Os critérios de julgamento que serão adotados nos desfiles das Escolas do Grupo Especial no Carnaval 2022 serão os mesmos que foram utilizados no último espetáculo, em 2020. A decisão foi tomada pelos presidentes das agremiações, que compõem a plenária da Liesa.
Coordenador de Julgadores Júlio César Guimarães (à esquerda) começa a organizar o Curso de Julgadores, que acontecerá em janeiro. Foto: Henrique Matos
Resultado do Seminário realizado nas últimas semanas, no mesmo auditório, reunindo carnavalescos, diretores de carnaval, julgadores, presidentes e representantes da Imprensa, foram colocadas em votação as principais sugestões de mudanças apresentadas por este colegiado, destacando-se: o fechamento dos envelopes dos julgadores ao final dos desfiles de domingo; a concessão (facultativa) de 0,1 (um décimo) para a escola que o julgador considerasse a melhor entre as melhores no seu quesito, justificando o motivo de sua escolha; e a validade das notas de todos os 45 julgadores, sem descartes. Todas as sugestões foram discutidas, porém nenhuma teve a aprovação da maioria dos presidentes.
“Continuo considerando a iniciativa vitoriosa, pois foi a primeira vez em mais de três décadas, que a Liesa conseguiu reunir especialistas de notório conhecimento para analisar os atuais critérios de julgamento do espetáculo. Várias dessas propostas continuarão criando expectativa e poderão ser aproveitadas em futuros desfiles”, comentou o presidente da Liesa, Jorge Perlingeiro.
Logo após a decisão, o coordenador de Julgadores, Júlio César Guimarães, adiantou que a próxima providência será levar para a aprovação do plenário os nomes dos 45 jurados que atuarão nos desfiles de 2022. Afirmou que o Curso de Jurados acontecerá em janeiro, com palestras de fixação de critérios de julgamento, reunindo julgadores e representantes das Escolas – entre eles diretores de carnaval, coreógrafos de comissão de frente e casais de mestres-salas e porta-bandeiras, mestres de bateria, etc.
O plenário considerou justa a sugestão apresentada ela Liesa de hospedar os julgadores e seus acompanhantes em um hotel do Centro da Cidade, nas proximidades do Sambódromo, nas duas noites de desfiles (Domingo e Segunda-Feira de Carnaval). Esta iniciativa evitará grandes deslocamentos dos micro-ônibus designados para levar os jurados em casa, no final dos dois dias de espetáculo.
O site CARNAVALESCO acompanhou o ensaio de quadra da Tom Maior para o Carnaval 2022. O enredo é “O Pequeno Príncipe no Sertão”. Recém-contratado pela escola, Gilsinho falou da volta aos ensaios e o retorno para São Paulo. “Muito prazeroso voltar, ainda mais em uma escola bacana como a Tom Maia. Comecei no Carnaval de 2001 aqui em São Paulo. Temos um samba-enredo muito legal. É embalado, pra cima, a comunidade incorporou bem e a bateria totalmente dentro da obra. O entrosamento é total. O mestre Carlão é muito técnico. Não tem como errar, a gente conversa bastante e está sendo fácil trabalhar”.
Mestre Carlão comentou “É uma sensação muito boa podermos voltar aos ensaios. Todo mundo está muito feliz. Como não temos quadra, a cada ano fazemos parcerias e esse ano fizemos com o Peruche. Começamos o trabalho da bateria há 60 dias e nossa programação está certa. Vamos levar três boas para o desfile. O Gilsinho é um cara muito focado, dedicado e estou muito feliz. É uma parceria para longo prazo”.
Yves Alexeiv, diretor de harmonia, explicou como está o processo de trabalho na escola. “A expectativa está muito grande pela volta dos ensaios. A parte criativa da escola seguiu acontecendo e ficamos pelo menos três meses organizando o retorno. Vamos levar 1700 pessoas por conta do regulamento de 2022. Nossa comunidade canta muito bem e não temos problema disso. O contigente diminiu, mas não vai prejudicar o todo da escola, porque estará bem compacto. A parceria com Carlão, Gilsinho e harmonia deu liga instantaneamente”.
Para Bruno Freitas, membro da comissão de carnaval, a proposta da escola é em dezembro ir para rua. “Caso até lá não seja possível liberar máscaras, vamos em janeiro. Ali, a gente desenvolve canto e evolução”.
