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De olho nos quesitos: o que os jurados mais puniram em evolução nos últimos cinco anos

    manga treino 29Quando Jorge Perlingeiro lê as notas na apuração da quarta-feira de cinzas um quesito causa calafrios nos sambistas. Evolução. Há registros históricos de desfiles que beiraram a perfeição mas que deixaram o título escapar neste traiçoeiro quesito. Chegou a hora de falar da evolução na série de reportagens ‘De olho nos quesitos’ que o site CARNAVALESCO preparou.

    O jurado de evolução precisa observar os seguintes parâmetros para aplicar a sua nota: fluência no andamento da escola (não pode haver correria nem lentidão em excesso durante a passagem da escola), coesão entre as alas (elas não podem estar espaçadas, nem emboladas umas nas outras), conjunto harmônico (não podem haver buracos quando a agremiação estiver passando pela pista) e espontaneidade (os componentes precisam demonstram empolgação).

    Buraco. Este é o terror de um desfile de escola de samba. É por isso que é fundamental o entrosamento total entre toda a equipe de diretores que tem a incumbência de fazer a escola evoluir. Os buracos acontecem quando parte da escola avança e outra fica parada, geralmente devido a dificuldades de locomoção das alegorias. Nessa hora é preciso estar atento para esses espaços não surgirem. Salete Lisboa anotou quando isso ocorreu no desfile da Viradouro de 2015.

    “Aos 43 minutos de desfile, ao passar pelo módulo 4, a Viradouro formou um buraco entre o tripé 1 e a ala 1…”, especificou a experiente jurada.

    Ao avaliar a espontaneidade de um desfile de escola de samba o jurado observa se os componentes estão cantando, dançando e brincando pela passagem na avenida. Afinal de contas é carnaval. Alas que passam andando, componentes que possuem dificuldades de evoluir devido ao tamanho de fantasias e integrantes sem empolgação estão na mira dos jurados do quesito. Em 2018, a jurada Paola Novaes fez exatamente essa observação ao punir o Império Serrano.

    “A agremiação chegou em frente ao módulo aos 18 minutos vibrante. No entanto, aos 24 minutos, na ala 02 faltou animação. Muitos componentes só passaram. A ala 15 aos 37 minutos também poderia ter evoluído mais”, alertou Paola.

    O andamento do desfile como um todo também precisa ser contemplado no julgamento do quesito evolução. As escolas de samba realizam paradas técnicas para as apresentações de seus casais de mestre-sala e porta-bandeira e suas comissões de frente. Até o desfile de 2019 eram quatro paradas, em 2020 serão três. Fora essas paradas a agremiação tem de ter fluidez no andamento. Paradas excessivas ou aceleração exagerada para não estourar o tempo são passíveis de punição dos jurados. Um exemplo foi o desfile da Estácio de Sá em 2016.

    “O desfile apresentou-se irregular, com sua fluência comprometida. Entre a ala 01 e alegoria 01 abriu-se um espaço que com o avanço da alegoria, aumentava ou diminuía. Também se observaram espaços irregulares nas las 11, 12, 14 e 24, com pequenos claros em alguns pontos e componentes compactados em outros. As várias pequenas paradas intercaladas por momentos de livre aceleração ocorridas após a alegoria 6, persistiam até o final do desfile, prejudicando a progressão da dança”, descontou a jurada Marisa Maline.

    Aspectos mais citados nas justificativas de evolução desde 2015:

    – buracos;
    – alas emboladas;
    – fluidez irregular do desfile;
    – falta de empolgação.

    Governo Witzel traz patrocínio de R$ 20,5 milhões para o Grupo Especial

      Quase com o tempo esgotado as escolas do Grupo Especial do Rio de Janeiro respiram aliviadas com a confirmação que o governo estadual, através do governador Wilson Witzel, confirmou ao apoio de R$ 20,5 milhões, junto a Refit, antiga Refinaria de Manguinhos, que dará R$ 1,5 milhão para cada uma das 13 agremiações. Infelizmente, as escolas da Série A, que esperavam R$ 500 mil, não estão incluídas.

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      Foto: Carlos Magno

      De olho nos quesitos: o que os jurados mais puniram em enredo nos últimos cinco anos

