Compositor: Gabriel Melo
Intérpretes: Arthur Franco e Bruno Ribas
EU AINDA ERA MENINO
À LUZ DE UM NOBRE DESTINO
O DOM DE TOCAR CORAÇÕES
E VOCÊ ERA MENINA, SUSPIRANDO POESIAS
ENTRE VERSOS E ESTAÇÕES
QUANDO A MÃO DO GRANDE PROFESSOR
NOSSO CAMINHO EM OURO ENFEITOU
FUI DA RIBALTA À AVENIDA
VOCÊ TÃO LINDA, FOI CENÁRIO DE AMOR (Lá lá lá lá lauê) FIZ DA ORQUESTRA DA FOLIA
O MANEQUIM DAS FANTASIAS
QUE JOÃO NOUTRO TEMPO RASGOU
PEGA NA SAIA RENDADA! PRA VER O QUE EU VI
NO ESPELHO DA RAÇA ENCARNADA… XICA E ZUMBI! E DESCOBRIR NOVOS BRASIS NA IDENTIDADE
CANTA SALGUEIRO, Ô, SALVE A MOCIDADE!
LEMBRO QUE O IMPERADOR
ME LEVOU PRA SER REI EM SUA ASSÍRIA
AMANHECEU E NÓS DOIS
FOMOS UMA SÓ VOZ NO ALTAR DA BAHIA
BRILHEI… NO SEU PALCO ILUMINADO
DANCEI… SABIÁ CANTOU MEU APOGEU
NUMA DERRADEIRA SERENATA
SONHEI COM DALVA E FUI MORAR COM DEUS
SEU SAMBA NASCENDO NO MORRO
ECOA DO POVO E RESSOA NO CÉU
DESPERTO EM SEUS BRAÇOS DE NOVO
NO MAIS BELO TRAÇO DA FLOR NO PAPEL
SE A SAUDADE É CERTEZA
UM DIA A TRISTEZA SERÁ CICATRIZ
ETERNA SEJA! AMADA IMPERATRIZ!
VEM ME ENCANTAR!
VOLTA PRO SEU LUGAR!
SEU MANTO É MEU BEM QUERER
E LÁ DO ALTO O PAI MAIOR MANDOU DIZER
QUEM VIVEU PRA TE AMAR, SEGUIRÁ COM VOCÊ
A perda do ator Paulo Gustavo pela Covid-19 ainda está recente em todos os corações daqueles que amam a arte, que amam o humor. A justa homenagem da São Clemente ao ator vem enfatizar a semelhança entre o artista e uma das principais características da escola, a irreverência. A escola buscará celebrar a vida e obra de Paulo, não esquecendo de mostrar suas amizades sinceras, seu relacionamento com Thales e os filhos, mas principalmente, a agremiação da Zona Sul espera destacar a relação entre Paulo e sua mãe Dona Déa, que abençoou a escolha do enredo, relação enfatizada na própria carreira do ator e em seus personagens.
O enredo ”Minha vida é uma peça” faz alusão a um dos maiores sucessos do ator “Minha mãe é uma peça”, do teatro para os cinemas, que faz de Dona Hermínia, inspirada em Dona Déa, a maior mãe da dramaturgia dos novos tempos. Dona Déa é citada, inclusive, na sinopse do enredo, como um fundamental apoio modelo feminino que molda um libertário espírito para semear a caridade e aceitar a diversidade, que afinal de contas também virá como uma pauta importante nesta homenagem da São Clemente. Daí também a inclusão do companheiro de Paulo Gustavo, Thales e seus filhos Romeu e Gael, citados na letra do samba inclusive.
A São Clemente será a quarta escola a desfilar no domingo de carnaval em 2022, em sua décima primeira participação seguida no desfile do Grupo Especial, desde que subiu em 2010, sonhando em dessa vez conseguir estar pelo menos entre as seis primeiras colocadas, repetindo sua melhor colocação alcançada em 1990, e voltar no sábado das campeãs.
O samba foi assinado pelos compositores Arlindinho Neto, Braguinha, Caio Tinguinha, Cláudio Filé, Colaço, Danilo, Gustavinho, James Bernardes, Kaike Vinícius e Igor Leal. Filé contou à reportagem do site CARNAVALESCO que o samba foi composto observando bastante da ótica da mãe de Paulo Gustavo.