O casal de mestre-sala e porta-bandeira da Tom Maior, Jairo e Simone, comemorou a volta aos ensaios. “Com muita alegria voltamos. Somos um casal tradicional. Começamos nosso trabalho para os jurados. Temos um enredo muito bonito e vamos dar todo o gás”, citou a porta-bandeira.
A Renascer de Jacarepaguá tem nova rainha de bateria. A escolhida para o posto é a cearense Sanucia Pereira, 31 anos, eleita no último dia 20, a nova Mrs Queen Top of the World Plus Size. Por conta da pandemia de covid-19, o concurso internacional foi realizado online, transmitido diretamente da Lituânia e atraindo audiência de diversos países. Com apresentação de forma virtual, Sanucia foi avaliada pelos jurados nos quesitos beleza facial e corporal, simpatia, postura, desenvoltura e talento. Ela foi a vencedora da categoria para mulheres de 29 a 48 anos, superando candidatas da Índia, Bélgica, Rússia, Ucrânia, Aruba, Lituânia, Reino Unido, Noroeste da Europa e Holanda.
Natural de Juazeiro do Norte e moradora da cidade, a atual Rainha Plus Size do Mundo é casada, mãe de duas filhas, Maria Clara e Maria Júlia, e está cursando faculdades de Direito e Investigação Forense Criminal.
Sanucia está vibrando com a oportunidade de participar do Carnaval carioca e diz que já está começando a se preparar.
– Desde pequena, assisto os desfiles pela televisão. Vocês nem fazem ideia de como meu coração está. Sei sambar, aprendi sozinha, mas nada que se compare ao gingado das cariocas, claro! Vou fazer aula com uma passista experiente, porque quero atender a expectativa que a Renascer está depositando em mim.
A nova rainha ressalta a importância de ocupar um posto que pode ajudar a elevar a autoestima de tantas mulheres:
– Conquistar espaços de destaque é muito importante nos movimentos de inclusão. Todas as mulheres podem mostrar sua beleza, simpatia, dedicação e comprometimento. A felicidade e a realização são para todas, que precisam se amar, se orgulhar e ser feliz. Estou muito grata porque a escola tem essa visão e estou adorando começar a fazer parte da Família Renascer de Jacarepaguá.
A escola será a 7ª a desfilar na Intendente Magalhães, na Segunda-Feira de Carnaval, com o enredo “Jacarepaguá – Fábrica dos Sonhos”.
“Quem sou eu? Quem sou eu?” O refrão principal do samba de enredo de 1994 do Acadêmicos do Grande Rio, “Os santos que a África não viu”, composto por Helinho 107, Rocco Filho, Roxidiê e Mais Velho, começava com uma saudação ao “Povo de Rua”, conjunto de entidades das religiões afro-brasileiras que expressam cruzamentos e hibridações culturais. Este universo tão complexo voltará a ser abordado pela escola, no próximo Carnaval, quando a comunidade de Duque de Caxias cantará, na Marquês de Sapucaí, diferentes facetas daquele que é popularmente considerado o “mais humano dos orixás”: Exu.
Mostrar ao público um pouco do “espírito do enredo” foi a ideia dos carnavalescos, Gabriel Haddad e Leonardo Bora, quando propuseram à agremiação caxiense a feitura de um ensaio fotográfico que ocupasse diferentes espaços do barracão, na Cidade do Samba, e, através das lentes da agência FotoLegenda / Joana Coimbra, captasse a “essência” do que será mostrado no Sambódromo. Leonardo Bora explica a proposta: “Depois do cancelamento do Carnaval de 2021 e diante da potência de um enredo que fala de corpos expansivos, livres, festivos, que brincam nas ruas e se manifestam nas encruzilhadas, pensamos que seria importante explorar espaços abertos, sem o compromisso de mostrar as fantasias com poses perfeitas e luz artificial. Nos interessava mais entender o espírito do enredo nas dobras e nos movimentos das roupas, nas expressões das pessoas, nos detalhes, nas sombras. Os olhares dos fotógrafos, muito sensíveis, captaram essas sutilezas.”
