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Como ficou o Sambódromo para receber os moradores de rua do Rio de Janeiro

    A Prefeitura do Rio montou quartos no Sambódromo para acolher moradores em situação de rua, durante o período de afastamento social em virtude da pandemia causada pelo novo Coronavírus. São primeiro 60 homens adultos. A expectativa é abrigar cerca de 400 pessoas nas instalações adaptadas e equipadas com beliches, roupas de cama e material de higiene.

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    A Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos (SMASDH) transformou em dormitórios oito salas de aula das três escolas municipais que funcionam sob as arquibancadas da Marquês de Sapucaí.

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    Cada quarto tem sete camas, cômodas e dois ventiladores. Equipes de abordagem da Secretaria estão fazendo contato com os moradores de rua da cidade. No Sambódromo, os abrigados receberão material de higiene pessoal e terão, além de local para dormir, estrutura para fazerem três refeições diárias.

    Higienização do Sambódromo

    Durante a semana passada, o Sambódromo recebeu a equipe da Comlurb, que finalizou o processo de higienização dos locais que servirão de acomodações. Equipes da Rioluz e Rio-Águas também estiveram no local e realizaram as adaptações necessárias na parte hidráulica, com a instalação de chuveiros e pias. Em parceria com a Prefeitura, as Forças Armadas farão o trabalho de descontaminação dos abrigos.

    Podcast Samba Leal: Eugênio conversa com Gustavo Melo sobre o desfile da Beija-Flor em 1989

    Podcast Samba Leal: Eugênio conversa com Gustavo Melo sobre o desfile da Beija-Flor em 1989

    Eugênio Leal conversa neste episódio com o jornalista e pesquisador Gustavo Melo sobre o desfile da Beija-Flor em 1989. Para muitos o maior desfile de uma escola de samba. É uma aula sobre “Ratos e Urubus, larguem minha fantasia”.  Ouça abaixo.

    Relembre com a gente: o clássico Ziriguidum 2001 da Mocidade

    Hoje é para os Independentes e sambistas das outras escolas relembrarem esse desfile histórico do carnaval do Rio de Janeiro. A Mocidade Independente de Padre Miguel em 1985.

    Paraíso do Tuiuti recebe donativos para comunidade

    O Paraíso do Tuiuti vai abrir as portas da própria quadra para uma ação de solidariedade. A partir desta segunda-feira, das 9h às 18h, quem quiser pode deixar no local doações de alimentos de cesta básicas e produtos de higiene. Tudo será entregue aos mais necessitados do Morro do Tuiuti, que fica em São Cristóvão.

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    A ação tem como objetivo ajudar esta parcela da população que foi afetada com a pandemia do novo coronavírus. Muitos são trabalhadores informais e que já estão quase sem comida em casa.

    “O momento é muito delicado. Estamos lidando com um inimigo que até a ciência ainda não descobriu como deter, mas temos fé na vitória. A melhor estratégia de combate é ficar em casa e não ser um hospedeiro do vírus e sua propagação. Em nossa comunidade já percebemos entre os moradores dificuldades de se ter o básico de estrutura de alimentação e higiene em suas casas. E nossa missão é ajudar de alguma forma. Vamos receber os donativos em nossa quadra, organizá-los e fazê-los chegar da melhor forma possível aos que necessitam. Toda ajuda é muito bem vinda”, disse o presidente Renato Thor.

    Bateria faz doação

    Neste domingo, integrantes da bateria SuperSom já começaram a corrente de solidariedade. Eles foram até a quadra do Tuiuti e doaram diversos alimentos. Os produtos serão doados para outros ritmistas que estão passando por dificuldades.

    A quadra do Tuiuti fica no Campo de São Cristóvão, número 33, bairro de São Cristóvão.

    ‘Duelo dos desfiles’: Mangueira 1998 x Mangueira 2019

    O site CARNAVALESCO começa a série “Duelo dos desfiles”. Inicialmente, a equipe do site escolheu desfiles inesquecíveis e abrimos o “confronto”. Sempre será na mesma escola e em anos diferentes. A abertura é com a Estação Primeira de Mangueira. Eduardo Fonseca escolheu o ano de 1998 e Victor Amancio pegou o desfile de 2019.

