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Viradouro alia técnica e emoção em seu último ensaio de rua e mostra porque é uma das favoritas ao título

Por Eduardo Fróis e Gustavo Maia. Fotos: Carlos Papacena/Divulgação

A Unidos do Viradouro realizou seu último ensaio na avenida Amaral Peixoto, no centro de Niterói, neste sábado, numa noite banhada por muitas emoções. A começar, a escola recebeu a visita de dona Maria de Xindó, matriarca das Ganhadeiras de Itapuã, o grupo cultural que será cantado pela vermelho e branca na Sapucaí.

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Impulsionada pelo belo entrosamento entre o carro de som e a bateria Furacão Vermelho e Branco, a escola cantou o samba-enredo com vigor e emoção do começo ao fim. Destaque especial para o bis do “Ensaboa, mãe”, que levou o público da Av. Amaral Peixoto a cantar junto com a escola.

Depois de sagrar-se vice-campeã do carnaval de 2019 no retorno da Série A, o brilho no olhar da comunidade da Viradouro está cada vez mais forte. O décimo quinto ensaio de rua da escola, marca dificilmente batida por outras agremiações, deixou os componentes confiantes no segundo campeonato da no Grupo Especial.

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Marcelinho Calil, presidente da vermelho e branca de Niterói, reforçou a confiança no projeto desenvolvido pelos carnavalescos e por toda a direção da escola e sua comunidade.

“O que acontece na avenida é resultado do que nós treinamos ao longo dos últimos meses. Viemos trabalhando muito para fazer um grande carnaval. A escola hoje está praticamente pronta para entrar na avenida, faltam pequenos detalhes plásticos e, musicalmente, em termos de quadra e de comunidade, podemos dizer que estamos 99,9% preparados. Faltam apenas os detalhes inerentes à semana que antecede o desfile. A escola está com sede de fazer uma grande apresentação e, consequentemente, disputar o título, respeitando, claro, todas as coirmãs que, assim como nós, buscam seu lugar ao sol”, avaliou o presidente.

Visita Especial

A matriarca das Ganhadeiras de Itapuã, que nasceu no ano de fundação da escola, em 1946, encantou a Amaral Peixoto com sua presença. Com sua risada apaixonante, a cantora, que já tinha participado de outros eventos em Niterói, como a festa de aniversário na quadra do Barreto, esteve pela primeira vez em um ensaio de rua da escola que lhe renderá homenagem.

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“Estou me lembrando dos meus carnavais em Salvador, quando eu pegava na carroceria do trio. Eu fico me beliscando pra saber se tudo o que estou vivendo com a Viradouro é realidade”, contou dona Maria.

No dia do desfile, dona Maria de Xindó estará acompanhada pelas 28 mulheres que compõem com ela o grupo musical da Lagoa do Abaeté, em Salvador.

Harmonia

A voz da emoção tem nome e sobrenome: Zé Paulo Sierra. Comunidade, diretoria, torcida, público… ninguém resiste ao timbre marcante e ao carisma contagiante do intérprete. Zé Paulo é um verdadeiro atleta do carnaval. Mais uma vez, provou ter fôlego suficiente pra fazer tremer o chão da escola, sem comprometer a harmonia. Pelo contrário, o componente, muitas vezes literalmente, abraça o puxador ao longo do desfile. Ao se deparar com o cantor principal de sua escola no meio de sua ala ou presenciar mais um ato de carinho de Zé Paulo diante do público, o desfilante, irmanado, solta a voz ciente de sua responsabilidade na disputa pelo título.

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A comunidade abraçou de fato o samba da escola, cantando com a mesma intensidade do começo ao fim do ensaio. O canto ecoou por todas as alas, o que significa que a escola soube corrigir uma deficiência notada há alguns ensaios, uma leve queda na harmonia em alguns grupos coreografados.

Evolução

O componente foi pra rua com garra e forte emoção, mas sem se deixar levar pelo favoritismo. Não se notaram tropeços, correrias ou paradas da escola ao longo de todo o cortejo, mesmo nas manobras mais delicadas.

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A Viradouro mais uma vez passou compacta pela Amaral Peixoto, evoluindo conforme o andamento ditado pela escola. Algumas alas são coreografadas, dando um efeito diferenciado no conjunto do ensaio.

A organização, por sinal, estava evidente não apenas nas maiores movimentações da escola, mas também nos pequenos detalhes, desde a maquiagem em muitas alas até o figurino caprichado das baianas. Destaques de luxo abrilhantaram a passagem da Viradouro, assim como as musas da escola. Nesse cargo, a que faz jus, a escultural Luana Bandeira triunfou mais uma vez.

Samba-enredo

Está na boca do povo, não tem jeito. O samba do “Oh, mãe, Ensaboa, mãe! Ensaboa, Pra depois quarar” é leve e animado, tem uma melodia fácil de cantar, ou seja, é a cara da escola. O mérito se deve em grande parte ao trabalho de Zé Paulo e seu time, que firmam a letra como uma poesia, aos ritmistas de mestre Ciça e, claro, à direção de harmonia com os componentes da vermelho e branca. Mas, posto à prova na rua pela décima quinta vez, a reação do público comprovou que não dá mais pra virar a cara para o “Ensaboa”. O verso pegou e se candidata a ser um dos destaques desse carnaval.

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“Estou muito feliz, acho que a gente fez grandes ensaios aqui. Talvez, nesse a gente estava mais solto, mais descontraído… Essa escola é fantástica. Não tem escola que ensaiou mais do que a gente. Desde que se escolheu o samba foram ensaios ininterruptos, com chuva, com sol. Com a gente bem fisicamente, mal fisicamente. A gente se doou o máximo pra chegar domingo e colher bons frutos. Se vamos ganhar, é uma outra coisa, depende de tudo, de merecimento… Tenho certeza que Deus está abençoando demais a gente nesse momento. Acho que a Viradouro hoje criou uma energia, uma atmosfera de uma escola campeã de fato”, confessou Zé Paulo.

Para o presidente da escola, Marcelinho Calil, o samba-enredo da Viradouro para 2020 atende a todas as expectativas da escola.

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“O samba na nossa concepção é impecável para a competição, canta exatamente o que vai ser visto no enredo, além de ser de uma obra de muita emoção. O ‘ensaboa’ se tornou muito popular. No carnaval essa alegria e espontaneidade são muito importantes, e o verso reflete essa energia que nós buscamos todos os anos. O sucesso do samba é resultado de muito ensaio e de todo o planejamento que vem sendo feito pela escola há vários meses. Não tenho dúvidas de que o samba vai render na avenida e vamos fazer um grande carnaval”, garantiu Marcelinho.

Mestre-sala e Porta-bandeira

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O casal de mestre-sala e porta-bandeira, Julinho e Rute, executou alguns passos em pontos específicos da avenida. Um grupo de sete jovens negras, majestosamente vestidas, acompanhou a dupla em alguns passos. Elas serão as guardiãs do primeiro casal da escola. Entrosamento é o que não falta entre os dois, que esbanjaram elegância e alegria ao apresentar o pavilhão da escola ao público.

