A bateria Caldeirão da Zona Oeste (CZO) de Mestre Léo Capoeira fez um bom desfile. As caixas e repiques foram sustentados por marcadores precisos, além da notável boa afinação de surdos. O acompanhamento das peças leves foi realizado com qualidade sonora. Uma ala de tamborins com bom volume e desenho rítmico pautado nas nuances da obra casou bem com um naipe de chocalhos ressonante, propagando uma consistente sonoridade. Os agogôs complementaram o ritmo com toque baseado na melodia do samba.
O conjunto de paradinhas apresentado pela bateria de Unidos de Bangu foi musicalmente irretocável. Uma concepção musical primorosa ficou destacada por uma bossa na segunda do samba que intercalava breques identitários da bateria da Mocidade Independente, além de uma retomada com a tradicional subida “cascavel” de chocalhos, batida de caixas da Não Existe Mais Quente e surdos tocando de forma invertida, para remeter a afinação da Mocidade. A produção sonora envolvendo a paradinha do refrão do meio também merece menção positiva. Foi possível perceber um toque de caixas remetendo a marchinhas, homenageando a bandinha do Bangu que historicamente toca em dias de jogos no estádio Moça Bonita.
A execução das bossas perante os julgadores ocorreu sem nenhum transtorno musical. Somente no último módulo, devido a problemas de evolução da escola, a apresentação acabou sendo rápida, mesmo assim dando tempo suficiente para fazer duas paradinhas próximo ao campo de visão dos julgadores.
O primeiro dia de desfiles no Rio de Janeiro ficou marcada pelo triste acidente envolvendo um carro alegórico e Raquel Antunes da Silva, de 11 anos. A menina teve as duas pernas esmagadas entre um poste e a alegoria da Escola Em Cima da Hora, a poucos metros da saída da Marquês de Sapucaí. De imediato, a jovem foi socorrida no posto médico do Sambódromo, mas devido a gravidade, foi transferida para o hospital Souza Aguiar.
Foto: Reprodução /TV Globo
De acordo com o portal “G1.com”, os médicos disseram que a vítima perdeu uma perna e a outra está em estado crítico. O quadro de Raquel é grave, porém estável. Além disso, ela também teve uma parada cardíaca e traumatismo no tórax.
O Acidente
Testemunhas que estavam no local contaram para o portal “G1.com” a mãe e a menina estavam numa praça no Estacio, perto da Sapucai, lanchando. A jovem se afastou para olhar os carros alegóricos que estavam passando. De repente, a mãe foi avisada de que a filha tinha sido atropelada por uma alegoria e foi prensada contra um poste.
O Acadêmicos do Sossego encerrou a primeira noite de desfiles do Grupo Especial já com o dia claro trazendo alegorias e fantasias em sua maioria com bom acabamento e muito bom gosto no uso das cores. A evolução da escola foi bastante fluida, sem correrias e sem muitas interrupções, com 48 minutos de desfile a bateria de mestre Laion já havia realizado sua apresentação no último módulo o que facilitou com que o Sossego terminasse sua apresentação brincando carnaval nos últimos metros de pista. Como ponto negativo, uma das alas, “Eu não Largo da Batalha”, trouxe componentes com roupa de baixo que não eram fantasias. O canto da agremiação também foi tímido, talvez justificado pelo cansaço gerado pelo atraso nos desfiles. Com o enredo “Visões Xamânicas”, o Sossego encerrou o primeiro dia de desfile fechando a apresentação com 53 minutos. * VEJA FOTOS DO DESFILE DO SOSSEGO
O coreógrafo Jardel Augusto Lemos apresentou na Avenida “o rito da viagem transcendental” que representava o ritual de transcendência do Xamã ao mundo espiritual. É a partir deste ritual que o herói desta fábula encontra os Xapiris (espíritos ancestrais) e estes lhes concedem as visões. A coreografia trazia o encontro do herói da fábula com os Xapiris representados na fantasia em tons de roxo com uma caracterização que remetia a pássaros. Os componentes interagiam com um tripé representando Urihi, o lugar onde vivemos, a Terra. O ponto negativo foi justamente o elemento alegórico que ao contrário de boa parte do desfile do Sossego, deixava um pouco a desejar na questão plástica e acabamento. No segundo módulo de julgamento, uma folha da mão que surgia no tripé se descolou e parou próximo de onde o primeiro casal iniciava a sua apresentação.