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    Sem dúvida, os dois desfiles são históricos. O do século passado, 1998, homenageou Chico Buarque. Ainda com mestre Jamelão no comando do carro de som. Recente, o desfile de 2019 é a consagração do carnavalesco Leandro Vieira. Os dois conseguiram o título para a Verde e Rosa, embora, o de 98 tenha sido dividido com a Beija-Flor de Nilópolis.

    Defesa Mangueira 1998 (Por Eduardo Fonseca): “A Mangueira comemorava 70 anos em 98. Como tema, um dos mais importantes compositores e cantores do país: Chico Buarque. O que se viu naquele desfile foi um sacode na avenida. O prenúncio foi no esquenta quando Chico Buarque cantou um trecho de “Vai passar”. Daí pra frente foi um baile da Verde e Rosa. Destaque para a comissão de frente de malandros e a última ala que formava um mosaico do rosto de Chico Buarque. E ainda tinha o maior de todos, o mestre Jamelão”.

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    Defesa Mangueira 2019 (Por Victor Amancio): “O desfile de 2019 da Mangueira é inesquecível, pois configura-se como antológico, quem assistiu e esteve presente na Sapucaí pode presenciar um dos desfiles mais emocionantes que por ali passaram. O samba foi cantado a plenos pulmões pela escola, contagiou a todos, camarotes e arquibancadas, era possível ver pessoas chorando, deixando a emoção tomar conta de si. O desfile daquele ano transcendeu e comunicou. Toda escola estava na mesma sintonia e não foi a toa a nota máxima em todos os quesitos. Os carros alegóricos, ainda que simples, impactantes; a bateria se reinventando e voltando a gabaritar. Jamais vou esquecer as alegorias do genocídio indígena e o da ditadura, a força e a relevância da crítica proposta por Leandro Vieira. Nasceu grande desde a escolha do enredo e assim se manteve. Gigante! Por ser histórico e carregar a ‘história que a história não contou’, trazendo para o seu povo os seus verdadeiros heróis, este é o meu carnaval inesquecível da Mangueira”.

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    Na ideia da série “Duelo dos desfiles” o internauta escolhe o “campeão”. VOTAÇÃO ENCERRADA!

    Top 10 dos sambas: a lista do compositor Samir Trindade

      Escolher sambas prediletos nunca é um tarefa fácil. Pegar todos os anos, analisar com calma, lembrar daquele que te emocionou, que você cantou demais, e, que está para sempre no seu coração, todas essas coisas fazem parte de relíquias para os sambistas. O site CARNAVALESCO começa a série ‘O top 10 dos sambas’. Estamos ouvindo diversas personalidades do carnaval e pedindo que revelem a lista dos 10 sambas preferidos deles.

      A estreia é com o compositor super campeão, Samir Trindade, que elaborou sua lista passando por diversas escolas de samba: Império Serrano, Mocidade, Portela, Vila Isabel, Mangueira, União da Ilha, Salgueiro e Imperatriz.

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      Sem legislar em causa própria, Samir não citou nenhum samba que compôs, alguns que certamente vão ser citados por outras pessoas do carnaval.

      Ao site CARNAVALESCO, Samir Trindade afirmou defender obras das décadas passadas e que estavam próximas da população.

      “Me auto intitulei defensor e guardião dos sambas e melodias antigas. Acho que todo mundo tem um missão dentro do samba e a minha é essa. Esses são os que mais gosto de ouvir. Dentro dos meus sambas existe alguma divergência saudável, porque meu estilo é mais antigo, em alguns momentos, eu acabo cedendo e coloco a melodia mais para frente. Cada um tem seu estilo e claro que é preciso ter variedade. Tenho certeza que temos que voltar e olhar um pouco mais para o passado em relação ao samba-enredo. Os compositores já estão fazendo isso. Assim, a gente vai ter os sambas mais próximos do povo, mais populares”.

      Confira abaixo o top 10 dos sambas-enredo para Samir Trindade.

