A Comlurb iniciou podas preventivas no trajeto dos carros alegóricos, da Cidade do Samba, na Gamboa, até o Sambódromo. O objetivo é proteger as árvores e os carros alegóricos das escolas de samba de eventuais acidentes, devido às manobras com veículos de grandes dimensões, comuns nesta época do ano.
O serviço segue até uma semana antes do desfile na Passarela do Samba, e está sendo realizado durante a madrugada para não causar nenhum transtorno no trânsito ou atrapalhar a dinâmica da cidade. No roteiro estão a Avenida Venezuela, a Rua Sacadura Cabral, a Avenida Rio Branco e a Presidente Vargas. A poda será feita também nas árvores na área interna da Passarela do Samba.
A programação de fevereiro do Parque de Ideias já está em ritmo de Carnaval. O projeto, idealizado por Marcio Debellian, leva programação gratuita para a Biblioteca Parque Estadual, no centro do Rio de Janeiro, e convida Milton Cunha, Luiz Antônio Simas e Leonardo Bruno para três atrações especiais que exploram diferentes aspectos da festa mais popular do país. As atividades acontecem entre os dias 10 e 26 de fevereiro e incluem uma oficina sobre desfiles marcantes, uma aula magna sobre a história do Carnaval no Rio e uma imersão no universo dos figurinos carnavalescos. Toda a programação é gratuita.
Abrindo as atividades, nos dias 10 e 14 de fevereiro, das 14h às 17h, o jornalista, escritor e diretor Leonardo Bruno ministra a oficina “Os 10 Desfiles Inesquecíveis dos Últimos Tempos”. Pesquisador do Observatório do Carnaval no Museu Nacional (UFRJ), autor de livros como “Explode, Coração: Histórias do Salgueiro” e “Cartas para Noel: Histórias da Vila Isabel”, e diretor da série “O Samba Me Criou”, Leonardo relembra momentos marcantes dos desfiles das escolas de samba do Rio, trazendo análises e curiosidades sobre os grandes espetáculos da Sapucaí.
No dia 17 de fevereiro, das 14h às 16h30, o historiador e escritor Luiz Antônio Simas conduz a palestra “As Culturas de Festas da Praça Onze”, local emblemático do Carnaval do Rio, responsável pelo surgimento do samba carioca e da tradição dos desfiles. Simas é especialista nas tradições ancestrais brasileiras e autor de mais de 23 livros sobre cultura e religiões populares, incluindo “Dicionário da História Social do Samba”, que lhe rendeu um Prêmio Jabuti em 2016, e “Samba de Enredo: História e Arte”.
Encerrando a programação carnavalesca, no dia 26 de fevereiro, das 10h às 12h, Milton Cunha ministra a palestra “Figurinos de Carnaval”. Doutor em Letras pela UFRJ, com pós-doutorado em História da Arte, Milton é conhecido por seu trabalho como comentarista na TV Globo e outras emissoras, além de sua atuação como cenógrafo de espetáculos no Brasil e no exterior. A aula aborda o processo de criação dos figurinos que desfilam nas avenidas e revela detalhes dos bastidores criativos da festa.
Sobre o Parque de Ideias
O Parque de Ideias é idealizado pelo documentarista Marcio Debellian (“Fevereiros”) e tem como objetivo levar programação cultural e educativa às bibliotecas públicas da cidade. Os eventos incluem shows, cursos em parceria com a PUC-Rio, oficinas literárias, exibições de filmes, palestras e encontros com artistas e criadores.
Nos últimos meses, o projeto recebeu artistas como Adriana Calcanhotto, Gilberto Gil, Lenine, Zélia Duncan, Elisa Lucinda, Gregório Duvivier, Conceição Evaristo e ofereceu mais de 500 horas de aula em cursos e oficinas, criando um público cativo e interessado na programação. Mais de 7.800 pessoas participaram de todas as atividades oferecidas pelo Parque de Ideias entre 2022 e 2023.
O Parque de Ideias é uma realização Debê Produções com patrocínio do Instituto BAT, Vivo, Energisa e Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado do Rio de Janeiro, através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura.
SERVIÇO PARQUE DE IDEIAS
De 10 a 26 de fevereiro de 2025
Local: Biblioteca Parque Estadual – Av. Pres. Vargas, 1261, Centro – Rio de Janeiro
Instagram Parque de Ideias: @parque_de_ideias
Site: https://linktr.ee/parqued
Grátis. Livre.
Para participar é necessário se inscrever através do site
OFICINA “OS 10 DESFILES QUE MUDARAM A HISTÓRIA DO CARNAVAL” COM LEONARDO BRUNO
10 e 14 de fevereiro, das 14h às 17h
PALESTRA “A CULTURA DAS FESTAS NA PRAÇA ONZE” COM LUIZ ANTÔNIO SIMAS
17 de fevereiro, das 14h às 16h30
PALESTRA “FIGURINOS DE CARNAVAL” COM MILTON CUNHA
26 de fevereiro, das 10h às 12h
A Estação Primeira de Mangueira trouxe para o Carnaval 2025 um talento da Terra da Garoa para comandar seu carnaval. Sidnei França já exerce o ofício de carnavalesco desde 2009 em São Paulo, onde conquistou cinco campeonatos pela Mocidade Alegre e pela Águia de Ouro, e atualmente é responsável há dois carnavais pelo Vai-Vai. Foi com essa bagagem que ele foi convidado pela presidente Guanayra Firmino para assinar o carnaval da Verde e Rosa. Cria da Morada do Samba, Sidnei buscou fazer do seu trabalho no Rio uma folha em branco por conta das diferenças entre os carnavais das duas maiores cidades do país, e enquanto pensava em qual seria o melhor enredo para a Mangueira, foi apresentado por um amigo a um livro, nascido como uma tese de mestrado, que propõe uma investigação sobre a origem dos escravizados que chegaram ao Cais do Valongo, Zona Portuária do Rio, que eram em sua imensa maioria bantus. A partir deste fato, o carnavalesco encontrou a história a ser contada na Sapucaí, em forma de homenagear o legado deixado por esses povos na construção da cidade e da identidade carioca, com o enredo “À Flor da Terra – No Rio da Negritude Entre Dores e Paixões”.