As fantasias selecionadas para o ensaio expressam um pequeno pedaço do que a Grande Rio mostrará na Avenida. Haddad destaca um ponto importante: “As pessoas que foram fotografadas efetivamente participam do Carnaval da Grande Rio, como o ator e dançarino Rodrigo Bahiano, que representou Joãozinho da Gomeia na Comissão de Frente do último desfile. Algumas, inclusive, participaram do processo de feitura das fantasias, caso do aderecista Lucas Corassa, que vestiu a roupa da Pomba-Gira Cigana, desenhada para a ala LGBTQIA+ da escola. Também é o caso das aderecistas Thuane Araújo e Wellington Szaniesky e do pintor de arte Cety Soledad, que tem uma produção artística incrível, na música e nas artes visuais”.
Além dos citados, participaram do ensaio o designer Antônio Gonzaga, autor da identidade visual do enredo da Grande Rio, artista plástico e membro da equipe de criação dos carnavalescos, a cineasta Érica Supernova e o modelo Murillo Ferreira. A maquiagem é de Guilherme Camilo e as fantasias foram confeccionadas pelo ateliê de Bruno César. É preciso destacar, ainda, a participação de estagiários da Escola de Belas Artes da UFRJ, que trabalharam no barracão da tricolor de Caxias pelo segundo ano. Alguns deles, inclusive, foram alunos de Leonardo Bora, que foi professor da EBA-UFRJ e considera fundamental essa troca: “É preciso que se abram cada vez mais espaços para o diálogo entre o dito “mundo acadêmico” e o Carnaval – no caso, os barracões das escolas de samba, academias tão poderosas. São incontáveis os saberes e os modos de fazer que circulam por um barracão. A universidade de hoje é bastante diferente daquela de 60 anos atrás. Entendemos que o estágio é uma ótima oportunidade para estimular a diversidade e a pluralidade de ideais.”
O que também é uma continuidade com relação ao desfile vice-campeão do último Carnaval é o combate à intolerância religiosa que tem como alvo as manifestações sagradas de origens afro-brasileiras. O racismo religioso, que propaga preconceitos contra as religiões de matrizes africanas, contribuiu para a demonização da figura de Exu, algo que será abordado de maneira indireta, conforme explica Haddad, ao comentar a simbologia das roupas: “O enredo já parte do pressuposto de que Exu não é o “diabo do teatro colonial”, como diz a nossa sinopse. A denúncia está na subversão desse olhar e na afirmação da grandiosidade e complexidade dessa energia. As fantasias dizem que Exu é vibração, cor, movimento, força, potência, circularidade. A ótica é outra. Não se trata de um enredo histórico, mas de uma celebração daquilo que o Luiz Antonio Simas chama de “visão exusíaca de mundo”. Os fundamentos do candomblé, as pluralidades da umbanda, os brincantes e foliões que ocupam e disputam as ruas, as trocas nas feiras, as relações de Exu com o carnaval e as artes em geral, as vozes dos excluídos de um projeto de “civilização” baseado no lucro, na competição, na exploração do outro. Numa “normalidade” que considera “louco” quem não se enquadra em um padrão e que rejeita o que considera “lixo”. Afinal, que “lixo” é esse?”
O historiador e antropólogo Vinícius Natal, um dos autores da pesquisa do enredo, enfatiza os aspectos levantados pelo carnavalesco: “Essas vozes nos ensinam outras filosofias e outras formas de pensar e viver o mundo. Quando Elza Soares canta “Exu nas escolas”, ela está defendendo a importância de se levar esse complexo de saberes para espaços que historicamente excluíram as cosmogonias amefricanas, como dizia Lélia Gonzalez, de seus cadernos. Nós entramos nesse debate e mostramos que o racismo religioso pode se manifestar nas menores coisas, como quando alguém sentencia, em tom de crítica negativa e sem uma leitura cuidadosa, que o nosso enredo é “muito pesado”.”
A Grande Rio foi sorteada para ser a quinta escola a desfilar na segunda-feira de Carnaval, com o enredo “Fala, Majeté! Sete chaves de Exu.” Sobre os trabalhos e o cenário atual, os carnavalescos concluem: “Enquanto sambistas e foliões, desejamos que a ciência triunfe sobre o negacionismo e que possamos desfilar com alegria e segurança, depois de tanto sofrimento. Acompanhamos os debates científicos e os seus desdobramentos e trabalhamos com base nessas orientações. Os ataques ao Carnaval muito nos entristecem. São estranhos esses tempos em que é preciso dizer o óbvio, mas seguimos fazendo arte.”