O primeiro casal, Fabrício Pires e Giovanna Justo, representou “a dança dos Xapiris”,ancestrais que auxiliam os xamãs em suas jornadas espirituais. A experiente dupla optou por uma dança mais tradicional sem investir muito em fechamentos de passos mais coreografados. A leveza e o entrosamento do casal, o toque, foram o destaque. No segundo módulo, uma pequena folha do tripé da comissão de frente caiu quando o casal fazia sua apresentação e Fabrício teve que desviar, mas sem comprometer sua dança. Sobre a fantasia, o casal também trouxe os tons escuros do início da agremiação.
A escola desfilou bem depois do que estava programado devido aos atrasos com a questão do acidente que aconteceu perto da dispersão após o desfile da Em Cima da Hora. Talvez isso possa ser levado em conta, mas o canto do samba foi tímido no geral, principalmente em relação às primeiras alas. Depois do segundo carro houve uma melhora com destaque para a ala “Cantos de esperança”, e “Promoverá visões da nova terra”.
O Acadêmicos do Sossego trouxe para a Sapucaí o enredo “Visões Xamânicas” apresentando uma saga épica imaginada entre o presente e o futuro evocando um alerta de antigas profecias xamânicas de que a humanidade se encontra no colapso do planeta provocado por um sistema de ambição e consumo. A fábula produzida pelo carnavalesco André Rodrigues chegou de forma clara a quem assistiu ao desfile, misturando realidade e ficção e deixando uma mensagem de preservação da natureza. Dividido em quatro setores representados em visões, a escola trouxe no início “primeira visão: o que nós fizemos de Urihi?”, depois no segundo setor “segunda visão: a pajelança universal”, em seguida “terceira visão: descerá de uma estrela um índio guerreiro”, e por fim, no quarto setor “quarta visão: um novo dia virá”.
Evolução
O Sossego fez uma evolução bastante fluida, linear, sem grandes interrupções, sem a formação de buracos e sem a percepção de alas emboladas. Com uma escola um pouco menor em termos de contingente e tamanho de alegorias, com 48 minutos a escola já havia terminado a apresentação da bateria no Setor 10, tendo tempo ainda de brindar o público que ficou até o final com uma evolução leve e muito alegre. Destaque para a ala “Cantos de esperança” que pulava bastante e mostrava integrantes sambando bastante.
Samba-enredo
O samba-enredo funcionou muito bem na voz melódica de Nino do Milênio, e com uma andamento mais cadenciado produzido pela bateria Swing da Batalha de mestre Laion. Ainda que não tão cantado pela comunidade, os trechos de maior destaque eram o refrão principal, com maior evidência para o verso “Eu não Largo da Batalha ….Sossego”, o nome da escola era gritado em alguns momentos. O refrão do meio também se destacou em relação aos outros trechos.
Fantasias
O carnavalesco André Rodrigues talvez tenha sido premiado com o dia raiando que evidenciou a boa escolha na utilização das cores. As primeiras alas que tocavam mais em uma representação da destruição do planeta utilizavam cores mais escuras como a primeira ala “Visões de batalhas”, em tons de roxo, preto e laranja, e a segunda ala “pedaços do céu”, com o preto e o rosa, desta vez. Os tons continuavam escuros até o início do segundo setor com a bateria de mestre Laion ““Tambores ressoam pelo vento” trazendo a África, berço da humanidade, o ponto de partida da experiência humana. E seguia com a ala “os povos gelados”, em um branco e azul claro, mais destacado pelo sol. O grande ponto negativo mesmo foi a ala “”Eu não Largo da Batalha” que trouxe componentes em roupas de baixo aparentes não carnavalizadas.