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Bateria

Os ritmistas do consagrado mestre Ciça mostraram mais uma vez por que são referência entre as baterias do Rio de Janeiro. Eles executaram com perfeição as bossas, paradinhas e paradonas que dão molho ao hino da escola, sempre entrosados com o carro de som. No ensaio, Ciça reforçou o treino para as apresentações nas cabines de julgamento, quando todos os ritmistas se viram para os avaliadores. O destaque vai para os agogôs e para os timbaleiros, estes concentrados no miolo da bateria, na bossa do refrão principal.

“Na terça-feira acontece o último ensaio de quadra e até lá teremos a oportunidade de melhorar o que não estiver perfeito. Hoje fizemos todas as bossas que levaremos pra avenida, mas tem uma surpresa que estamos guardando para a Sapucaí”, contou Ciça.

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O mestre acabou adiantando o que a bateria guarda para o dia do desfile: as mulheres que serão elevadas em um pedestal para executar a bossa com timbales. Se haverá outras surpresas, vai ser preciso aguardar o domingo para conferir.

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Quem não fez surpresa e mostrou mais uma vez toda a sua simpatia e samba no pé foi a rainha Raissa Machado, que está pronta para brilhar à frente dos ritmistas. A beldade cumpriu seu papel de recepcionar a corte do carnaval de Niterói, além dos convidados especiais da noite.

Série Barracões: Sem medo de experimentar, Grande Rio prepara novas propostas estéticas

Por Gabriella Souza

João Alves de Torres Filho ou popularmente ‘Joãozinho da Gomeia’ é reconhecido como o ‘rei do Candomblé’ e sua marcante trajetória de vida será representada pela Acadêmicos do Grande Rio em 2020. O enredo ‘Tata Londirá: o Canto do Caboclo no Quilombo de Caxias’ é assinado pelos carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora, estreantes no Grupo Especial. Personalidade viva na memória dos caxienses, o babalorixá Joãozinho nasceu em 1914 na Bahia, lá iniciou a sua longa e predestinada vida no Candomblé, chegando ao Rio de Janeiro através dos ‘terreiros migrantes’ que percorriam cidades do país, onde se fixou e traçou a sua trajetória de vida, de personalidade, deixando seu legado vivo através de seus inúmeros ‘filhos de santo’ do famoso Terreiro da Gomeia que recebia famosos, políticos, personalidades da época e pessoas de todas as classes sociais.

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A relação desta figura com o carnaval também é singular, visto sua energia como agitador social em diversos projetos nas artes e eventos, assim como sempre participava dos desfiles da escolas de samba e nos bailes de carnaval, tornando-se mesmo uma celebridade dos anos 50 e 60. Leonardo Bora conta que a contemporaneidade de Joãozinho foi o que mais os surpreendeu o tempo todo, mesmo que tenha deixado a vida terrena a quase cinquenta anos, falece em 1971, ele expressa uma série de questões que são comuns ainda hoje e estão na ordem do dia, estampando qualquer jornal impresso e site de notícias da internet.

“Falar de Joãozinho da Gomeia em 2020 é falar da luta contra a intolerância religiosa, de racismo epistêmico, de racismo religioso e o quanto eles precisam ser combatidos nas menores coisas, é falar de homofobia porque ele foi uma figura pioneira que se vestia de vedete nos bailes carnavalescos, o que chocava, inclusive, o povo de axé, visto que ele quase foi expulso da Federação Espírita Brasileira por conta disso. É falar de temas urgentes, o que torna o enredo extremamente atual. E nos proporciona também a possibilidade de pensar o Brasil e de continuar pensando as ideia de brasilidade, que é algo que a gente vem desenvolvendo desde os enredos da Intendente Magalhães, quando éramos carnavalescos de escolas dos outros grupos. Joãozinho é uma figura que expressa esses múltiplos brasis, ele nasce no interior da Bahia, se fixa em Salvador, depois migra por inúmeros ditos ‘terreiros migrantes’ para o Rio de Janeiro, enquanto era a capital federal, mais especificamente na Baixada Fluminense, no município de Duque de Caxias ainda recém emancipado, e lá ele replanta o seu axé, fundando a nova Gomeia” declarou.

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Bora fala ainda do legado deixado por Joãzinho tanto para a comunidade de Caxias, a cidade do Rio como para toda a cultura popular brasileira.

“No trânsito permanente desse personagem, que tem hoje inúmeros filhos de santo espalhados pelo país inteiro e até fora do Brasil, a gente consegue pensar diversas facetas da cena política, artística, cultural, por exemplo, ele foi padrinho do teatro folclórico brasileiro. A Gomeia de Caxias recebia comitivas dos maracatus do Recife, dos bumbás do Maranhão, albergava as fadas de copeira e até sediava uma importantíssima festa junina. Falar dele é falar de Mercedes Baptista, do teatro experimental do negro, de Jorge Amado, é um enredo em sentido extremamente rico e inesgotável e tudo isso foi dando para nós um volume de informação, de modo que a nossa grande dificuldade foi fazer uma triagem, uma curadoria mesmo em pensar quais os elementos eram os mais importantes, até porque é um personagem cercado de narrativas míticas, de matriz oral e muitas contraditórias. Ficamos, claro, com a arte, a poesia que mais do que estabelecer uma única verdade, está interessada com o mito, a criação e a invenção, nessas múltiplas versões para uma mesma história”, explicou.

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Gabriel Haddad conta como surgiu a concepção do enredo, assim como se deu o convite para ambos assumirem o enredo de 2020 da verde e vermelho.

“Quando nós fomos chamados para a Grande Rio e convidados pelos presidentes e a diretoria para realizar o carnaval da escola eles já tinham observado nosso trabalho na Cubango e foi solicitado que fosse realizado um enredo ligado a comunidade de Caxias, o que já era algo característico dos trabalhos que nós já vínhamos produzindo anteriormente, de buscar uma ligação forte com a comunidade da escola. Acho que até mesmo pela identidade que a Grande Rio precisava nesse momento, de conseguir fazer com que a comunidade se religasse com a escola de samba. E Joãozinho da Gomeia é uma figura que escolhe Caxias para morar e é quase que um mito para os caxienses. E essa já era uma ideia que estava rondando alguns diretores da escola para ser enredo, o que nos incentivou ainda mais a pesquisar a história dele e decidir levar para a Avenida”, comentou.

Dificuldades na disponibilização de verbas

Leonardo Bora conta quais as alternativas a Grande Rio tem utilizado para driblar as dificuldades dos incentivos financeiros para a feitura deste carnaval de 2020, destacando a experimentação como a principal saída.

