiano de destaque: “O Fábio Leite Sousa, o nosso Fabinho LS, nosso vice-presidente, colocou na mesa se nós não podíamos fazer esse enredo sobre literatura de um ponto diferente, contando a história que não é contada: quem é herói não é herói, quem é vilão não é tão vilão e etc. Mais ou menos que baseado naquilo que a gente viu no filme do Coringa – que, em teoria, não é um vilão. A partir daí, a gente começou a fazer a história de uma forma que ficasse confortável para a gente. Embora muita gente não tenha entendido ainda, acho que está bem confortável para nós”, destacou.

Exemplos mil

Como o próprio samba do Império deixa claro, diversas histórias muito famosas serão problematizadas com base em excessos, abusos e preconceitos. O próprio Tiguês enumera algumas delas ao explicar a temática: “O principal é a gente procurar entender um pouco de mundo, entender um pouco de pessoas. A gente foi um pouco mais a fundo naquilo que a história não mostra. A gente tem que ver realmente as entrelinhas. Tem uma parte do nosso samba que fala do menino que não cresce, que é o Peter Pan. Está cheio de Peter Pan por aí, está cheio de Coringa por aí, está cheio de cara que não cresceu, que não adquiriu uma certa responsabilidade. Você pega o Coringa que, de repente, o cara é taxado de louco. Na verdade, o cara se revoltou contra alguma coisa do sistema. Quando a gente pega os amores que não são permitidos, a gente pegou Dulcinea e Don Quixote de la Mancha: todo mundo tem um pouco de Don Quixote na vida, todo mundo tem um pouquinho de louco. Também então as histórias que não tiveram finais felizes, como Romeu e Julieta, por exemplo: no desfile vai ter um final feliz”, comentou.

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Nada, entretanto, chamou mais atenção do carnaval paulistano que as menções à saga Harry Potter. E, como é característico, Tiguês não fugiu da questão: “São essas coisas que a gente foi percebendo que sempre tem uma entrelinha em uma história, como o caso do Harry Potter e a Hermione. Esse é um exemplo muito crasso. A genial da história é a Hermione. Ele o protagonista, ele é o bruxinho, mas quem lê o livro e quem assistiu ao filme sabe que quem faz o negócio acontecer é a Hermione. A gente procurou fazer da forma mais realista possível e acabou se tornando um enredo de protesto também contra o racismo, contra a gordofobia, contra machismo, contra a homofobia… enfim, tudo aquilo que o mundo quer tirar de circulação. Tudo isso a gente acabou colocando no enredo de uma forma um pouco mais lúdica”, explicou.

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Setorização e intersecção

Ao ser perguntado se o Império viria com setorizações claras ou se teria um desfile mais fluido, Tiguês, novamente, destacou a saga dos bruxos – mas juntamente com outra franquia bastante importante: “Nós tivemos que setorizar a escola. Para você ter um pouco da história, quem conta é o Rei Tigre e a gente fala um pouco de histórias da carochinha. Depois, vamos falar dos contos de fada, dos reinos de heróis e vilões, fazemos uma mistura entre o Sítio do Picapau Amarelo e as aventuras do Harry Potter – que tem, por incrível que pareça, uma magia muito bacana ali. A gente conseguiu ver, por exemplo que a mágica do Harry Potter pode estar presente dentro do Sítio do Picapau Amarelo com as coisas do do Tio Barnabé, por exemplo. Naquele monte de sabedoria, ele pode entrar na história do Harry Potter. E, por fim, aqueles livros que não tiveram finais felizes aqui vão ter”, comemorou.

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Trunfos

Ao ser perguntado sobre qual o maior ponto forte do Tigre para 2025, Tiguês destacou a própria agremiação: “Em 2025, o Império quis ir na contramão: valorizar justamente aquilo que é nosso. Tanto é que . Teve gente que falou mal do samba e isso não nos preocupou porque, para nós, a trilha sonora vai ser muito bem cantada por uma comunidade que ensaia muito. Eu aboli esse papo de fazer ensaio de rua um carro de som: eu quero testar o canto da comunidade. Bateria e povo. Não tem carro de som, não tem harmonia correndo do lado. É o povo cantando. A gente está apostando muito mesmo em uma parte que todo mundo meteu a boca, que é justamente o samba-enredo”, pontuou.

Resultado lamentado

Para muitos do carnaval paulistano, o Império teve um dos grandes (se não tiver sido o grande) desfile de 2024. A sexta colocação da azul e branca chocou a todos que acompanham a folia. E é claro que tal situação também foi citada por Tiguês: “É difícil a gente falar qual o nosso principal trunfo porque, no ano passado, a gente apostou em tanta coisa e a gente esqueceu talvez do mais importante: valorizar a gente mesmo. A gente ficou muito triste com o resultado. A gente decidiu se fechar, se blindar, e falar um pouco do conjunto da obra. As alegorias do Império são incríveis e o jurado não enxergou dessa forma. A bateria do Império dispensa comentários, o casal de mestre-sala e porta-bandeira dispensa comentários. A gente tinha um sambão e o jurado disse que não ouviu sequer no áudio um apagão. O principal foi a nota de enredo: para a gente, no ano passado, foi algo tão bizarro que o mundo do carnaval não entendeu. Nosso desfile foi tão bom que o presidente renovou o contrato de todo mundo no domingo antes da apuração. Nos falamos no sábado, no domingo estava todo mundo renovado. A gente entende que a nossa valorização é o mais importante. A gente se blindou, se fechou, conseguiu enxergar que a gente tem um potencial enorme – e, esse engajamento, que muita gente pode achar não rolou, na verdade, só teve gente que não entendeu”, alertou.

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O diretor, entretanto, fez questão de deixar o respeito por todas as coirmãs em primeiro lugar: “A gente não está aqui metendo a boca em quem ficou na nossa frente, em hipótese alguma. Quero deixar isso bem claro. Mas a gente sabe, o mundo do carnaval sabe que a gente merecia mais. Não vou dizer que tinha que ter sido campeão, não. Mas não votar nas campeãs… foi a maior bizarrice que já aconteceu no carnaval de São Paulo. A gente sabe que a gente trabalha muito – e outras 13 trabalham muito também. A gente não combinou com as outras 13 que a gente seria campeão do carnaval. Por outro lado vieram notas do quesito enredo que, para mim, essa nota veio pronta. Me cansei de falar isso, falei até com a antiga coordenação da Liga-SP: uma nota que é inacreditável, que apareceu e a gente amargou um resultado que foi frustrante. A aclamação do Carnaval era o Império campeão, era o Império com um grande destaque. Todos os prêmios de mídia especializado em Carnaval nós ganhamos. Todos – incluindo o Estrela do Carnaval”, afirmou, citando a premiação organizada e entregue pelo CARNAVALESCO.

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A aclamação popular, entretanto, foi muitíssimo comemorado por Tiguês: “O principal, porém, claro que não desvalorizando nenhum prêmio, mas o povo do carnaval deu o Império como campeão. Coirmãs com o próprio presidente falando que o Império ganhou o carnaval, teve um presidente que até falou que o Império não sabe brincar. E, no fim, o Império não voltou nas Campeãs. Isso motivou a gente da seguinte forma: vamos fugir do lugar comum, que são as questaões afro e indígena, vamos partir para o lúdico, já que o hype hoje é o lance do protesto. A gente foi fazer um protesto diferente. A gente não a figura da Marielle sofrendo, a gente não colocou a figura da mulher apanhando do marido, nada disso. A gente colocou nas entrelinhas de todos os contos de fada que a gente insere aqui alguma mensagem. A gente vai ter muita mensagem na pista daquilo que é o normal, daquilo que é o contrário da história, para que o povo possa entender que o carnaval também se faz com imaginação e com literatura”, comentou.

Variações do enredo

Assim que a temática do Império de Casa Verde foi revelada, muitos imaginavam que a escola viria com um desfile infantil. O lançamento do samba, entretanto, muito completamente essa perspectiva. Tiguês destacou que as alterações de rumo em relação ao enredo foram pontuais e muito bem abraçadas pela comunidade azul e branca: “A gente já tinha essa ideia do protesto, surgiu em um almoço entre nós e a gente decidiu fazer. Só que nós não podíamos colocar esse protesto tão explícito, acho que perderia justamente o conto de fadas que te engana. A gente foi apostando, justamente, no segredo. A melodia desse samba é muito diferente, é um samba para cima de muito bom gosto. As pessoas acabaram não entendendo. Tem gente que fala que o Império se perdeu. Não foi nada disso. A gente só está tomando pedrada até agora, a gente só tomou pedrada e isso chateia. A gente acaba ganhando um pouco mais de motivação, também. A gente teria três ensaios visando a gravação do CD na Fábrica do Samba e nós fizemos só dois. Cancelamos o terceiro porque não precisava. O povo cantou. O samba virou. Quem vem aos ensaios no domingo se ligou nisso”, pontuou.

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O protesto, tecla muito batida pelo diretor ao longo de toda a entrevista, novamente foi citada no encerramento: “E precisa ficar muito claro: o carnaval se ganha muito na pista e se perde, também. A gente está preparado. Houve uma mudança em uma ou outra coisa dentro do enredo pra adequar o samba, mas isso é normal, é corriqueiro dentro de qualquer ambiente de escola de samba. A gente quis, sim, causar um frisson para a gente trazer um pouco desse engajamento para as nossas causas. É muito legal quando falam do samba que tem o empoderamento da mulher gorda, por exemplo. Aqui a gente está falando explicitamente através de um conto de fadas. A gente não precisou fazer um enredo contra a violência da mulher ou contra a homofobia, está tudo inserido no contexto dos contos de fadas. Eu sou um amante da literatura e eu estoou muito feliz. A gente espera poder causar um barulho muito grande no desfile. Carnaval é na pista e eu espero que essas pessoas, esses tais catedráticos que tanto falam, que conhecem, estejam enganados dessa vez”, finalizou.