        tijuca1Diz o manual do julgador da Liesa, à respeito do quesito enredo que a proposta do carnavalesco deve ser analisada mediante sua importância e relevância cultural no aspecto da concepção apresentada e se foi passada de forma clara, objetiva e coerente na avenida no subquesito da realização. Mas onde ocorrem as falhas mais comuns em enredo nos desfiles? É o que o site CARNAVALESCO busca responder com a série ‘De olho nos quesitos’, que aborda enredo nesta reportagem.
        O sequenciamento histórico de acontecimentos que amarram a narrativa é fundamental para a correta compreensão da proposta. Se a defesa do enredo, entregue à Liesa, meses antes dos desfiles, aborda temáticas históricas ou biográficas, então qualquer erro de sequência precisa perder décimos. Esse é um dos aspectos mais comuns citados em justificativas. Em 2015 o Salgueiro escalonou alegorias de forma errada e o julgador Fernando Bicudo puniu.
        “Diante do fio cronológico que segue historicamente a evolução da culinária em Minas Gerais e os fatos que levaram à excelência de hoje, lamento que tenha havido uma inversão entre as alegorias 03 e 04. Foi a descoberta do ouro e a riqueza gerada que viabilizou o surgimento de banquetes”, puniu.
        Desenvolver o enredo de maneira pouco clara também é passível de punição. Os setores precisam possuir coerência entre si. É comum em enredos patrocinados por exemplo a inserção de elementos que quebrem a narrativa e cause falha no desenvolvimento. Esse aspecto pode ser claramente identificado na justificativa de Johny Soares para o desfile da União da Ilha em 2016.
        “A proposta não foi bem desenvolvida, resultando em uma narrativa fragmentada e confusa. A inclusão do grupo ‘artes marciais’ no setor 4 (‘o carioca nasceu para correr’), parece deslocada e incoerente ao lado de outras alas relacionadas a esportes de corrida”, indicou.
        Em 2017 um grande polêmica culminou com a divisão do título entre Portela e Mocidade. Um julgador, baseado em um livro abre-alas com erro, puniu a Mocidade em enredo pela falta de um destaque de chão. A escola provou que havia ratificado a versão anterior do livro abre-alas e dividiu com a Portela o campeonato. Este é mais um exemplo de situações que são penalizadas em enredo. A falta de elementos que constam no livro abre-alas. Como no desfile da Beija-Flor de 2018, conforme cita Persyo Gomide Brasil em sua justificativa.
        “A ala número 5 não trouxe maleta de dinheiro (livro abre-alas página 33); no ato número 04 p figurino é diferente do que consta no livro abre-alas (página 32); na indumentária da ala número 18 faltou o elemento inclusivo; após a ala número 8 (‘o bloco dos sujos, um arrastão de alegria’), surgiu um grupo com bandeiras não roteirizado”.
        Aspecto mais citados nas justificativas de enredo nos últimos cinco anos:
        – ausência de elementos;
        – erro de sequenciamento:
        – falhas de desenvolvimento;
        – pouca leitura;
        – falta de criatividade.

        Série Barracões: Vigário conta um conto e faz críticas ao Brasil atual

        Por Diogo Sampaio

        Depois de 21 anos longe do palco principal da festa, a Acadêmicos de Vigário Geral retorna para Marquês de Sapucaí no carnaval de 2020, com o enredo “O Conto do Vigário”, desenvolvido por uma comissão de carnaval, formada por Alexandre Costa, Lino Salles e Marcus do Val. A proposta da agremiação é questionar a história oficial, contada pelos livros didáticos e validada pela arte erudita, sobre o paraíso chamado Brasil. A ideia é entender o porquê do “país do futuro” nunca ter “dado certo”, além de retratar como o “jeitinho brasileiro” está presente em terras tupiniquins desde a sua suposta descoberta.

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        “A Vigário está quietinha, porque a gente acabou de chegar. Mas garanto que quando a galera ver a Vigário entrar na Avenida, vai se surpreender. Não espere a Vigário Geral de uma maneira fraquinha, indefesa. A gente vai pra cima, vai para brigar. Não vou te dizer para ganhar carnaval, afinal a gente tem deficiências ainda, como o dinheiro. Mas a gente vai surpreender bastante o público e os jurados. As nossas fantasias estão bem legais, os carros também. Esperamos que o povo nos receba de braços abertos”, antecipou Alexandre Costa para a reportagem do site CARNAVALESCO.

        Os ‘Contos dos Vigários’

        Responsáveis pelo desfile campeão da Série B no ano passado, a comissão integrada por Alexandre, Lino e Marcus tem uma longa história com a Vigário Geral, iniciada no ano de 2016, quando alcançaram o vice-campeonato da Série D com o enredo “Maracanã-Guaçu e o Ninho de Deuses”. No ano seguinte, já pela Série C, realizam um carnaval com a mesma temática do atual, intitulado “Contos do Vigário – Nasce um Trouxa a Cada Minuto”. Todavia, segundo os artistas, não haverá muitas semelhanças entre os dois trabalhos, que seguem abordagens e recortes diferentes.

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        “Nós já havíamos feito esse enredo em 2017, pela própria Vigário. Porém, a princípio, quem estava na escola era um outro carnavalesco e a gente chegou com essa proposta já escolhida. Então, estamos tentando levar para a Sapucaí agora com um outra cara, com uma nova roupagem. Até para não cair na mesmice do que a gente já fez. Estamos saindo para uma outra linha, que lá atrás, a gente até abordou um pouquinho, mas agora vai vir mais pesado, que é justamente a questão política da coisa”, relatou Costa.

        Porém, se não bastasse essa comparação, a comissão ainda tem de lidar com outra. Antes mesmo de a Vigário Geral anunciar seu enredo para 2020, a São Clemente, que desfila pelo Grupo Especial, escolheu o mesmo tema para este ano. Novamente, de acordo com Alexandre, trata-se de interpretações diferentes sobre o mesmo assunto. Para ele, o caminho escolhido pela amarela e preta de Botafogo é mais similar ao trabalho deles de 2017 que ao atual.