Ficha técnica:
Fotografias: Agência FotoLegenda e Joana Coimbra
Modelos: Antônio Gonzaga, Cety Soledad, Érica Supernova, Lucas Corassa, Murillo Ferreira, Rodrigo Bahiano, Thuane Araújo e Wellington Szaniesky
Maquiagem: Guilherme Camilo e equipe
Confecção das fantasias: Bruno César e equipe (Bernard Souza, Carla Vanessa, Edemilson Fernandes, Lucas Corassa, Marcelo Oliveira, Nete Cândido, D. Nilza, Sheila Martorelli, Thuane Araújo, Wellington Szaniesky)
Estagiários da Escola de Belas Artes da UFRJ: Igor Nascimento, Joana D’Arc Prosperi, Jovanna Souza, Rafael Torres, Sophia Chueke, Theo Neves
Carnavalescos: Gabriel Haddad e Leonardo Bora
Equipe de criação: Antônio Gonzaga, Patryck Thomaz e Vinícius Natal
O samba é um gênero musical, mas também constitui um mundo social, um sistema cultural. Esta afirmação implica a compreensão de que existe um mundo do samba, um universo específico composto de valores, crenças, regras, formas de classificação e de entendimento.
Foto: Divulgação/Liesa
Dentro do mundo do samba, as escolas ocupam papel de destaque pois são formadoras de sujeitos. Ao participar de uma escola de samba uma pessoa está, ao mesmo tempo, formulando, articulando e criando saberes, práticas e costumes; e sendo forjado por eles. O indivíduo é formado pela cultura, mas é também seu construtor e isto denota que a cultura é viva, está em constante transformação, modificação, relação, justamente por ser uma prática humana.
O samba é um bom exemplo pois se transformou, muitas vezes, para se manter o mesmo. Escola de samba é uma forma de organização social de base comunitária e territorial que surge no Rio de Janeiro no final da década de 1920. São produtos da experiência histórica de negros e negras que, diante da exclusão do pós-abolição, construíram redes e locais de sociabilidade para manutenção de suas formas de vida e manifestação. São potentes formas de expressão, criadoras de identidades que fornecem sentidos aos seus praticantes.
As escolas são criações autênticas de locais de cidadania em um contexto de negação de direitos. Se a luta por cidadania naquele contexto envolvia a afirmação de sua própria existência, hoje o cenário é outro. Mas este ponto, fundamental, nunca se perdeu. Permanecem, atualmente, como pontos importantes, nos territórios que as abrigam como espaços de cidadania enquanto coletivos, associações comunitárias.
Vou trazer um exemplo para ilustrar esse ponto que acho interessante. No ano de 1934, um italiano chamado Emílio Turano, que dá nome a outro morro vizinho também na Tijuca, entrou na Justiça pedindo a destituição de todos os barracos do morro do Salgueiro pois, segundo ele, havia comprado a localidade. Esta ação causaria o despejo de 7 mil moradores, uma massa de imensa maioria negra que irá se organizar para defender seus direitos através da escola de samba do morro chamada Depois eu Digo, tendo como grande liderança o compositor Antenor Gargalhada.
O Gargalhada é o líder deste movimento pois as principais figuras dos territórios eram os sambistas de destaque nas escolas. Isso é fundamental, pensar a dimensão política das escolas no contexto e ainda mais a sua dimensão de coletividade, associação: é através desta organização local, uma escola de samba, que os moradores do morro ganham na Justiça o direito de manter sua residência.
Escola de samba é política! Coletivos periféricos que através da arte e da cultura inscreveram sua presença na cidade que quis sua eliminação física e simbólica. Emergiram dos morros e subúrbios práticas, saberes e modos de vida que constituíram o Rio como ele é. Se o samba é uma forma de ver, interpretar e viver no mundo, as escolas de samba seguem sendo locais privilegiados de socialização nas múltiplas gramáticas que este mundo, o mundo do samba, promove.
Desfile de escola de samba é produto das classes populares, majoritariamente negras, que ofertando sua arte produziram beleza, encanto e poesia forjando a identidade da cidade que tanto os violentou. Inventaram uma manifestação cultural que serviria de síntese do país. Mas escolas de samba é muito mais do que desfile carnavalesco. É produção de cultura e arte, são projetos de educação e inclusão mantidos nos territórios periféricos da cidade onde o Estado só chega através da repressão. Para muito além dos desfiles, as escolas são formas de organização social quase centenárias que formam sujeitos, promovem sociabilidades e constroem visões de mundo.