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Ficha técnica:
Enredo: “Cantando Contos. Reinos da Literatura”
Componentes: 1700
Alas: 22
Números de carros alegóricos: 04
Número de tripés: 01
Diretor de barracão: Nei Meirelles
Diretor de ateliê: Rogério Figueira

Série Barracões SP: Com Ailton Krenak, Mocidade Unida da Mooca contará verdadeira história do Brasil em primeiro enredo indígena

Falar de enredos da Mocidade Unida da Mooca nos últimos anos é contar a história brasileira, na qual falou sobre Abdias do Nascimento, Chaguinhas, Helena Theodoro e agora Ailton Krenak. A segunda escola a desfilar no domingo, dia 2 de março, no Grupo de Acesso I, terá como tema: “Krenak – O Presente Ancestral”, ou seja, falará sobre as lutas de Ailton Krenak, líder indígena e membro da Academia Brasileira de Letras. A Mocidade Unida da Mooca, conhecida como MUM, está no Grupo de Acesso I desde 2019 e sonha com a ascensão para o Grupo Especial pela primeira vez na sua história. Em três ocasiões ficou na quarta colocação, o mais perto que ficou do acesso.

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Fotos: Fábio MArtins/CARNAVALESCO

Pois em relação a escolha do enredo surgiu em conversa com a comentarista do Grupo Globo, Ana Thaís Matos, esposa do atual presidente da Mocidade Unida da Mooca, Rafael Falanga. O carnavalesco estreante na escola, Renan Ribeiro, contou um pouco sobre esse processo de escolha.

“Krenak, o presente ancestral, que é o enredo que a Mooca vai levar para o Carnaval de 2025. Esse foi um enredo sugerido pela Ana Thaís Matos, a esposa do Rafael (presidente da MUM). A gente estava em uma conversa no Rio de Janeiro, e ela tinha acabado de ler o livro do Ailton Krenak. E estávamos falando de enredos e tal, e aí a conversa surgiu, não para ser um enredo, ela sugeriu como leitura para mim o livro. E aí eu li o livro, e aí surgiu a ideia para poder fazer um enredo sobre isso, que a Mooca não tinha essa identidade com enredos indígenas. A Mooca vinha em uma linha de enredos africanos, ou qualquer coisa ligada à religião de matriz africana, e a Mooca nunca tinha feito, nos 37 anos delas, um enredo de temática indígena. E aí a gente pensou na possibilidade, comecei a fazer a pesquisa, e saiu o enredo”.

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O carnavalesco da Mocidade Unida da Mooca contou os detalhes do enredo em homenagem ao líder indígena, Ailton Krenak.

“Ailton Krenak, ele me surpreendeu, a partir da primeira coisa que eu vi dele, não me lembro se foi na rede social, na internet, enfim, que foi a frase que ele usou na posse dele na Academia Brasileira de Letras, que ele falava que eu sou o primeiro brasileiro a integrar a Academia Brasileira de Letras que fala uma língua brasileira. E isso explodiu a minha cabeça, porque vem carregado atrás dessa frase, desse discurso, uma carga política muito grande no discurso. Porque a Academia Brasileira de Letras é a Academia Brasileira de Letras com uma língua portuguesa, ou seja, uma língua colonizadora. Então, ele é o primeiro imortal da Academia a falar uma língua originalmente do nosso país, depois de 126 anos de existência da Academia Brasileira de Letras. E isso aí fez a minha cabeça explodir. Fez eu pensar que por trás do Ailton Krenak, para além dele, o que é muito mais potente do que ele, é o discurso dele. E aí, o enredo começou a ser construído não para ser um enredo biográfico, porque não tinha muito sentido ser um enredo biográfico, visto que a vida do próprio Ailton Krenak, foi doada para a causa. E aí a causa se torna o enredo, o discurso dele se torna o enredo”.

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E prosseguiu contando sobre o enredo e a ideia que quer passar no carnaval de 2025: “E aí, baseado na obra dele e em textos dele, eu comecei a construir um enredo que conta a história de 525 anos de genocídio indígena no país. De uma invasão, em 1500, que se torna a desconstrução de um país que já existia. O nosso território, que se chamava Pindorama, era um território já construído socialmente, já tinham sociedades segmentadas, já definidas as etnias indígenas, as formações familiares, as construções sociais do país já existiam dentro da cultura indígena, dentro da construção social indígena. E aí, o colonizador europeu chega impondo sua cultura, como já cantaram algumas vezes, só que muitas vezes essa ótica foi falada pelo olhar do colonizador. Resolvemos escutar a voz do indígena, poder ver como ele enxergou isso. E aí a gente conta sobre isso a ele”.

Ligação indígena com o bairro da Mooca e com o Anhembi

Com o primeiro enredo indígena da história da MUM, Renan Ribeiro buscou referência e encontrou justamente no tradicional bairro da Mooca, localizado na Zona Leste de São Paulo.

“A partir disso, eu tinha necessidade de buscar qual era a ligação que esse enredo teria com a escola, visto que a escola nunca teve uma temática indígena. E uma das minhas preocupações que eu tenho sempre com as escolas em que eu trabalho é com que a escola se veja e respeitar muita identidade da escola. E a Mooca vem construindo nos últimos anos uma identidade muito forte, muito clara, uma linha de raciocínio muito clara, e eu não podia ignorar isso. Olhando para a escola, já trancada no meu escritório, na minha casa, fechada, pensando como construir isso, eu vejo a Mooca sendo construída em cima de dois pilares principais em questão de discurso narrativo. Um é, os enredos de cunho africano, de religião de matriz africana, ligação com orixás, com religiões, com espiritualidade africana. E uma outra vertente que é um discurso muito ácido. Sempre um enredo que provoca muita reflexão, que propõe muita coisa, que apresenta personagens. É sempre um enredo muito propositivo, no sentido histórico e tal. E aí, para eu ignorar uma parte disso, que era essa vertente africana, eu precisava que a outra parte ficasse muito evidente. Então, o discurso do Ailton, que vai de encontro à linha de discurso da escola, se torna algo muito potente, um enredo para a escola continuar se enxergando daquele jeito, para a comunidade continuar se enxergando, fazendo parte daquilo. E aí eu construo essa narrativa”.

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O nome do bairro foi um das principais referências, mas outras foram descobertas e estão contadas no enredo. Assim como o Anhembi, nome que também tem ligação importante e é palco dos desfiles das escolas de samba.

“A primeira pesquisa que eu fiz para tentar fazer um link direto entre a escola e a cultura indígena, foi do próprio nome da escola, do bairro, da Mooca, que é o nome indígena. Então, Mooca é uma tradução de Moo que é fazer, e Oca é casas. E aí eu descobri que a Mooca foi construída em cima de uma aldeia tupi-guarani. E onde existia também a aldeia, tinha um rio, que era um afluente do tamanho do Tamanduateí. E aí, pesquisando os Krenaks, eu descobri que os Krenaks moram em torno de um rio, vivem em torno de um rio, que é o rio Doce, que é o rio que foi contaminado lá pela Vale do Rio Doce, no estouro da barragem de Mariana e tal. E aí, olhando o mapa topográfico, já na minha loucura mesmo de pesquisa, pesquisando coisa que não tinha nada a ver, eu descobri que Anhembi era o nome original do rio Tietê. Era o primeiro nome do rio Tietê, naquele pedaço onde fica o Sambódromo do Anhembi. Então, tinha um monte de rio aparecendo na minha história, e aí, dentro da minha loucura, eu começo a entender que isso não pode ser acaso, porque era muita água aparecendo na história que não podia ser ignorada”.

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Setores da escola

Primeiro setor
“A gente começa o nosso desfile, primeiro propondo, em cima de uma frase do Ailton Krenak, que diz que toda cidade é construída em cima de um cemitério indígena, a gente propõe desenterrar esses guaranis que estavam no território da Mooca. Então, já começo com uma reposição territorial, reposicionando os guaranis no território dele e dando para a Mooca essa patente, ou essa fala, ou esse lugar de território indígena, devolvendo ao bairro esse lugar de território indígena, para que, a partir disso, a escola comece a contar a história desses 525 anos de luta indígena”.

“E o rio é esse caminho. É pelo rio, dentro, e aí usando uma construção já fabulística, ou lírica e surrealista, que, normalmente, as construções narrativas indígenas usam, que fica muito evidente lá no Festival de Parintins, que é tudo meio surrealista, as histórias acontecem em um ambiente meio fabuloso. Eu uso essa mesma linguagem indígena para poder construir a narração, a narrativa, do início do desfile, nesse ambiente fabuloso, de surrealismo, que é onde o rio da Mooca encontra, no Anhembi, o rio doce, que os krenaks chamam de Watu. Então, eu levanto o povo tupi, desenterro os guaranis, os tupi guaranis, desenterro o rio da Mooca, levo em direção ao Ayambi, que é o lugar onde a gente desfila, e lá acontece essa profusão de água, esse encontro desses rios, e, a partir do encontro desses rios, a gente começa a escutar a história dos krenaks e a história dos povos indígenas, nesses 525 anos, isso estou no abre-alas ainda. Essa história inteira é a frente da história”.

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Segundo setor
“E, a partir disso, eu começo, numa linha temporal do hoje, para trás, anti-horário, eu começo a entrar dentro da história do Brasil, a partir da contaminação do rio doce, e vou até o período de colonização. Contando toda essa destruição, todo esse rastro de morte que foi espalhado pelo colonizador branco, europeu, de como isso foi destruindo tudo onde eles passavam. Essa boca insaciável, como o Ailton Krenak diz, essa fome insaciável do colonizador, essa boca insaciável, ia engolindo tudo que vinha pela frente. Até chegar no meio do desfile, onde a gente está, já no período de invasão do país. Eu uso uma outra frase do Krenak, quando ele vai se encontrar com o professor Darcy Ribeiro, no Rio de Janeiro, na década de 1980. Darcy Ribeiro era secretário de Cultura do Brizola. Na antessala do gabinete do Darcy Ribeiro, tinha um mapa na parede onde apareciam os indígenas extintos e os Krenaks apareciam como extintos”.