      1 – Império Serrano 1969: “Heróis da Liberdade”

      2 – Império Serrano 1965: “Cinco Bailes da História do Rio”

      3 – Mocidade 1971: “Rapsódia de Saudade”

      4 – Portela 1981: “Das maravilhas do mar, fez-se o esplendor de uma noite”

      5 – Vila Isabel 1972: “Onde o Brasil aprendeu a Liberdade”

      6 – Mangueira 1990: “E deu a Louca no Barroco”

      7 – Ilha 1974: “Lendas e Festas das Yabás”

      8 – Portela 1975: “Macunaíma, Herói de Nossa Gente”

      9 – Imperatriz 1972: “Martim Cererê”

      10 – Salgueiro 1964: “Chico Rei”

      Relembre com a gente: desfile do Tuiuti em 2003 no enredo sobre Portinari feito por Paulo Barros

      Vamos relembrar o ano de 2003. Um desfile especial no carnaval do Rio de Janeiro. O carnavalesco Paulo Barros no Paraíso do Tuiuti. “Tuiuti desfila o Brasil nas Telas de Portinari” foi o enredo apresentado.

      Amigo de Leozinho Nunes, Maninho diz que ‘a ficha não caiu’ ao ser anunciado cantor da São Clemente

      A São Clemente fez diversas mudanças em sua equipe para o ano que vem. Uma das novidades da escola é a efetivação de Maninho como intérprete oficial ao lado de Leozinho Nunes. Sobre Bruno Ribas e Grazzi Brasil, ainda não foi divulgado se eles seguem para 2021.

      Maninho está na escola desde o carnaval de 2012 e falou que sua chegada à São Clemente se deve ao ex-intérprete da agremiação, Igor Sorriso.

      “Cantei dois anos no Carnaval de San Luiz, na Argentina, e, em 2012, o Igor Sorriso com o aval do presidente Renatinho me fez o convite para fazer parte do carro de som da São Clemente. Era tudo muito novo pra mim. nunca tinha cantando em nenhuma escola de samba. Minha estreia no carnaval foi neste ano”, explica Maninho.

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      O cantor disse que sua ficha não caiu e promete dedicação a confiança dada pela diretoria da São Clemente.

      “Confesso que minha ficha ainda não caiu, sei bem da grande responsabilidade que terei ao lado do Leozinho Nunes. Eu vivi tudo isso quando ele foi anunciado como intérprete oficial mas agora estou vivendo o outro lado, sentindo na pele. Podem ter certeza que dedicação, empenho, força de vontade não faltarão. Ser anunciado como intérprete oficial é um sentimento único. Nunca passei por algo assim, um sentimento que me faz pensar todos os dias como será o próximo carnaval. Durmo e acordo pensando nisso e em todas as etapas que antecedem a chegada da cereja do bolo, que é o desfile”, falou o intérprete.

      Dividindo o comando do carro de som com Leozinho, Maninho diz que os dois tem grande afinidade, construída através dos anos de parceria na escola.

      “Leozinho Nunes, eu chamo de Gago, é um cara excepcional, muito talentoso e nós dois criamos uma afinidade muito grande pois sempre que tinha ensaios, apresentações em outras agremiações, eventos como lançamento do CD… Nós sempre estávamos presentes, juntos. Quando ele se tornou intérprete oficial nós continuamos com a mesma parceria. Isso nos fortaleceu muito, aprendo muito com ele”, disse.

      Noves anos integrando o carro de som da escola, Maninho disse que esperava que um dia pudesse chegar o momento de ganhar destaque e ser voz principal da escola e que sempre se dedicou a escola.

      “Nós nunca sabemos se estamos ou não preparados, eu esperava que pudesse acontecer o convite, afinal, são nove anos de dedicação e aprendizado com o pavilhão da escola. Mas sempre fui de fazer minha parte, chegar nos horários combinados, me dedicar pra aprender os sambas da escola… Eu acho que isso foi fundamental pra esse feito. Estou com a expectativa a nível máximo, ansiedade me consome. Só passei por algo parecido com a chegada da minha filha Alice, esperar nove meses foi dureza… e ajudando conter a ansiedade da minha esposa, Aiara”, disse Maninho.