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“Acredito que a principal solução é a experimentação, algo que a gente vem desenvolvendo desde os carnavais da Intendente. Nós começamos participando de um coletivo de carnavalescos na Mocidade Unida de Santa Marta no último grupo, desenvolvendo o carnaval de 2013 daquela escola, na época éramos sete autores do projeto e a regra para essas escolas que são historicamente abandonadas, e que não possuem verba alguma é experimentar, é a mão na massa, é ‘dar nó em pingo d’água’. Essa bagagem, experiência do modo de fazer, é mais do que conceber, mas entender cada etapa do processo, mediar as relações entre as diversas etapas é uma característica muito forte do nosso trabalho, de quem não tem medo de experimentar”.

Gabriel Haddad afirma que a dupla possui plena experiência com esse cenário de escassez de recursos, destaca ainda que o planejamento foi o principal foco deles nesse processo.

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“A forma em que temos trabalhado aqui é uma forma muito parecida de quando nós trabalhamos na Cubango, nós não somos carnavalescos de ficarmos sentados na sala, esperando o carnaval acontecer, a gente circula muito pelo barracão e essa experiência que adquirimos no Grupo de Acesso acabou fazendo com que pudéssemos entender mais como funciona o processo de fazer um carnaval sem grana. Claro que aqui é outra estrutura, é Grupo Especial, aqui já temos uma verba boa da televisão, da venda dos ingressos que também entra, mas a nossa busca é fazer o carnaval com a subvenção mesmo já pensada, temos um limite de gastos e planejamos tudo pensando nisso e por isso também que a gente buscou preservar as estruturas de alegorias, porque o gasto para construir uma alegoria do zero é muito alto, buscar materiais alternativos também foi a saída, aqueles que não estão no circuito ‘oficial’ do carnaval, buscando baratear a produção de fato”, contou.

Conciliar os gostos diferentes para um mesmo enredo

Leonardo Bora destaca que no trabalho deles jamais haverá espaço para o medo de provocar, inovar e experimentar e que na verdade são marcas das carreiras de ambos.

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“Há quem diga que a arte é provocação. A gente também gosta de provocar, de propor e dialogar com diferentes artistas e linguagens, dentro de uma mesma obra. A gente não tem medo desses diálogos, que às vezes parecem conflitantes para misturar essas linguagens dentro de uma mesma cenografia, por exemplo, de um mesmo carro alegórico, ou de uma mesma fantasia, bom, são experimentos. Às vezes dão certo, outras não, mas espero que sempre deem, mas é um movimento que parte desse nosso incômodo, dessa nossa postura de não se curvar a receitas prontas. Mais do que apresentar uma obra que seja simplesmente elogiada por todos porque é padronizada, presa a determinados padrões preestabelecidos na história do carnaval, a gente tenta ir além e propor outras discussões, soluções estéticas, formas de se pensar uma narrativa de enredo, e claro, isso demanda tempo, às vezes gera infinitas discussões e justificativas, mas é algo que a gente vem conseguindo realizar nesse nosso ainda curto histórico de trabalhos como carnavalescos”.

Ressalta ainda que essa postura não está sendo diferente na Grande Rio, que irá pisar na Avenida como uma nova estética.

“Aqui na Grande Rio não está sendo diferente, a gente está experimentando muito e todas as nossas alegorias dialogam e levam a nossa assinatura, mas propõe diálogos e apresentam técnicas de confecção bastante diferentes. Então é difícil mesmo mediar todas essas frentes de trabalho, mas é isso que dá um resultado bastante complexo. A gente não tem medo ‘daquela pedrinha que se mistura no feijão e pode quebrar um dente’ como dizia o poeta João Cabral Melo Neto, porque às vezes é essa pedrinha que desperta e que gera um encantamento que foge do comum. Então seguramente o nosso carnaval vai ter algumas soluções visuais que podem causar em um primeiro momento estranhamento, mas que são outras formas de se pensar os festejos carnavalescos, de se traduzir isso visualmente. E a gente espera que todos os diferentes públicos se deixem envolver por essa narrativa e compreendam esses diferentes momentos de um mesmo desfile”.

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Gabriel Haddad completa pontuando que esta postura deles é marca de seus trabalhos e que essa evolução vem desde vários enredos realizados por todas as escolas em que passaram.

“Essa é a principal característica do nosso trabalho, de fazer um enredo que possa ser reconhecido na Avenida. Fizemos dois enredos na Acadêmicos do Cubango, no primeiro ano sobre o artista contemporâneo Arthur Bispo do Rosário e ali a gente questionava o como fazer com que as pessoas entendam a história dele e foi bem complicado. Buscamos primeiro não apresentar a obra dele de fato na Avenida, era então uma interpretação nossa, uma história que a gente estava contando sobre ele. E creio que isso facilita um pouco, a forma que nós buscamos criar as fantasias e alegorias, uma maneira que tanto o componente da escola quanto quem esteja vendo se envolva com aquele trabalho artístico, mas também se envolva emocionalmente, e essa é a forma em que conseguimos atingir todos os públicos presentes na Sapucaí. Temos que conversar com os jurados, com o público presente, com a comunidade que está desfilando, com a diretoria, onde a avaliação é constante, todo dia tem alguém avaliando o nosso trabalho, mas a avaliação final é só na Avenida, e é aquela magia do carnaval que envolve o desfile. Então esse acontecimento, essa emoção para o desfile, essa narrativa que a gente preparou está traduzida em fantasias e alegorias, que são o ponto principal que gera essa conexão”, afirmou.

Entenda o desfile:

A Grande Rio pisará na Avenida com cinco alegorias e três tripé. O que se viu foi um barracão bem ligado com a ancestralidade e a cultura do Candomblé. É uma nova estética para a escola, mas as alegorias, fantasias e adereços se interligam e traduzem a cara do enredo, raiz, sem o luxo mas com muita qualidade e cultura, de boas pinturas, detalhes e referências, o que é marca do trabalho dos carnavalescos. Leonardo Bora explica, setor por setor, a concepção e realização do desfile da escola.

Setor 1: “O nosso desfile começa com as raízes ancestrais de João da Gomeia, que nasce no interior da Bahia na cidade Inhambupe e que tinha visões que ele não compreendia, ao longo de toda a sua primeira infância, visões essas que se ‘materializavam’ durante a noite quando ele deitava uma rede, naquele balanço da rede e com a luz do lampiões ele via espectros dos vultos que não compreendia, se era um homem, um bicho ou um pássaro. Isso o próprio samba canta, o ‘era homem, era bicho-flor, bicho-homem, pena de pavão’ e era um chamado espiritual do caboclo da Pedra Preta que seria o guia dele até o final da vida, um chamado para a vida no candomblé, ele que estava predestinado a ser essa grande liderança que receberia o título de ‘rei do candomblé’. Então a abertura do desfile é essa noite mágica que traz toda a carga ancestral, todos esses mistérios que rodeavam a vida de um menino no interior da Bahia”.