“Quando o Krenak se apresenta para o professor Darcy Ribeiro, e o professor Darcy Ribeiro pergunta quem era ele, ele dizia que era um fantasma, porque ele tinha acabado de descobrir que ele tinha sido extinto. Eu uso essa figura fantasmagórica e cadavérica que ele mesmo faz essa ligação para poder falar desses povos extintos. E aí eu trago, segundo o carro, já no meio do desfile, já indo lá no início da colonização, todas essas 1.472 nações indígenas. Obviamente que o carro não tem todas, mas as maiores, ou as que a gente conseguiu referência, porque teve uma dificuldade na pesquisa muito grande de achar referência plástica dessas nações, porque se perderam os grafismos, se perderam os cânticos, as imagens não têm, as histórias não têm, os nomes às vezes não se têm. Então a gente cita alguns daqueles que conseguimos ter acesso e qualquer tipo de referência plástica que conseguimos traduzir isso nas esculturas do carro. Então temos caririzos, os potiguares, os tamoios, os guaianazes, que são hoje coisas que conhecemos como nome de rodovia, nome de bairro, mas eram nações, eram aldeias indígenas, e eles foram extintos. E acabou, não tem, não existe mais, não tem mais nenhum para contar a história. E isso aparece no segundo carro. O segundo carro tem esse aspecto meio fantasmagórico, meio fúnebre até”.

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“E algumas pessoas que veem no Barracão, eu achei engraçado que eles olhavam o carro e falavam que esse carro não é bonito. Mas é isso aí, é a função do carro. A história não foi bonita. O que aconteceu não foi legal. Então, porque o carro plasticamente não é atrativo.

Terceiro setor
“E depois a gente, do meio para o final do desfile, começamos a falar mais especificamente sobre a luta daqui no Brasil, já na presença do Ailton Krenak, a partir da Constituinte, quando ele faz a carta para os povos indígenas e começa a construir uma luta indígena já com alicerçados na Constituição, na lei. Um marco temporal e toda essa construção social, uma reconstrução social dos povos indígenas em direção às garantias deles como cidadão brasileiro. E aí, no final do desfile, a gente chega à figura do Ailton Krenak, já na última alegoria, como imortal, diferente da imortalidade daqueles outros povos indígenas que foram imortalizados com pólvora, com assassinato, com violência, com estupro, com queimada, como ainda continua-se fazendo até hoje. Ele se imortalizou com discurso, com a palavra, com livros, com sabedoria. E aí a imortalidade dele chega no último carro buscando isso e fazendo um contraponto de uma reflexão em cima de tudo que foi dito no enredo, de olhar para esse mundo, de olhar para essa relação do indígena com a terra, com o planeta, com o país, e olhar para o mundo usando um conceito chamado conceito de florestania, que é do Chico Mendes, que o Ailton Krenak usa muito, que é esse olhar para o futuro a partir dessa consciência do homem da floresta, que eles chamam de conceito da florestania e não de cidadania, que cidadania seria o conceito do homem da cidade e a florestania do homem da floresta, de olhar para esse futuro possível a partir dessa ancestralidade indígena. Então a gente só vai alcançar esse futuro, só vamos chegar nesse lugar seguro, de forma segura, de forma consciente, a partir que nos entendermos como parte do todo, como parte do planeta. E aí conseguimos se encaixar e chegar, e pisar no futuro de forma segura. E aí olhamos para frente com esse olhar de homem da floresta, que ele traz nos livros dele, na biografia dele”.

Uma nova MUM visualmente?

Em relação a parte plástica, cores e a estrutura das alegorias, Renan Ribeiro que estreia na agremiação mooquense, fará mudanças no visual que a escola vinha apresentando nos últimos e colocará a sua cara no desfile como explicou.

“Muito colorida. O que muita gente que tem entrado no barracão percebe é que a Mooca está muito mais colorida que nos últimos carnavais. E não tinha como ser diferente porque a gente está falando de Brasil. Então toda essa brasilidade, esse tropicalismo todo que temos na nossa identidade do Brasil, isso tudo está muito aparente no desfile da Mooca. O começo do desfile é mais monocromático, o começo escuro vai clareando, mas no abre alas já é bem clara. E alegorias mais limpas, mais objetivas, grandes ainda, que é uma característica da escola, mas limpas, com muito mais cor. Acho que a principal diferença que existe entre os últimos carnavais e esse da Mooca é uma leveza estética, um colorido, e nas fantasias também muita leveza, nas fantasias mais leves, mais limpas, que aí já é mais do meu gosto mesmo. E muita referência estética indígena muito bem pesquisada. Todos os desenhos que estão no carro, a gente teve muito cuidado de usar grafismos reais, nada foi inventado, nada foi criado. Então são grafismos pertencentes realmente a etnias que citamos, a preocupação de não espalhar cocar pela escola inteira, porque a gente sabe da relação do cocar com o povo indígena, e a gente aprendeu isso”.

Em relação a estrutura das alegorias, reforçou: “Cara, em tamanho, o Abre-alas é gigante, porque a Mooca sempre é uma identidade da escola, é uma das alegorias muito grandes. Com a exceção do Abre-alas, os outros carros não são tão grandes assim, o carro 2 é pequeno até, para o padrão da escola é pequeno, mas é do jeito que eu gosto, eu prefiro carro pequeno, eu gosto de carro pequeno, e era uma das quedas de braço que eu tinha que negociar com a escola aqui, era o tamanho das alegorias, mas chegamos em um acordo bem legal. O último carro é um pouco maior também, isso aqui é mais vazado, é uma leitura diferente, um pouco mais moderna”.

Um dos grandes momentos é no último carro da agremiação, onde Ailton Krenak e familiares estarão presentes, grande aposta do carnavalesco. Inclusive, mostrou a alegoria, escultura, com muito orgulho de onde ficará o nome homenageado pela escola.

“Acredito que a presença do Ailton Krenak, que é o professor, filósofo, escritor imortal da Academia Brasileira, um dos ativistas mais importantes do mundo hoje, presente no nosso desfile, junto com a família inteira Krenak, com o povo da aldeia Krenak que vai participar do nosso desfile. Fora eles, ainda, outros indígenas que são daqui de São Paulo, das aldeias Guaranis daqui de São Paulo, do Museu de Cultura Indígena daqui de São Paulo, da direção do museu que vai participar, também trazendo outros tantos indígenas de nações diferentes, distintas. Eu acho que isso tudo traz para o desfile, corrobora com o desfile em um discurso afirmativo, de posicionamento claro de que lado da trincheira que a gente está. E eu acho que ele vai mostrar para mim, num conjunto com samba, com desfile, com o que a gente viu nos últimos ensaios técnicos, e transformar isso com a plástica, vai haver uma moca muito potente, muito potente, muito pronta, muito madura, muito diferente esteticamente dos últimos anos”.

Renan destaca carro 2 como diferencial do desfile

Questionamos o carnavalesco sobre a parte que mais lhe agrada, e é justamente o choque que está pretendendo protagonizar no segundo setor da escola com um carro ‘diferente’.

“A parte que eu mais gosto, eu acho que os três carros são muito diferentes, esteticamente são muito distintos. O carro abre-alas é mais alegórico mesmo, o carro 2 é mais cenográfico, ele tem mais cara de cenário, tanto que ele é projetado para acontecer um teatro em cima dele, então ele tem essa cara de cenário mesmo, tem um palco gigante no carro 2, então ele é projetado para essa cena, e o carro 3 é mais carnavalesco, mais espelho, placa, então são leituras muito diferentes um do outro. O carro que eu mais gosto é o 2, o abre-alas é lindo, é grande, é bonito, bem acabado, mas o 2 eu acho que é um carro, a mensagem dele é mais forte, ele sintetiza o enredo, ele sintetiza a motivação do enredo, ele tem uma potência muito grande, tanto visual, que causa um certo incômodo, mas principalmente a mensagem dele, eu acho que é muito forte, eu acho que ele está no meio do desfile, justamente com essa virada de chave, ele justifica o enredo”.

Como citamos no texto, Renan Ribeiro chegou na Mooca após os carnavais no Camisa Verde e Branco, mas relembrou que teve uma passagem anterior na escola, mas ainda nos tempos de UESP, ou seja, é estreante no período de Liga.

“Foi um dos carnavais mais tranquilos da vida, e aí o Rafael (presidente) cumpriu a promessa, porque ele tinha me prometido isso, e quando eu fui contratado, ele falou, vai ser um dos caras mais tranquilos da sua vida e foi. Obviamente, vai chegar na reta final, tem um acúmulo de coisas, não é mal, toda escola de samba é isso, tem um acúmulo de coisas que vai aparecendo no final, e você cansa e tal, mas eu estou muito satisfeito, é uma escola que me surpreendeu muito. Me deu muito bem com a escola, com os componentes da escola, a Mooca é uma escola muito receptiva, é uma escola muito calorosos, me receberam muito bem, parece que eu estou na Mooca já há 200 anos, embora já tive outras passagens pela escola, muita gente eu já conhecia, a maior parte é novo ainda para mim, porque a escola multiplicou muito nos últimos anos, mas me deu muito bem, cara, me deu muito bem com o Rafael, com a família dele, com o Diego, que é diretor de Barracão, a gente ficou um time de amigo, para a gente construir o trabalho, a minha relação com a escola é de extremo carinho, afeto, de amizade, não tem nada que tenha uma ressalva sobre a escola. Tudo que foi me proposto foi entregue, de estrutura, de condição de trabalho, de investimento, as alegorias todas saíram, às fantasias saíram no máximo que a escola consegue fazer dentro das possibilidades dela, dentro do que a gente tem hoje, porque fora a questão de investimento de matéria-prima, tem investimento de mão-de-obra, que é a maior dificuldade, maior do que matéria-prima e mão-de-obra, tudo o que a gente podia fazer, a Mooca foi no limite da capacidade de produção”.

‘O Brasil foi construído de uma forma errada’

No espaço livre para falar sobre o projeto, Renan Ribeiro decidiu comentar o que quer levar para o público no carnaval da Mocidade Unida da Mooca, em relação ao povo indígena e suas referências.