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        “A gente não tem medo ou receio de comparações. Até porque, pelo que nós conversamos com o Jorge (Silveira, carnavalesco da São Clemente), eles estão indo na linha que a gente fez em 2017, mais histórica. Ele também vai abordar coisas contemporâneas, mas a gente está indo por uma linha diferente da dele. Claro, vai haver coisas que irão parecer. Não tem como não falar de alguns fatos da atualidade, mas a ideia é a gente fazer um enredo diferente do enredo dele”, assegurou Costa durante a entrevista.

        Viés político

        A proposta de um discurso mais politizado, adotada pela Vigário Geral principalmente em seu terceiro setor, entra em consenso com uma tendência da folia carioca nos últimos anos, dos chamados enredos críticos. Para Alexandre Costa, esse caminho que vem sendo seguido pelas escolas resgata o papel social e contestador da festa.

        “Carnaval antigamente: como era feito? Se formava os grandes blocos, chamado de blocos dos sujos, que vinha marinheiro, pirata, baianas, e o grande lance eram as reivindicações, era brigar pelos direitos. Então, acho que com esse enredo também facilitou este trabalho. É isso que a gente quer. A gente quer mostrar um grande carnaval, mas a gente também que dizer que a gente é brasileiro, que a gente está aqui, que a gente existe e que nós estamos dispostos a lutar pelos nossos direitos”, afirmou.

        Comissão de carnaval

        Há 13 anos juntos, o trio de carnavalescos iniciou a parceria assinando a Colibri de Mesquita, pelo grupo de avaliação. Depois passaram pela Chatuba de Mesquita, Rosas de Ouro, até chegarem a Vigário Geral. Para a reportagem do site CARNAVALESCO, Alexandre Costa relatou como funciona esse trabalho em equipe, além de explicar qual o papel de cada um dentro do projeto.

        “As tarefas são bem divididas. Na verdade, todo mundo faz tudo, mas cada um tem uma responsabilidade. Eu, por exemplo, faço mais as alegorias. Porém, é claro que já peguei em fantasia enquanto os carros estavam parados. Já o Lino Salles pega essa parte de fantasias, enquanto o Marcus mais a parte de historiador. É ele que escreve, ele que defende… Porém, não quer dizer que ele também não cole galão, não recorte uma gola. Todo mundo é de tudo um pouco”, explicou.

        Dificuldades financeiras e estruturais

        Com experiências por todas as divisões de carnaval da Intendente Magalhães, Alexandre contou que ele e os parceiros estão usando muito do repertório que adquiriram ao longo da trajetória juntos para conseguir colocar o carnaval deste ano na Avenida. Dentre diversas soluções encontradas, Alexandre Costa chamou a atenção para o uso de materiais reciclados, retirados literalmente do lixo.

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        “Nós estamos no verdadeiro ‘conto do vigário’, porque não temos um centavo. Estamos tendo que se ‘virar nos 30’. Mesmo assim, a gente está fazendo um trabalho bacana que eu acho que vai surpreender a galera. A gente está na crise? Estamos na crise. Mas a gente está buscando soluções bem alternativas. Nos carro alegóricos, por exemplo, eu procurei soluções que fossem mais acessíveis para gente poder fazer, porque não adianta a gente viajar na maionese, criar um coisa e depois não ter como elaborar, como construir. Mudamos várias vezes as concepções, trazendo materiais alternativos. Então, o pessoal vai ver nas fantasias, por exemplo, uma ala que foi toda feita, literalmente, com lixo do ateliê, restinhos que sobra de tecido e embuti lá latinha. A gente deu uma pintada na lata para poder disfarçar, para criar a fantasia. Grande parte delas, aliás, são de coisas que a gente reciclou”, explanou.

        Se não bastasse a ausência de verba da Prefeitura do Rio, a Vigário Geral confecciona seu desfile em um barracão com estrutura extremamente precárias e até insalubres. A ausência de telhas no local, por exemplo, já fez com que a escola perdesse parte do trabalho devido aos estragos causados pela chuva.

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        “Estamos nos virando. Fez um solzinho, a gente tira os plásticos e vamos trabalhar. Começou a chover, tampa tudo e vamos forrar o que der. Então, eu tenho, por exemplo, pintura: não está chovendo? Vamos fazer pintura! Começou a chover? Para a pintura, cobre tudo. Aqui no meu barracão, existem partes que não tem telha. Então, quando chove, chove mesmo em cima dos carros. Tem que tomar muito cuidado porque se já está na decoração, pra não estragar, se já tem escultura, para não danificar. Enfim, é assim que a gente está se virando aqui. Vamos aguardar que Papai do Céu pare de mandar chuva, pare de mandar água, para que assim não tenhamos mais perdas ou atrasos”, desabafou Alexandre.

        Entenda o desfile

        Responsável por abrir os desfiles da Série A no carnaval 2020, a Acadêmicos de Vigário Geral irá para Marquês de Sapucaí com algo em torno de 1600 componentes, além de 23 alas, três alegorias e um tripé. O enredo “O Conto do Vigário” será apresentado através de três setores, como conta o carnavalesco Alexandre Costa, um dos membros da comissão.