      Luis Carlos Magalhães: ‘Sambas que não morrem’

        O site CARNAVALESCO volta a publicar textos feitos por Luis Carlos Magalhães, na época que ele ocupava o espaço de colunista do nosso veículo ou no site de O Dia na Folia. O primeiro fala dos sambas (publicado em junho de 2015). Confira abaixo.

        Sambas que não morrem

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        Decorrido um exato mês do carnaval fecho os olhos e deixo fluir a imagem retida em minha memória: o desfile formidável da Vila Isabel. Fico pensando no samba da escola e nos sambas de quase todas as outras. Confesso que sinto uma enorme tristeza; uma tristeza que vem de longe, de tão longe que nem sei mais…

        Na verdade tenho que reconhecer que a seiva de minha paixão pelo carnaval, pelo desfile, é o samba-enredo. Acho mesmo que o samba-enredo é o que nutre uma escola, um desfile… um enredo.

        Quando o samba é regular, é bonzinho, é funcional, e cumpre o seu papel na avenida o carnaval para mim fica incompleto, perde muito o sabor da festa.

        Todo fim de carnaval me animo a procurar, pesquisar, ‘fuçar’ mesmo jornais e revistas na tentativa de localizar o ponto D, os anos D, a década D, enfim achar a marca da decadência do gênero, para citar uma expressão de Sérgio Cabral.

        Nunca levei isto adiante, acho mesmo que por medo de achar o tal ponto. Medo de – achando – perder a esperança de que tal fastio seja apenas uma fase. A esperança de que o samba-enredo volte a iluminar e nutrir a festa do carnaval, retomando sua força e seu espaço.

        O texto abaixo foi extraído em fevereiro de 1978, às vésperas do carnaval, da Revista de Domingo do Jornal do Brasil, e me valeu como indicador nesta tentativa. Nele o jornalista Marcio Abramo já indicava uma “caída”, um empobrecimento da safra daquele ano e já chamava atenção para os dois anos imediatamente anteriores.

        “ (…) Os sambas-enredo, na opinião dos críticos profissionais estão ainda em nível inferior até aos dos que foram produzidos nas duas últimas safras, já consideradas pobres. Essa indigência agravada (…) não seria um mal de essência, isto é, não traduziria o esgotamento da criatividade dos compositores das escolas, que permaneceria generosa. Significaria, isto sim, uma alarmante manifestação da influência de forças que cercam, vindas de fora com interesses que não propriamente os do samba, as escolas, impedindo que chegue à avenida a criação brotada nos terreiros, saída do puro prazer e da necessidade de cantar (…)”.

        O diálogo por e-mails com sambistas das novas gerações traz para quem vem de mais longe a obrigação de mostrar o pau, depois de matar a cobra. Muitos perguntam se havia mesmo ‘grandes safras’ ou se, na verdade, ‘saudosisticamente’, vivemos de comparar os sambas de único ano atual com o somatório de vários sambas de diversos carnavais passados.

        Uma outra corrente dessas novas gerações, e de outras também, sentencia sem dó: os sambas de hoje morrem no sábado das campeãs. Cabe, neste contexto, só para começar, a pergunta: o samba da Mangueira/2009 é um grande samba?

        Cabe, só para continuar, a pergunta: o que é um grande samba?

        Cabe, só pra complicar, a pergunta: grande samba em função de quê?

        Há sambas que já chegam avisando: Ó, eu sou um grande samba, escuta só!

        Outros se revelam grandes no processo e outros só se revelam mesmo na hora “H” do desfile.

        Outros… só se revelarão grandes com o passar do tempo, se tornando maiores cada vez mais, a cada ano, a cada carnaval…

        Claro que tudo é muito pessoal, mas dou para exemplo da primeira pergunta o samba da Portela de 1984, ‘Contos de Areia’. A primeira vez que o ouvi, muito mal cantado por um colega de trabalho, já fiquei arrepiado. Assim se deu com ‘Bum Bum Baticumbum Prucurundum’, do Império de 1982.