“Uma coisa assim, que eu acho que eu queria muito que as pessoas prestassem muita atenção nesse enredo. Estamos contando uma história que nas últimas conversas que a gente teve aqui, até no Barracão, com os representantes dos povos indígenas, era uma preocupação muito grande minha, muito grande, é que o enredo ficasse caricato, ficasse com um olhar de colonizador ainda, e não tivesse essa visão desconstruída da história que está sendo contada. Na semana passada, tivemos uma reunião aqui com os representantes do Museu de Culturas Indígenas e representantes de etnias diferentes aqui para escutar a história que estava sendo contada. Todos eles escutaram com um silêncio absoluto a história e no final estavam completamente emocionados e perguntaram para mim como é que eu ia explicar isso para as pessoas que iam assistir. E eu falei das ferramentas que a gente tem, do próprio samba, as mídias, a escola, o enredo, a pasta de jurados que vai para os jurados. Eu perguntei por que ele estava preocupado com isso. Ele falou assim, porque ninguém nunca contou a nossa história desse jeito e eles precisam entender do jeito que você está falando. Isso para mim deixou muito, obviamente feliz com o resultado, que isso é resultado de pesquisa, é resultado de você, lá atrás, começar uma pesquisa muito profunda para você realmente ter a ótica certa da história, você ter esse reconhecimento dos próprios povos indígenas e de etnias diferentes, de lugares diferentes, de pessoas diferentes, esse entendimento, a emoção do próprio Ailton Krenak quando a gente expliquei o enredo para ele e ele no final da explicação falou assim, está perfeito, é isso que eu penso. Então você conseguir traduzir o pensamento dele para os povos indígenas, isso me deixou muito aliviado também no final, de saber que a gente alcançou o enredo, chegou onde tinha que chegar. Eu acho que podia falar para prestar muita atenção no enredo, na mensagem que está sendo dita, na história que está sendo contada e principalmente do jeito que está sendo contada. Que muitas vezes não é bonito, muitas vezes não é legal, mas porque o Brasil foi construído de uma forma errada”.

E complementou falando sobre a importância de mudar pensamentos, culturas, que estão escritas desconexas da realidade na história do Brasil.

“O Brasil foi construído de uma forma violenta, foi construído de uma forma anti social, de uma forma agressiva, de um país saqueado, destruído e reconstruído com uma ótica que não nos pertencia. E essa ideia, esse pensamento é o viés do enredo. Eu acho que olhar para esse enredo com essa ideia é entender que a gente pode muito dar certo como país a partir do momento que nos entendermos como um povo de um país indígena, originalmente indígena.O enredo caminha por esse viés. Eu acho que esse é o ponto de atenção que eu acho que você tivesse que ter feito o trabalho inteiro”.

Ficha técnica
Enredo: “Krenak – O Presente Ancestral”
Alegorias: 3 carros
Componentes: 1200
Alas: 12
Diretor de barracão: Diego Falanga

‘Monumental!’ Eduardo Paes visita barracões das escolas do Grupo Especial e fala sobre o futuro do carnaval

Faltando poucos dias para o início do Carnaval 2025, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, fez sua tradicional visita aos barracões das escolas do Grupo Especial, na Cidade do Samba, na última quarta-feira. Acompanhado pelo presidente da Liesa, Gabriel David, e por autoridades municipais, como o vice-prefeito Eduardo Cavaliere, o presidente da Câmara do Rio, Carlo Caiado, e o presidente da Riotur, Bernardo Fellows, o prefeito foi recebido pelos presidentes e carnavalescos das agremiações.

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Em conversa com os jornalistas, Eduardo Paes falou sobre a expectativa para os desfiles do Grupo Especial: “Eu tinha achado que no ano passado a gente tinha chegado no auge do carnaval, que a gente não podia fazer coisa melhor. Esse ano, com os carros que vi aqui, só tem coisa monumental, vai ser mais uma vez uma festa imperdível. Tenho certeza de que quem for à Sapucaí, nesses três dias, quem assistir pela televisão, vai se divertir muito, se impressionar com essa manifestação cultural”, declarou o prefeito, destacando a importância dos enredos que serão apresentados na avenida em 2025: “Essa é a função do carnaval: chamar a atenção para os temas importantes da sociedade”.

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Foto: Beth Santos/Prefeitura do Rio

Paes também comentou sobre a mudança no calendário dos desfiles, que inclui um inédito terceiro dia. Ele afirmou que a novidade permite que o público aproveite com mais calma e acompanhe todas as escolas sem se cansar. “Só vai cansar mais a quem vai todas as noites. É tanta diversão que a gente nem se cansa. Eu acho que permite que as pessoas vejam com mais calma, acompanhem todo o desfile”, disse. Além disso, o prefeito ressaltou o impacto econômico positivo da decisão, destacando que a qualidade do evento requer investimentos significativos. “E, óbvio, tem o ganho econômico também. Essa é uma festa que, se você vir a qualidade do que estão entregando, custa dinheiro”, concluiu.

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Foto: Beth Santos/Prefeitura do Rio

O prefeito esclareceu ainda uma notícia recente sobre as restrições de itens permitidos no Sambódromo, enviando uma mensagem direta ao público que assistirá aos desfiles nas arquibancadas da Marquês de Sapucaí. “Saiu uma notícia meio truncada hoje sobre o que as pessoas podem ou não podem levar para o Sambódromo. Galera da arquibancada, se quiser levar sua coxinha de galinha, seu quibe, seu sanduíche, sua cervejinha, pode ir em paz, está tudo liberado. Foi meio que um problema de comunicação, mas está tudo resolvido”, afirmou o mandatário.

Teto de gastos e sustentabilidade financeira das escolas

Sobre a proposta de estabelecer um teto de gastos para as escolas de samba, tema que havia defendido em entrevista recente, Paes afirmou que a discussão ficará para depois do Carnaval. “Deixa passar esse carnaval que a gente conversa sobre isso. Isso é uma coisa lá para frente. É uma festa grandiosa. A gente quer o tal do fair play. A gente quer permitir que todo mundo dispute com igualdade de condições. Um teto que seja um teto lá em cima, que permita as escolas fazerem isso”, explicou.

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Foto: Beth Santos/Prefeitura do Rio

O prefeito destacou a importância de garantir a sustentabilidade financeira das agremiações, reduzindo a dependência de patrocínios e recursos governamentais. “E eu acho que, do jeito que a Liesa está caminhando, do jeito que as coisas vão ser administradas, a gente vai potencializando essa sustentabilidade das escolas, que podem depender menos de patrocinadores e até do governo”, comentou Paes.

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Foto: Beth Santos/Prefeitura do Rio

Cidade do Samba 2

Por fim, sobre a Cidade do Samba 2, projeto que abrigará as escolas de samba da Série Ouro, o prefeito não deu uma previsão concreta para a entrega. “A obra está voltando agora. Não é uma obra que termine para o próximo carnaval, vamos tentar acelerar, mas a gente vai entregar a Cidade do Samba 2”, finalizou.

Netas de Mãe Cacilda visitam barracão da União de Maricá e se emocionam com homenagem

O barracão de alegorias da União de Maricá foi palco de uma visita emocionante. O carnavalesco Leandro Vieira recebeu as netas de mãe de santo Cacilda de Assis, Bárbara de Assis e Viviane Petisco, para apresentar as alegorias que irão compor o desfile da escola na próxima sexta-feira, pela Série Ouro. O enredo, intitulado “O Cavalo de Santíssimo e a Coroa do Seu 7”, é uma homenagem à Mãe Cacilda e ao Seu 7 da Lira, icônico Exu da umbanda carioca, que marcou época nos anos 70 e 80.

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Foto: Ney Junior/Divulgação Maricá

Ao percorrer o barracão e ver de perto os detalhes do desfile, Bárbara de Assis não conteve a emoção. Para ela, cada elemento traduz com fidelidade a essência do enredo, trazendo de volta memórias de tempos vividos junto à sua família.

“Estou muito encantada. Tudo está muito bonito. Estou olhando os carros e vendo a Lira do Seu 7, aquela festa toda que ele gostava. É um verdadeiro carnaval no centro dele. Está uma graça mesmo”, afirmou Bárbara.

Já Viviane Petisco destacou o caráter afetivo do enredo e o quanto a homenagem da União de Maricá fortalece a lembrança de sua avó e de Seu 7. Segundo ela, a escola conseguiu trazer a energia vibrante das giras e das consultas espirituais que marcaram sua infância.

“Eu quero agradecer à União de Maricá por essa homenagem linda. Estou revivendo cada pedacinho da minha avó, cada lembrança de criança, as giras e as consultas do Seu 7. Estamos torcendo para que a escola chegue ao primeiro lugar”, disse a neta.

Em busca do título da Série Ouro e o acesso ao Grupo Especial, a União de Maricá será a sexta escola a desfilar nesta sexta-feira, na Marquês de Sapucaí.

Série Barracões SP: Acadêmicos do Tucuruvi mostrará o real significado da busca pelo Manto Tupinambá

Uma das relíquias culturais que mais repercutiram no ano passado se tornou inspiração para os Acadêmicos do Tucuruvi no carnaval de 2025. A volta de um exemplar dos mantos tupinambás espalhados pela Europa apenas potencializou a proposta do enredo “Assojaba – A busca pelo manto”. O CARNAVALESCO visitou o barracão da escola da Cantareira para entender a proposta do tema e a importância do artefato na visão dos carnavalescos Dione Leite e Nícolas Gonçalves.

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Ancestralidade em torno do Assojaba

“Assojaba” é um termo que se refere ao manto sagrado que há muitos anos é reivindicado pelo povo tupinambá. Dione explica que a proposta do enredo partiu do enredista Vinícius Natal e conquistou os carnavalescos e o diretor de carnaval, Rodrigo Delduque.

“Essa ideia veio através do nosso enredista, Vinícius Natal, que falou com o Rodrigo Delduque, nosso gestor. Ele falou: ‘eu tenho aqui uma proposta de enredo’. Rodrigo já queria algo que fosse diferente, mas queria manter uma linha para esse lado ancestral que não necessariamente fosse uma temática africana e nós tínhamos outros enredos muito interessantes na mesa, estavam bem cotados. Quando aparece ‘Assojaba’, ele ganha todos nós de cara. Ele nos domina pela qualidade, pela densidade, pelas profundas camadas que poderiam ser acessadas para desdobramentos do enredo. O Rodrigo aposta já direto, e eu e o Nicolas ficamos muito felizes também porque nos oferecia a possibilidade de uma estética nova, uma possibilidade de repensar algumas coisas que eram possíveis e aí tem esse carnaval hoje que é desafiador, assim como era desafiadora a volta do manto, que já está aqui. Esse carnaval também no início foi muito desafiador, mas hoje ele já está aqui praticamente pronto. É possível quando você acredita, é possível quando se busca pelo seu manto”, declarou.