No início da série de barracões do Grupo Especial, o CARNAVALESCO entrevistou Sidnei França, que deu os detalhes de como foi esta busca pelo enredo na Mangueira e como ele viu a necessidade de falar sobre a contribuição dos bantus para a cultura carioca.
“Quando a Mangueira me contratou, eu falei, vou ter que pensar uma coisa muito legal. Primeiro que é uma escola potente para discursar, a narrativa da Mangueira sempre ressoa de uma forma muito forte, trata os assuntos e aquilo sobe e vira um acontecimento, tanto que poucas escolas homenageiam como a Mangueira. Tem Bethânia, Chico Buarque, Alcione. Ela tem uma força narrativa que faz com que algo que em outra escola fosse apenas um bom enredo vire algo gigantesco. Já morando aqui no Rio, frequentando o barracão, montando equipe de trabalho, e sempre pensando, eu tenho um amigo aqui do Rio que é professor de história e, nessa fase de definir enredo, ele me entregou a dissertação de mestrado do professor Júlio César Medeiros que escreveu “A Flor da Terra”. Depois, ele publicou em livro e queria investigar quem era e de onde vinham os pretos que desembarcavam no Cais do Valongo. O trabalho dele começou a criar números e estatísticas a respeito de quem eram e de onde vinham aquelas pessoas, e 80% dos pretos que chegaram no Rio escravizados através do Cais do Valongo eram bantu. Se você pensa que mais de três milhões de pretos foram desembarcados, 80% é muita gente. Foram escravizados e ocuparam a cidade do Rio de Janeiro. Estavam nas ruas trabalhando, falando, comendo, produzindo, dialogando, se divertindo também, porque a gente precisa parar com esse estigma de que o preto escravizado era só passivo e submisso. Não, ele também trapaceava, jogava, se divertia, tinham uma vivência que é o contexto da Pequena África”, dissse Sidnei ao falar do pensamento para concepção do enredo.
O carnavalesco explicou o processo de pegar essas informações, organizar um desfile em homenagem e em reparação ao desconhecimento que se tem da influência bantu nos hábitos do Rio de Janeiro. Foi pontuando palavras, alimentos e tradições que são corriqueiras dos moradores da Cidade Maravilhosa.
“Por que todo mundo diz da onde veio a cultura indígena?, todo mundo diz da cultura europeia, e não tem uma entrega justa para contribuição bantu. Eles já apareceram em outros carnavais, só que não era falar sobre o bantu, mas a contribuição, e, principalmente, entregar a autoria de muita coisa, fazer justiça através de um desfile de escola de samba, para o povo saber que se você fala bunda, quitute, quitanda, quilombo, samba, chamego, xodó, dengo, são palavras bantu. Está no nosso dia a dia. É bonito você entregar autoria e saber porque e de onde vem aquilo que você fala, o que você come. Vários alimentos são bantu, questões religiosas, e se hoje se veste de branco no Réveillon, em Copacabana, vem dos omolocôs, e eles eram de uma casa ligada à ancestralidade bantu. A tradição bantu está diretamente ligada ao fato de todo mundo estar de branco estourando champanhe. Esse desfile da Mangueira não é para simplesmente falar da tradição bantu de uma maneira iconográfica, mas apresentar na prática esses valores, para que a sociedade reflita e comece a valorizar a quem de direito. A força da tradição bantu na cidade do Rio é muito grande, mas isso é apagado, não é cultuado. Você começa a entender que desde a chegada desses pretos tem um apagamento dos seus corpos, das suas identidades, mas isso perdura até os dias de hoje, quando você não reconhece essa identidade, você apaga. Ser carioca é viver entre dores e paixões, principalmente, na negritude, porque você tem que conviver com a marginalidade, a violência, com as balas perdidas que sempre acham os mesmos corpos. A vulnerabilidade social é histórica. Houve o fim da escravização no papel, mas não houve políticas públicas de trabalho, de moradia, de acolhimento, de oportunidade para essa população preta. São sempre as populações mais vulneráveis”, pontuou Sidnei.
Para o artista, a história dos bantus deixa como legado também o carnaval, e desta forma se conecta com a Mangueira, e a figura do cria como personificação dessa identidade das comunidades e dos morros cariocas.
“A gente faz um diálogo entre toda essa construção dos bantus com a negritude atual personificando a figura do cria, que está na logo do enredo, camisetas, identidade visual, porque é onde a Mangueira se torna tão ela dentro desse contexto, quando você apresenta um morro como o da Mangueira, que já é tido como um patrimônio geográfico da cidade do Rio. A figura do cria sintetiza tudo isso que “A Flor da Terra” propõe, que são herdeiros de uma tradição banto direta na cidade do Rio. É um quilombo moderno, porque o morro da Mangueira é um quilombo, resistência, identidade, pertencimento. Se você chega na Zona Sul do Rio e fala onde você mora, no morro da Mangueira, a pessoa pode te olhar assim, mas sabe o que é, qual é o tamanho da representação, confere identidade, e você não precisa falar mais, se sabe que você deve ser uma pessoa de muita luta, aguerrida. O cria dialoga desde o preconceito que a elite tem para com as figuras do morro, de não entender sua música, jeito de se vestir, jeito de falar, sua própria apresentação visual, seu tom de pele, porque tinge o cabelo, descolore, o nevou. É uma série de questões de construção identitária que não são compreendidas por uma parcela da população que não quer nem entender o que é um morro, e desvaloriza, ou seja, mudam os tempos, mudam os mecanismos, mas esse apagamento dos 80% dos bantus que chegaram no Valongo permanece. O que a Mangueira traz com orgulho são os seus crias, valores, como a possibilidade de oferecer criatividade, potência, samba e carnaval para a cidade do Rio de Janeiro, ou seja, tudo isso que vocês aplaudem a cada fevereiro também é bantu, também é Mangueira, também é cria, também é nosso. O nosso samba fala, quer imitar meu riscado, descolorir o cabelo, bater cabeça no meu terreiro. Quer dizer, você me critica, mas você usa tudo que é meu, e o samba e o carnaval da Mangueira é o cartão de visitas dessa cidade chamada Rio de Janeiro”.