        Como segundo exemplo o samba da Mocidade de 1992, ‘Sonhar Não Custa Nada’. Pude ver o samba nascer, crescer e depois me encantar em pleno carnaval. O mesmo aconteceu com “Deu a Louca no Barroco”, da Mangueira de 1999.

        O terceiro exemplo que dou é Kizomba, tão fulminante que nem preciso citar a escola e nem o ano. Tá bom que todo mundo que frequentava a Vila já se encantava com o samba, mas “pegar na veia” daquele jeito só mesmo no carnaval.

        “Explode Coração” poderia ser citado, fez história e até mudou de nome, mas não o considero um grande samba dentro dos critérios aqui tratados.

        Como quarto exemplo cito “100 anos de liberdade ou Ilusão”, da Mangueira de 1988. Se é certo que já no desfile se mostrou grande, é certo também que o tempo fez dele um samba antológico. O mesmo tempo que não deixará ninguém esquecer tantos outros “de anos diferentes” suficientes para encher esta página toda.

        Cabe, então, só para avançar a pergunta: o que caracteriza uma boa safra? Um único e antológico grande samba será suficiente? Ou dois ou três? Ou será um conjunto de dois ou três sambas de bom nível no mesmo ano?

        Com estas referências saí como um navegador pelos mares do samba em busca de grandes safras, velejando por antigos carnavais. Como em uma bússola, tomei o texto acima reproduzido como ‘norte’ por ele ter a referência do ano de 1978, trinta anos passados, como um ano de safra, digamos, já decadente, segundo o jornalista.

        De lá para cá encontrei muito poucas boas safras. Pior, acabei por mares mais bravios. Resolvi então tomar cada escola por um mar: cada escola uma viagem.

        Qual terá sido o último grande samba do Salgueiro? O mesmo Salgueiro que, para mim, é a escola que mais produziu grandes sambas em sua história. Sendo assim, se considerarmos um samba à altura dessa mesma história, só vamos encontrá-lo na década dos anos 1970 … do século passado. Ou estarei sendo muito rigoroso?

        E a Mangueira? Mesmo tendo alguns sambas de bom nível já neste século, e tendo belos sambas em anos salteados no século anterior, se o critério utilizado for igualmente rigoroso, vamos cair também na década de 70, além dos já aqui citados.

        A Portela não foi muito adiante, ou nada. Excetuando aquele já citado, qual terá sido o grande samba da escola da década de 70 para cá? Cartas para a redação…

        O mesmo se dará com o Império.Se compararmos – só comparar, não exigir nível igual – com os sambas dos anos Silas-Mano Décio qual terá sido o grande samba da escola além daquele também já citado.

        Das escolas com histórias de êxito mais recentes poderemos encontrar aqui e ali um samba, dois, três da Imperatriz, da Mocidade, do Estácio ocorridos nas últimas décadas, também da Beija-Flor e da Vila. Mesmo a Ilha que tanto nos encantou já não acerta o alvo há muito tempo.

        Há muitos sambas dos quais gostamos, que fizeram bom papel em seus desfiles, que até alcançam a nota plena dos jurados; mas não é disto que estamos falando. A recente entrevista de Bruno Filippo, aqui neste espaço, com o velho Cabral dá bem a conta do quanto esta briga é antiga.

        Quando lemos o texto lá de cima, tão distante no tempo, sentimos vibrar a espetada desferida pelo velho Cabral quando diz que o gênero está em decadência; quando Cabral está mostrando sua desilusão, mostra – e os jovens militantes do carnaval já perceberam – que é preciso estar atento e forte, que não podem se dispersar nesta luta cuja primeira, mais importante e mais difícil batalha é saber por que isto está acontecendo.

        Para usar a expressão de Marcio Abramo, saber se seria um mal de essência, traduzindo o esgotamento da criatividade dos compositores, ou a má influência das forças que cercam as escolas.

        Uma das marcas deste carnaval foi o fato de um carnaval tão formidável como o da Vila ser derrotado por seu próprio samba. Um samba de cuja parceria fez parte seu mais festejado e vitorioso compositor das novas gerações da escola.