        Setor 1: “A gente começa contando a história desde lá dos primórdios, desde a coisa da colonização. Nosso primeiro setor vem todo nesta visão, contando como foi esses trâmites, como que, desde aquela época, já se caía no ‘conto do vigário’. Então, é o colonizador trocando as coisas com os índios, é o espelhinho em troca das riquezas naturais, enfim”.

        Setor 2: “O segundo setor é mais escravo, é a parte afro do enredo. Nele, a gente questiona: Será que a liberdade foi realmente verdadeira? Será que não foi um conto também?”.

        Setor 3: “O terceiro setor é o Brasil de hoje. A galera vai se identificar demais com esse setor, porque é o que a gente está vivendo todos os dias, no cotidiano. É essa crise toda, inclusive a do carnaval, que o público vai ver passar na Avenida”.

        Série Barracões: Jack Vasconcelos diz que tem a responsabilidade de fazer um desfile épico na Mocidade

        Por Victor Amancio

        Levando para avenida o enredo mais esperado pelo torcedor da Mocidade Independente de Padre Miguel, Jack Vasconcellos apresentará na avenida a pluralidade e luta da vida e carreira da “Elza Deusa Soares”, título do enredo. Em visita do site CARNAVALESCO ao barracão da agremiação, Jack contou que, por mais que seja uma figura pública, descobriu uma Elza diversa e que poderia fazer uma trilogia sobre a cantora. Recém chegado na agremiação, Jack segura a responsabilidade de fazer o desfile mais esperado pela comunidade da Vila Vintém. Ele diz que pretende fazer um desfile épico e que para ele ser enredo é o ápice da homenagem para qualquer artista.

        “Tenho a responsabilidade de fazer um desfile épico. Estou fazendo um desfile que será definitivo. Elza tem a biografia escrita, tem filme e agora terá um desfile de escola de samba. Para mim, o ápice de homenagem a qualquer artista brasileiro é ter um desfile onde se concentra todas as formas de expressão popular de arte do Brasil em um único espetáculo. É a homenagem mais importante para um artista. Elza terá”.

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        Sobre a pesquisa, Jack fala que encontrou uma Elza com diversas faces, mas que é preciso ter um cuidado para não se perder em meio a tantas informações e não dizer ao que veio.

        “Quando eu comecei a pesquisa, me deparei com uma Elza de várias faces. Ela tem várias passagens da vida, são muitas experiências que eu poderia agrupar que daria uma história com começo, meio e fim tranquilamente. É o fator mais importante do enredo. Por vezes um enredo que se abre muito acaba virando um tema que não se dá conta, e a gente não diz ao que veio e não explica nada. Todo enredo precisa de um começo, de um meio e um fim. Um dos motivos para eu aceitar o convite para fazer o carnaval da Mocidade foi justamente a Elza Soares, já saber que seria uma homenagem para ela. Engraçado é que a gente acha, por conhecer a Elza e ela ser uma figura pública, que já a conhece. Quando comecei a ler sobre ela, estudar, ouvi-la a gente descobre que ainda tem um monte de Elza’s que dariam uma trilogia na avenida, tranquilamente, sem se repetir”.

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        Jack fala que durante sua pesquisa o que mais chamou a sua atenção foi a Elza dona de si. Ele explica que essa mulher passional o inspirou e esse sentimento será traduzido no seu trabalho.

        “Dentro da pesquisa, o que saltou meus olhos foi a questão da Elza ser dona da vida dela, até mesmo quando ela se entrega. Dá para ver nitidamente que a Elza é uma mulher de coração em primeiro plano, ela segue a intuição dela, vai no que ela acredita. Por mais que em alguns momentos pareçam que sejam uma borrada, ela vai lá e no final ela estava certa. Foi muito bom ver essa personagem passional pois, esse sentimento, passa na história e para mim como artista e criador, vai passar na cor, nas formas. Ela é uma pessoa forte, que luta, foge das mocinhas clássicas de romance. Eu acredito que será um desfile que tem uma teatralidade, há algo de épico envolvendo tudo. Não será um desfile que terá o belo pelo belo, por exemplo. Será um desfile dramático em todos os sentidos que esta palavra pode ter. Esse é o trunfo do enredo e que acaba passando para o desfile como um todo. Eu não costumo pensar em efeitos, em abrir ou fechar uma traquitana, penso no que eu preciso fazer ou montar para que as pessoas entendam a mensagem naquela parte. Esse enredo acaba me levando novamente para o teatro, que é uma área que eu já trabalhei, tem muito disso, a coisa carregada da emoção teatral no desfile”.

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        Sobre estética e luxo o carnavalesco diz que o mais importante para o enredo e o desfile não precisa de luxo ou algum tipo de material, somente precisa que a história seja entendida e atinja a todos.

        “Primeiro temos que pensar no que precisamos para o enredo ser entendido, daí já tira um monte de carga ou pressões, de ser luxo, por exemplo. Não tem que ser nada, tem que ser o que a história precisa para ser entendida. Eu fui enveredando para um lado mais teatral e isso já me tirou muitas responsabilidades de materiais clássicos de carnaval. Experimentamos muita coisa e o que temos a favor é o histórico de vanguarda da Mocidade em relação ao desfile. Não sei dizer se isso andava sendo deixado de lado mas eu consigo enxergar um desfile com uma cara jovem, uma cara vanguardista que eu por exemplo tenho formação do que eu vi na década de 80 e 90 na escola. São essas minhas referências de Mocidade e acho que essa cara meio que foi atualizada, será uma escola muito contemporânea”.