Quem apenas assiste, acompanha e admira os desfiles não chega nem perto de compreender a pluralidade de sentidos, a riqueza histórica e o conhecimento produzido pelas agremiações pois estas precisam ser vivenciadas, praticadas. Pode entender o que nós produzimos, a partir (inclusive) de valores que nos são alheios, mas não compreendem o que somos.
Através de uma série de rituais, cerimônias, maneiras de ocupação do espaço, técnicas corporais, formas relacionais, hábitos, costumes, regras (jamais escritas) e outras tantas lógicas inerentes as atividades cotidianas, essas associações atuam como força motriz de uma forma específica de ser e estar no mundo. Escolas de samba são pensamento e ação, filosofia e prática.
E assim o são visto que são constituídas por uma sabedoria bem assentada, rica, diversa e original. Sua manutenção se dá pela constante reinvenção que garante a continuidade. Há uma doutrina ancestral que se mantém na tradição que se renova. É o samba.
Mauro Cordeiro – Doutorando em Antropologia (UFRJ), Mestre em Ciências Sociais (PUC-Rio) e Licenciado em Ciências Sociais (UFRRJ). IG: @maurocordeiro90 TT: @maurocordeirojr
Coirmãs da Baixada Fluminense, as gigantes Beija-Flor de Nilópolis e Acadêmicos do Grande Rio, sediada em Duque de Caxias, estarão unidas em pelo menos dois megaensaios de rua programados para agitar o pré-Carnaval em ambos os municípios. A novidade, anunciada na quinta-feira pela diretoria da azul e branca, promete entrar para o calendário folião e reforçar o engajamento junto às agremiações, que estão a todo vapor rumo a 2022.
De acordo com o comando da Beija-Flor, os treinos estão programados para os dias 12 de dezembro, em Nilópolis, e 19 do mesmo mês, em Caxias. A dinâmica é semelhante a dos “ensaios visita”, já popular na festa carioca, geralmente em eventos de quadra.
A intenção, segundo a equipe do presidente da Beija-Flor, Almir Reis, é fortalecer o Carnaval da Baixada Fluminense e, ao mesmo tempo, o laço entre as duas escolas de samba. Informações sobre horário dos ensaios, bem como os pontos de concentração, serão divulgadas nas próximas semanas.
No dia 13 de dezembro, a Liesa promoverá uma festa de confraternização entre diretores e funcionários da entidade, presidentes e representantes das Escolas de Samba do Grupo Especial, e parceiros comerciais que estarão presentes no Carnaval 2022. O evento marcará as comemorações do Dia Nacional do Samba (tradicionalmente festejado em 02 de dezembro) e já tem a presença confirmada do governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro. Neste mesmo dia, às 20h, será inaugurada a nova unidade do Corpo de Bombeiros na Cidade do Samba com a presença do coronel Leandro Monteiro, secretário de Defesa Civil e Comandante Geral do Corpo de Bombeiros.
Jorge Perlingeiro garante que a Liesa está focada em todo o planejamento para o Carnaval de 2022. Foto: Henrique Matos
Instalada provisoriamente em contêineres, adaptados segundo as instruções fornecidas pelo Comando Geral da Corporação, com capacidade para abrigar 10 soldados e espaço para estacionamento de viaturas, esta nova unidade atenderá não somente a Cidade do Samba bem como o entorno da Região Portuária do Rio. Os bombeiros permanecerão naquele espaço durante o período de construção do prédio definitivo.
“É motivo de grande alegria e tranquilidade para todos nós, pois, a partir de agora, teremos uma unidade dos Bombeiros funcionando dia e noite no complexo de produção de alegorias e fantasias do Carnaval Carioca”, conta o presidente da Liesa, Jorge Perlingeiro.
A volta do “Botequim da Liesa”
A festa de confraternização marcará também a volta do espetáculo “Botequim da Liesa”, com a participação de sete estrelas da música popular e apresentação das rainhas de bateria do Grupo Especial.
“Antes do show, vamos entregar os certificados aos 51 sócio-beneméritos da Liesa; incluindo os novos 21, que passarão a fazer parte do quadro” – informou o presidente.