Setor 2: “Teremos aqui o terreiro, João que migra para Salvador e lá é feito no santo, ou seja, é iniciado no candomblé do pai Jubiabá e que dá início a essa trajetória de grande líder religioso na Gomeia de São Caetano nos arredores da cidade de Salvador”.

Setor 3: “Do terreiro de Salvador a gente parte para Caxias onde ele traz toda essa bagagem para a baixada fluminense e replanta o seu axé ali, terreiro esse que se transformava em aldeia durante as grandes festas de caboclo. O candomblé de Joãozinho era bem polêmico pois era híbrido, já que reunia o culto aos orixás e as ‘inquices’ do candomblé de Angola com o culto aos caboclos. E as festas dedicadas aos caboclos eram extremamente fartas e exuberantes, que atraíam a intelectualidade, os artistas, a cena cultural da cidade do Rio de Janeiro que ia para Duque de Caxias participar desses festejos, que são descritos com bastante riqueza de detalhes tanto pela mãe GiselLe Cossard que foi iniciada por ele, como por escritores como José Cândido de Carvalho. Então a gente vai mostrar essa grande aldeia em que a Gomeia caxiense se transformava durante as festas de caboclo”.

Setor 4: “Do terreiro que se transforma em aldeia a gente parte para a rua. E mostra João da Gomeia enquanto grande agente carnavalesco, corpo indócil que participava das múltiplas manifestações carnavalescas da cidade do Rio de Janeiro, como os bailes de travestis, os concursos de fantasias e os desfiles de escolas de samba. Das ruas para os palcos, o João enquanto grande artista que cria um grupo de ballet afro com suas filhas de santo, que se apresenta em palcos importantes como o teatro João Caetano, Copacabana Palace, Cassino da Urca e que faz turnês por todo Brasil. E também como agente múltiplo, que recebia no seu terreiro, as personalidades mais importantes da cena artística, cultural e política brasileira. E as mais variadas histórias que envolvem esse personagem”.

Setor 5: “E por fim, o quilombo. A Gomeia enquanto espaço de resistência, intenso lugar de sociabilidade que a gente espera que reexista nesses tempos de recrudescimento dos preconceitos, da intolerância religiosa. Então a gente entende que a Gomeia foi um espaço dos mais plurais, que albergava as múltiplas manifestações culturais de Caxias, da capoeira, folia de reis e festa junina. Esperamos que toda essa energia rebrote nos tempos contemporâneos e que novamente o espírito de Joãozinho da Gomeia, esse espírito profundamente livre, com a ideia do revoar da liberdade, que a gente apresenta no último setor do desfile, que isso semeie tempos tolerantes, respeitosos, plurais e que diversidade seja uma pedra angular e não algo acessório”.

Eterna porta-bandeira Vilma Nascimento sofre acidente em São Paulo

    O eterno cisne da passarela, a ex-porta-bandeira Vilma Nascimento, de 81 anos, sofreu um acidente em uma estação de metrô, em São Paulo, na tarde de sábado, e, terá que passar por uma cirurgia. A sambista, mãe da porta-bandeira do Paraíso do Tuiuti, Danielle Nascimento, está internada no Hospital das Clínicas.

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    Vilma e o neto, Bernard Nascimento, estavam na estação Butantã do metrô, quando um outro passageiro passou de forma abrupta com uma mala grande em cima dos pés da eterna porta-bandeira. Ela, então, perdeu o equilíbrio e caiu para frente, batendo com o rosto numa barra de ferro e sofrendo escoriações.

    Após receber os primeiros cuidados no Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (USP), a sambista foi transferida para o Hospital das Clínicas, onde aguarda o resultado de novos exames para saber se precisará passar por uma cirurgia. Ela se encontra na enfermaria da unidade, lúcida, e na companhia de diversos familiares. A sambista havia ido à cidade para receber uma homenagem do bloco Doentes da Sapucaí, na Vila Mariana.

    Entrevistão com Marquinho Marino: ‘Afirmo que tecnicamente a Mocidade disputa o título do Especial em 2020’

    Imagine realizar o sonho de trabalhar na escola que você cresceu e da qual é torcedor? Essa é a rotina de Marquinho Marino, um sambista que passou por todos os estágios dentro da Mocidade Independente de Padre Miguel. Hoje com a responsabilidade de ser o comandante do projeto da escola, Marino recebeu o CARNAVALESCO para a série ‘Entrevistão’.

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    Sincero, Marino confirma que estava fora da Mocidade após o desfile de 2019, mas garante que as coisas de fato mudaram. O dirigente, que já foi compositor de samba campeão na escola, revela o segredo das safras recentes na escola: “Não escolhemos samba por política”. Confira o papo com Marquinho Marino.

    Esses resultados da Mocidade passam diretamente pela sua chegada. Você concorda?

    “Não concordo 100%. Fui uma peça que se encaixou na equipe. De 2016 para 2017 era praticamente o mesmo pessoal. Mas concordo que dei liga. Eu tive minha contribuição? Tive. Mas todos que estavam e ainda estão por aqui também tiveram”.

    Ser um independente te ajuda quanto no trabalho?

    “Já trabalhei em outras agremiações e procurei entender a essência de cada uma. Cada escola tem uma cultura. O segredo é identificar isso. Não existe receita de bolo. Ser um torcedor da Mocidade, ter crescido aqui dentro, me ajuda 100% no meu trabalho”.

    E como é se relacionar com uma torcida tão participativa como é a da Mocidade?

    “Para mim é natural, eu já conheço, sei de onde vêm as críticas construtivas e as negativas. Se você buscar agradar a todos, alguém você vi desagradar. Muitos gostam de mim, me viram desde criança. Outros nem tanto. Eu trabalho para a Mocidade, e é por ela que tenho que buscar objetivos. Alguém sempre vai ficar contrariado em algum momento, mas eu procuro abstrair e fazer o que acho que deve ser feito”.

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    Que lição você tirou da crise que culminou com a saída do antigo casal e do ex-vice-presidente Rodrigo Pacheco?

    “Toda empresa passa por mudanças. Daqui a pouco pode chegar a minha vez. É igual a um clube de futebol, que contrata e dispensa jogadores. As pessoas vão passar e a instituição fica. Natural”.

    Como está o Diogo depois de tanta rejeição na chegada dele?

    “O Diogo quando veio eu tinha certeza de seu potencial. A Mocidade tem uma estrutura para os dois casais. Tem acompanhamento técnico, psicológico, físico. Sinto o Diogo bem tranquilo, todos merecem uma segunda chance. Com isso e talento a pessoa consegue. A forma com que ele saiu era natural a rejeição. Mas só quem estava aqui dentro conhece os reais motivos pelos quais o Diogo saiu da escola”.

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    O que o Marino diretor de carnaval diria para o Marino compositor?