Alegorias
Os elementos alegóricos do Sossego seguiram a lógica das fantasias e apresentaram uma sequência de cores bastante condizente com a temática do desfile. O carro Abre-Alas “Devoração do mundo” mostrou a primeira visão, apresentada pelos Xapiris ao pajé, que é a Terra em processo de destruição. Já a segunda alegoria “ Conexões espirituais – visões que se entrelaçam” representou os Xapiris estabelecendo uma conexão espiritual com os xamãs de diferentes origens e culturas, ali havia uma mudança para tons mais claros. Em seguida veio o tripé “Um índio entre as estrelas” que trouxe alegoricamente a chegada deste parente primordial, comum a todos os povos, revelando a tarefa recomendada por Omana para que o céu não volte a cair. Por fim, o terceiro carro alegórico “um novo mundo vai renascer” finalizou a parte alegórica com a terra renovada, o renascer de algo que nunca morreu, pois podemos preservar.
Outros destaques
Um dos compositores, Marcelo Adnet, estava em êxtase no final do desfile cantando o samba e pulando junto com o presidente Hugo Júnior. A ala polinizadores traziam um véu no esplendor que dava um bonito efeito de movimento. Na bateria de mestre Laion, em um momento, os ritmistas abriam um espaço na pista e os indígenas que vinham logo depois representando guardiões, simulavam uma batalha com escudo e lança. A Velha-Guarda “Um novo dia virá” apresentou a mensagem profética de que ouvir e respeitar os mais velhos é condição primordial para salvar a vida na Terra. As baianas “A Jurema tem a cura”representavam as folhas da Jurema, árvore sagrada, é que oferecem a cura para as enfermidades que hoje afligem a humanidade.
O comediante Marcelo Adnet, ao lado de outros compositores, escreveu o samba dá Sossego sobre o enredo Visões Xamânicas. Com passagem na São Clemente, escola onde auxiliou no processo de criação e desenvolvimento do enredo, o ator participou da produção do samba que a escola apresentou na madrugada desta quinta-feira. A agremiação foi a sexta agremiação a entrar na avenida e encerrar os desfiles do primeiro dia.
Após dois anos afastados do solo sagrado devido à pandemia, os sambistas ganharam a oportunidade de voltar à Marquês de Sapucaí. “Minha primeira impressão foi de muita emoção, ansiedade e suor frio. As emoções estavam completamente misturadas com a aproximação desse dia. Estava em casa com a minha família e saí em direção ao Sambódromo porque eu amo desfilar. É um lugar que eu me sinto à vontade e muito feliz por encontrar com as pessoas”, declara Adnet.
Receber a notícia da aprovação do samba e ver a comunidade cantar pode mexer com os sentimentos. “Quando estamos na plateia, a emoção vem. É impossível conter as lágrimas de alegria com o sucesso de um trabalho e a felicidade da escola”, opina Adnet sobre a sensação de retornar aos desfiles e cantar os sambas.
“Em 2020 realizei o meu sonho de escrever o meu primeiro samba enredo com muita dedicação, para estar nessa festa em harmonia, tudo isso por amor ao carnaval e ao samba”, comenta Adnet. O interesse pelos desfiles surgiu em casa com a família e o ator se orgulha do apoio que recebeu e dos caminhos que trilhou. “Eu sempre gostava de batucar quando criança, aprender novos instrumentos, esse meu interesse me trouxe até aqui”, finaliza Adnet que tem passagens na Gaviões da Fiel, Rosas de Ouro e outras escolas em São Paulo.