A Unidos do Viradouro reforçou o time de beldades que vai estar com a escola na Avenida no próximo Carnaval. E o anúncio foi feito no ensaio das alas de comunidade na quadra, na noite desta quarta-feira, 25, e de forma inusitada. Ninguém tinha conhecimento que a escola teria uma terceira musa, nem a própria Bellinha Delfim, a escolhida. Ela passa a dividir o posto com a dançarina Luana Bandeira, que era assistente de palco de Luciano Huck quando ele comandava o Caldeirão, e com a cantora e apresentadora Lore Improta, que já desfilam na vermelho e branco.
No início do ensaio, o presidente Marcelinho Calil chamou Bellinha ao palco, para que ela entregasse um buquê de flores à nova musa. Ele chegou a pedir que a suposta nova integrante da escola entrasse em cena. Minutos depois, como ninguém aparecia, as pessoas da comunidade concluíram se tratar da própria Belinha e começaram a gritar: “É ela!”. Incrédula, a moça ficou esperando que o presidente confirmasse. Quando, finalmente, depois do suspense, veio a confirmação, Bellinha se agachou, cobriu o rosto com as mãos, e chorou.
Com fôlego renovado e ainda tomada pela emoção, a mais nova musa da atual campeã do Carnaval foi econômica nas palavras ao se dirigir à comunidade, que retribuiu com aplausos entusiasmados.
– Não esperava por essa surpresa. Eu tô muito feliz. Sou recém-componente da escola, desfilei como passista aqui em 2020, e pretendo retribuir todo esse carinho, esse amor, esse acolhimento com muita arte e samba no pé – disse a jovem, que foi saudada por Erika Januza, nova rainha de bateria.
Bellinha tem 24 anos e começou no balé clássico aos cinco. Sua formação em dança foi na Escola Maria Olenewa (Theatro Municipal), conquistando vaga através de concurso em 2008, e onde estudou até 2014. Paralelamente, praticava atletismo. Ela também é modelo. Entre os inúmeros trabalhos na área da publicidade, protagonizou uma campanha da Nike. Foi escolhida não só pela beleza, mas por seu desempenho em provas de meio-fundo e fundo, de 800 a 10.000m.
Na pista de desfiles, estreou como passista em 2014, na São Clemente. Em 2019, desfilou pelo Salgueiro, e foi agraciada com o Estandarte de Ouro de Melhor Passista. Já ministrou workshops de samba em países como Inglaterra, França, Espanha, Portugal, Suécia, Polônia, Nigéria, Uruguai e Argentina.
Compositores: Obá Adriano Abiodun, Guga Martins, Passos Júnior,
Abílio jr., Nando Tavares, Wagner Rodrigues, Clairton Fonseca,
Leandro gaúcho e Ailson Picanço para a Porto da Pedra, carnaval 2021.
Intérpretes: Pitty di Menezes
HOJE VAI TER FESTA NO ORUM
MATA VIRGEM DEIXA SERENAR
BRILHA UMA ESTRELA
ASSENTA O ORIXÁ
É O CAÇADOR SEU ELEDÁ
OKÊ ARÔ! OKÊ OKÊ ARÔ!
MENINA VAGUEIA AO SOM DO TAMBOR!
OKÊ ARÔ! OKÊ OKÊ ARÔ!
PISA NA AREIA E BATE O TAMBOR!
CHEFE DA CASA ESCOLHEU YAÔ (Ê KAÔ)
QUEM VESTE BRANCO ABENÇOA IYÁ (EPA BABÁ)
PROTEGE A SENHORA DO OURO
A LEI É O GRANDE TESOURO
SEIS PRA DEFENDER
SEIS PARA JULGAR
O SANTO DANÇA… CÉU RELAMPEJOU!
NÃO TEM DEMANDA! NÃO TEM CATIVEIRO
MEU FILHO, ANTES DE NOS DAREM COR
JÁ ESCUTAVA A VOZ DOS TERREIROS
TEM FITA VERMELHA E BRANCA
ALMA NA PONTA DA LANÇA
ENSINA NOSSAS CRIANÇAS: DESTINO É LUTAR
MEMÓRIAS O VENTO NÃO PODE LEVAR
ESCRITAS À LUZ DO LUAR
RODA YABÁ… É GINGA!
CANTA PRA FIRMAR… CURIMBA!
NO TOQUE DO AGUERÊ CHAMEI O POVO
AGOGÔ MI RO LESE, MÃE STELLA MOTUMBÁ!