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        Jack explica que não é chegado em fazer homenagens, mas que Elza tem um por que forte para ser homenageada e que irá retratar a história de luta e sobrevivência dela.

        “Elza Soares ela tem uma história de vida de muita luta e sobrevivência, não tem como deixar de lado certos assuntos quando você trata da vida dela. Ela nos deu vários exemplos de como o pobre, a mulher, as pessoas que vivem em situação de vulnerabilidade podem ser vistas, podem sobreviver. Ela foi usando a arte dela a favor dessas lutas, é um enredo que vai andar por esse sítio. Nossa homenageada tem um comportamento político mas é apartidário, ela tem o ativismo em cima das causas sociais principalmente, desde cedo, não foi algo de agora. Isso estará presente no desfile e me deixou à vontade de fazer o tema, eu fico com mais vontade de fazer as coisas. Eu particularmente não sou chegado a homenagem, acho que tem que ter um por que forte e a história de vida da Elza justifica isso e eu vejo meu trabalho dentro dessa história várias vezes”.

        Sobre o contato com a cantora, Jack revela que ela fez um único pedido:

        “Elza só me fez um pedido que foi homenagear os professores no desfile. E no final do desfile vamos fazer isso através da ala dos compositores que adoraram a ideia”.

        Falando sobre os enredos da Mocidade que Jack gostaria de ter feito, ele indica dois que para ele são primordiais.

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        “Mocidade tem dois enredos e consequentemente artisticamente falando que são ao meu ver definitivos e primordiais que são ‘Ziriguidum’ e ‘Tupinicópolis’, para mim são os dois enredos que qualquer carnavalesco gostaria de ter feito e incrivelmente são atuais. São os meus prediletos”.

        Durante o pré-carnaval espalhasse boatos e a Mocidade se depara com dois distintos. Um lado diz que a escola passa por dificuldade financeira e o barracão está atrasado, do outro lado, que a escola está muito bem financeiramente e com o cronograma. Em sua fala o carnavalesco pede para que esperem o desfile.

        “Eu digo para os torcedores e apaixonados pela Mocidade esperarem o dia do desfile para verem quem tem razão, se é quem diz que estamos atrasados ou que tudo está fluindo dentro do planejado”.

        Entenda o desfile:

        A Mocidade Independente de Padre Miguel contará o enredo “Elza Deusa Soares” através de cinco alegorias, com o abre-alas acoplado, e dois tripés, sendo um da comissão de frente. O carnavalesco explica que prefere que o público preste atenção no todo ao invés de setorizar pois acredita fechar a ideia do enredo mas explicou para o site CARNAVALESCO os caminhos do enredo.

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        “Eu prefiro que as pessoas prestem atenção no desenvolvimento da história, mais do que fatiado por setor pois acho isso triste e acaba fechando muito a ideia do enredo. Eu acho que é uma história que vai continuando e vai se desenvolvendo”.

        Ele explica que a abertura do desfile se dá com Elza ainda menina que acontece no programa de rádio de Ari Barroso, quando dá aquela resposta histórica para o apresentador.

        Setor 1: “Eles vão ver aquela criança, aquela menina que nasceu na Moça Bonita, que foi criada na Água Santa e que teve seu histórico de vida infantil de muito trabalho mas que acontece num programa de rádio onde ela dá aquela resposta para o Ari Barroso, que tentou diminui-la. Ela responde para ele que veio do Planeta Fome e ele decreta “Senhoras e senhores, nasce uma estrela. Desse início a gente vai contando como essa menina vai ganhando as capas, as experiências para se tornar essa Deusa do final do desfile”.

        Setor 2: “Passamos pela Elza feiticeira, mística, religiosa do jeito dela”.

        Setor 3: “Elza cantora da noite, cantora de rádio a grande artista vendedora de discos, madrinha da seleção, cantando com as grandes estrelas do mundo”.

        Setor 4: “Elza pioneira puxando samba enredo”.

        Setor 5: “Elza enfrentando todos os problemas e obstáculos que ela passou. O grande encerramento que é essa deusa que fala pelos excluídos e essas pessoas que precisam de representatividade. Essa grande deusa que partiu do Planeta Fome, que saiu de uma situação severa mas que agora através da sua arte consegue oferecer um grande banquete para quem tem fome de justiça, educação e etc”.

        Série Barracões: Unidos de Padre Miguel aposta na ginga da capoeira para sair vencedora na Série A

        Por Diogo Sampaio

        É esporte, é arte, é dança, é música, é luta. Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO, nasceu em solo brasileiro, mas traz nas raízes a herança africana. A capoeira é uma das mais genuínas expressões de brasilidade e resistência. Vice-campeã da Série A em três dos últimos cinco carnavais, a Unidos de Padre Miguel abre a roda para cultura brasileira, querendo mostrar todo seu gingado, com o objetivo de alcançar o tão sonhado título.