        Se as atuais safras decepcionam os mais jovens, que dirão os ‘da antiga’, os mais ‘cascudos’?

        Que dirão aqueles que, como eu, viram um carnaval com “Chico Rei” e “Aquarela do Brasil”, do Salgueiro e do Império, em um mesmo ano ? ; ou viu depois um carnaval com dois sambas do gabarito de “História do Carnaval Carioca” e os “Cinco Bailes da História do Rio, das mesmas escolas?

        Será que algum desses jovens acreditaria que um dia houve um desfile com sambas formidáveis como”Carnaval, Festa de Um Povo”, da Mangueira, e “Pernambuco Leão do Norte”, do Império? E que neste mesmo carnaval havia ainda “D.Beja”, do Salgueiro, “Sublime Pergaminho”, de Lucas e “Quatro Séculos de Modas e Costumes”, da Vila Isabel?

        Não teria coragem de dizer a eles que no ano seguinte poderiam ouvir, em um mesmo carnaval,“Bahia de Todos os Deuses”, “Mercadores e Suas Tradições”, do Salgueiro e da Mangueira, e ainda “Yá-Yá do Cais Dourado”, “Heróis da Liberdade”, da Vila e do Império. Mais maldade ainda dizer-lhes que, nesse mesmo desfile, ainda poderiam ouvir a maravilha de samba-poema que é “Flor Amorosa de Três Raças”, da velha Imperatriz.

        Neste caso considero prudente omitir deles que poderiam, ainda naquele mesmo desfile, dar ainda só uma ‘escutadinha’ no”Rapsódia Folclórica” da Mocidade ou “Ouro Escravo”, da Em Cima da Hora, duas pérolas.

        Isto tudo aí em cima é década de 1960. Silas era o maioral mas era o Salgueiro a escola que mais encantava com seus sambas, com o jovem Martinho chegando pelas beiradas lá pelos lados do Morro do Macaco.

        Mas e a década de 1970?

        Eu sei que não vão mesmo acreditar, mas houve um ano, 1971, que reuniu “Festa para Um Rei Negro”, “Nordeste, seu Canto, sua Dança”, mais uma vez do Salgueiro e do Império. E mais “Modernos Bandeirantes”, da Mangueira, “Misticismo da África ao Brasil”, do Império da Tijuca, uma maravilha, “Rapsódia da Saudade”, da Mocidade, e ainda “Barra de Ouro, Barra de Rio, Barra de Saia”, de uma inacreditável Imperatriz.

        E pode colocar ainda “Lapa em Três Tempos”, da nossa querida Portela.

        Alguém com vinte anos pode acreditar nisto?

        Só para não me estender muito, podem crer que até 1976 o nível era este. Safras com seis a sete sambas de ótimo nível, incluindo aí sambas de escolas de grupos de acesso.

        Pensando melhor, julgo que vale a pena estender um pouco para não deixar dúvidas; curto e grosso:

        1970: Lendas e Mistérios da Amazônia, Portela; Glórias Gaúchas, Vila; Oropa, França e Bahia, Imperatriz e Terra de Caruaru do Estácio.

        1972: Carnaval dos Carnavais, Mangueira; Ilu, Ayê, Portela; Martin Cererê, Imperatriz; Onde o Brasil Aprendeu a Liberdade, da Vila; Rio Grande do Sul, Festa do Preto Forro, do Estácio.

        1973, fraquinha: Lendas do Abaeté, Pasárgada e Saber Poético da Literatura de Cordel, Mangueira, Portela e Em Cima da Hora.

        1974: Rei de França na Ilha…, Salgueiro; Pixinguinha, Portela; Dona Santa, Rainha do Maracatu, Império; Mangueira em tempo de Folclore; Festa do Divino. Mocidade; Festa dos deuses Afro-Brasileiros e (UFA!!) Lenda das Yabás da Ilha.

        1975: Minas do Rei Salomão, Salgueiro; Zaquia Jorge, Império; Macunaína da Portela e Festa do Círio de Nazareth do Estácio; O Mundo Fantástico do Uirapuru (uma sinfonia ) da Mocidade e Imagens poéticas de Jorge de Lima (que melodia!) da Mangueira.