    “Que hoje a Mocidade escolhe o melhor samba e tem consciência total da importância de um samba para o desfile. Escola que escolhe samba errado está fora da disputa. O compositor tem que buscar um diferencial pra vencer. O nível é alto. Política não pode escolher samba. 90% das mudanças na Mocidade nos últimos anos são graças aos sambas-enredo”.

    Qual o segredo do sucesso da ala de compositores da Mocidade?

    “Quando cheguei em 2017 muita gente na escola me via ainda como um compositor. Na minha época eu era muito competitivo. Surgiu uma desconfiança inicial. Mas eu falei com cada um, mostrei que ganharia o melhor. Isso só se mostra fazendo. Após a escolha naquele ano todos passaram a ter respeito por mim. Cada ano ganhou uma parceria. Os compositores passaram a confiar no processo. De 2017 para cá, a cada ano a gente tinha mais opção de escolha. E tem que ser assim. Ganha o melhor para o carnaval”.

    O enredo ser a Elza traz um peso a mais de ser obrigado a ter um grande desfile?

    “Ninguém me pressionou até hoje por conta disso. Tem que ser melhor por que é a Mocidade. Evidente que no torcedor tem um peso emocional. A Elza é uma personagem que mexe com o coração do componente, do independente. Tenho absoluta certeza que vai dar tudo certo. Afirmo que tecnicamente a Mocidade disputa o título”.

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    Por que a Mocidade aceitou trocar com a Beija-Flor no sorteio?

    “Primeiro que a Beija-Flor ganha quando fecha pois fez um trabalho para isso. Não é porque simplesmente fecha. Isso aí é balela. Historicamente para a Mocidade os Correios são uma opção melhor. Logisticamente interfere no projeto o lado de concentração. Assim como a Mangueira prefere o Balança. Nós nos sentimos à vontade daquele lado. Tenho o maior respeito pela Beija-Flor, mas será uma briga boa. A Mocidade não teme ninguém. Entramos na avenida para ganhar. Quem propôs a troca fomos nós. Podem até dizer que a culpa é minha”.

    Você quase saiu da Mocidade, o que te fez ficar?

    “No sábado das campeãs de 2019 informei que não continuaria e cheguei a esvaziar a minha sala. Na semana seguinte o alto escalão da escola me chamou, chegamos a um acordo e eu segui. Sou um profissional e o lado torcedor precisa ficar de fora. Coloquei os pontos que me atrapalhavam e eles me garantiram que não se repetiria. Esse ano está tudo caminhando bem”.

    Enredo em 2020 no Acesso, Feira de São Cristóvão elege Solange Gomes rainha do grito de carnaval

    “Em São Cristóvão, faz a feira Abolição. Pedacinho do Nordeste no meu Rio de Janeiro”, assim canta o samba enredo da Acadêmicos da Abolição, que em 2020 homenageia os 75 anos da Feira de São Cristóvão. E neste domingo, a partir das 15h, tem grito de Carnaval no pedaço mais nordestino no Rio de Janeiro. E Solange Gomes será coroada rainha do grito de Carnaval.

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    “Não podia dizer não. Representar a Feira é uma alegria. O meu muito obrigada a todos os feirantes e representantes da Prefeitura do Rio pela homenagem e carinho. Forró e Carnaval dão samba”, diz Solange Gomes. que está afastada do Carnaval há dois anos.

    “Eu amo Carnaval. Esse ano iria assistir só dos camarotes na Sapucaí, mas é tanto carinho, que eu não resisti e aceitei o convite da Feira. Estou ansiosa”, disse a beldade.

    A Feira de São Cristóvão inicia suas comemorações do seu jubileu de diamante, no espaço de preservação da cultura e legado nordestino.

    “As comemorações estão a todo vapor e seguem até o fim do ano. Tudo será especial este ano. Sou paraibana e com muito orgulho recebi essa missão do prefeito Marcelo Crivella. Comemorar esses 75 anos é motivo de honra. Parece que foi ontem que eu puxava lona do lado de fora. É um desafio diário, uma responsabilidade, que eu encaro de frente. São muitas conquistas. Tenho a certeza de muito trabalho pela frente neste ano”, afirma a gestora municipal Magna Fernandes.

    O presidente da Acadêmicos da Abolição, Neto Dória, agradeceu receptividade ao enredo e contou todas as estratégias da escola em relação ao carnaval.

    “A história do Rio de Janeiro e do Nordeste se entrelaçam. A alegria contagiante do Nordestino, o espírito de luta e a maneira de levar a vida com alegria, mesmo em meio às adversidades, são características típicas também marcantes dos cariocas. Então alegria e emoção serão os elementos fundamentais, para conduzir nossa escola à vitória celebrando estes 75 anos da Feira de São Cristóvão”, diz Neto.

    Serviço

    FEIRA DE SÃO CRISTÓVÃO. Domingo (16/02), a partir das 15h, tem grito de Carnaval da Feira de São Cristóvão. Campo de São Cristóvão s/nº, São Cristóvão.

    Funcionamento: Ter a qui, das 10h às 18h, com entrada gratuita. Sex e sáb, a partir das 10h. Dom, a partir das 12h.
    Entrada: a partir de R$ 5.

    Acompanhe ao vivo os desfiles do Grupo Especial de Vitória

    Série Barracões: X-9 Paulistana irá exaltar os diferentes tipos de batucadas pelo Brasil

    Por Gustavo Lima

    A reportagem do CARNAVALESCO foi ao barracão da X9 Paulistana e entrevistou Pedro Magoo, carnavalesco da escola. O profissional faz a sua estreia na agremiação e tem como objetivo colocar a escola da Zona Norte de volta ao desfile das campeãs pelo Grupo Especial, pois faz 14 anos que a X9 Paulistana não termina entre as cinco primeiras colocadas da elite do carnaval paulistano. Para isso, Magoo apostará no enredo “Batuques para um rei corado”, uma homenagem a batucada brasileira.

    “Esse enredo é uma grande homenagem a batucada brasileira, os vários tipos de batucada, seja nas manifestações culturais, religiosas e todas as suas influências, mas só que isso a gente não vai mostrar como um simples descritivo. Nós pegamos uma história, que é o dia que os Ibejis enganaram a morte, começaremos com a batucada Ibeji e a partir disso vamos começar a falar da batucada brasileira. É uma história muito legal, bem amarrada e além de fazermos essa homenagem a batucada brasileira, no final nós vamos falar um pouco da história e da batucada da X9 Paulistana, de momentos especiais. Então o xisnoveano que vai ver isso, irá se identificar muito”.

    Magoo revelou que o enredo nasceu de uma música do Arlindo Cruz, “batuques do meu lugar”. O diretor de carnaval Pê Santana teve a ideia e o carnavalesco começou o trabalho de pesquisa juntamente ao Departamento Cultural da agremiação.