FLECHA CERTEIRA DE ODÉ EU QUERO VER SEGURAR
CABEÇA FEITA QUANDO O TIGRE PASSAR
A história do padroeiro e a homenagem a ícones espetaculares da história da bateria da Mocidade e do Carnaval Carioca dialogam entre si no enredo “Batuque ao caçador”. Campeã em conjunto com a Portela em 2017, com as bênçãos de Oxóssi, a Verde e Branco da Zona Oeste quer voltar a comemorar um título na quarta-feira de cinzas, de forma isolada, algo que não acontece desde 1996 com o “Criador e Criatura”.
Foto: Leandro Ribeiro/TV Globo
Completando 10 anos no carnaval de 2022 como o dono do ritmo de Padre Miguel, mestre Dudu, herdeiro de mestre Coé, está perto de bater o recorde de 14 anos do icônico mestre André. Todos os três comandantes da “Não Existe Mais Quente” são citados no samba para o próximo carnaval. Não só eles, mas todos os ritmistas de ontem, de hoje e de sempre que compõem a alma da Mocidade, como é descrito no final da sinopse.
Em nova casa, mas seguindo na Zona Oeste, o carnavalesco Fábio Ricardo terá a responsabilidade de fazer esse paralelo entre o padroeiro da escola e os grandes ritmistas que fizeram da bateria da Mocidade uma instituição tão singular do carnaval. A Verde e Branca de Padre Miguel será a terceira agremiação a pisar na Avenida na Segunda-Feira de carnaval em 2022.
O samba é uma composição de Carlinhos Brown, Diego Nicolau, Richard Valença, Orlando Ambrosio, Gigi da Estiva, Nattan Lopes, JJ Santos e Cabeça do Ajax. O compositor Diego Nicolau explicou um pouco sobre essa relação entre o padroeiro e bateria da Mocidade que é tão enfatizada também no samba para 2022.
“O nome do enredo da Mocidade já diz muito, ‘batuque ao caçador’, o batuque, referência ao tambor, consequentemente a nossa bateria. E ao caçador porque a gente vai falar de Oxóssi, conhecido como o orixá caçador de uma flecha só. A gente tem dois momentos importantes do samba que ao mesmo tempo que estão bem definidos na letra, também se fundem, porque Oxóssi é o padroeiro da nossa Mocidade Independente e o pelo outro lado, ele também é muito importante para a bateria da Mocidade Independente, que é uma bateria diferente que toca no estilo ‘Agueré’, o toque para Oxóssi. E aí a gente consegue reunir os dois grandes sonhos de seus componentes, e principalmente depois dos últimos carnavais que a nossa bateria, que é o nosso orgulho e seu padroeiro “, esclarece Diego Nicolau.
O site CARNAVALESCO, dando continuidade à série de reportagens “Samba Didático”, pediu ao compositor Diego Nicolau para explicar um pouco mais sobre os significados e as representações por trás dos versos e expressões presentes no samba da Mocidade Independente de Padre Miguel para o carnaval de 2022.
“OKÊ ARÔ OFÁ DA MIRA CERTEIRA / DONO DA MATA, OKÊ OKÊ, MUTALAMBÔ / SEU AJEUM JÁ PREPAREI NA QUINTA FEIRA”
“Nesse começo a gente apresenta Oxóssi. ‘Okê Arô’ é uma saudação específica do orixá Oxóssi. A gente começa posicionando ele, deixando ele bem posicionado. ‘Ajeum’ é a comida, é a oferenda específica para o orixá, para Oxóssi”.
“NO FUNDAMENTO, A BATIDA INCORPOROU”
“Esse verso pode até não ter chamado tanta atenção, mas ele serve para posicionar tanto um como o outro, do que a gente vem homenagear no samba. Essa batida é a batida lá na frente, é a batida pra Oxóssi”.
“SAMBORÊ PEMBA FOLHA DE JUREMA”
“É um momento importante para que a gira e a batida inicie”.
“HÁ PROTEÇÃO DE OGBOJU ODÉ / PAI OXALÁ LHE DEU SEU DIADEMA / QUEM REGE MEU ORI, GOVERNA MINHA FÉ / NOS IDILÊS A ANCESTRALIDADE”
“São personagens importantes, Oxóssi tem muitos nomes. Ele é o caçador que ficou conhecido como o maior deles, mas ele tinha também seus ancestrais, os Idilês”.