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Busca pelo manto em diferentes formas

Em julho de 2024, o Museu Nacional confirmou que o manto tupinambá retornou ao Brasil após 300 anos exposto em um museu na Dinamarca, meses depois de o Tucuruvi anunciou seu enredo. Mas Nícolas afirma que a volta repentina de um exemplar do artefato não significa que a busca pelo manto tenha se encerrado. O artista afirma que a linha de enredos iniciada por “Ifá”, de uma temática com mensagens históricas escondidas da sociedade, prossegue na escola com “Assojaba”.

“Quando trazemos o manto, foi para seguir nessa narrativa, foi para seguir nessa ideia de a escola trazer histórias importantes que vão além. Por mais que o manto tenha chegado antes do desfile, nós ainda temos outros mantos na Europa, e a volta desse manto não precisa ser física. O que estamos fazendo hoje é também a busca pelo manto: celebrá-lo, cantar um samba-enredo para ele, é uma forma de trazê-lo de volta. Novamente, o Tucuruvi tem como missão passar uma mensagem forte e fazer as pessoas que conheceram o ‘Ifá’, que foram pesquisar e entender o que é o ‘Ifá’, buscar também o que é o manto, o que significa ‘Assojaba’ e o porquê de nós estarmos cantando sobre ele, celebrando-o e devemos conhecê-lo. Eu acho que a nossa maior missão como desfile é essa: fazer as pessoas entenderem que esse manto é muito importante para cada um aqui nesse país”, explicou.

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Dione esclarece os povos tupinambás acreditam que o manto seja um ancestral vivo e sua volta tem um significado especial ao evidenciar a um lado da história essencialmente brasileira, mas que sofreu um apagamento ao longo dos séculos.

“Quando começamos a pesquisar o enredo, nós tínhamos a expectativa de que o manto retornasse antes do carnaval, era uma possibilidade que havia, só que nós fomos surpreendidos! Quando recebemos a notícia de que o manto tinha chegado no Brasil, que estava já em posse no território nacional, foi muito comovente para nós e nos deu mais certeza de que o que nós tínhamos planejado e pensado lá atrás não estava errado. Nós sabíamos da missão que esse enredo tinha desde o início e tínhamos um propósito muito grande que não era sobre o material. O manto é um veículo muito grande de comunicação para todos os povos, ele gera possibilidade de diálogo de novo na sociedade. Nós passamos a ver os povos originários em rede nacional, exaltando, se reencontrando com o seu mais antigo ancestral que está vivo, que é o manto, isso tem um valor imenso. Para nós, isso prova que fazer esse enredo é muito pertinente porque ele vai além do manto, é sobre qual contexto que o manto nos traz. ‘Ah, mas agora já chegou o manto e nome do enredo é a busca pelo manto’. É que a busca do manto não é sobre isso, é buscar as memórias, é buscar o que foi perdido, é buscar a dignidade. É tanta coisa que precisamos buscar que quem vai saber responder isso são os originários. Eles saberiam dizer para nós porque eles sentem as dores do apagamento. Nós não sabemos o que é isso, mas conseguimos sentir um pouquinho disso. Quando nós conseguimos transformar isso em samba, conseguimos transformar isso em plástica, conseguimos transformar isso em movimento, o nós que eu falo é a escola de samba, o carnaval, esse é o poder de comunicação. A volta do manto ajuda a revelar ainda mais o que está encoberto pela sociedade”, afirmou.

Visão do apagamento e prova da existência: as curiosidades do desenvolvimento

O manto tupinambá sempre existiu e esteve presente até mesmo nos materiais escolares, mas como uma pequena amostra de história sem o menor aprofundamento. É o que Nícolas Gonçalves explica ao apontar o sentimento que teve durante as pesquisas entre as curiosidades sobre o desenvolvimento do enredo.

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“Acho que foi entender e sentir. Eu digo que nós conseguimos fazer esse enredo porque conseguimos senti-lo. Nós fomos agraciados de ter conversas com tupinambás, conversamos muito com a Glicéria Tupinambá, que foi a nossa ‘pássaro’, que ela brinca. Ela veio, voou e nos encantou demais. Quando ela fala do manto nós nos emocionamos e aí quisemos passar isso. Eu acho que o que mais nos deixou curiosos era o fato de o manto estar sempre nos nossos livros nas escolas, mas nós vermos que não foi passado do mesmo jeito que quando pesquisamos profundamente. Eu lembro que eu tinha no meu livro de história uma imagem que tinha o manto ali e eu nem anotei porque que eu anotava outras coisas da história, em nenhum momento tinha um capítulo ali do meu livro que era sobre o manto. Eu acho que isso provocou muita gente no processo de criação porque nós precisamos saber da história do manto. Eu acho que o curioso foi isso, entender que era algo que era para ser de acesso fácil, para todo mundo conhecer e eu acho que é o que queremos despertar nas pessoas também, a curiosidade de entender o que é o manto, o que é o ‘Assojaba’ e qual a importância dele”, comentou.

Questionar a real importância do manto tupinambá é compreensível, já que a cultura desse povo é pouco conhecida pela sociedade. Em uma fotografia, o manto de penas vermelhas parece ser apenas uma espécie de capa, mas Dione afirma que para os povos originários é uma prova viva de que eles sempre estiveram em terras brasileiras, desde antes da chegada dos europeus.

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“Pelo menos o que eu entendi nesse processo pelo falar deles, o mais importante é a existência deles. O manto comprova que os povos originários estavam aqui antes, comprova que eles existem no território nacional, que não estão extintos ou apagados, como foram, por exemplo, na Bahia. Eles, com muita luta, conseguiram ser reconhecidos como tupinambás. Eles eram chamados de ‘caboclinhos’, não recebiam o devido reconhecimento. Foi uma luta muito grande para que isso acontecesse, para vermos como a sociedade sempre dá um jeito de distinguir aquilo que pode trazer problema para ela. O problema no caso é descobrir a história verdadeira, como o Nícolas falou, daquilo que não nos foi contado ou que não foi exaltado. Até estava lá no livro, em um canto jogado, assim como é o indígena no Brasil, que infelizmente, pela sociedade, e não vamos ser hipócritas em dizer que é um problema governamental, mas não, a sociedade em si se encarrega muito de jogar as minorias nos cantos. Eu nem consigo enquadrar os povos originários como minoria porque eles são a maioria, são enormes, são os povos. É muita gente que está perdida, que está sem orientação, que não tem representatividade, são poucas as que tem e lutam para sobreviver. Antes, eles guerreavam com seus arcos, suas flechas, seus ibirapemas. Hoje eles tentam sobreviver com suas falas e suas lutas, e o carnaval tem esse papel importante de reverberar essas vozes na sociedade para que as pessoas entendam que eles estão lá, para que nós possamos entender que é necessário repensar, é necessário fazer existir porque sempre existiu. A volta do manto para os povos originários é muito importante porque prova quem eles eram e estavam aqui antes. É incrível isso porque para muitas pessoas é o artefato, é o objeto, é uma peça de beleza rara, mas não é sobre isso. É um lugar de fala que nós não temos como acessar porque nós não sentimos a dor deles. É esse o nosso respeito através do manto, essa é a nossa consideração do enredo. O Tucuruvi não toma nenhum partido político, não está aqui falando sobre os povos em si, na luta dos povos, mas quando se fala do manto é quase impossível você não se posicionar”, explicou.

A busca pelo Manto Tupinambá: Tucuruvi na Avenida, por Nícolas Gonçalves

O desfile dos Acadêmicos do Tucuruvi será dividido em quatro setores. A narrativa da apresentação transforma o Manto Tupinambá em um personagem que conta sua própria história através do sonho de retornar para sua terra natal. O “manto” explica como ele foi confeccionado, lamenta sua ida para a Europa e celebra seu retorno, mas alertando para a existência de outros artefatos que, como ele, foram levados do país por estrangeiros.

Setor 1: O sonho da revelação
Nícolas: “A nossa busca se dá pelo sonho, não se dá por ele à toa. Se dá pelo sonho porque, para alcançar o encantado e para os tupinambás, o sonho é muito importante. Começamos no sonho da revelação que é quando, através do sonho, o manto se revela e diz que ele quer voltar. A relação com os cosmos, a relação com o encantado, tudo isso permeia o sonho. Nessa abertura a gente tenta representar isso de certa forma e convida o público para sonhar. Nessa abertura, nós convidamos as pessoas para sonharem e a partir do sonho elas vão se conectar com o nosso manto. Vocês vão poder ver que, na verdade, é uma abertura muito galáctica, muito como a própria Glicéria diz, com muita cosmogonia. Vamos todos sofrer de cosmogonia junto com a Glicéria para que consigamos entender e acessar esse campo que o manto dialoga”.

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Setor 2: O sonho da feitura
“Passamos para o segundo setor, que é o sonho da feitura. Nós vamos entender como é que é feito esse manto, como é que ele é construído. Nós ligamos o sagrado ao terreno e começamos ali dentro da floresta a entender o nosso território, entender como é que a própria natureza, os próprios animais ajudaram a construir esse manto. Os tupinambás acreditam que ao se vestir com manto eles se tornam pássaros para conseguirem voar e alçar o sagrado. Desde a trama do manto, tudo é conectado em um grande ecossistema. A trama do manto se dialoga muito com um nó e com a trama das redes, que é responsável pelo conjunto de habitantes que vai pescar e ter essa alimentação. Desde a trama até as penas, como é feita essa coleta das penas, isso está ali no dia a dia deles. É muito bonito ver como é que toda a confecção do manto é muito relacionada com o método de vida e o modo de vida deles. É isso que tentamos passar nesse segundo setor”.

Setor 3: O pesadelo da ida para a Europa
“Com esse manto confeccionado, nós vamos para o terceiro setor que é o manto contando a sua história e a parte ruim do sonho, o seu pesadelo. Ele vai falar como é que ele foi levado para a Europa, mas tudo isso atravessado pela fala do manto, que é o que estávamos falando a pouco, trazendo uma história contada a partir dessa visão do tupinambá. É um setor, por exemplo, que é todo flechado, e não é flechado à toa. É porque essa flecha que vai atravessar o setor é também um atravessamento da história, uma forma de reescrevê-la. Nós vamos sangrar uma história, e esse sangue revela o sangue originário, revela a pele vermelha, revela o urucum para reescrever sobre essas páginas e sobre, por exemplo, essas pinturas das missões artísticas. Nós vamos manchar todas com esse sangue originário para mostrar que muito sangue foi derramado e que a história é realmente muito trágica. Vai ser um setor mais provocativo, também com essa intenção de provocar as pessoas para elas realmente entenderem por que nós estamos reclamando tanto, por que estamos querendo tanto que esse manto volte, para as pessoas sentirem o que isso representa. Nesse setor nós vamos trazer essa parte provocativa”.