A Unidos de Bangu homenageou homenageou o contraventor Castor de Andrade no enredo “Deu Castor na cabeça”, assinado pelo carnavalesco Marcus Paulo, e foi a sexta escola a cruzar a passarela do samba na primeira noite de desfiles da Série Ouro. No geral, a apresentação foi bastante irregular, a escola desfilou já com o nascer do dia, o que prejudicou a harmonia, visto que muitos componentes apresentavam bastante cansaço. A vermelho e branco da Zona Oeste terminou sua apresentação com 58 minutos, o que fará com que a escola seja penalizada em três décimos no julgamento oficial. * VEJA AQUI FOTOS DO DESFILE
Fotos de Allan Duffes e Nelson Malfacini/Site CARNVALESCO
Apesar da justa homenagem ao contraventor Castor de Andrade emocionar em alguns momentos, principalmente, no primeiro mestre-sala, que através de uma maquiagem caprichada, estava representando o próprio bicheiro, a escola se apresentou com lentidão excessiva por quase a avenida, muito por conta da evolução arrastada da comissão de frente, no final, restou a escola correr, o que causou buracos em frente a última cabine de julgadores.
Comissão de Frente
A comissão de frente assinada pelo coreógrafo Vinicius Rodrigues tinha o nome “Botando a banca! Deu samba no jogo do bicho!”, os componentes representavam alguns animais do sorteio do jogo de bicho e com o uso da licença poética, o animal castor, que não faz parte do jogo do bicho, mas, que é o símbolo do homenageado, também foi representado.
A apresentação da comissão focou no início da história de vida de Castor de Andrade, tudo sob a ótica do mascote que o representava, o Castor. Eram 10 homens e cinco mulheres, todos vestidos de terno branco, com listras vermelhas, a roupa era de fácil leitura e a leveza da roupa contribuiu para o bailado, vale destacar o bonito trabalho de maquiagem nos componentes.. Muito divertida, a comissão arrancou aplausos do público, porém, a comissão se apresentou de forma muito lenta pela avenida, o que atrapalhou a evolução da escola.
O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Anderson Abreu e Eliza Xavier, veio no setor de abertura da escola, logo atrás da comissão de frente, ela representou o jogo de bicho com numerações entre unidades e dezenas na indumentária. Já o mestre-sala era o próprio Castor de Andrade, com um trabalho de maquiagem incrível, Anderson emocionou o público. No primeiro módulo ele vinha à frente da comissão, apresentando a escola, até que em certo momento ele surgiu junto com a porta-bandeira.
A roupa, apesar de não ser luxuosa como se espera de um primeiro casal, era de fácil leitura e parecia ser leve, mesmo assim, foi notado um certo nervosismo de Eliza no primeiro módulo de julgamento, ela segurou a bandeira em alguns momentos para que ela não enrolasse, nos seguintes ela já estava mais solta e arriscou passos mais elaborados.
A harmonia da escola foi inconstante durante o desfile, as primeiras alas até cantavam com força e estavam animados, entretanto, o canto não era uniforme, com destaque apenas nos refrões. A agremiação ficou muito tempo parada nos primeiros minutos de desfile, o que visivelmente foi fundamental para o desempenho do canto dos componentes. A ala de baianas desfilou nos primeiros setores da escola, com uma roupa predominantemente rosa, a maioria das senhoras tentavam evoluir e cantavam o samba, porém, algumas apresentavam cansaço. Na última cabine de julgadores, o canto quase não conseguiu ser observado, a escola correu muito e os integrantes das alas estavam assustados com o que estava acontecendo.
O carnavalesco Marcus Paulo optou por uma narrativa de fácil compreensão, o primeiro setor da escola mostrou o bairro de Bangu, representado no primeiro carro, passou pelas ações de Castor de Andrade e tudo que ele fez pela comunidade até se tornar lenda para os moradores, o segundo setor mostrou a paixão de Castor pelo Bangu Atlético Clube, o último setor foi uma homenagem a Mocidade Independente de Padre Miguel, grande paixão de Castor, o carro que fechou o desfile tinha as cores predominantes verdes, além do símbolo maior da escola, a estrela.