“Paulo Gustavo é um artista popular de sucesso meteórico, um ícone do humor contemporâneo, cuja sua partida precoce enlutou o país. Nesta merecida homenagem em forma de carnaval, o samba da São Clemente canta os ‘multi’ papéis que Paulo exerceu ao longo da vida, seja como um grande ator dos palcos e na frente das câmeras, seja como um ser humano que sua família e seus amigos puderam conhecer mais de perto. Considerando seu principal personagem Dona Hermínia, seus trabalhos de sucesso, a franquia ‘Minha mãe é uma peça’ foram inspirados em sua relação com sua mãe. Optamos por elaborar a letra do ponto de vista da Dona Déa que, por tanto, assume a posição do eu lírico da construção poética. A obra também possui elementos que unem Paulo Gustavo e São Clemente como a irreverência, a alegria e a crítica social”, explicou o compositor.
O site CARNAVALESCO dando continuidade à série de reportagens “Samba Didático” pediu à Cláudio Filé também para explicar um pouco mais sobre os significados e as representações por trás dos versos e expressões presentes no samba da São Clemente para o carnaval de 2022:
“O CÉU ME SORRIU / A IRREVERÊNCIA ME CHAMOU, EU VOU/ IMORTAL A NOSSA RELAÇÃO”
“O nosso samba o tempo todo transita entre a alegria que o Paulo espalhou e a saudade que ele deixa. A gente consegue botar já nesses primeiros versos quando ‘o céu’ que metaforicamente representa o Paulo, sorri pra Dona Déa. Ao mesmo tempo que a irreverência, que é característica que distingue a São Clemente, convida, através dessa homenagem, celebrar a imortalidade de uma relação entre mãe e filho”.
“ATUAR COM OTELO E DERCI”
“Em um gesto de amor, a mãe abençoa a chegada do Paulo ao paraíso da comédia nacional. Um lugar de alegria, de sorriso. E, chega a lembrar a primeira vez que ele e a São Clemente cruzaram os destinos em 2013. Aí a gente fala ‘pra você vestir preto e amarelo e sorrir’. O céu é um palco cenário onde o Paulo ia lá contracenar com outros grandes nomes do humor como Otelo e Derci”.
“DONA HERMÍNIA MANDOU AVISAR QUE PODE/ BRINCAR NA AVENIDA E DIZER NO PÉ/ MULHER COM MULHER, TUDO BEM /HOMEM COM HOMEM, TAMBÉM/O NEGÓCIO É AMAR ALGUÉM
“O refrão do meio é da Dona Hermínia, o personagem principal do Paulo, como a gente fala, é a dona do palco, o centro das atenções. Então, é dela. É a mãe das mães, que chega mandando e construindo uma linguagem popular que era popular como a obra do Paulo. Esse refrão tem a característica em comum com a São Clemente e a ele. A alegria e convidar todo o público para cair no samba, a crítica social, um pilar de identidade da agremiação, aqui formulada como libertária e grito de luta, de visibilidade lgbtqia+. Uma temática ainda rara nos enredos do carnaval carioca. E o fazemos sem papas na língua, sem meias palavras, para que a mensagem seja direta, como é da personalidade da Dona Hermínia, seja mulher com mulher, seja homem com homem, vale qualquer manifestação de afeto, pois o negócio é amar alguém”.
“VAI QUE COLA / ESSE MEU DESPEDAÇADO CORAÇÃO”
“Obviamente, a referência a um dos principais trabalhos do Paulo na televisão, que é ‘O vai que cola’. Nesse verso, a gente também aproveita para dar vazão a saudade de fãs, amigos, familiares. Ainda é difícil lidar e os corações estão despedaçados. O sentimento acentuado na repetição da palavra ‘ coração’. Mas, acreditamos que sim, as boas lembranças, as boas ações, o contato com as amizades e a obra do Paulo podem colar os corações”.