    “Na verdade, esse enredo é baseado em uma música do Arlindo, que chama ‘batuques do meu lugar’. O Pê Santana que é diretor de carnaval, veio com essa ideia, mas se fosse só a música ao pé da letra, ficaria algo descritivo, tem coisa legal que iria ficar de fora. Aí eu comecei o trabalho de pesquisa junto com o Departamento Cultural da X9, que é
    um departamento muito legal, e nós chegamos a esse enredo, descobrimos essa história do Ibejis, fizemos a amarração do tema que a gente vai levar pra avenida”.

    Quando se fala em batucada, imagina-se que o enredo irá para um lado afro, reverenciando as religiões como o candomblé e umbanda, mas segundo o carnavalesco, o enredo irá abordar várias vertentes dos batuques, irá homenagear as muitas batucadas que existem dentro do Brasil.

    “Nós vamos mostrar de tudo um pouco, porque assim, em cada região do Brasil existe um tipo de batucada. Tem influência religiosa, folclórica, e o legal disso é que nós vamos mostrar vários movimentos que são poucos conhecidos pelo grande público do carnaval. Nós vamos falar da Súcia do Tocantins, Marabaixo do Macapá, Timcubi, e várias batucadas que não são muito exploradas em desfiles de carnaval, mas que tem seu valor histórico, valor cultural e merece ser difundindo pro grande público. É uma grande história, sendo dentro dela, vamos mostrar a rica batucada brasileira na avenida”.

    O carnavalesco disse que é importante ousar, mas acima de tudo o regulamento deve ser respeitado.

    “Você tem que usar o bom senso, antigamente era difícil segurar o ímpeto, mas com o tempo eu fui aprendendo que você deve ousar, mas não pode esquecer do regulamento. Como eu costumo dizer, o carnavalesco não ganha o carnaval, quem ganha é o conjunto todo, a escola toda, mas eu já vi carnavalesco perder carnaval por teimosia e cometer erros que prejudicaram a escola, então assim, tem que ter essa humildade. Devemos colocar nossas ideias, loucuras que o carnavalesco tem que ter, mas desde que não ultrapasse esse limite, não coloque a escola inteira em risco no regulamento, caia alguma penalidade, alguma pegadinha que possa prejudicar o desfile como um todo, então esse é o desafio maior, manter esse equilíbrio”.

    Magoo levou novos profissionais de barracão junto com ele, pessoas de confiança e com quem ele trabalha há muito tempo, como a equipe de decoração.

    “Nós mudamos a equipe de decoração, tem o Augusto que trabalhou comigo alguns anos na Mancha Verde, é um amigo e pessoa de confiança que eu consegui trazer pra X9. Então eu já tenho uma afinidade e daí ficou bem mais fácil, e as outras equipes também trabalharam comigo tanto na Mancha como na Nenê, são profissionais que eu fui fazendo amizade e quando vim pra cá fiz o convite, eles são todos mais loucos do que eu e estão aqui comigo”.

    Paixão da comunidade e garra para voltar às primeiras posições, podem virar um trunfo da agremiação neste carnaval O carnavalesco falou que o contato com a agremiação nesse primeiro ano vem sendo muito bom, que a X9 tem uma comunidade muito apaixonada, e que não vê a hora de voltar a figurar entre as cinco primeiras, aos grandes anos da X9 Paulistana, que é bicampeã do carnaval paulistano.

    “Os primeiros contatos com a comunidade da X9 vêm sendo muito legal. A comunidade da X9 é muito apaixonada, eu sinto que ela está meio marcada pelo fato de estar há 14 anos sem voltar pro desfile das campeãs, tirando aquele ano que eles estavam no Acesso e foram campeões, mas assim, desfilando no Especial, são 14 anos que não fica entre as cinco primeiras, e pra uma escola que já foi campeã duas vezes é muita coisa. Eu sinto que é uma comunidade muito apaixonada e que sonha em voltar aos grandes tempos da X9 Paulistana, e eu estou trabalhando dia e noite pra ajudar que essas pessoas realizem esse sonho de voltar a ver a X9 entre as primeiras do carnaval”.

    Segundo o carnavalesco, toda essa paixão ajudará bastante no desfile da agremiação e todos estão unidos em busca do mesmo objetivo.

    “Tudo que se faz com sentimento, que você põe em primeiro lugar, é melhor. Aqui em São Paulo têm vários casos que você vê uma escola que atravessa a avenida e fala ‘é ela’. O fator plástica fica em segundo plano, tem aquela conexão arquibancada, público. E sobre a X9, o pessoal está empolgadíssimo, eles compraram a ideia, eles acham que esse ano podem alcançar um degrau acima, conquistar algo a mais no carnaval. Sonhar é bom demais, todo mundo está no mesmo barco e se Deus quiser vai dar tudo certo”.

    CONHEÇA O DESFILE:

    SETOR 1: BATUQUE MISCIGENADO
    “O nosso primeiro setor vem falando da miscigenação, do batuque miscigenado. É uma mistura da batucada indígena, do negro e do branco com a influência europeia. A junção dessas três batucadas que deu origem a batucada brasileira em todos os estados. Esse primeiro setor vem com o abre-alas, baianas, primeiro casal e mais uma ala, que vem contando um pouco dessa história. Nesse setor vem a batucada da região Norte, nossa bateria por exemplo vem fazendo uma homenagem a marujada e a batucada, que são do Caprichoso e Garantido. Só que nós não vamos homenagear o Garantido e o Caprichoso, nós vamos homenagear a bateria dos dois, que é a Marujada de Guerra e a Batucada, e tem outras manifestações culturais e folclóricas como o Carimbó E Ritual da Moça Ticuna. Esse setor vai representar toda a região Norte do país”.

    SETOR 2: FESTA DO DIVINO
    “No segundo setor nós vamos falar da importante manifestação da Festa do Divino lá de Pirenópolis, em Goiás. Daí a gente entra no centro-oeste. A Festa do Divino nessa cidade é uma manifestação lindíssima, e tem uma batucada que se chama “Batuques da Alvorada”, é uma batucada que sai nas ruas no último dia de festividade na parte da noite, passam de casa em casa e várias pessoas vão para a praça dançar e festejar. É uma festa que mistura religião, folclore e quanto mais eu estudei, mais eu me apaixonei por essa festividade. Então o nosso carro vai representar isso, é uma alegoria bem interessante que já está pronta e embalada pra ir pra avenida”.

    SETOR 3: MARACATU
    “No terceiro setor a gente fala do Nordeste, que é um carro que vai falar do Maracatu, mas não do Maracatu em si, nós vamos falar das noites dos tambores silenciosos, que é
    uma noite em que todas as nações do Maracatu se juntam em um ritual religioso, que é muito legal. Nós estaremos levando algumas surpresas nesse carro e é uma das nossas
    apostas pro desfile”.