Sidnei França falou também sobre como está sendo trabalhar no Rio, na Mangueira, e da concepção prática do carnaval mangueirense, destacando as mudanças em relação ao trabalho na folia de São Paulo.
“O carnaval do Rio, para mim, é uma novidade no aspecto de criação, trabalho, de entender que hoje eu tenho a responsabilidade de criar e dirigir o desfile da Estação Primeira de Mangueira, e que é uma grande responsabilidade, mas eu não vejo como uma surpresa, como se eu não entendesse o que acontece na Sapucaí. Tem uma curva de 90 graus que em São Paulo não tem, tem um viaduto, tem a torre da TV, tudo isso eu acompanhei quando nem existiam arquibancadas dos dois lados, era um paredão de camarote. Dentro desse contexto todo, o carnaval do Rio é muito natural para mim, até mesmo as diferenças entre o Rio e São Paulo. Eu nunca pensei eu quero ser carnavalesco no Rio, até porque eu tenho uma trajetória em São Paulo, uma história no carnaval de São Paulo, alguns títulos conquistados lá, e vir para o Rio é começar do zero, como se fosse uma folha em branco e as pessoas falarem: ‘em São Paulo ele domina um estilo de fazer carnaval, é um outro padrão de iluminação, o enquadramento de arquibancada é diferente’. A escola passa na avenida em uma visualidade muito diferente. O Rio tem uma outra maneira de enquadrar a escola na pista e o trabalho acontecer. Aceitar o convite da Mangueira é recomeçar, é uma nova etapa, e eu tenho consciência disso. Também tenho consciência do tamanho da Mangueira, e não bastasse estrear no carnaval carioca, eu estou estreando simplesmente na Estação Primeira de Mangueira. Isso requer uma responsabilidade dupla, porque eu tenho que entregar para o Carnaval do Rio, mas eu também tenho que entregar para a comunidade da Mangueira, que é exigente, é chata, cobra, questiona. Na Mangueira nada é pouco, se é alguma coisa para o bem ou para o mal, tudo reverbera muito, e não só para o mundo, para dentro também, o mangueirense ele é enjoado, ele é exigente, ele é vaidoso com a sua escola”.
Sidnei falou da concepção das fantasias para 2025, e o que o torcedor da Verde e Rosa pode esperar da forma que a escola vai estar vestida para desfilar na Passarela do Samba, destacando o uso de materiais mais diferenciados
“Foi um processo de muita liberdade, uma criação muito consciente, em que procurei colocar meu estilo a serviço da Mangueira. Eu tenho um estilo de figurino, muita modelagem no corpo, roupas muito bem compostas. Eu não gosto de roupa larga em componente, eu gosto de tudo muito enquadrado na estética da anatomia humana. Quase não uso penas, não gosto muito de pluma, e vai ter pouquíssima pluma no desfile da Mangueira, porque eu aprendi em São Paulo a trabalhar muito bem com a volumetria de materiais alternativos. Eu não sou aquele carnavalesco do galão dourado e da pluma. Acho que até isso para a Mangueira também desconstrói um pouco, já que é uma escola romântica e clássica. O que eu estou fazendo é um desfile mais cenográfico do ponto de vista das alegorias e da indumentária teatral para as fantasias. É muito mais teatro do que carnaval o que a Mangueira vai apresentar, é muito mais roupa do que fantasia, porque isso é muito meu, eu gosto dessa linha. O verde e rosa aparecem no final, no último setor do desfile, a escola encerra chegando na figura do cria com muito verde e rosa, mas os outros setores nem tanto. Eu tive liberdade total até porque a presidenta me falou que quer fazer um grande carnaval para a Mangueira e eu aposto muito em mim como uma mente criativa, para não ficar preso se o material é caro, se é barato. E eu tive liberdade para fazer. Eu tenho buscado isso há anos em São Paulo e eu acho que eu cheguei no limite disso aqui na Mangueira, que é de buscar uma variação de volumetria de fantasia onde você olha uma ala e a próxima não tem nada a ver e a outra nada a ver. Isso vai gerar, em quem está assistindo, um estímulo do que vem aí, até para não cansar e ele falar que todos os costeiros têm a mesma pena, todas as cores vão se repetindo sistematicamente. Cores, formas, eu venho trabalhando isso, isso já desde São Paulo há alguns anos, intencionalmente. Todo o processo criativo foi muito consciente para entregar uma Mangueira diferente, mas para que o meu trabalho também fosse respeitado no sentido da autoria”.
Ao comentar sobre trazer inovações sem perder a tradição que a Estação Primeira possui, Sidnei retoma a primeira conversa com a presidente Guanayra Firmino, onde o assunto foi tratado por ela, casando com o estilo que o artista gosta de trabalhar em seus carnavais.
“Esse desfile da Mangueira, não é só de mim, parte da própria diretoria da escola, logo na primeira conversa, no dia do desfile das campeãs, quando eu venho de São Paulo para o Rio, me reuni com a presidenta Guanayra e ficamos uma tarde inteira conversando, e uma das coisas que a presidenta me falou foi que a Mangueira precisa se modernizar na estrutura dos seus carros, na maneira de apresentar o carnaval, e eu fiquei com aquilo na mente. Eu já tenho um estilo de trabalho de flertar com tecnologia, não sou high tech, mas eu gosto de tecnologia em desfile, de formas arrojadas, eu sempre fiz em São Paulo carros vazados, muito desconstruídos. Os famosos caixotes, que as pessoas falam, eu nunca gostei desde o começo lá. Juntou um perfil meu, com uma vontade da escola. O carnaval que eu estou projetando e que está se materializando para a Mangueira, são carros muito desconstruídos do ponto de vista estético, muito vazados, cheios de formas e volumes, mais altos do que o que a Mangueira tem apresentado ultimamente, a volumetria muito mais preenchida. Não estou falando que é melhor ou pior, estou dizendo que tem uma ideia diferente do que a escola vinha apresentando. Vai ter muito momento de movimento, de tecnologia, de iluminação para fora do convencional, até porque hoje a Sapucaí propicia, e todas as escolas estão entrando nessa era de luminotécnica, de um projeto de luz muito diferente do que se fazia antes. Vai juntando tudo isso, e eu acho que as pessoas vão entender a necessidade de modernizar a Mangueira sem perder a tradição”.