“A NOSSA VIDA É UMA PEÇA / GRAÇAS A VOCÊ, MEU FILHO”
“A gente tomou a liberdade de unir o título da obra que é do Paulo, ‘minha mãe é uma peça’, e o título do enredo, ‘minha vida é uma peça’. Quando a gente fala que a nossa vida é uma peça, é para celebrar a imortal relação que já foi cantada na primeira estrofe, essa relação é o espetáculo homenagem que a São Clemente apresenta como a Dona Déia descreve em uma fala íntima ao filho que encerra a estrofe”.
“SÃO CLEMENTES AQUELES QUE AMAM /QUE CUIDAM, QUE SENTEM/ MOSTRANDO A CARA DA NOSSA GENTE”
“E o refrão principal, ‘São clementes’ que é um substantivo e se transforma em adjetivo para celebrar a bondade do Paulo, que ele demonstrou ao longo da vida dele. Seja levando alegria aos lares brasileiros, seja através dos atos de caridade. Paulo era daqueles que amam, que cuidam, que sentem. Assim como a nossa gente brasileira, assim como a nação clementiana, que vão mostrar a cara nesse desfile. E rir é resistir, seguir em frente, Paulo Gustavo pra sempre”.
No nosso último encontro por aqui, falamos da importância das escolas falarem de si mesmas e contarem suas histórias. Isso ajuda não só a produzir memória coletiva sobre a festa, mas também afirma a importância cultural das nossas agremiações. Dentro disso, parece também fundamental pensar o próprio carnaval dentro dos cortejos, a chamada metalinguagem. Ao longo da história, diversas formas de artes passaram a refletir sobre seu próprio papel. Enquanto uma linguagem artística bastante singular, nada mais fundamental para as escolas do que reprocessarem sobre quem ajudou a formatar os desfiles. Partindo disso, vale a olharmos com mais atenção os enredos de Imperatriz, Mangueira, Vila Isabel e Viradouro.
O retorno de Rosa Magalhães para Imperatriz já carrega por si só um capítulo importante da história do carnaval. Um reencontro da verde e branco com a sua história. Afinal, a artista foi campeã cinco vezes na agremiação, num dos mais longínquos casamentos da folia brasileira, que durou 18 carnavais. Mas, trata-se de um ano especial para a escola, que retorna ao grupo especial e acabou de perder seu líder máximo, Luizinho Pacheco Drummond.
Acostumada a tecer narrativas sobre a própria folia, a professora agora mergulhará na obra de Arlindo Rodrigues. Vale lembrar que um dos últimos grandes momentos artísticos de Rosa foi homenageando Fernando Pamplona, por isso, o enredo tem alguns desafios. Um deles é de reproduzir a sutileza que a carnavalesca imprimiu no desfile da São Clemente de 2015, mas adicionando alguma novidade, uma vez que a trajetória desses dois mestres se cruza, principalmente, no Salgueiro. Onde Arlindo foi um dos elaboradores da linguagem teatralizada atual dos desfiles das escolas, tendo participação ativa na Revolução Salgueirense.
Arlindo é uma figura discreta, pouca lembrada, mas de atuação fundamental. Pra mim, apaixonado por carnaval e fã confesso de Rosa e Arlindo, é um dos desfiles com mais expectativas do ano. Me dediquei a investigar desfiles do Arlindo no mestrado, por isso, já espero com ansiedade como a mestra vai revisitar a história da festa com seu olhar precioso. Mas não só pra mim, acredito ser esse um enredo bastante afetivo, de Rosa e Imperatriz olhando para si mesmas e buscando se reencontrar.
Por falar em afeto, não dá pra pensar na bela homenagem que Leandro Vieira prepara para a Estação Primeira. Após imprimir sua marca na escola, o artista, que teceu importantes narrativas políticas nos últimos anos, reverencia o próprio morro dos barracões de zinco. Obviamente, contar a história de três homens pretos tem forte subtexto social, mas a força dessa homenagem está justamente no fato da verde e rosa olhar pra sua própria história.
Ao homenagear três grandes artistas da cultura nacional, Leandro procura investigar não a pessoa jurídica por trás de Cartola, Delegado e Jamelão, mas a pessoa física e cotidiana, o que já fica explícito no título do enredo. A simplicidade que envolve a narrativa contada é o seu grande trunfo. Afinal, é bem verdade que cada um daria um enredo por vez.