        A reportagem do site CARNAVALESCO visitou o barracão da vermelha e branca da Vila Vintém e conversou com o carnavalesco Fábio Ricardo, que explicou como surgiu o enredo da UPM para o carnaval de 2020.

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        “Dentro de tantas pesquisas que eu já tinha feito, veio a ideia de falar sobre a capoeira. Juntamente comigo, um amigo meu, Wilson, um curador de arte, complementou: e por que não gingar? A capoeira foi pano de fundo para muitos enredos, por que não aproveitar esse momento que nós estamos passando, de resistência, e o dela, de muita resistência a preconceitos durante a sua trajetória, desde a sua chegada ao Brasil? E por que não ser representada hoje como um grande enredo, uma grande personalidade que é da nossa cultura?”, indagou o artista.

        No entanto, o enredo sobre a história da capoeira não foi a primeira opção. Inicialmente, em abril do ano passado, a Unidos de Padre Miguel lançou “Quem somos nós, Tarsila?”, em homenagem a pintora modernista Tarsila do Amaral. Porém, em junho, resolveu mudar de proposta e anunciou “Ginga”. Na ocasião, a agremiação alegou como justificativa para decisão o “atual cenário do carnaval carioca”.

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        “Como todo o mundo do carnaval já me conhece, principalmente, as pessoas mais próximas, sabem da minha grande paixão e o meu esmero sobre a grande artista Tarsila do Amaral. Sou um grande admirador. Eu sempre dei pinceladas, dentro da minha arte, absorvendo muito da Tarsila, seja nas cores, nas formas, eu sempre admirei, então sempre pesquisei. Saía exposição dela, eu estava presente. E há muito tempo já tinha vontade de fazer Tarsila, mesmo sabendo que ela já havia sido pincelada algumas vezes pela grande mestre e professora Rosa Magalhães. E aí, voltando com a UPM, porque não fazer Tarsila? Sendo que dentro do processo, pois já havia lançado esse (da Tarsila), apareceram novas normas dentro a Lierj. Já estava com o enredo praticamente montado com quatro a cinco setores, dividindo até com tripé, veio a norma dizendo que haviam tirado mais uma alegoria. Ou seja, se já estava difícil contar a história de Tarsila com quatro setores, quatro alegorias, imagine com três setores. Eu falei para eu mesmo: ‘Não, não posso estragar uma coisa que eu estudei quase minha vida toda de carnaval, desde quando eu era (assistente) do Max, pesquisando sobre Tarsila, acompanhando as coisa, não posso jogar, fazer um enredo com três setores e não falar do que ela realmente merece’. E aí, foi engraçado porque já tinha sido muito bem aceito pela escola e pela imprensa. Na época, a escola me fez a seguinte pergunta: ‘Fábio, qual o outro enredo que seria para superar esse?’. E me veio à cabeça que a escola já tinha um histórico de enredos afro,resolvi agradar a todos. Mas também não queria fazer um enredo afro, por fazer um enredo afro. Não queria um enredo que todo mundo já conhecesse ou acabasse batendo na mesma tecla. E porque não a capoeira? Aí surgiu a ‘Ginga’, que é a capoeira. Eu tinha outros enredos afro, como eu tenho muitas coisas bem legais, que eu descobri durante o ano em que fiquei ausente. Visitei muito aquele museu africano brasileiro que tem lá no Ibirapuera, em São Paulo. Só de lá, você tira uns dez enredos afro. Coisas que eu não sabia, uma delas foi a capoeira. Portanto, deixa a Tarsila guardada, ninguém pega porque o enredo é meu. Vai surgir um bom momento para ela aparecer novamente”, explicou Fábio.

        Retornos em meio a dificuldades

        Após passar um ano sabático longe da festa, Fábio Ricardo retorna justamente no grupo em que iniciou sua trajetória como carnavalesco. Foi através dos seus trabalhos a frente da Rocinha, entre os anos de 2008 a 2010, que o artista chamou a atenção de crítica e público, ganhando a oportunidade, em 2011, de debutar no Grupo Especial. Na elite, Fábio assinou carnavais na São Clemente, na Grande Rio e no Império Serrano. Para a reportagem do site CARNAVALESCO, Fábio Ricardo relatou sobre a experiência que está vivenciando ao voltar para “às origens” dez anos depois.

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        “Digo que não tem muita diferença, porque o meu amor pelo carnaval continua o mesmo. Acho que a única mudança nisso tudo é a minha maturidade. Na época que assumi a Rocinha, eu estava saindo de um processo e nunca imaginei que seria convidado para ser carnavalesco. Fui figurinista, aderecista e assessor do Max (Lopes, carnavalesco) por dez anos, trabalhei com João Trinta quatro, também na equipe de criação, mas nunca imaginei. E eu estava ou era um pouco mais tímido, mais reservado, mais contido, porém na arte e no bom gosto continuo o mesmo. Acho que durante esse processo todo de 2008, ano do meu primeiro carnaval solo, para cá, em 2020, ganhei maturidade em tudo, até em estética. Você acaba, dentro desse tempo, buscando a sua identidade, mesmo eu já tendo ela lá em 2008. As pessoas olharem seu trabalho e reconhecerem que ‘aquele é o Fábio Ricardo’, não tem preço. Não é olhar um trabalho e dizer assim: ‘De quem é esse trabalho? Parece com beltrano…’. Não, aquele é o Fábio Ricardo, isso é muito bom, ser reconhecido. Então, volto só com gostinho de quero mais, de ‘ah, que gostoso fazer’, sentar para colar as coisas, conversar no barracão… Isso que chamo de estar feliz no local de trabalho e retornar bem”, declarou.