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Setor 4: A volta do Manto Tupinambá para o Brasil
“É no quarto setor que nós vamos trazer esse retorno do manto, que é um manto que vai se estender. Vamos trazer um manto que vai trazer no seu bordo todos os outros objetos que não são objetos, que são levados e colocados como objetos, mas que para os originários não são objetos. Nós falamos sobre as maracas também, que estão fora. Trazemos, por exemplo, um escudo bororó que está na Europa e que tem uma grande representatividade para os bororós, as flautas do povo xingu, que também a maioria está fora. Esse manto vem a bordo trazendo muita coisa e além. Finalizamos com uma grande alegoria que vai celebrar esse manto que retornou, esse manto que veio da Dinamarca feito de penas de guará vermelho que é muito bonito, mas que por dentro dele carrega muitas coisas que não são bonitas. Esse manto traz muitas mensagens por trás e é isso que vamos trazer nesse último setor. Eu acho que a mensagem principal é que a volta do manto, por mais que seja física e importante, ele só vai voltar quando todo mundo aqui conhecer esse manto. É um pouquinho o que a Tucuruvi quer fazer e nós temos como maior objetivo. A volta física é a volta física. Tudo bem, ele veio para o Museu Nacional, é muito bacana, mas ele só vai voltar de fato quando todo mundo falar sobre ele, saber o que é e conhecer a sua origem, conhecer a história do país de verdade. Eu acho que esse manto tem o principal significado disso, vamos saber qual foi a história do nosso povo. Eu acho que é a maior missão do nosso desfile e é assim que nós encerramos, celebrando a volta dele, mas também ajudando a propagar essas vozes que têm muito a falar ainda e muito a lutar”.

Trabalho da direção é o trunfo para o carnaval de 2025

Dione Leite acredita que o trunfo do Tucuruvi para o carnaval de 2025 vem dos frutos colhidos desde o momento em que o diretor de carnaval Rodrigo Delduque passou a aplicar seu projeto de reformulação dos diferentes segmentos da escola. O artista exaltou o trabalho e explicou a forma de trabalhar do dirigente.

”Acho que em qualquer escola a resposta é sempre a comunidade. A comunidade é essencial, ela é primordial, é base de tudo isso, sem ela não se consegue fazer carnaval. Mas eu vou destacar um outro ponto que é um trabalho que é essa nova Tucuruvi, que nós já falamos muito disso. Essa nova Tucuruvi não foi uma semente jogada ontem, nasceu, que já é uma árvore frondosa, que é linda. É um trabalho de muitos anos do Rodrigo Delduque, que vem lá de trás, com um trabalho bem nos bastidores. São muitos anos de trabalho dele. Ele sempre foi da escola, mas quando ele consegue ir trabalhando nos bastidores, ele consegue ir reformulando os quesitos da escola aos poucos, baseando-se em qualidade técnica e em comportamental. O Rodrigo vem dos esportes coletivos, e hoje temos o reflexo disso. Nós estávamos conversando há pouco tempo que o Tucuruvi é a escola que no último carnaval apresentou uma qualidade técnica como a campeã do carnaval. A Mocidade Alegre, grande campeã do carnaval, merecidíssima, ficou ali com sete quesitos gabaritados e o Tucuruvi também ficou com sete quesitos gabaritados, igual a campeã do carnaval. O nosso sétimo lugar não reflete quem nós somos. Não quer dizer que nós somos campeões, não é sobre isso, mas é sobre também podermos reconhecer o trabalho que é feito dentro da casa e por quem é feito dentro da casa esse trabalho. Nós sabemos que fazer gestão no carnaval é uma coisa bem complexa. Tem que ter muito ânimo, tem que ter muita resiliência todos os dias, e isso o Rodrigo conseguiu fazer com maestria. Esse novo Tucuruvi, na realidade, é só o resultado de um trabalho de muito tempo do Rodrigo, e juntando todas essas peças com a chegada de todos os quesitos. Estou analisando nessa última década, vem uma coisinha de cada vez, foi acontecendo. Até a última chegada, que é a do Nicolas, nesse carnaval. Ele está sempre em movimento, o cara é filho de Exu, está sempre gerando caminho e por isso que a Tucuruvi aí está com caminhos bonitos. Mas como o Rodrigo fala, uma ótima colocação ou ganhar o carnaval é sobre você validar o seu trabalho, mas não é sobre o trabalho. Quando você fala sobre o trabalho, a parada é outra, que aí é onde ele embarca na piração e ele apoia. ‘Vamos lá, vamos apostar num carnaval diferente, vamos apostar num carnaval inovador, vamos apostar nisso e depois lá na frente nós vemos o que vai acontecer, mas agora é hora disso’. Aí ele vem com a técnica, nós entramos com a técnica, nos mantemos ali dentro do nosso cercadinho, tentando dar uma cara nova aí, dar um fôlego novo para a comunidade que é a parte mais importante da escola sempre”, afirmou.

Mensagem dos carnavalescos Dione Leite e Nícolas Gonçalves para a comunidade dos Acadêmicos do Tucuruvi

“Acreditem no que vocês cantam. Vamos realizar nosso sonho, vamos em busca do nosso manto de campeão. E acreditem também na mensagem, está sendo muito bonita a forma que vocês estão abraçando o enredo. Acreditem que o propósito é grande e que vamos conseguir realizar esse propósito”, disse Nícolas.

“Nós estamos a um passo muito pequeno. Está tão perto o carnaval, é tão amanhã, é tudo tão agora. Nós vivemos intensamente o barracão, vivemos intensamente a comunidade. É como o Rodrigo falou: ’está tão perto tudo, falta tão pouco’, e falta tão pouco também para fazermos um pouco mais. A escola tem cantado muito, tem dançado muito e não é só sobre cantar em um volume alto, é sobre cantar vibrando. A escola está vibrando, a escola está com chão. A escola está pesadona, a bateria da escola é pesada. Que esse povo do Tucuruvi, essa comunidade incrível, todos os quesitos, todos os setores, os departamentos da escola, possam estar muito concentrados até o dia do desfile. Focados, como o Rodrigo fala, não é hora de se distrair, não é hora de ficar olhando para o lado. É hora de mirar ali e só ir fazer aquilo que vem ensaiando. A escola está ensaiando, a escola está se preparando de verdade e a possibilidade é muito real de nós conseguirmos tocar no nosso manto, e nós vamos, até o último dia, lutar por isso”, concluiu Dione.

Ficha técnica
Enredo: “Assojaba – A busca pelo manto”
Alegorias: 4 carros + 2 tripés
Componentes: 2500
Alas: 19
Diretor de barracão: Roberto Miranda
Diretores de ateliê: Regiane Adriano e Diego Martins
Decoração de alegorias: Augusto Oliveira
Desenvolvimento de comissão de frente e composições: Léo Max Castro

Milton Cunha sobre os desfiles de 2025: ‘mais disputado de todos os tempos’

Comentarista e apresentador, Milton Cunha, estará novamente no carnaval “Globeleza”. O artista vai estar presente nas coberturas do Rio e de São Paulo. Ele conversou com o  CARNAVALESCO.

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Foto: Cadu Pilotto/Globo

Como é estar mais um ano comentando os desfiles na TV Globo?

“Eu já fui comentarista, virei apresentador, e hoje eu sou um treco que fui escolhido pra fazer todas transmissões. O que muito me honra é ser embaixador Globeleza. Sai de Belém do Pará, peguei o pau de arara para isso. Fui estudando e pesquisando. Hoje eu consigo falar de figurino, alegoria, enredo, reconheço as pessoas. Eu sou tão de dentro que pra mim é a minha família, e é o milagre da minha família, porque desfile de escola de samba é um milagre. É um milagre de esforço, criatividade, superação. Viva as comunidades”.

Como é também estar mais um ano à frente do Carnaval de São Paulo? Como é a sua relação com os desfiles de lá?

“Eu sou um apaixonado por escola de samba, comunidade, enredo, samba. Cada vez que eu alargo esses horizontes, eu vou vendo que os tentáculos de escola de samba foram consumindo o Brasil. Por exemplo, em São Paulo, eles chegaram em 1930, Vai-Vai, Nenê de Vila Matilde. Se aqui é 1928, lá é 1930. É impressionante a abrangência, a representatividade, a irmandade do samba. Estar em São Paulo é o máximo, porque já é um carnaval nacional, eles tem um belo de um Sambódromo, tem belas escolas de samba, belos sambas e baterias. É luxo total estar nas seis transmissões”.

E pra você, o que você espera dos três dias de desfile que a gente vai ter aqui no Rio?

“Eu acho que vai ser de uma emoção gigante, porque as escolas estão cada vez mais preparadas. É tão excelente o nível, os enredos são tão maravilhosos. Não tem um meia-boca, não tem um borocochô, os sambas, as baterias, vai ser um arrasa-quarteirão. E todas vão se apresentar de noite, acho que isso vai nivelar a apresentação. A comparação artística, só que essa comparação vai ser muito louca, porque os envelopes das notas vão ser fechados no fim de casa dia. Vai ser um Deus nos acuda, um salve-se quem puder, vai ser o mais disputado de todos os tempos”.

Você poderia falar sobre a sua visão dos enredos que vão ter esse ano na Sapucaí?

“São dez de negritude, são dez de celebração de força da ancestralidade preta, que acabou forjando o desfile, e dois genéricos e lindos, um sobre assombrações, cultura popular, Câmara Cascudo, em Vila Isabel. E o outro, o futuro, que resgata o Renato Lage, a Marcia Lage, a Lilian Rabelo, da Mocidade. O futuro, as assombrações e dez olhando pro umbigo da escola de samba. É um ano que quem for podre que se quebre, porque é briga de cachorro grandérrimo. Os enredos são fabulosos, vai ser uma atrás da outra, aguenta a coração, vai ser de uma beleza imensurável”.