        1976: Sonhar Com Rei Dá Leão, Menininha do Gantois e Lenda das Sereias, da Beija-Flor, Mocidade e Império. E como se não bastasse: Arte Negra na Legendária Bahia, os Sertões e Mar Baiano em Noite de Gala, de Estácio,Em Cima da Hora e Lucas.

        Agora vamos voltar ao texto inicial, do JB.

        Quando o jornalista Marcio Abramo, ao se queixar da safra de 1978, afirma que as duas safras anteriores já eram consideradas pobres está se referindo aos anos de 1976 e 1977, certo ?

        Vamos, em primeiro lugar, dar uma chegada ao ano de 1978, ano de sua “queixa”.

        Huummmm! Vejamos. Criação do Mundo na Tradição Nagô, da Beija-Flor … O Amanhã. É … não foi mesmo grande coisa em termos de quantidade mas absolutamente honrado com o antológico samba da Ilha.

        E o carnaval do ano de 1977, por ele também “já” considerado pobre? Tivemos “Domingo” da Ilha e ainda ‘Vovó no Reino da Saturnália’, ‘Mundo de Barro do Mestre Vitalino’ e ‘Brasil, Berço dos Imigrantes’, da Beija Flor, Império da Tijuca e Império Serrano. Huummm … nada mau. Uma glória para os tempos de hoje…

        Já o desfile de 1976 marcava a aparição de “Sonhar Com Rei dá Leão”, da triunfante Beija-Flor, “Menininha do Gantois” da Mocidade, “Lenda das Sereias”, do Império. “Arte Negra da Legendária Bahia”, do Estácio e, pasmem, “Os Sertões” da Em Cima da Hora. E ainda Mar Baiano Em Noite de Gala, de Lucas.

        No entendimento, ao rigor do jornalista, tais safras foram fraquinhas, fraquinhas … Não sabia o que estava por vir.

        Quando li o texto fiquei me perguntando. Será que aquele ano de 1978, por ele apontado estaria sinalizando apenas um “acidente de percurso” ou, muito mais que isto, estaria marcando a decadência do gênero? Quem sabe uma mudança de “papel” dos sambas no contexto “moderno” dos desfiles?

        Ao identificar os “sambas que não morrem”, para mostrá-los aqui, pude novamente ouví-los quase todos. Fiquei me perguntando se fosse o caso de trazê-los de volta, se o povo os cantaria nas circunstâncias atuais?

        Fiquei me perguntando se os “sambas que não morrem” na verdade nos soam como antigos temas de antigos filmes que marcaram tanto nossas vidas? Se seriam como trilhas sonoras de nossas próprias vidas, de carnavais em que éramos mais jovens e mais felizes. Assim como temas de filmes que nada significam para quem não os viu?

        Talvez ficasse mais confortado se tivesse tais certezas.

        Não eram mais os tempos em que os sambas, ao invés de morrerem na quarta-feira, eram gravados tempos depois, por cantores de meio-de-ano, com novos arranjos que valorizassem suas belas melodias.

        E alguém teria hoje a coragem de jogar no caldeirão da Sapucaí um enredo prosaico como “O mundo Fantástico do Uirapuru”, tal como fez Arlindo Rodrigues em 1975?

        A conclusão que chego é a de que aquele momento apontado no texto marcava não apenas o tal “acidente de percurso”. Os sambas enredo dos anos seguintes na verdade mostravam que chegava um novo tempo.

        Tempo em que os sambas deixariam de ser a marca maior dos desfiles.

        Tempo em que os sambas não mais fariam a alegria maior dos sambistas.

        Não seriam mais cantados pelo povo.

        Tempo dos sambas que morrem…

        Enredo da Vila Isabel perdeu pontos por ‘narrativas confusas’ e ‘falhas de desenvolvimento’

        O oitavo lugar da Vila Isabel no desfile de 2020 ainda não desce para a comunidade, diretoria e integrantes da escola do bairro de Noel. Entretanto, certamente um dos quesitos onde as justificativas eram mais aguardadas era o quesito enredo. A temática, muito criticada no período de pré-carnaval, só tirou uma nota 10 e afastou ainda mais a escola das primeiras colocações.