    SETOR 4: BATUCADA CARIOCA
    “Continuando a viagem pelos estados, chegamos ao sudeste, e nossa quarta alegoria vai representar a batucada carioca. Nós vamos mostrar as escolas de samba do Rio de Janeiro, o pagode que começou lá e os tambores religiosos, vamos falar um pouco dos terreiros do Rio de Janeiro, vamos fazer uma homenagem aos grupos de samba, à primeira escola de samba e mostrar toda essa religiosidade”.

    SETOR 5: BATUCADA DE SÃO PAULO
    “Nós encerramos com São Paulo, falando sobre o samba rural, o samba de Pirapora até chegar ao samba do engraxate, os antigos cordões e o último carro, que é o da coroação do rei, nosso personagem principal que está narrando a história é coroado, é um grande templo, só que ao invés de soldados, são sambistas. O cara que é curioso pela X9, vai
    ver em cada escultura um pouquinho da história da escola, de algum carnaval importante, pessoas importantes, é o carro que vai a velha guarda também. Quem é xisnoveano vai se identificar bastante com esse carro que vai fechar o nosso desfile”.

    Plenária na Liga-SP decide que Pérola Negra será julgada em todos os quesitos

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    Os presidentes das escolas de samba do Grupo Especial de São Paulo estiveram reunidos, na tarde deste sábado, na sede da Liga-SP, e, decidiram que a Pérola Negra será julgada nos nove quesitos no Carnaval 2020. A escola sofreu com a tempestade do dia 10 de fevereiro na cidade. Dentro do julgamento, os presidentes decidiram:

    – No quesito fantasia, será feita uma indicação na pasta de referência dos jurados sobre quais alas sofreram algum tipo de danificação por conta da enchente que afetou o barracão da escola na última semana;

    – Seguindo o manual de avaliação, os julgadores não considerarão sujidades nas fantasias indicadas;

    – As demais fantasias que não forem indicadas serão julgadas normalmente;

    – Fica decidido também que, em caso de empate na apuração, o quesito fantasia não fará parte do primeiro critério de desempate que é a somatória de todas as notas, inclusive, as descartadas.

    Entrevistão com Thiago Monteiro: ‘Tenho dívida de gratidão com a Grande Rio’

    Se a Grande Rio vem resgatando o seu DNA histórico muito se deve à figura de Thiago Monteiro. Ele é o artífice de um carnaval que gera grande expectativa pela maneira como está sendo conduzido pela escola. Thiago foge ao perfil do dirigente de escola de samba. Discreto, possui um emprego fora da festa. Ele abre o jogo na série “Entrevistão” do site CARNAVALESCO.

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    No papo com nossa reportagem no barracão, Thiago conta que a escola lhe deu todo respaldo no momento mais difícil de sua vida, quando sofreu um grave acidente de carro no final de 2018: “A minha dívida é de gratidão”. O dirigente também não deixou de falar do desfile de 2019 e defende o enredo presentado: “Foi um desfile que falou muito mais para dentro que para fora. Sabíamos do risco e assumimos”.

    Você considera uma grande vitória esse resgate da Grande Rio?

    “Sem dúvida. Tudo que tem acontecido nesse pré-carnaval, a resposta da comunidade. É claro que queremos o título do carnaval. Mas em ter nossos segmentos felizes, a escol em um momento positivo, ver essa Grande Rio que há pouco tempo sofria com olhares tortos e ver que hoje o clima é positivo, é resultado de um trabalho que nos deixa orgulhosos”.

    O carnaval tem sido injusto com o Ricardo Fernandes?

    “Aprendi muito com o Ricardo. Estou em constante aprendizado, mas o pouco que sei ele que me ensinou. Eu acho que na vida, não só no carnaval, aprendemos que existem injustiças. Quando você ocupa um cargo determinado você é tratado de um maneira, e quando por algum motivo você perde o status-quo as coisas mudam. Mas eu não acho que seja o carnaval, em diversos segmentos da vida é assim. Não tenho tido mais contato com ele, mas tenho muita gratidão”;

    A Grande Rio não consegue ser campeã e muitos dizem que a escola não se importa com isso. O que falta para esse título?

    “Não acho que a escola nunca se importou. Acho que em determinados desfiles faltou sorte, como em 2006. Em outros momentos bons carnavais toparam com outras apresentações mais fortes, como em 2010. Em 2007 foi parecido. Nos anos 90 Grande Rio tinha enredos fantásticos, mas a escola ainda não tinha essa estrutura. Considero que não ganhou por detalhes. Não sei se esse ano, mas esse título está próximo”.

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    O projeto de 2019 foi um equívoco?

    “O momento era delicado, vindo de um resultado muito ruim. A comunidade está abatida. Quem passa por isso sabe que não é agradável. Aquele enredo foi muito mais para dentro. Era hora de olhar para a comunidade e pedir para levantar a cabeça. Buscamos referências para que as pessoas voltassem a se orgulhar. A direção da escola achou por bem assumir o risco de ser mal interpretado. Paciência, o momento era histórico. A Grande Rio precisava cantar e falar aquilo. Encaramos o problema de frente. Não o jogamos para debaixo do tapete”.

    O Fafá é uma grande revelação da escola. O que você pode falar dele?

    “O Fafá é muito talentoso, foi criado aqui dentro. Um aposta dos presidentes. Convivo com ele há dois anos. Ele é humilde, conciliador, sempre disposto a ajudar. Ele tem a exata noção da importância da bateria da escola na história. O que esperamos da bateria da Grande Rio é isso que o Fafá está apresentando, com todo respeito aqueles que passaram por aqui. Isso é muito importante e ele reconheceu isso de uma forma incrível”

    Você prefere encomendar o samba ou fazer disputa?

    “Eu acho que como qualquer situação a encomenda tem vantagens e desvantagens. A Tuiuti em 2018 havia passado por um momento terrível no carnaval anterior. A encomenda te dá um direcionamento. Havia partes do samba da Grande Rio de 2019 que a escola falava para si. Para o nosso discurso era importante. Sabíamos do risco, mas a comunidade comprou o barulho”.

    Os presidentes de honra da Grande Rio são figuras históricas da escola. Como é a atuação deles hoje?

    “A Grande Rio é jovem e forma por apaixonados que viram a escola ser criado. O Perácio foi citado em um samba-enredo da escola. É um sambista, mola propulsora da agremiação. Conhece a comunidade como ninguém. Me apoio nele para tomar decisões. O Jayder é uma figura apaixonada pela Grande Rio. Quando a escola vai fazer shows particulares ele cuida para que o elenco consuma as mesmas bebidas e comidas dos convidados. O Helinho hoje é o cara que toca o barracão. Ele bota a mão na massa, fecha contratos, define pagamentos. O Leandro é quem sempre apelou a gente, também é muito apaixonado. Eles conversam sempre entre eles e confiam em quem contratam”.

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    Como a escola tem lidado com pedidos de famosos?