Trata-se de três grandes forças, que juntam tem mais potência, mas a proposta os engrandece na simplicidade, no detalhe. O grande poeta das letras, a grande voz da Avenida e um dançarino formidável. São olhar para preceitos que formam o carnaval como linguagem. Homenagear quem sobe e desce as ladeiras. É bonito, singelo, uma simplicidade também necessária em tempos de enredos mais elaborados.
Seguindo a linha da simplicidade, nada melhor que falar do homem que vive como ninguém essa premissa. Martinho José Ferreira é um dos maiores intelectuais negros vivos e também personagem importante da folia carioca. Se na Imperatriz, temos um revolucionário da estética visual da festa, nas letras de Martinho estão um ponto de virada na maneira de compor sambas-enredos. A maioria dessas obras escritas para a Vila Isabel, que transforma o sambista em seu enredo na condução de Edson Pereira.
A azul e branco chega com um daqueles temas tão aguardados que fica até difícil não analisar a proposta sem o teor emocional que ela pede. Tanta emoção dá um peso a ser equilibrado na narrativa, sobretudo pela pluralidade das facetas do homenageado. Grande criador visual, Edson chegou a gerar dúvida no anúncio do tema, sobretudo, após duas narrativas com alguns equívocos nos últimos anos. Apesar disso, a proposta apresentada pela Vila Isabel parece consciente da grandeza em abordar as múltiplas facetas de Martinho: compositor, militante político de esquerda e da causa racial, embaixador de Brasil e Angola, escritor, pensador. Parece até coisa demais para um enredo só, mas que deve ser costurado da melhor maneira.
Outra narrativa a falar de carnaval diretamente é da Viradouro, mas diferente as outras aqui analisadas, não se trata de uma homenagem a alguma personalidade da agremiação. O curioso é que a proposta dos artistas Marcus Ferreira e Tarcísio Zanon se desenha mais como um enredo social ao abordar a história folia de 1919.
A relação explícita entre dois contextos históricos, o da primeira folia após a crise da crise espanhola e o atual pode desenhar um enredo interessante. Desde que se diferencie e se aprofunde nessa premissa que o sustenta, não se tornando um simples enredo metalinguístico que passeia por ranchos, blocos e cordões. Para um tema como esse, pede-se leveza, sedução e alegria ao faltar de um momento tão emocionante. A esperar que essa expectativa se confirme na forma que o enredo irá ganhar vida na Avenida.
Tudo posto, fato é que o carnaval que se desenha pós pandemia da Covid também é reencontro e expectativa. Que seja grandioso e bonito olharmos para o que nos forma e nos reencontrar com nós mesmos na Sapucaí.
Ao longo das próximas semanas, eu volto para falar de outros enredos.
A Imperatriz Leopoldinense lançou este mês de dezembro mais uma campanha social. Dessa vez, a agremiação dará isenção da taxa de inscrição para ala da comunidade, que custa R$ 100, em troca de 1 quilo de alimento não-perecível que será doado para instituições locais. A ação, que faz parte do projeto Imperatriz Social, vai até o dia 20 de dezembro e valerá para os grupos: Xica da Silva, Descobrimento, Oxalá, Imperatriz e Damas de Sombrinhas.
Foto: Divulgação
A inscrição pode ser feita diretamente na quadra de ensaios da escola, na Rua Professor Lacê, 235, Ramos, todas as segundas, terças e sextas das 19h30 às 21h, ou então pelo site da escola: imperatrizleopoldinense.com.br com a entrega do alimento no ensaio seguinte.
Os ensaios para o próximo carnaval ocorrem todas as sextas-feiras à partir das 20h na quadra da agremiação – componentes não pagam a entrada, e aos domingos na Rua Dona Isabel, em Bonsucesso, com concentração a partir das 16h e início às 17h.
A cerimônia de formatura da primeira turma do curso de bombeiro mirim contou com as presenças da madrinha do programa, a cantora Karinah, e do vice-presidente de esportes e desenvolvimento social da Estação Primeira, Carlinhos Dória. O curso foi ofertado gratuitamente para crianças, de 6 a 14 anos, que estivessem devidamente matriculadas, além de ter que estar frequentando às aulas. Fruto de uma parceria entre o programa social da Mangueira e o Projeto Futuro.