Fotos: Divulgação/Mangueira
Por fim, o carnavalesco respondeu o que o mangueirense pode esperar da sua agremiação no Carnaval 2025, destacando que a garra que a comunidade está tendo durante os ensaios é a mesma que a diretoria e o barracão estão trazendo na montagem do desfile da escola.
“Uma escola muito madura artisticamente na pista, tenho certeza absoluta. É algo que eu falo com muita tranquilidade. Não estou falando de resultado, eu estou falando da certeza do que foi projetado e está sendo finalizado agora entre janeiro e fevereiro. É uma escola de uma maturidade, de chão, e de discursos muito fortes que agora se alia com uma plástica que vai chegar acabada, porque como a escola está terminando tudo no seu tempo, não vai ter aquela aceleração de última hora. De tal coisa faltou, desde uma luva, a pena de um chapéu, uma gola que deveria ser bem trabalhada e não deu tempo de terminar. A escola vai se apresentar em alto nível, não só chão, bateria, quesitos clássicos, em que a Mangueira é sempre muito boa, que depende da quadra e do chão, mas o que vem do barracão eu também tenho certeza que vai dar muito certo. O mangueirense pode esperar um desfile muito coeso entre discurso e materialidade, entre aquilo que se diz e aquilo que se vê. Me emociono a cada domingo, quando a gente vai para os ensaios de rua da Visconde de Niterói, que eu fico vendo e ouvindo a comunidade cantando, e eu começo a fazer link com tudo que a gente está produzindo no barracão e que vai naquela potência para a Avenida. É muito bonito pensar que a Mangueira vai dar conta de levar algo que a comunidade já abraçou e canta com verdade. Acho que o que eu posso dizer para o mangueirense é que a mesma garra que ele tem lá fora para ir para a rua, para pisar no asfalto com vontade, é a determinação que a atual diretoria está tendo, que eu como carnavalesco tenho entregado, Dudu Azevedo diretor de carnaval, também é incansável, está dia e noite no barracão, não tem hora para entrar, não tem hora para sair. Se criou uma energia dentro da Mangueira de que vai dar certo, e eu quero muito que o mangueirense sinta essa confiança que a gente está sentindo”, finalizou o artista diretamente para o torcedor da escola.
Conheça o desfile da Mangueira
A Estação Primeira de Mangueira vem em 2025 com cerca de 3 mil componentes em 27 alas. A Verde e Rosa virá com cinco carros alegóricos, dois tripés, e um pede passagem, além do elemento alegórico da comissão de frente. Sidnei França, ao CARNAVALESCO, fez a setorização do desfile da escola.
Setor 1: “O primeiro setor é encerrado pelo carro abre-alas, toda a abertura do desfile, fala muito sobre a aventura Atlântica, que é chamado no contexto antropológico, o entender o Oceano Atlântico não só como uma rota, porque às vezes comparam o Atlântico na travessia diaspórica mais ou menos como a Dutra que liga Rio e São Paulo. Tenho em uma ponta África e tenho a superfície do mar, só que existe uma profundeza do Oceano Atlântico que guarda corpos que se lançaram ao mar ou foram lançados ao mar. Pensar o Atlântico como um local de mistério, é por isso que o samba da Mangueira canta “mistério das kalungas ancestrais que o tempo revelou no cais”, ou seja, nesse mistério, entende-se o Atlântico como uma grande kalunga, um grande depósito de almas, que algumas se lançaram, tendo muito relato de preto escravizado que se rebelou, resistiu à escravização e se lançou ao mar, porque o povo bantu não acredita na morte como um fim. Para ele é assim, se eu me lançar aqui, eu vou renascer em África e vou retomar meu elo com os meus ancestrais, porque a morte para o banto não é ausência da vida, é ausência da identidade, é quando você apaga a história dele, como a escravização faz, para ele isso é a morte e não se lançar ao mar. Para ele é um ato de resistência, tanto que os pretos eram presos nos tumbeiros para não se jogar no mar. O que a frente da escola conta é sobre esses mistérios das kalungas ancestrais que transformou o Atlântico em um grande depósito de histórias e almas que acreditavam no pós-morte e não no fim por ali. É muito bonito pensar resistência dessa forma”.
Setor 2: “Uma vez já no Rio de Janeiro, falando da Pequena África como território de acolhida dos bantos. O segundo setor, fala muito sobre a chegada do preto na cidade do Rio de Janeiro, como ele foi acolhido ou muitas vezes apagado nessa cidade, e também fala principalmente da primeira grande contribuição de sociabilidade preta, que é a religiosidade. A maneira do brasileiro entender a fé é totalmente atravessada pelos bantus. Até porque os Nagô-Iorubá, eles eram mais de Pernambuco e Bahia, muito depois, na fase Tia Ciata, que a Bahia veio aportar no Rio de Janeiro. Esse Rio preto, lá dos séculos XVIII, XIX, de 1700 a 1800, ele não era baiano, era um Rio ainda muito bantu. Não se falava em orixá, era inquice. Orixás vêm com as tias baianas, com os terreiros da Bahia aportando no Rio de Janeiro. Isso é muito para cá, na historicidade. Esse segundo setor fala dessa mescla do carioca como uma figura nativa atravessada pela fé e pelas crenças das inquices, as ervas, os omolocôs, que deu origem a Umbanda. E o segundo carro é o Afrocatolicismo, o encontro das crenças pretas, ancestrais, com a sistematização da fé católica, e coisas que só o Brasil explica e o Rio de Janeiro. Por exemplo, São Jorge. Tem carioca que hoje olha para São Jorge e não sabe se você está falando de algum orixá, se é o santo guerreiro, vira tudo uma coisa só. Isso é um fenômeno muito carioca. Isso vem da tradição bantu diretamente, através dos omolocôs, das tradições bantu que fundaram os terreiros de erva no Rio de Janeiro, as benzedeiras”.