Freddy Ferreira: ‘A revolução feminina no ritmo das baterias’

A revolução feminina no ritmo das baterias cariocas é um processo que já ocorre e se encontra em franca expansão. Incontornável e de valor imensurável, cada vez mais a mulherada vai chegar junto para fazer seu ritmo dentro das baterias. Esse processo é gradual e ainda tem muito onde melhorar, mas algumas “vitórias” podem ser comemoradas, mesmo sabendo que muitas batalhas ainda serão travadas.

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Foto: Eduardo Hollanda/Divulgação Rio Carnaval

É nítido, por exemplo, o quanto o grupo de acesso da Série Ouro da Liga RJ já abraça fervorosamente o talento rítmico feminino. Por se tratarem de escolas com problemas envolvendo contingente de ritmistas, as minas têm por lá maior oportunidade para se aventurarem nos mais diversos naipes. Foi realmente um privilégio acompanhar e constatar esse crescimento de participação feminina no ritmo, nos ensaios técnicos do acesso a cada domingo.

No entanto, também é possível notar que a participação de mulheres hoje em dia tem sido praticamente restringida a serem ritmistas mesmo. Pouquíssimas são oportunidades dadas em diretorias, principalmente na parte da cozinha do ritmo. Nas peças leves, a situação de mulheres diretoras é um pouco melhor, principalmente na ala de chocalhos, onde já existe uma cultura rítmica feminina consolidada. Falta e muito oportunidades para mulheres virarem diretoras de bateria, auxiliando na parte de trás do ritmo, onde ainda existe uma incidência maior de posturas enraizadas pelo machismo patriarcal, envolvendo inclusive preconceito.

Cabe ressaltar que a situação no grupo especial deixa ainda mais a desejar, se comparada a do grupo de acesso. Mesmo o processo sendo em tese aberto para a participação das damas no ritmo das baterias, o caminho costuma ser bem mais árduo que numa escola do acesso. Vale mencionar que é mais raro ainda encontrar mulheres diretoras na cozinha do ritmo (parte de trás) no grupo especial, sendo possível contar nos dedos as exceções. É como se cada mina que tocasse por uma agremiação do especial precisasse cotidianamente mostrar estar mais do que preparada para estar ocupando aquele espaço.

O mundo do samba e do ritmo das baterias é o próprio espelho que reflete a sociedade, incluindo suas próprias imperfeições. Sendo assim, todas as questões sociais envolvendo a equidade sexual também se farão presente dentro do carnaval carioca. Oportunidades iguais entre gêneros diferentes se constituem num discurso lindo, cuja prática dentro de uma bateria destoa da beleza contida nesses ideais. É plenamente viável sentir que o quadro está evoluindo, tanto quanto se faz necessário suscitar o debate para que a causa seja amplamente abraçada como ela merece.

Uma escola de grupo especial que tem nitidamente caminhado na contramão dessa falta de oportunidade é a bateria de mestre Dinho, na Unidos de Padre Miguel. Por lá, a participação feminina no ritmo é culturalmente tão presente, que a UPM possui uma bateria feminina para provar seu valor, a “Batuque das Guerreiras”. Talvez o próprio período extenso se consolidando musicalmente dentro do grupo de acesso também tenha influenciado para que as mulheres chegassem junto da bateria da Unidos, buscassem essa oportunidade e se sentissem à vontade para fazer parte do ritmo.

É um fato que a participação feminina no ritmo das baterias ainda precisa melhorar, principalmente com cada vez mais cargos de diretorias concedido à elas e por merecimento. Não basta deixar as mulheres tocarem, só com intuito de fazerem parte. É necessário que seja permitido que elas ocupem de fato aquele espaço musical. Se desenvolvendo e também auxiliando na criação musical. Mais mulheres diretoras de baterias significa necessariamente mais minas musicalmente talentosas tendo em outras damas verdadeiras fontes de inspiração. A revolução feminina no ritmo das baterias segue em curso, mesmo que em marcha lenta, sendo impossível de ser evitada. Qualquer forma de impulsionamento ajudará imensamente nessa questão. Esse texto é dedicado ao projeto “Mulheres No Ritmo” (MNR) que nasceu com a finalidade de registrar cada mulher presente num ritmo de bateria, agregando exposição e valor à uma causa tão nobre e necessária.

Fábio Pavão diz que Portela terá alegorias modernas e afirma: ‘portelense vai ficar muito feliz com o que vai ver’

Ao contrário do Grammy, a Portela celebrará a vida e a obra do cantor Milton Nascimento no Carnaval 2025, com o enredo “Cantar Será Buscar o Caminho Que Vai Dar no Sol”. O CARNAVALESCO entrevistou o presidente Fábio Pavão, que contou uma história muito interessante sobre essa homenagem ao lendário artista brasileiro, além de dar detalhes do que podemos esperar da Majestade do Samba na Avenida.

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O que representa a Portela na sua vida?

“A Portela é parte da minha história, parte da minha identidade, parte de quem eu sou, desde a infância, passando pelas escolhas que eu fiz na fase adulta. O carnaval veio para mim quando me tornei professor e antropólogo. Fui para estudar a escola de samba e estudei a Portela. É parte fundamental daquilo que eu sou”.

O que você sentiu quando os carnavalescos falaram que o enredo seria sobre o Milton Nascimento?

“O Milton foi no camarote da Portela no desfile das campeãs ano passado, e isso acabou influenciando os carnavalescos. Eles já tinham pensado nessa homenagem antes, mas quando viram isso, entenderam como um sinal. Na reunião para decidir qual seria o enredo, apresentamos algumas propostas, até de enredos patrocinados que estávamos negociando, até que os carnavalescos apresentaram essa proposta de falar sobre o Milton. Claro que todo mundo que estava lá concordou que aquilo era muito bom, e o tema acabou se tornando nossa prioridade. Entramos em contato com a família do Milton e a receptividade foi a melhor possível. Temos certeza que faremos um grande carnaval”.

O que você pode prometer ao portelense em termos de alegorias e fantasias?

“As alegorias e fantasias estão no mesmo estilo do ano passado, com uma linguagem moderna, feitas a partir da criatividade do André e do Antônio. Ano passado nós gabaritamos o quesito fantasia. Em alegoria nós perdemos pontos, pois tivemos um problema com duas equipes que trabalhavam com a gente, que não trabalham mais. Agora estamos com um trabalho muito bem feito no barracão. O portelense vai ficar muito feliz com o que vai ver”.

A Águia da Portela vazou para a mídia após a visita da primeira-dama, Janja, ao barracão. O que você pensou quando viu esse vazamento?

“Nada. Isso acontece. A gente pediu para que fosse divulgado só depois do carnaval, mas infelizmente sabemos que com uma equipe muito grande, você fala uma coisa para quem está no Barracão filmando, e a equipe está editando, faz outra, pois não sabe. Teve esse erro de comunicação, e essa falha vazou uma parte da nossa Águia, mas nada demais. Essas partes do Carnaval, até 2010 ou 2011, melhor dizendo, antes do incêndio, todo mundo tinha passarela para acompanhar. Acho que nós regredimos nisso nós regredimos nessa questão. O carnaval do Paulo Barros, por exemplo, o do Segredo, todo mundo visitava a cidade do Samba e via tudo, mas quando as alegorias chegaram no Sambódromo, foi algo completamente diferente. As alegorias se traduzem de forma diferente na Avenida”.

E o que o público pode esperar do desfile oficial?

“Acho que vai ser um carnaval nivelado. Muitas escolas vêm preparadas, a Portela também. Vai ser uma disputa árdua, como foi no passado também, com o Carnaval de altíssimo nível. Quero outro Carnaval de altíssimo nível. Na terça-feira, acho que a Portela vai finalizar esse grande carnaval, fechando as três noites de apresentação com uma performance que espero que esteja arrebatadora, trazendo tudo o que a gente preparou o ano inteiro, aquilo que a comunidade Madureira vem fazendo em Oswaldo Cruz”.

Em abril haverá a eleição para definir o novo presidente da Portela, mas quanto a isso, Pavão preferiu não dar detalhes se vai ou não concorrer novamente. Ele também não cita possíveis nomes para apoiar, caso não venha na disputa.

João Felipe Drumond é eleito vice-presidente da Imperatriz Leopoldinense

Atual vice-campeã do Carnaval carioca, a Imperatriz Leopoldinense tem um novo vice-presidente executivo: João Felipe Drumond. Em assembleia geral extraordinária, realizada na noite da última terça-feira, na quadra da escola, em Ramos, Zona da Leopoldina, o jovem de 23 anos, também diretor financeiro da Liesa, foi eleito por aclamação pelo conselho da agremiação, após a renúncia de Vinícius Drumond ao cargo.

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Foto: Divulgação/Imperatriz

O novo vice-presidente, que antes ocupava os cargos de diretor executivo e presidente do conselho deliberativo da verde, branco e dourado, dará continuidade ao trabalho realizado pela atual gestão, que tem como presidente executiva Cátia Drumond.

“É uma honra muito grande continuar, ao lado da minha mãe e de nossa diretoria, o legado de mais de 50 anos do meu avô [ao se referir a Luiz Pacheco Drumond]. Posso garantir que o trabalho seguirá no mesmo padrão de até agora, fazendo da Imperatriz essa potência, sempre pronta para entregar carnavais de excelência ao público e nossa comunidade,”, afirmou João.

Focada no desfile do próximo domingo, a Imperatriz Leopoldinense levará para a Marquês de Sapucaí o enredo “ÓMI TÚTÚ AO OLÚFON- Água fresca para o Senhor de Ifón”, do carnavalesco Leandro Vieira, sendo a segunda escola a passar na avenida.

Série Barracões SP: Colorado do Brás levará a história do Afoxé Filhos de Gandhy do Cais de Iemanjá para o Anhembi

O maior afoxé do mundo passará pelo Sambódromo do Anhembi na homenagem da Colorado do Brás através do enredo “Afoxé Filhos de Gandhy no ritmo da fé”, assinado pelo carnavalesco David Eslavick. Retornando ao Grupo Especial no ano em que completa seu cinquentenário, a Vermelho e Branco aposta na tradição da folia baiana para mostrar que a elite do carnaval paulistano é seu lugar por direito.