        Fábio retorna a divisão de acesso à elite em um cenário de profunda crise. Além da falta de estrutura já habitual do grupo, as escolas que compõem a Série A sofrem este ano os ônus do corte completo do repasse de verbas da Prefeitura do Rio. Sem essa subvenção, os profissionais e seus respectivos pavilhões têm de recorrer as mais diversas soluções criativas e alternativas para conseguir colocar um carnaval na Avenida.

        “Já vim preparado para a Série A, sabendo que eu ia enfrentar todas essas dificuldades. Só que acabou que na minha época anterior aqui, não era tão difícil quanto é hoje. Em vez de melhorar, a forma de olhar para o grupo de acesso acabou piorando. É cada vez mais necessário usar sua criatividade naquilo que puder. Eu sei que tem hora que não dá mais para usar a criatividade, mas é preciso empregar certos tipos de recurso para você lá na frente não sofrer. É não inventar aquilo que vai te dar dor de cabeça. É exatamente essa a fórmula que o grupo de acesso faz. Não só eu ou só alguns, é de uma forma geral. O tempo de você agilizar as coisas é dar solução e não procurar problemas, usando a sua criatividade, botando para fora tudo o que você aprendeu. Isso, graças a Deus, dentro da minha experiência no carnaval, valeu os muitos anos trabalhando com pessoas, com mestres, que tinham poder de criatividade. Quando não tinha uma coisa, vai outra, tem de ser rápido”, analisou.

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        E mesmo diante das dificuldades, Fábio Ricardo garante que a Unidos de Padre Miguel irá manter o padrão de desfiles grandiosos e opolulentos dos últimos anos, mas sem ostentar materiais caros ou luxuosos. Para ele, é fundamental que qualquer carnavalesco que chega a uma nova agremiação respeite a identidade e as características estéticas daquela escola, sem querer impor seu próprio estilo, contudo colocando toques dele no trabalho.

        “Sou um carnavalesco que, estando em uma agremiação, respeito muito o tipo de carnaval que ela gosta de fazer. Passei por grandes escolas na minha carreira, sempre estudando e vendo a melhor forma de eu conseguir adaptar a minha arte para elas. Porque é muito ruim você tirar a identidade da escola. Acaba ficando triste para todos os lados: da escola, do folião que desfila nela, do carnavalesco… Então, posso garantir que a escola realmente vem com estrutura de Grupo Especial. Quando divulguei os protótipos das fantasias deste ano, recebi muitos elogios pela crítica como: ‘Fábio, você está fazendo fantasias de Grupo Especial’ ou ‘Está melhor que muita escola aí do Grupo Especial’. O que eu fiz? Não tem fantasia minha cara, porque eu soube trabalhar com materiais acessíveis. É o que falo: bom gosto para fazer, às vezes menos é mais”, ressaltou.

        Prevenção à chuva

        Outra preocupação do artista é a precaução com uma possível chuva. Ano passado, a Unidos de Padre Miguel enfrentou um forte temporal na concentração, que foi responsável por danificar fantasias e alegorias. Todavia, de acordo com Fábio, esse cuidado já é feito há longa data em seu trabalho.

        “Eu já peguei chuva na Avenida. E muita chuva! No meu primeiro ano na Rocinha, em 2008, antes de entrar, peguei um temporal, mas garanto: não caiu nada. Por quê? Porque você quando está fazendo a sua fantasia, a sua alegoria, já tem ciência, pela experiência que já teve de outros carnavais, de saber o que você pode levar para a Avenida para não te causar dor de cabeça. É você estudar antes de fazer qualquer coisa. Então por eu ter, graças a Deus, essa experiência de Avenida, dessas coisas todas, a gente acaba se calçando: isso funciona, isso não funciona, isso é demais, não vou colocar porque pode chover, porque ninguém está livre disso… Peço a Deus que não chova no meu dia de desfile, e nem no dos colegas também, pois é triste pra todo mundo”, afirmou.