Evolução
Ponto fraco da escola, a evolução se mostrou inconstante durante toda a avenida, o andamento da Bangu foi completamente atrapalhado pelo início da escola, a comissão demorava muito no deslocamento entre os setores e tinha uma apresentação longa em frente aos jurados. A evolução começou de forma lenta, os componentes mal saíam do lugar, as alas também não evoluíram com entusiasmo, talvez pelo atraso no início do desfile, muitos pareciam estar cansados, como a ala de baianas. Por conta da lentidão, a bateria não entrou no recuo e o final da escola se mostrou completamente corrido, um buraco enorme se estendeu do setor oito até o 10, o último carro ficou e a escola seguiu rumo a Praça da Apoteose. O resultado foi o estouro de três minutos, o que fará com que a escola seja penalizada em três décimos no julgamento oficial.
Samba-Enredo
O carro de som conduziu com empolgação e segurança a obra ao longo do desfile, O intérprete Thiago Brito, juntamente com as vozes de apoio e os instrumentos de corda mostraram entrosamento na avenida. O refrão foi sem dúvida a parte do samba-enredo da Unidos de Bangu cantada com mais intensidade. “O meu palpite é forte. O mundo já sabe, respeite meu nome: Castor de Andrade!” ganhava força a cada passada. O trecho “Vai dar Bangu na cabeça” também foi gritado pela maioria das alas.
Alegorias e Adereços
O conjunto alegórico da escola se mostrou irregular ao longo do desfile e com alguns problemas de acabamento, pede passagem trouxe algumas paixões de Castor de Andrade, o jogo do bicho e a Mocidade, o led da estrela principal passou apagado e o gerador estava à mostra. A primeira alegoria, intitulada “Palpite certo! Do aspecto rural para o industrial”, apresentou problemas de acabamento em alguns dos animais, a segunda alegoria, “Bangu Atlético Clube, suas suas história , sua glória”, trouxe uma belíssima escultura do homenageado, bem fiel às suas características. Já a última representou a paixão de Castor pela Mocidade Independente de Padre Miguel, no geral, as alegorias foram de fácil leitura.
Fantasias
O conjunto de fantasias da escola se apresentou de forma uniforme durante o desfile, apesar de simples, não foi observado erros graves de acabamento, os destaques ficaram por conta da alas de passistas, representando líderes de torcida, a fantasia era em tons de vermelho e possibilitou uma boa evolução por parte dos componentes. Outro destaque foi a segunda ala, representando a indústria têxtil, a ala tinha uma leitura muito clara.
Outros destaques
A bateria do mestre Léo Capoeira representou o Clube do Bangu, vestidos nas cores do time, os 232 ritmistas realizam uma bossa ao ritmo de uma bandinha, encantando o público. A Wenny Isa, irmã de da cantora Lexa, fez sua estreia à frente da bateria.
Rebaixada em 2020, a União da Ilha do Governador deixou claro a vontade de retornar ao Grupo Especial no ano que vem. Na madrugada desta quinta-feira, a escola impressionou com enormes e bem acabadas alegorias. Outro destaque positivo da apresentação da agremiação foi a Comissão de Frente, que se dividiu em várias partes e não cometeu erros. Ao fim do desfile, a Ilha pecou na evolução e teve que correr para fechar o desfile com 54 minutos. A bateria sequer fez toda apresentação no último módulo. * VEJA AQUI FOTOS
Fotos Allan Duffes e Nelson Malfacini/Site CARNAVALESCO
Coreografada por Priscilla Mota e Rodrigo Neri, a Comissão de Frente a União da Ilha trouxe 15 componentes, sendo duas mulheres e 13 homens. Nomeado como o Altar de Orações, o segmento levou também para a Avenida um elemento cênico que representou uma capela. A apresentação representou uma grande oração, trazendo a importância da fé e os milagres da prece através da história de Nossa Senhora Aparecida, também sincretizada no Candomblé por Oxum, e o escravo Zacarias.