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Identificação como símbolo de resistência cultural

O processo de desenvolvimento do enredo já estava em andamento quando David Eslavick chegou na Colorado do Brás. É seu primeiro trabalho assinando um desfile como carnavalesco, já com a responsabilidade de abrir as apresentações do Grupo Especial de São Paulo. O artista falou sobre a motivação que inspirou a escola a homenagear os Filhos de Gandhy, ressaltando a identificação de paralelos entre os exemplos de resistência do afoxé e da Colorado.

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“Falar sobre o Afoxé Filhos de Gandhy acho que tem tudo a ver com a cara da Colorado do Brás. É uma escola que resiste, é uma escola feliz, alegre e o povo baiano é isso. O povo baiano e os Filhos de Gandhy foram resistência, eles passaram por muitos altos e baixos, voltaram, retornaram novamente, ficaram dois anos fora e voltaram novamente através de alguns rituais, entre outras situações, é bem a cara da Colorado isso. A Colorado é uma escola que batalha muito, tem diversas dificuldades, mas não perde o sorriso. Eu acredito que por conta desses adjetivos, dessas situações, que eles escolheram fazer o enredo sobre os Filhos de Gandhy”, declarou.

David explicou como foi a sua contribuição para a conclusão do projeto da Colorado, visando garantir o melhor resultado possível para avançar para as próximas etapas e valorizando o trabalho do enredista, que também faz parte da direção de carnaval da escola.

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“Nós temos um enredista, que é o Tiago Morganti, então a pesquisa do enredo já estava bem mais que detalhada. Eu só fui só acrescentando algumas coisas, tirando outras que eu não achava tão necessárias e buscando um pouco mais de informação para que possa ser um pouco mais verdadeiro e uma coisa mais a cara do que estávamos falando. Eu mais acrescentei situações do que realmente fiz o processo de pesquisa”, afirmou.

Fundação dos Filhos de Gandhy e o encantamento com o projeto

O carnavalesco contou brevemente a história do Afoxé Filhos de Gandhy, de modo a favorecer a contextualização da proposta do enredo da escola, explicando a formação original puramente como um bloco carnavalesco e a inspiração para a conversão em um afoxé.

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“Os Filhos de Gandhy é um afoxé que formado por um grupo de estivadores próximo ao cais do porto de Salvador. Antes, eles eram chamados de Bloco do Comendo Coentro, que foi a primeira formação, e logo depois veio a formação do Afoxé Filhos de Gandhy. Essa mudança veio por conta de uma crise financeira, o bloco resolveu sair vestido de branco, uma ideia de Vavá Madeira, para que pudessem fazer uma homenagem a Mahatma Gandhi, que na época tinha sido assassinado. Eles resolveram vir com lençóis, toalhas, para que representassem a paz, a não violência, que era o que Mahatma Gandhi pregava naquela época, e até hoje os Filhos de Gandhy seguem assim. Antes era só ‘Filhos de Gandhy’, e agora se chamam Afoxé Filhos de Gandhy. Foi mais à frente que eles ganharam o título de maior afoxé do Brasil, mas eles se inspiraram nesse ativista da não violência que foi Mahatma Gandhi para propagar a paz mediante os desfiles deles. As cores do bloco foram escolhidas pelos pais de santo, que são o branco de Oxalá e o azul de Ogum, e essa junção da matriz africana com os Filhos de Gandhy foi o motivo de escolherem os Ogans para que fizessem a bateria do bloco na época. Eles foram convidados e, nisso, foram se formando os Filhos de Gandhy. Por isso tem essa relação com a matriz africana, que é de onde eles tiraram mais essa expressão, por conta dos cantos de Ijexá. Fizeram essa mistura toda e surgiu esse lindo Afoxé Filhos de Gandhy”, explicou.

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Para David, o conjunto do projeto desenvolvido pela Colorado o conquistou, celebrando o fato de a comunidade da escola ter abraçado a ideia de homenagear os Filhos de Gandhy.

“O interessante de tudo é que eu me encantei por um todo do enredo, por eu estar fazendo o carnaval e estar com muita vontade de fazer o carnaval. A minha mente funciona de uma forma muito rápida, estou pensando naquilo ali, daquilo ali, já estou nesse aqui, vem mil coisas na minha cabeça. Poder fazer o carnaval todo e a minha cara, a minha mente vai a mil. Não tem nada em especial que eu possa falar: ‘isso aqui é legal, vou nisso’. Não, eu vou o carnaval como um todo, está muito gostoso fazer e a Colorado está abraçando a ideia, está abraçando a causa, está me dando liberdade. Eu acho que tem tudo para dar certo”, afirmou.

Colorado do Brás na Avenida: Da Índia ao Carnaval de Gandhy

A Colorado do Brás dividirá o desfile em quatro setores, onde nos quais abrirão com uma referência à Índia do ativista Mahatma Gandhi, que inspirou a conversão de um bloco de carnaval em afoxé. A escola mostrará o local onde os Filhos de Gandhy foram fundados, além das referências que artistas brasileiros fizeram à agremiação ao longo da história e encerrando com uma celebração ao estilo do afoxé de brincar o carnaval de Salvador. David Eslavick explicou como essa distribuição ocorrerá na Avenida.

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“Vamos abrir com a Índia de Gandhi, com tudo relacionado à formação dos Filhos de Gandhy e a relação que eles têm com a Índia e com Mahatma Gandhi. Nosso primeiro setor é o setor indiano. Em seguida, nós já entramos no setor da Bahia, que é a história do Cais do Porto de Iemanjá, onde os Filhos de Gandhy foram fundados. Logo depois já vem as exaltações, que são os artistas que contribuíram e exaltaram o Afoxé Filhos de Gandhy em canções. Esse próximo setor já vai para a parte religiosa mesmo, da matriz africana. Logo atrás, nós fechamos com o Carnaval de Gandhy, daquele festejo todo, é por isso que tem o Pelourinho. O Pelourinho nós resolvemos colocar já daí para trás do Carnaval de Gandhy, que é a finalização do nosso enredo, em que nós achamos que se adequa mais. Eu acho que para fechar o enredo sobre os Filhos de Gandhy, nada melhor que fechar com o Carnaval de Gandhy, que é a festa em que eles vêm trazendo a mensagem que eles vêm passando”, detalhou.

A intenção da Colorado do Brás é fazer como os Filhos de Gandhy propuseram à época de sua conversão e propagar a paz através da alegria proporcionada pelo povo baiano, ajustada devidamente às características de um desfile de escola de samba.

“Através do enredo, vamos propagar a paz. A Colorado do Brás trará a alegria e a folia do povo baiano. Nós temos muita afinidade com os Filhos de Gandhy devido às dificuldades e resistências que todos eles enfrentaram. A Colorado também passa por situações semelhantes, mas não perde a alegria, não perde a folia, não perde o sorriso no olhar, o sorriso no rosto e aquele olhar de felicidade e alegria. A mensagem que vamos passar é a propagação da paz e a alegria do povo baiano, e essa é também a alegria da Colorado do Brás. A escolha do enredo se encaixou perfeitamente na escola, que se identificou muito com ele. Tanto que o Gilson Ney, que nunca desfilou em nenhuma escola que abordasse o Afoxé Filhos de Gandhy, vai desfilar na nossa. Ele se apaixonou pela escola porque a Colorado é realmente apaixonante. Essas dificuldades da Colorado e com tudo o que os Filhos de Gandhy passaram, acredito que foi o casamento perfeito para realizarmos um bom trabalho na Avenida”, afirmou David.

Questionado sobre o trunfo da Colorado do Brás para realizar uma grande abertura dos desfiles do Grupo Especial, o carnavalesco aposta na força do impacto que o projeto desenvolvido pela escola causará. David acredita que causar uma boa impressão será fundamental para manter a Vermelho e Branco viva na mente do público e dos jurados mesmo após as apresentações das demais agremiações.

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“Para garantir o resultado esperado, conto com a escola como um todo. Estou trabalhando muito para pontuar situações durante o meu desfile porque acredito que, ao abrir o carnaval na sexta-feira, tenho a obrigação de marcar o dia. Caso contrário, virão inúmeras escolas e o meu desfile será apenas mais um. Por isso preciso marcar o dia para que, no futuro, as pessoas digam: ‘ah, você lembra o que eles fizeram? Você viu o que a Colorado fez?’. Eu venho trabalhando e pontuando situações no meio do desfile para alcançar essa ascensão e garantir que minha escola passe pela Avenida e marque aquela sexta-feira. Pelo menos naquele dia, as pessoas vão lembrar da Colorado. Estamos fazendo um trabalho árduo, trabalhando muito. A Colorado não tem dinheiro, mas temos muita força de vontade. É uma escola que vai entrar com tudo na Avenida, vai rasgar aquele Anhembi ao máximo. Vamos mostrar que estamos ali, merecemos estar onde estamos hoje. Não deveríamos nem ter caído, mas acredito que, com esse desfile, para minha escola será um dos carnavais da vida deles. Eu acredito que o meu carnaval, como um todo, e essas pontuações, como um carro com uma surpresa, uma ala com uma movimentação legal. Temos outro carro também, com uma situação que vou apresentar e trabalhar nisso. Acho que vai ser legal, vai chamar a atenção dos jurados e do público. O nosso carnaval está de fácil leitura e acredito que, ao olhar, qualquer pessoa consegue identificar o que é. Acho que a obrigação de qualquer carnavalesco é ter fantasias e alegorias de fácil leitura para qualquer leigo que esteja assistindo, para que compreenda o que está sendo transmitido, mesmo que não conheça, porque o carnaval é cultura, a pessoa consegue aprender. Portanto, devemos fazer alegorias e fantasias que sejam facilmente identificáveis e que transmitam claramente a mensagem que queremos passar”, concluiu.

Mensagem do carnavalesco David Eslavick para a comunidade da Colorado do Brás

“Para a comunidade do Brás, da minha escola, eu acho que só tenho que pedir que todos cantem em uma só voz, todos brinquem em um só corpo e todos se divirtam em uma só pessoa. Eu acho que é o nosso momento, é a nossa hora, é a nossa história. Acho que juntos somos mais fortes, então peço a todos vocês, que na verdade são a cereja do bolo, que façam o melhor que puderem na Avenida”.

Ficha técnica
Enredo: “Afoxé Filhos de Gandhy no ritmo da fé”
Alegorias: 4 carros
Componentes: 1700
Alas: 15
Diretor de barracão: Rodrigão
Diretor de ateliê: Karyn Fernandez
Escultor: Eliandro