        Entenda o desfile

        No carnaval 2020, a Unidos de Padre Miguel irá para Marquês de Sapucaí com 21 alas, três alegorias (sendo o abre-alas acoplado) e um tripé. O boi vermelho da Vila Vintém será a sexta e penúltima agremiação no sábado de carnaval, segundo dia de desfiles da Série A. Para a reportagem do site CARNAVALESCO, Fábio Ricardo explicou em detalhes acerca da setorização do enredo “Ginga”:

        Setor 1: “O primeiro setor é o nascimento da capoeira, no sul da África, na tribo Mockup. A gente pega um pouco dessa estrutura de civilização, o quê era a tribo Mockup, como essa tribo funcionava, para saber o porque dessa grande efundula que eles faziam, que era o ritual da puberdade. É daí que eles tiram esses movimentos da capoeira, que são da natureza. Nesse mesmo setor, a gente usa da criatividade e da licença poética para fazer a transição para a chegada da capoeira junto com os negros aqui no Brasil, onde todas as tribos da África e nações diferentes se misturaram. O nosso abre-alas é o primeiro porto, que é o Cais do Valongo, local em que desembarcavam os negros. Dentro das minhas pesquisas, o primeiro movimento, a primeira imagem que nós temos da capoeira no Brasil, que só se chamava N’golo até o século XVII, foi de uma pintura feita por Debret e Rugendas no porto do Cais do Valongo. Tem até na nossa sinopse que, embora o Cais esteja manchado de sangue, nós trazemos a esperança. Atrás disso tudo, do Cais do Valongo, dessa atmosfera toda que é pitoresca, eles trazem na alma a África. Os apaixonados pela UPM vão sentir o que é essa grande fortaleza que esse negros trazem”.

        Setor 2: “É um setor forte em que a gente já retrata a capoeira na Bahia, onde ela é muito vista, muito bem valorizada, apesar das resistências, da discriminação e da marginalização. A capoeira acaba se inserindo, dentro desse contexto, nas tradições da Bahia com os festejos, as festas religiosas, as casas de candomblé. Ela se divide em algumas casas e cultos, principalmente de Angola, e depois vai para outro festejo, que é a festa dos caboclos da Bahia. E poucos sabem que o nome capoeira vem da língua tupi-guarani e que significa mato ralo, rasteiro. Há algumas coisas de pesquisa que eu fiz onde tem “Mata do Capoeirão”. E porque? Porque era por onde os escravos fugiam, iam para a “capoeira” e quando eram encontrados a defesa deles era essa arte”.

        Setor 3: “E aí tem o nosso último setor, que é a resistência que é a capoeira. Grandes personalidades da história brasileira jogaram e estarão presentes ali, representando juntamente com a capoeira, esse gingado que todos tivemos e essa resistência. Principalmente a Unidos de Padre Miguel, que passa por essa resistência hoje, no mundo do carnaval”.

        Sambistas ganham identidade social das mãos de Wilson Witzel em cerimônia no Palácio Guanabara

          Por Victor Amancio

          Ouvir nomes como Osvaldo Alves Pereira, Iranette Ferreira Barcellos, Luiz Antônio Feliciano Marcondes, Selma de Mattos Rocha e Jomar Casemiro pode causar estranhamento aos sambistas, mas sem dúvida todo sambista conhece Noca da Portela, Tia Surica, Neguinho da Beija-Flor, Selminha Sorriso e Jô Casemiro. Nesta quarta-feira, em cerimônia no Palácio Guanabara, o Detran, em parceria com o Governo do Estado, entregou a sambistas como: Índio da Mangueira, Bira da Mangueira, Ronaldo Mestre Cartola Filho e Roberta Mestre Cartola Neto a identidade social com os nomes que são reconhecidos dentro e fora do mundo do samba.

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          Durante a cerimônia o presidente do Detran, Antonio Carlos dos Santos, discursou e falou da importância do reconhecimento destes sambistas e do carnaval.

          “Este momento marca a inclusão e o reconhecimento social de grandes nomes do samba. O Detran deixa de ser um órgão de regulação de trânsito, aplicação de multas para iniciar uma etapa de socialização do órgão. É um prazer participar deste momento, por essas pessoas que são fundamentais para cultura Fluminense. Hoje consolidamos a identidade dessas pessoas”, falou o presidente.

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          Completando 53 anos, o governador Wilson Witzel esteve presente na cerimônia, entregou os documentos aos sambistas, sambou e se emocionou ao falar sobre sua relação com o carnaval. O governador disse que investir no carnaval é investir na cultura, na educação da cidade e que os sambistas formam cidadãos.

          “O carnaval é cultura, é educação e a gente investe porque acredita, ama e vivemos o carnaval. Estar aqui no dia do meu aniversário, no meio do samba, faz esse dia ser ainda mais especial. Essa iniciativa reconhece a história que todos vocês construíram”.

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          Tia Surica em seu discurso falou da importância de receber a honraria enquanto está viva. Para a matriarca é a consolidação de uma identidade que recebeu ainda quando criança de sua avó.

          “Quem quiser fazer por mim que faça agora. É uma satisfação muito grande, vou fazer 80 anos e agora ganhando esse reconhecimento. Fico lisonjeada com essa homenagem. Eu sou chamada assim desde que nasci, diziam os antigos que Suriquinha era um objeto curto e roliço e minha vó bordou uma fronha e de lá pra cá pegou, ficou consagrado Tia Surica”.

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          Uma das maiores porta-bandeira da história do carnaval também ganhou a sua identidade social que diz estar feliz com o reconhecimento.

          “Agora é Selminha Sorriso oficial, é um privilegio não só para mim mas representar o samba. Ser reconhecida pelo nome artístico de uma cultura que muito tempo foi massacrada e perseguida e que ainda sofre alguns desmandos. Nós estamos vencendo e vamos vencer muito mais. Sambista é sinônimo de dignidade”.