    “Esses pedidos tem muita lenda também. Quais escolas não recebem esse tipo de pedido? Os artistas da escola são comedidos. A Grande Rio entendeu que excesso de camisas e de figuras alheias ao dia-dia é prejudiciais aos desfile. Sabemos que precisamos firmar parcerias. Esse ano perde até ponto essa questão de camisas. Em 2014, meu primeiro ano aqui, o volume era muito maior e inclusive perdemos ponto em justificativas de jurado. Agora está bem menor. Pedido sempre vai existir. Não sou eu que vou negar que eles existam. É só colocar as pessoas nos locais corretos”.

    O desfile de 2018 do Tuiuti é o melhor momento da sua carreira?

    “Guardo três momentos com carinho. O título do Império da Tijuca em 2013, quando eu era diretor de carnaval. Sou amigo do presidente Tê até hoje. Ele confiou no meu trabalho e foi meu primeiro grande resultado. Depois foi minha primeira passagem pela Grande Rio em 2014. Fomos muito mal julgados. Coisas do carnaval. Foi minha estreia no Especial. Agora o Tuiuti é um momento de grande maturidade. Acho que colaborei bastante com aquele desfile histórico. Estávamos 22 décimos atrás do desfile da Tijuca de 2017, que foi cheio de problemas, e conseguimos o vice-campeonato, quase conquistando um título no meio de tantas escolas gigantes”.

    Aquela sua saída do Tuiuti surpreendeu muita gente. Por que saiu?

    “Foi muito bom trabalhar com o presidente Thor. Ele acima de tudo é um sambista. Aquela noite do desfile de 2018 foi mágica, tudo deu certo, aquela catarse. A saída teve um conjunto de fatores. Acabou o carnaval não tivemos nenhuma conversa. A Grande Rio eu sempre tive um carinho muito grande. Saí naquele primeiro momento por vontade própria. Fui pra Lierj por indicação da Grande Rio. Recebi um contato da escola me chamando para conversar. Aí tem o desafio profissional, depois de tudo que havia acontecido. Me senti maduro para aceitar o convite. É claro que houve uma valorização profissional. Eu aceitei pelo desafio e por gratidão por tudo que fizeram por mim”.

    Mais de um ano depois o que é possível falar sobre o acidente que você sofreu?

    “Essa é outra dívida de gratidão minha com a Grande Rio. Helinho, Jayder e Perácio foram muito importantes. Tudo aconteceu na reta final do carnaval. Helinho me deu força ainda na Washington Luís, eu todo machucado. E foi em um momento importante de finalização do projeto. Foi muito difícil colocar aquele carnaval na rua. Com cadeira de rodas, limitado fisicamente eu tive muita dificuldade para colocar o carnaval na rua. Foi o momento mais difícil de minha trajetória no carnaval, sem dúvida”.

    De olho nos quesitos: o que os jurados mais puniram em comissão de frente nos últimos cinco anos

      Houve um tempo em que para apresentar a comissão de frente as escolas optavam por levar os baluartes da velha-guarda. Em um segundo momento começaram a surgir grandes coreógrafos, que impactaram o público com apresentações sincronizadas e baseadas em indumentárias poderosas. Na última década o quesito comissão de frente viveu uma autêntica revolução com comissões que arrancaram suspiros do público com um espetáculo que mesclava surpresa e impacto.

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      Na série ‘De olho nos quesitos’, o site CARNAVALESCO debate os parâmetros que envolvem um dos quesitos que mais mudou nos últimos anos. Uma comissão de frente é julgada através de quatro pilares básicos: concepção, apresentação, indumentária e realização.

      Uma das grandes mudanças nos últimos anos no quesito comissão de frente foi o surgimento de elementos cenográficos de apoio cada vez maiores. Hoje em dia praticamente todas as apresentações contam com esses elementos. Entretanto, pode ser uma faca de dois gumes. Se a escola levar uma alegoria sem funcionalidade na apresentação isso pode acarretar na perda de pontos, como aconteceu com o Império Serrano em 2019.

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      “… observamos o elemento cenográfico o lado esperando para ser utilizado. Quando foi acionado nada trouxe para a evolução dramática da cena, uma vez que os moradores de rua lá estavam no lugar onde vivem: na rua…”, diz um trecho da justificativa do julgador Gustavo Paso.

      Impacto visual é outro aspecto encontrado como um dos que mais fazem as agremiações perderem décimos no quesito. A apresentação precisa causar encantamento para alcançar a nota máxima. A Mangueira, em seu desfile de 2018, viveu um exemplo desta situação, como mostra a justificativa de Marcus Nery Magalhães.

      “Na apresentação da comissão de frente falta ousadia para quebrar a linearidade da encenação para que fosse conduzida a uma teatralização mais impactante”, explicou ao tirar um décimo.

      Talvez aquilo que mais cause a perda de décimos no quesito sejam as falhas durante as apresentações. Ninguém está imune às eventualidades que podem acometer um desfile de escola de samba. Um chapéu que cai, um elemento que não funciona, um componente que pode cair. Em 2017 o julgador João Wlamir trouxe duas justificativas com falhas nas apresentações.

      “Mesmo com a boia ideia e execução coreográfica há que se penalizar a perda de sustentação de parte do figurino de uma personagem principal (o pajé e sua asa esquerda) pois prejudicou a perfeição do visual”, explicou para punir a Imperatriz.

      “A bela coreografia foi prejudicada pela não abertura, no tempo preciso, da saia, prejudicando assim, um dos pontos altos de impacto da mesma”, explicou sobre a comissão da União da Ilha.

      O apuro da indumentária é de suma importância para o alcance da nota 10 na comissão de frente. Há de estar bem apresentada, com uso de materiais que reunidos apresentem beleza e ainda seja de fácil entendimento para o público e os jurados. Esse foi um dos problemas d comissão de frente da Vila Isabel em 2016.

      “Os dois figurantes que movimentavam o animal vieram com um vestimenta na cor branca, causando desconforto visual e incompatibilidade com a cor parda do animal”, alertou o julgador Paulo César Morato.

      A leitura é um dos parâmetros estéticos mais desafiadores dos desfiles de escola de samba. Em qualquer um dos quesitos que envolvam o aspecto visual a leitura, ou seja o entendimento daquilo que se apresenta, é avaliado. A comissão de frente da Mocidade em 2015 pecou por este aspecto, conforme demonstra a justificativa abaixo, de Paulo Cesar Morato.

      “Jorge e Saulo apresentam um espetáculo rico em cenas e efeitos especiais, porém a narratividade ficou comprometida o faltar um fio condutor que ligasse o conjunto sequencial e explicitasse melhor a destruição do planeta para o espectador”.

      Aspectos observados pelos jurados para punição em comissão de frente nos últimos cinco anos.

      – Falta de Leitura
      – Indumentária
      – Falhas e erros de apresentação
      – Elemento cenográfico com problemas de acabamento ou sem função
      – Pouco impacto visual