Setor 3: “O terceiro setor avança no tempo, e fala sobre a força da sociabilidade, a presença preta no território carioca. Entra a questão da capoeira, o lundu, as danças, a presença preta nas rodas de jogatinas. Tem muitos relatos de jogatinas no Rio de Janeiro, na Pequena África, carteado, tem essa questão de quebrar com esse entendimento que o preto só trabalhava, trabalhava, trabalhava, trabalhava. Não, ele também se divertia, e ele começou a construir aqui na Pequena África uma cidade à parte. E é o que a gente vai mostrar, como era a Pequena África, nesse terceiro setor. E o terceiro carro que resume essa Pequena África, apresenta o que, eu fiz uma pesquisa, nunca apareceu num desfile de escola de samba do Rio, casas de zungu. Na Pequena África, Santo Cristo, Gamboa, Saúde, Providência, o Valongo, toda essa região que vai desde ali da Praça Mauá até onde hoje é a rodoviária, tinham as casas de zungu, que eram uma espécie de quilombos urbanos. Apesar de chamar casa, era um vilarejo, uma espécie de cortiço, um grupo de casas, e nesse agrupamento de casas, os pretos faziam práticas religiosas, faziam batuques, danças, jogos, tinha benzedeira, era um coletivo de amparo para o preto. Quando na cidade do Rio de Janeiro, um preto fugia do seu senhor, ele já ia para uma Casa de zungu, porque ela tinha acolhida. E se chamava casa de zungu porque servia angu, que era o prato barato que tinha para todo preto fugido e acolhido naquele lugar, e a polícia não entrava, não quebrava, não arrebentava porque ia transformar o preto em herói. Eles preferiam controlar e conviver do que exterminar e ter um levante, porque a cidade era muito preta, tinha muitos pretos. As casas de zungu eram verdadeiras embaixadas negras dentro do Rio de Janeiro. É muito bonito pensar que tinha um local de resistência dentro do Rio de Janeiro. O terceiro carro é uma casa de zungu, uma Casa de Angu, onde as tias pretas ofereciam pratos de Angu para alimentar os pretos fugidos e eles passavam a morar nessas casas de zungu. E como você sabia que ali era uma casa de zungu? Qual era a mensagem? Eles colocavam um pano branco no lençol, algum pano branco na janela, porque era a ligação com Zambi, que é Oxalá. Aqui é um lugar de paz, que vai te acolher. É sempre nós por nós. É bonito pensar nisso e o terceiro carro tem essa questão do pano branco, essa vivência valente das Casas de zungu, tem uma cozinha nesse carro que oferece angu para esses pretos que buscam acolhida nesse local”.
Setor 4: “O quarto setor fala sobre a contribuição bantu na cultura carioca. O quiabo é um prato trazido pelos bantus. Por isso que hoje tem o ditado quem come quiabo não pega feitiço, isso vem dos bantos, porque o quiabo é um alimento sagrado entre Angola, Congo, Moçambique. São regiões do centro-africano onde os bantus se estabeleceram, e nós vamos mostrar a ala do quiabo. Nesse setor que a gente tem os gurufins. Para o bantu, se alguém morre, não é o fim, você não tem que chorar, você tem que celebrar o tempo que você viveu com aquela pessoa. Por isso que no subúrbio carioca tem os gurufins, que é o vamos beber o defunto, vamos celebrar mesmo, porque ele foi feliz. Não vou chorar meu amigo não, meu irmão. É uma coisa que Zeca Pagodinho traz muito forte, essa prática do gurufim, porque ele quer viver a vida. Chorar tem motivos para chorar. Quando meu irmão morre, claro que é um motivo de abatimento, mas eu preciso tirar força e gastar energia celebrando a vida dele do que lamentando. O próprio Réveillon de Copacabana. Tudo que é carioca, que a gente mal sabe e vem dos bantus, está nesse setor quatro. A cuíca, que é um instrumento, e cuja origem da palavra também é bantu, vem de puita, e nós vamos mostrar um tripé que vem nesse setor, que são as cuícas. Se hoje é um instrumento super importante para as baterias da escola de samba, veio dos bantus. E o carro que fecha, ele é o carro do funk, que fala dos funk cariocas, que também é outra coisa que as pessoas não sabem, mas a batida do funk vem de Angola, não veio para o Brasil, foi para os Estados Unidos, virou beat do funk americano. Mas como o Brasil importou, veio via bantu através dos Estados Unidos, e por isso que o samba fala, meu som por você é criticado, sempre censurado pela burguesia. Esse som criticado é o funk. Antes era o samba, por muito tempo o samba não era assimilado. E depois, quando o samba é assimilado, o funk passa a ser criticado: é coisa de morro, é coisa de preto do morro”.
Setor 5: “O último setor é quando mostra o legado bantu para a construção do Rio atual, da negritude carioca e principalmente da figura do cria. Toda a visualidade do último setor, eu me baseio no conceito do afrofuturismo, que é pensar no ontem para ressignificar o hoje e reconstruir a possibilidade do amanhã. Toda a estética do último setor é afrofuturista, como visto nas redes sociais, uma fantasia cheia de tomada, que tem uns girassóis. O último setor é todo neste contexto, pensando que a estética africana não é europeia. Você não tem que ficar esperando volutas, arabescos, em uma fantasia. Você tem que pensar a vida como a África enxerga, em uma diversidade de cores e de formas. Na África, um sinal de romance, um namorado não entrega uma rosa, entrega um girassol, o símbolo de chamego e de afeto é o girassol, não é um botão de rosa. Isso é cristão e é religioso, vem da Guerra das Rosas, Inglaterra e França. A gente precisa decolonizar, precisa reutilizar signos que tragam tudo pra dimensão africana para entender um novo Rio de Janeiro, um Rio preto. E esse último setor termina com a figura do cria, como uma possibilidade de um futuro, de um amanhã conectado com a realidade do Rio de Janeiro e não aquele Rio que a gente tenta ser e nunca vai ser porque nós não somos europeus”.
O Acadêmicos do Salgueiro anunciou, na tarde desta terça-feira, que o passista Danilo Vieira é o novo muso da Academia do Samba. Com uma trajetória marcada pelo talento e dedicação ao Carnaval, Danilo já foi rei da ala de passistas da agremiação e representou a vermelho e branco ao disputar, por dois anos consecutivos, o título de Rei Momo do carnaval Carioca.
O convite para ocupar o posto de muso no Carnaval 2025 partiu do patrono Adilsinho e do presidente André Vaz, com o apoio do diretor executivo Leandro Santos, do diretor de Carnaval, Wilsinho Alves, e de toda a equipe da escola. Emocionado com o reconhecimento, Danilo Vieira expressou sua alegria e gratidão pela nova conquista em sua carreira.