Foto: Eliseu Fiuza/Divulgação Mangueira
Ao longo dos dois meses de curso, os participantes aprenderam noções de prevenção contra incêndios, primeiros socorros, noções de cidadania, trabalho em equipe, entre outras propostas pedagógicas que visam a formação cidadã das crianças.
“O projeto que começou na Mangueira, agora será multiplicado na Rocinha, no Sampaio, no Tabajaras, entre outras comunidades, levando uma oportunidade para centenas de crianças, enriquecer suas experiências, e construir e/ou fortalecer a sua compreensão cidadã na sociedade”, destacou o Superintendente do Programa Social da Mangueira, o deputado estadual Chiquinho da Mangueira.
As inscrições para as novas turmas serão abertas no próximo dia 9 de dezembro, e poderão ser realizadas das 10h às 13h, na Vila Olímpica da Mangueira, na Rua Santos Melo, 73.
Um dos idealizadores da festa de lançamento dos sambas-enredo da Série Ouro para o carnaval de 2022, ao lado do carnavalesco André Rodrigues, e do diretor de barracão da Vila, Luís Martins, Wilsinho Alves avaliou o espetáculo na Cidade do Samba.
Foto: Magaiver Fernandes/Divulgação LIGA-RJ
“O evento foi melhor do que poderíamos esperar. É muito gratificante ver as pessoas felizes com o belíssimo trabalho que as escolas desenvolveram, apesar de todas as dificuldades de orçamento que enfrentamos. Depois de quase dois anos sem ver uma agremiação desfilar, todo mundo queria uma festa como essa”.
Wilsinho acredita que um dos principais objetivos do novo modelo de celebração para o lançamento dos sambas-enredo foi a democratização do acesso ao espetáculo.
“Conseguimos ao mesmo tempo dar dignidade aos componentes das escolas e abertura ao público, que aderiu e lotou a Cidade do Samba. A grande marca desse projeto é justamente o seu caráter democrático”, afirmou.
A ideia de promover o lançamento dos sambas-enredo em uma noite de mini desfiles veio não só da observação do que é feito em São Paulo, mas também de projetos que já aconteceram na própria Cidade do Samba: “Olhamos o que está sendo feito em São Paulo, mas também o que já era feito no Rio. Tínhamos na Cidade do Samba o espetáculo “Forças da Natureza”, que era um pequeno desfile, feito neste espaço tão legal”, explicou Wilsinho.
Atento à execução do espetáculo, Wilsinho reconhece que sempre tem algum detalhe a melhorar, como um pequeno atraso na programação. Mas, para o diretor de carnaval do Império Serrano, o saldo é muito positivo: “O retorno que eu tenho recebido até o momento é o melhor possível, da imprensa, das equipes das escolas, do público, todos se mostram muito satisfeitos. A sensação é de dever cumprido”, enfatizou.
Depois de amargar um sétimo lugar em um aguardado enredo indígena desenvolvido por Renato e Márcia Lage em 2020, a dupla e a nação portelense terão que esperar dois anos para tentar dar a resposta para o mundo do carnaval. E o tema escolhido, segue cheio de energia, de misticismo, o Baobá, a árvore da vida, de tronco forte será como a velha jaqueira da Portela, “amiga e companheira”, inspiração para um título de forma isolada que já não vem há muitos anos.
Foto: Leandro Ribeiro/Divulgação TV Globo
“Igi Osé Baobá” trará a árvore sagrada, testemunha do tempo, pilar que une o céu e a terra, elo entre os vivos e os mortos, como é definida pela própria sinopse do enredo. E no final, citar os fundadores da Portela, como seus antepassados. A velha guarda como os guardiões de suas memórias e falar do próprio samba que respira como se fosse um velho Baobá.
A Portela será a segunda escola a desfilar na segunda-feira de Carnaval. O samba que será entoado por Gilsinho é de autoria de Wanderley Monteiro, Vinicius Ferreira, Rafael Gigante, Bira, Edmar Jr, Paulo Borges e André do Posto 7. O compositor Wanderley Monteiro explicou de onde partiu a ideia de estabelecer uma relação entre o Baobá, árvore que é tema principal do enredo, com a Jaqueira da Portela.