        Johny Soares aplicou um 9,9 para o enredo da azul e branca. Em sua justificativa, embora considere a temática com a densidade cultural necessária e relevante, ele pontuou que o desenvolvimento do enredo se deu de maneira falha.

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        “Enredo de relevância cultural, que apresenta a construção e/ou ‘nascimento’ de Brasília a partir de uma viagem imaginária por aspectos diversos-históricos, sociais e culturais, que compõem a nação brasileira em suas diversas regiões. A proposta de personificar o Brasil e Brasília nas figuras de índios irmãos, embora criativa, mostra-se um tanto confusa durante a narrativa. Ainda que se compreenda a intenção de defender a ideia de Brasília enquanto ‘caldeirão de brasilidade’, o desenvolvimento resulta complexo e disperso, com imagens fragmentadas dos diferentes estados brasileiros e pouca homenagem aos 60 anos da capital do país. O conteúdo extremamente metafórico e a lenda criada para explicar o nascimento de Brasília não ficaram suficientemente claros ao longo da roteirização do enredo”, justificou.

        Artur Gomes também aplicou 9,9 para a Vila Isabel elogiando o padrão estético apresentado pela azul e branca. Despontuou o desfile por considerar que houve deficiências no aspecto do desenvolvimento da temática.

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        “O enredo que celebra o 60º aniversário da capital federal, realizado com inquestionável apuro estético, apresentou problemas no seu desenvolvimento teórico. A estratégia de narrar o enredo a partir de dois níveis discursivos (um onírico/mitológico e outro metafórico/simbólico) tem sua compreensão dificultada pela justaposição, por vezes, dos dois níveis discursivos na construção da explicação da iconografia das alas. Entranha-se, por exemplo, o uso da metáfora ‘República das bananas’, reconhecidamente pejorativa, pra simbolizar, na ala das baianas, a ideia de unidade nacional presente no nível onírico (a lenda da menina Brasília, ‘filha da pátria-família’) ao mesmo tempo que no nível simbólico representa o ‘caldeirão de brasilidade'”, explicitou.

        Segundo Marcelo Filgueira, a escola falhou ao apresentar uma proposta na justificativa do enredo, enviada à Liesa através do livro abre-alas, e na avenida exibir outra narrativa.

        “Apesar de na justificativa do enredo ser apontado que o mesmo não contará a história de forma factual, mas se utilizando de narrativa metafórica, há uma confusão, em vários momentos, entre os tempos narrativos onírico e real-histórico. As alas 04, 08, 12, 15, 17 e 22 apresentam argumentos históricos. Dificultou-se, com isso, o entendimento de que todo o enredo tratava de um sonho do menino Brasil. Em alguns momentos e até em alegorias a história do Brasil e da construção de Brasília se sobrepôs ao sonho”, concluiu.

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        Pareceu claro, de acordo com a justificativa dos jurados, que o erro capital da Vila em seu desfile foi um desenvolvimento confuso e sem clareza, misturando aspectos históricos com passagens metafóricas. Pérsio Gomyde Brasil também usou essa explicação em sua justificativa.

        “Ao utilizar e mesclar diversos tópicos (lenda indígena, aspectos místicos, profecia, aspectos culturais e geográficos) para mostrar a brasilidade regional e a criação da capital federal Brasília. O argumento torna-se de certa forma confuso para todos que não tem acesso ao livro abre-alas, páginas 66 até 79 (histórico e justificativa do enredo) portanto, o argumento e seu desenvolvimento ficam condicionados à leitura do mesmo. No próprio livro abre-las cita-se (página 72) que o centro do enredo é o povo brasileiro e que o país e Brasília foram ‘criadas’ pela força da nação. Decididamente, sem o apoio do livro e em alguns aspectos até mesmo com o seu auxílio, torna-se difícil sua compreensão de forma clara”, destacou.