“Estou feliz demais, nervoso e em choque ainda. Essa oportunidade é grandiosa demais na minha vida. Gratidão é a palavra do momento”, declarou.
Danilo iniciou sua jornada no samba aos 15 anos, desfilando na ala das crianças. Sua primeira experiência na Marquês de Sapucaí aconteceu justamente nesse contexto, despertando uma paixão que o acompanharia ao longo dos anos. Sua formação como passista teve início na ala da São Clemente, onde permaneceu por cinco anos. Em 2019, ingressou na ala de passistas do Salgueiro, sob a orientação de Carlinhos do Salgueiro, a quem reconhece como grande mestre e mentor.
O novo muso do Salgueiro destaca que sua evolução é fruto de experiência, comprometimento e trabalho, aspectos que culminaram na oportunidade de representar a escola em mais um patamar. Como parte da preparação para o desfile, Danilo já recebeu seu figurino das mãos do carnavalesco Jorge Silveira.
Para o Carnaval 2025, o Acadêmicos do Salgueiro levará para a Avenida o enredo “Salgueiro de Corpo Fechado”, desenvolvido por Jorge Silveira. A proposta da escola é exaltar a força e proteção das tradições afro-brasileiras, destacando a espiritualidade e a resistência cultural que marcam a história do povo negro. Com uma abordagem impactante, o enredo promete emocionar o público e reforçar a identidade da agremiação no Carnaval carioca.
O presidente da Liesa, Gabriel David, em entrevista ao CARNAVALESCO, abordou a intenção do prefeito do Rio, Eduardo Paes, de criar um teto de gastos nos orçamentos das escolas de samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro.
“O prefeito me mandou uma mensagem com a matéria da subvenção de Maricá, falando que achava isso um um problema para o futuro do carnaval, que poderia tirar competitividade e a capacidade de competição das escolas. Fui para a reunião, falamos sobre uma série de assuntos e muito, muito rapidamente ele me perguntou como é que estava a questão das finanças das escolas. Eu expliquei, até porque eu já estou pleiteando que a gente está entregando muito mais para cidade, inclusive, em arrecadação de impostos do que no ano passado. Acho que no final desse carnaval a gente precisa rediscutir o valor da prefeitura de subvenção para as escolas. A gente estava chegando perto de um valor total que é o valor dos desfiles campeões, na casa dos R$ 16 e R$ 17 milhões. Se a gente conseguisse chegar lá, se a lLga conseguir repassar esses valores para todas as escolas, a gente consegue discutir um teto de gastos para que o investimento da prefeitura seja protegido”, esclareceu o presidente da Liesa.
A Unidos da Tijuca recebeu um grupo de funcionários do grupo Globo que tiveram o privilégio de conhecer o barracão da escola, interagir com os ritmistas e passistas da agremiação e degustar a feijoada brasileira. Atuantes na área comercial da empresa, os colaboradores visitaram a Unidos da Tijuca, com o propósito conhecer todo o processo de feitura do carnaval carioca.
O workshop contou com aula de percussão e samba, seguido de um tour guiado pelo barracão, onde foram vistos os croquis e confecções de todas as fantasias do Carnaval 2020, vídeo do último desfile, além de explicações sobre cada carro alegórico e do processo de confecção de alegorias. A aula de percussão foi dirigida por diretores da bateria ‘Pura Cadência’. Os passistas ensinaram passos de samba para os interessados que caíram na folia.
Para encerrar, o refeitório da Tijuca se transformou num requintado botequim e uma típica feijoada regada a caipirinhas de diversos sabores, além de cerveja e petiscos foram servidos para todos.
Pioneira por abrir suas portas para esse tipo de atividade, a Unidos da Tijuca tem em sua agenda grupos vindos da França, Polônia, Alemanha, África do Sul, Japão e China. Os grupos interessados em contratar a Visita Guiada do Pavão deverão preencher o formulário no site da escola (gresunidosdatijuca.com.br) ou entrar em contato com Pedro Veloso através do telefone 21 96437-3127.
“Financeiramente, é inviável ainda. As pessoas falam que o carnaval está crescendo em valor, que a Liga está conseguindo distribuir mais dinheiro para as escolas, mas vamos relembrar que o custo dos desfiles é de R$ 16 a R$ 17 milhões. Se chegarmos nesse valor e aí para 15 escolas e não para 12 vai dar financeiramente. Tem a questão dos barracões na Cidade do Samba, que tem que se entender como ficaria isso. Faltaria um barracão. É uma decisão que mexe no regulamento. Isso tem que ser decidido pelas 12 escolas que estarão no Grupo Especial”, explicou o presidente da Liesa.
O presidente da Liesa, Gabriel David, revelou ao CARNAVALESCO uma novidade para o Carnaval 2025. Através da parceria com a Mamba Water a escola campeã do Grupo Especial de 2025 receberá água potável (quantidade que ainda será definida) para ser distribuída para comunidade carente escolhida pela agremiação.
“A Mamba Water entrou com uma ação social no Carnaval 2025. É uma água em lata, que é muito melhor do ponto de vista de reciclagem (sem uso da garrafa de plástico). A gente já tem uma coordenação de sustentabilidade, que vem trabalhando ao longo deste ano. O bacana dessa água é que a cada latinha vendida, a gente tá doando 2 litros de água para a comunidade da escola campeã do carnaval. No final, vai ter um um montante considerável de litragem de água que vai estar embutida na premiação do carnaval e essa escola vai determinar uma comunidade muito carente próxima da sua região para poder fazer essa doação”, explicou Gabriel David.
A Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) programa com todas 12 agremiações do Grupo Especial do Rio de Janeiro uma grande novidade para distribuição dos ingressos dos setores populares (1, 12 e 13) da Marquês de Sapucaí para os desfiles de domingo, segunda e terça no Carnaval 2025. Cada quadra receberá dias, que ainda vão ser divulgados, para inscrições dos interessados em receberem o ingresso. Para ter direito será preciso apresentar documentos oficiais e fazer na hora a biometria facial. Os critérios também vão ser informados pela Liesa.