“O enredo da Portela é o Baobá, uma árvore da vida africana, que tem uma representatividade muito grande, uma importância muito grande para aquele povo. E, porque não? Para todo o mundo. O que nós pensamos e decidimos foi fazer sempre uma alusão do Baobá com a própria jaqueira da Portela, com a própria Portela, da força, da importância do povo africano com o portelense e com a comunidade portelense. A gente fala da jaqueira sem citar a palavra jaqueira, quando a gente fala da primeira semente, sempre com uma alusão à África, Baobá com Portela. Começamos desde o plantio do Baobá até os benefícios, todos os benefícios que o Baobá nos entrega”, esclarece Wanderley.
O site CARNAVALESCO dando continuidade à série de reportagens “Samba Didático” pediu ao compositor Wanderley Monteiro para explicar um pouco mais sobre os significados e as representações por trás dos versos e expressões presentes no samba da Portela para o carnaval de 2022:
“PREPARA O TERREIRO, SEPARA A MUCUA / APAOKÁ BAIXOU NO XIRÊ”
“Preparar o terreiro seria até para a plantação do Baobá. A ‘Mucua’ é o fruto do Baobá, fruta do Baobá. “Apaoká” é o orixá, a entidade protetora da jaqueira, olha a jaqueira aí. ’ Xirê’ é festa”.
“EM NOSSO CELEIRO A GENTE CULTUA / DO MESMO PRECEITO E SABER”
“Em nosso celeiro é aqui na nossa Portela, no nosso terreiro, na nossa jaqueira, em nosso espaço, a gente cultua os mesmos costumes da África, em preparar o terreiro, em preparar uma festa. Mais uma alusão à Portela”.
“RAIZ IMPONENTE DA “PRIMEIRA SEMENTE” / NÓS TEMOS MUITO EM COMUM / O ELO SAGRADO DE AYÊ E ORUN / CASA PRA SE RESPEITAR: MEU BAOBÁ! ”
“Raiz imponente da primeira semente, a gente volta a fazer uma alusão à jaqueira, com o samba do Noca e Toninho Nascimento, ‘Paulo plantou a primeira semente e a jaqueira humildemente’. Um samba que o Fundo de Quintal gravou. Nós temos muito em comum, a jaqueira com o Baobá. O elo de ‘Ayê’ e ‘Orum’, o elo sagrado entre a terra e o céu. Casa para se respeitar, meu Baobá, ou seja, a Portela é uma casa para se respeitar igual o Baobá”.
“OBATALÁ COLOFÉ /TEM BATUCADA NO ARÊ /PRA MINHA GENTE DE FÉ AYERAYE / NESSA MIRONGA TEM MÃO DE OFÁ /PÕE ALUÁ NO COITÉ E DANDÁ”
“Obatalá é do orixá da paz, da criação do mundo. ‘Colofé’ é a benção, ‘a benção meu orixá da criação do mundo’. Tem batucada no ‘arê’, nas ruas , nas encruzilhadas. Nessa ‘mironga’, nesse mistério tem mão de ‘Ofá’, pessoas incumbidas de recolher as folhas para os rituais. “Aluá” é aquela bebida feita com farinha de milho ou de arroz, servida nos terreiros para quem está ali participando. ‘Coité’ é aquela cuia que se faz da casca de coco, recipiente onde se serve as bebidas aos orixás e participantes dos cultos, aquela metade da casca de coco. ‘Dandá’ é um tipo de raiz utilizada nos cultos aos orixás”.
“SALUBA, MAMÃE! FIZ DO MEU SAMBA CURIMBA / MATA A MINHA SEDE DE AXÉ / FAZ DO MEU IGI OSÉ, MORINGA”
“Saluba mamãe é uma saudação ao orixá Nanã, o orixá mais antigo. Faz do meu ‘Igi Osé, Moringa’, do próprio caule do Baobá, fazer um recipiente. O Baobá reserva muita água por dentro. Na falta de água, eles tiram do Baobá. “Curimba” é relativo aos cânticos utilizados na umbanda, os cânticos de proteção, faz do meu samba uma reza”.
“QUEM TENTA ACORRENTAR UM SENTIMENTO / “ESQUECE” QUE SER LIVRE É FUNDAMENTO”
“Esse trecho está falando dos transportes dos negros acorrentados nos navios que queriam a liberdade”.