“O ALAKETU NO EGBÉ DA MOCIDADE”
“O ‘Alaketu’ é Oxóssi, o rei de Ketu, e ‘Egbé’ é a comunidade, o local onde moram ou moravam naquela época da ancestralidade os orixás. E aí gente faz uma analogia com a Mocidade e a Vila Vintém. A comunidade da Mocidade é a Vila Vintém, é a Zona Oeste”.
“OXÓSSI É CAÇADOR DE UMA FLECHA SÓ/ HERDEIRO DE IEMANJÁ, IRMÃO DE OGUM (EXU) /AQUELE QUE NA COBRA DÁ UM NÓ / AQUELE APAIXONADO POR OXUM”
“No refrão do meio, a gente faz aquele refrão bem didático, mas sem perder a poesia, a gente fala quem é Oxóssi. ‘A cobra dá um nó’ é na verdade uma referência a uma lenda dele, uma grande serpente. E Oxum seu grande amor. E na segunda vez a gente troca Ogum por Exu, porque ele teve dois irmãos apenas”.
“IBUALAMA O MAR ATRAVESSOU”
“Aí, a gente meio que dá uma trava para que a gente possa trazer Oxóssi para o Brasil, para que nós todos possamos entender que se hoje ele é um orixá tão popular foi porque ele chegou através da travessia da África para cá, chegou na Bahia e no Rio de Janeiro, duas cidades negras, duas cidades onde a matriz africana foi muito difundida”.
“NO GANTOIS VIROU SÃO JORGE GUARDIÃO”
“Lá na Bahia Oxóssi é São Jorge. No sincretismo Oxóssi é Ogum”.
“UM RIO INTEIRO EM TEU NOME MEU SENHOR/ QUEM É DE OXÓSSI É DE SÃO SEBASTIÃO”
“A gente quis fazer uma brincadeira com o Rio de Janeiro e ‘em teu nome’ porque o nome é São Sebastião do Rio de Janeiro. Por isso, quem é de Oxóssi é de São Sebastião. Achamos que era importante, é uma forma importante até aqui no Rio de Janeiro porque as rodas de samba, os compositores aqui do Rio, todos eles entendem dessa forma que tem outras músicas, música popular brasileira que vão falar de Oxóssi e falam de São Sebastião”.
“Ô JUREMÊ, Ô JUREMÁ /CABOCLO LÁ DA JUREMA É CACIQUE NESSE CONGÁ”
“Foca no Oxóssi do Rio de Janeiro em que tem muitas situações que ele meio que foi virando padroeiro de muitas agremiações como o Cacique de Ramos que a gente fala ‘Ô Juremê’, ‘Ô Juremá’, ”.
“MANDINGA DE TIA CHICA FEZ A CAIXA GUERREAR/ INVERTEU MEU TAMBOR, DE DUDU E DE COÉ, / FOI QUIRINO, FOI MIQUIMBA DE JORJÃO, O AGUERÉ”
“É uma mãe de santo da região da Zona Oeste que era conselheira de vários componentes da Mocidade. É o grande caminho pois tia Xica era quem benzia todos eles. Essa proteção passou em forma de batuque também para todos os ritmistas através do mestre André. Aí faz referências a caixa de guerra da Mocidade, inverteu meu tambor que é mais uma característica da bateria da Mocidade e cita mestres ou diretores e ritmistas que fizeram grande diferença dentro da bateria da Mocidade. E o nosso atual mestre, filho de Coé e, é muito importante para esse novo momento da Mocidade”.
“FEZ DO AGUIDAVI, BAQUETA DA NOSSA GENTE”
“Aguidavi é a baqueta utilizada pelos ‘Ogãs’ na hora do terreiro”.
“ARERÊ ARERÊ KOMORODE/ KOMORODE AROLE KOMORODE/ ARERÊ ARERÊ KOMORODE /TODO OGÃ DA MOCIDADE É CRIA DE MESTRE ANDRÉ”
“O ‘Arerê komorode’ é a festa para Oxóssi. Algazarra. A gente usa o ‘Arole’ que é outra saudação a Oxóssi e trazemos a alegria que acho que combina muito com esse momento do carnaval. Acho que precisamos disso, alegria e de festa. Aí no fim falamos de todos os mestres, mas aí é a grande sacada, falamos daquele que é além de ser o mais importante para nossa escola, é o mais importante para o carnaval. Mestre André não precisa falar, comentar, é eterno para o Carnaval, para o samba e para a nossa Mocidade”.