“Vão ter duas datas por quadra de escola de samba para as pessoas fazerem seus cadastros com a documentação e com reconhecimento facial para poder terem acesso aos ingressos dos setores populares (1, 12 e 13). É uma forma da gente limitar a venda dos ingressos populares que não poderiam ser vendidos e garantir que eles estão de fato chegando em quem realmente precisa desses ingressos”, explicou ao CARNAVALESCO o presidente da Liesa, Gabriel David.
Segundo Gabriel David, a Liesa também já trabalha com espaços especiais na área de concentração para os segmentos das escolas de samba.
“Temos um comitê de concentração. Semana que vem já terá algumas coisas montadas lá (na Sapucaí). Tem uma questão de fechamento de rua, que deixa algumas coisas mais para perto do desfile em si, mas vai ter, como a gente falou, espaço especiais”.
Sobre a relação dos julgadores do Grupo Especial para o Carnaval 2025 o presidente da Liesa citou que os nomes devem ser divulgados em breve. “O Thiago (Farias), coordenador de jurados, fez uma apresentação para os presidentes. Eles têm uma etapa de avaliação para a gente confirmar as mudanças ou não. Só para deixar claro, isso acontece todos os anos. Não é nada novo”.
Teto de gastos no Grupo Especial
Gabriel David também respondeu sobre a proposta do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, de criar um teto de gastos para os orçamentos das esclas de samba do Grupo Especial.
“O prefeito me mandou uma mensagem com a matéria da subvenção de Maricá, falando que achava isso um um problema para o futuro do carnaval, que poderia tirar competitividade e a capacidade de competição das escolas. Fui para a reunião, falamos sobre uma série de assuntos e muito, muito rapidamente ele me perguntou como é que estava a questão das finanças das escolas. Eu expliquei, até porque eu já estou pleiteando que a gente está entregando muito mais para cidade, inclusive, em arrecadação de impostos do que no ano passado. Acho que no final desse carnaval a gente precisa rediscutir o valor da prefeitura de subvenção para as escolas. A gente estava chegando perto de um valor total que é o valor dos desfiles campeões, na casa dos R$ 16 e 17 milhões. Se a gente conseguisse chegar lá, se a lLga conseguir repassar esses valores para todas as escolas, a gente consegue discutir um teto de gastos para que o investimento da prefeitura seja protegido”, esclareceu o presidente da Liesa.
Escola campeã de 2025 receberá prêmio especial
O presidente da Liesa revelou ao CARNAVALESCO uma novidade para o Carnaval 2025. Através da parceria com a Mamba Water a escola campeã do Grupo Especial de 2025 receberá água potável (quantidade que ainda será definida) para ser distribuída para comunidade carente escolhida pela agremiação.
“A Mamba Water entrou com uma ação social no Carnaval 2025. É uma água em lata, que é muito melhor do ponto de vista de reciclagem (sem uso da garrafa de plástico). A gente já tem uma coordenação de sustentabilidade, que vem trabalhando ao longo deste ano. O bacana dessa água é que a cada latinha vendida, a gente tá doando 2 litros de água para a comunidade da escola campeã do carnaval. No final, vai ter um um montante considerável de litragem de água que vai estar embutida na premiação do carnaval e essa escola vai determinar uma comunidade muito carente próxima da sua região para poder fazer essa doação”, explicou Gabriel David.
Gabriel responde sobre 15 escolas no Grupo Especial do Rio
O presidente da Liesa também comentou sobre a possibilidade do Carnaval 2026 ter 15 escolas no Grupo Especial do Rio de Janeiro.
“Financeiramente, é inviável ainda. As pessoas falam que o carnaval está crescendo em valor, que a Liga está conseguindo distribuir mais dinheiro para as escolas, mas vamos relembrar que o custo dos desfiles é de R$ 16 a 17 milhões. Se chegarmos nesse valor e aí para 15 escolas e não para 12 vai dar financeiramente. Tem a questão dos barracões na Cidade do Samba, que tem que se entender como ficaria isso. Faltaria um barracão. É uma decisão que mexe no regulamento. Isso tem que ser decidido pelas 12 escolas que estarão no Grupo Especial”, explicou o presidente da Liesa.
Sucesso de público o pré-carnaval 2025
Ao fazer um breve balanço sobre o início da temporada de ensaios técnicos na Sapucaí e os ingressos esgotados para os três dias de desfiles oficiais o presidente da Liesa celebrou os resultados.
“É bacana ver o público de volta na Sapucaí. É muito importante a gente ter os eventos dos ensaios técnicos gratuitos para o povo. O povo está feliz de estar aqui. A gente conseguiu comunicar bem os formatos de entrada, a entrega social as escolas têm que fazer para a cidade todos os anos. Agora é dar continuidade. Estamos no início desta temporada. É uma temporada com muitos dias de evento, muitos dias de operação. Vamos um dia de cada vez. Termos todos os ingressos vendidos para os desfiles oficiais é o sucesso do evento. Está tudo esgotado. A gente tem evoluído muito na capacidade de vendas, a gente tem evoluído muito em critérios de segurança digital e a gente vai seguir evoluindo e dando cada vez mais transparência, o máximo de transparência que a gente pode dar sempre para todas essas vendas, para todos esses dados. É um desafio. O terceiro dia já ajudou um pouquinho, mas de fato o Sambódromo não comporta a procura que o carnaval tem e isso é o sucesso do evento”.
A Pérola Negra irá fazer um dos desfiles mais importantes da sua história, tendo uma grande missão de voltar ao Acesso 1. A Joia Rara do samba, até 2024 estava com um projeto para subir ao Grupo Especial e, desde que desceu da última vez à segunda divisão, sempre ficou perto dos primeiros para retornar à elite do carnaval. Historicamente, o Acesso 2 não é um local que a escola costuma permanecer. Por estrear este ano no grupo e ter um dos melhores sambas do carnaval paulistano, além de uma equipe de segmentos renomada, a Pérola Negra é apontada como grande favorita para vencer o terceiro grupo das escolas de samba. Para isso, a agremiação liderada por Sheila Mônaco foi buscar o carnavalesco Rodrigo Meiners, que no Carnaval 2024, integrou a equipe que conseguiu uma vaga nos Desfiles das Campeãs com os Gaviões da Fiel. O artista aposta em uma forte plástica e em um desfile impactante para a Vila Madalena alcançar o seu grande objetivo.