“MATIZ SUBURBANO, HERANÇA DE PRETO / CORAGEM NO MEDO! / MEU POVO É RESISTÊNCIA / FEITO UM “NÓ NA MADEIRA” DO CAJADO DE OXALÁ / FORÇA AFRICANA VEM NOS ORGULHAR”
“Está parte é a religião, é o costume, matiz é o costume, a religião, é o que se cultua na África. A herança da coragem, porque é sempre um povo sofrido, embora na África também tem alegria, e nos retratam os isso na melodia, mas é também um povo muito sofrido que está sempre lutando, tem sempre uma resistência, uma resistência como a madeira, a força africana que nos orgulha”.
“AZUL E “BANTO”, AGUERÊ E ALUJÁ / PRA POEIRA LEVANTAR, DE CRIOULA É MEU TAMBOR / ILUAYÊ NA GINGA DO MEU LUGAR / PORTELA É BAOBÁ NO GONGÁ DO MEU AMOR”
“Banto é um indivíduo pertencente aos Bantos, grupos etnolinguísticos africanos. Esses indivíduos se juntam ao azul da Portela. A Portela com esses indivíduos. “guerê” é o toque atribuído a ‘Odé’, o caçador, o Oxóssi, protetor da Portela. “Alujá” é o toque atribuído à Xangô. ‘Iluayê’, terra distante, mas também fazendo alusão ao samba da Portela. ‘Iluayê, Iluayê Odara’, o último enredo africano que a Portela fez”.
A Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) bateu o martelo e decidiu que o público que quiser assistir os desfiles na Marquês de Sapucaí em fevereiro e os desfilantes de todas escolas de samba vão ter que apresentar o comprovante de vacinação completa contra a Covid-19.
Jorge Perlingeiro garante que a Liesa está focada em todo o planejamento para o Carnaval de 2022. Foto: Henrique Matos
“É um evento fechado e particular. Todos que entrarem na Sapucaí vão estar vacinados. Isso vale, inclusive, para os componentes. Ao pegarem as fantasias, eles terão que mostrar seu atestado de vacinação, se não, não vão desfilar. Estamos pedindo que essa medida também seja tomada nas quadras em todos os ensaios até o carnaval. Com isso, a gente quer dar tranquilidade aos que vão participar do espetáculo, assim como colaborar com aqueles que lá estarão para garantir a sua segurança. Cancelar o Carnaval não é viável”“, disse Perlingeiro ao jornal O Globo.
Segundo a publicação, a proposta da Liesa é utilizar o mesmo sistema feito no Grande Prêmio de Fórmula 1 de São Paulo, realizado em novembro, e que levou mais de 100 mil pessoas ao autódromo e todos tiveram que apresentar o passaporte vacinal. A startup franco-brasileira Mooh!Tech utiliza a Tecnologia chamada de “Chronus i-Passport”.
Como foi feita a comprovação da vacinação na F1 em São Paulo
-Documento com foto.
-Comprovante de vacina completo (duas doses ou dose única) apresentado obrigatoriamente através do aplicativo Chronus i-Passport, o passaporte sanitário oficial do evento.
-Para quem não completou o esquema de vacinas – crianças entre 5 e 12 anos – ou aqueles que tomaram apenas uma dose será obrigatória a apresentação do teste negativo para Covid-19 do tipo Antígeno (realizado até 24 horas antes de cada acesso ao autódromo) ou RT-PCR (realizado até 48 horas antes de cada acesso ao autódromo).
-Não será permitida a entrada de maiores de 12 anos que não tenham recebido, pelo menos, a primeira dose da vacina contra a Covid-19.
-O uso de máscara é obrigatório durante todo o evento, exceto, naturalmente, enquanto estiver comendo e bebendo.
Agora é Lei! O Grêmio Recreativo Escola de Samba Portela acaba de se tornar Patrimônio Imaterial e Cultural do estado Rio de Janeiro. Isso é o que determina a lei n° 9505, de autoria do deputado Dionísio Lins (Progressista), sancionada pelo governador Cláudio Castro e publicada em Diário Oficial na sexta-feira.
De acordo com o autor do projeto, deputado Dionísio Lins, a finalidade é resguardar a história de uma das mais tradicionais escolas de samba em atividade no Rio de Janeiro e maior campeã do Carnaval Carioca.
“A Portela é carinhosamente chamada de Majestade do Samba e pode ser considerada um marco na história do samba carioca. Nada mais justo”, afirma Dionísio.
O vice-presidente da Portela, Fábio Pavão, comemora mais esse reconhecimento à escola e enaltece a importância dos fundadores da Portela.
“É um reconhecimento da façanha dos nossos fundadores, que há quase 100 anos chegaram num subúrbio ainda em formação e se uniram através da cultura e da arte e criaram uma instituição cultural reconhecida internacionalmente. Essa titulação, em primeiro lugar, é o reconhecimento ao trabalho dessas pessoas, o que temos hoje é o legado deles. A história vitoriosa da Portela, dentro das pistas de desfiles ou nas rodas de samba e, toda a relevância cultural da agremiação pro Rio de Janeiro é muito bonita e tem que ser conhecida por todos”, enfatiza.
A Imperatriz pensa grande para o Carnaval de 2022. A escola de Ramos entendeu que tem na comunidade um grande trunfo para o desfile do ano que vem e começou no último domingo a fazer ensaio de rua e só vai parar em fevereiro. O site CARNAVALESCO acompanhou o primeiro. Para essa temporada, a decisão editorial é fazer análises apenas a partir de janeiro. Optamos por neste momento realizar entrevistas e não afetar o início do processo de cada agremiação.
“O público atendeu o nosso cheio. Vem em peso. Energia ótima. O trabalho bem feito o céu é o limite. Nossa comunidade é muito forte. Só dependemos da gente. Temos um grande amor que é a Rosa Magalhães, um casamento perfeito. A nossa comunidade sente isso e está do nosso lado. A rua é o momento onde o componente brinca o carnaval e canta com mais vontade. É a forma que temos de identificarmos erros para acertarmos tudo. A gente tem uma análise real do trabalho”, disse João Drumond, diretor executivo da Imperatriz.
Arthur Franco e Bruno Ribas são os responsáveis pela condução do carro de som leopoldinense. “Se fosse Sapucaí a Imperatriz já estava deixando um monte de cabeça quente (nas outras escolas). A verdade é essa. O ensaio de rua é totalmente diferente. Você sente mais a comunidade cantando, ele passa dançando e dá motivação”, afirmou Bruno Ribas.
“Estamos buscando um andamento melhor para desenvolver o samba na Avenida. Estamos no caminho certo. A cada ensaio melhorando. Estamos em um clima muito bacana. Tenho certeza que a minha parceria vai dar muito certo. Hoje, a gente viu no rosto das pessoas a curtição do ensaio. Foi muito válido”, completou Arthur Franco.
Diretor de carnaval da Imperatriz, Junior Schall, avaliou o ensaio. “Temos uma grande obra que pertence aos componentes da escola e a bateria do mestre Lolo. Alma, paixão, coragem é complicado aferir. Hoje, a gente viu a pedra fundamental. Teremos mais nove vezes para acrescentar e ajustar tudo, visando o alto quilate da disputa. Nossa escola está muito engajada. A direção faz um abraço muito grande com a comunidade. A Imperatriz na rua cumpre outra etapa de trabalho e que é necessária para escola que postula campeonato e grandes posições”.
Coordenador de ala, Paulo Roberto, aprovou o ensaio na rua. “Gostei muito. Todo mundo se abraçando. Confio que a Imperatriz vai vir para cabeça e aposto tranquilamente na escola”.
A baiana Glória citou a emoção como ponto alto do ensaio. “Foi emocionante. Vou para meu quarto ano como baiana. Não vejo desfilando em outra ala”.
Laryssa Victória e Marcos Ferreira, segundo casal da escola, ressaltaram o acolhimento que receberam na verde e brnaco. “Foi muito abraçado pela escola, como nunca fui na minha vida toda”, disse o mestre-sala. “Estou na minha escola de coração. Muito ansiosa. Todo mundo tem expectativa muito grande para o desfile da Imperatriz em 2022”, finalizou a porta-bandeira.