Sendo a quinta escola a desfilar, a Pérola Negra levará para o Anhembi o enredo ‘Exú Mulher’, no dia 21/02. O tema é assinado por Rodrigo Meiners.
Ideia do enredo e aprovação da autora do livro
De acordo com o carnavalesco, a ideia de levar o enredo ‘Exu Mulher’ para a avenida partiu dele, onde foi apresentado para a diretoria após se deparar com várias figuras femininas regendo a agremiação. Além disso, a autora do livro, Cláudia Alexandre, abraçou o projeto e ajudou na construção. “A ideia de ‘Exu Mulher’ foi proposta por mim. Quando eu fecho com a Pérola Negra, me impressionou na escola a questão da figura feminina. A presidente é mulher, a vice-presidente é mulher, as principais lideranças da comunidade são mulheres, o nome da escola é um nome feminino e eu fiquei com isso muito forte na minha cabeça, onde eu precisava fazer algum enredo ligado ao feminino para ajudar a Pérola a voltar para o Grupo de Acesso 1. Eu já conhecia o livro e lembrei. A Cláudia Alexandre, autora dele, tem um conhecimento de carnaval e de assuntos de matrizes africanas, de religiões de matriz africana, de costumes, culturas, heranças, religiões, danças… Se você conversar com a Cláudia, vai sair com dez ideias de enredo. Ela é uma pessoa iluminada e super abraçou o projeto, super ficou feliz. A gente teve a felicidade ainda de o livro ganhar um prêmio agora, que é o Prêmio Jabuti da literatura. Eu estou muito feliz de trazer esse enredo e acho que, mesmo no Acesso 2, Exu Mulher é um dos melhores temas do Carnaval 2025”, disse.
Fotos: Gustavo Lima/CARNAVALESCO
‘Pérola Negra, lugar de fala, de gente preta que não se cala’
Meiners explicou brevemente o livro. A narrativa e a mensagem que a obra passa será transmitida na passarela. O artista revelou que quer usar a Pérola Negra como lugar de fala para desmistificar certos preconceitos que são impostos na sociedade. “O livro traz a questão de que há muito tempo atrás, na África, a figura do Exu era uma figura ambígua. Não era o Exu masculino. A figura do Exu era uma energia masculina e feminina. E na tentativa de demonizar a religião, eles ocultam a figura feminina de Exu, eles ocultam esse lado feminino da energia, deixam só a figura de Exu masculina para ter mais semelhança e associar a figura de Exu ao diabo. O nosso enredo é basicamente esse, que é o principal conceito do livro. Nós, que somos uma escola presidida por grandes mulheres, na diretoria e em liderança de comunidade, queremos trazer essa valorização e esse reconhecimento à figura de Exu Mulher, que foi ocultada há muito tempo atrás, nessa tentativa de associar o candomblé e Exu ao satanismo e ao diabo. O nosso desfile é uma grande retratação. Usar a Pérola Negra como esse lugar de fala”, explicou.
Ensinando o tema desconhecido
Perguntado sobre o que foi mais impactante na pesquisa para a desenvoltura do desfile, o carnavalesco contou que foi o fato de ninguém ter conhecimento sobre o contexto do livro, e que a escola de samba tem o papel de ensinar. “Ser um assunto que ninguém tem conhecimento. Acho que, eu sempre trago nos meus carnavais, até mesmo nas entrevistas, de que a escola de samba tem que fazer esse papel. Não precisa ser sobre assuntos afros. A escola de samba tem liberdade para fazer qualquer assunto. Essa é a graça do carnaval. Cada um vai por um caminho, mas eu acho que o conceito geral para mim de uma escola de samba é trazer esses assuntos pouco falados. Eu, que sou apaixonado por carnaval, uma família de amantes do samba, estudei minha vida inteira em escola estadual e aprendi muita coisa com enredos de escola de samba. Se for afro, indígena ou histórico, acho que a escola de samba tem que trazer esses temas pouco falados para trazer conhecimento para a sua comunidade. O que mais me fascina nesse enredo é isso. Poder contar uma história que eu vou falar com 99% das pessoas e elas não têm o conhecimento. Elas prestam atenção porque é algo novo para quase todo mundo. Na construção da sinopse e no desenvolvimento do enredo, isso é o que mais me encanta”, declarou.
Abertura imponente
De acordo com o profissional, a cabeça do desfile será o local mais impactante para se prestar atenção, pois a agremiação vai tentar passar a mensagem de que o Acesso 2 não é o local da Pérola Negra, e sim foi um erro que colocou a Joia Rara nesta situação. “A abertura da escola como um todo. Um carnavalesco tem essa capacidade de imaginar um pouco mais à frente do que os outros. Eu tenho na minha cabeça a escola desfilando com essa abertura que será muito impactante. A gente está com o abre-alas muito grande, padrão Grupo Especial de tamanho. A gente tem duas alas na frente do abre-alas que são muito bonitas com fantasias volumosas, temos roupas de construção de frente muito bonitas e uma fantasia de casal muito bonita. Acho que, quando a Pérola começar a desfilar, vai ficar muito claro, com todo respeito ao grupo e às outras agremiações, que a escola não pertence ao Acesso 2. Ela está lá por uma falha no carnaval anterior”, completou.
Carnavalesco Rodrigo Meiners
Setor 1
“O primeiro setor a gente mostra toda essa demonização da cultura africana e da figura feminina africana antes de chegar à Exu. A demonização do preconceito racial com as mulheres, do preconceito com vestimentas, com cabelo, com dança, com religião… Depois, no final do primeiro setor, a gente entra nesse preconceito com a figura de Exu Mulher, e esse ocultamento da figura na história”
Setor 2
“Nosso segundo setor é essa retratação, essa reparação histórica. É um grande xirê de entidades femininas vindo na Pérola Negra, usando o lugar que a escola abriu de retratação para exaltar e valorizar a figura de Exu Mulher, que ficou esquecida por milhares de anos dentro da religião e dentro da sociedade”
Ficha técnica
Duas alegorias
880 componentes
11 alas