A Comissão de frente trouxe a atriz Cacau Protásio como Nossa Senhora, que em determinado momento da apresentação, interagia com o homem que representava Zacarias. Ao se encontrarem, a Santa quebra as correntes do escravo. Na sequência, Nossa Senhora volta à capela e a imagem de Oxum aparece em cima do tripé. Um manto dourado então é jogado por cima do elemento cênico, causando grande impacto visual. Por fim, o escravo Zacarias retorna segurando a bandeira da União da Ilha, em total de pouco mais de dois minutos de apresentação.
Marlon Flores e Danielle Nascimento vestiam fantasia nas cores da escola, mas também com detalhes em dourado e várias imagens de Nossa Senhora Aparecida espalhadas pela roupa dos dois. Outros símbolos da fé na Santa também são presentes no figurino, como crucifixos, terços e fitas. A dupla representa a fé do escravo Zacarias, que propagou a palavra de Nossa Senhora Aparecida pelo país. Cinderela da Passarela, Wilma Nascimento, mãe de Danielle, apresentou o casal. Sem ventos, a apresentação do casal não teve erros nos módulos e os dois mostraram grande sincronia, leveza nos movimentos e elegância. A roupa de Danielle ainda tinha detalhes em cores azul neon, que funcionaram visualmente. Os dois também cantaram o samba durante todas as apresentações.
A escola teve bom canto, mas não perfeito. Algumas alas passaram com canto mais fraco, principalmente na segunda estrofe da letra. O canto também foi um pouco atrapalhado no fim do desfile por conta de pequenos problemas de evolução. A partir do 4° setor, a escola diminuiu levemente o canto, nas alas Pescadores de Milagres e Milagre das Velas, mas sem interferir no desempenho do samba da escola. As primeiras alas, em compensação, cantavam o samba a plenos pulmões. Contudo, todas as alas passaram brincando, pulando e dançando.
A primeira parte do desfile apresenta o início da história de Nossa Senhora Aparecida e do milagre do escravo Zacarias. O mesmo havia fugido do patrão, foi capturado e acorrentado. Quando foi levado de volta à fazenda, parou diante da imagem de Nossa Senhora Aparecida, e as correntes se quebraram, tornando-se o primeiro milagre da Santa. Toda a parte inicial do desfile traz em destaque a cor vermelha, que representa o sangue dos escravos derramado no Brasil.
Na sequência é trazido pelo carnavalesco, a propagação de fé em Nossa Senhora Aparecida, que foi promovida inicialmente por Zacarias e na sequência por Romeiros. O terceiro setor traz o sincretismo religioso da Santa no Candomblé, que é representada pela figura de Oxum e teve resistência inicial no país. No fechamento do desfile, a União da Ilha traz outros milagres associados à Nossa Senhora Aparecida, como o Cavaleiro Ateu e o Milagre das Velas. O enredo foi bem contado, sem problemas e com cronologia bem definida.
Evolução
A escola teve bom início de desfile, sem correria ou lentidão, com alas organizadas e coreografadas. Foi assim até o setor 8, quando a escola passou a acelerar o passo. No último módulo algumas alas e as duas últimas alegorias passaram muito rápido. A bateria dos mestres Keko e Marcelo, que tinha boas bossas com sino de igreja, passou rápido no último módulo e um dos jurados pareceu insatisfeito com a falta da apresentação completa no local.
Samba
O ponto alto do samba foi o refrão, bastante cantado não só pela escola, mas como pelo público. Ito Melodia teve grande apresentação do início ao fim, sem perder fôlego e impulsionando componentes. Com teor mais melódico, a letra toda, com exceção do refrão, não causou grande impacto e empolgação.
Fantasias
A fantasia das baianas, ‘Mãe Preta’, chamou atenção não só pela variedade de cores e beleza, mas também pela riqueza de detalhes ao misturar a imagem de Nossa Senhora com Oxum. A ala 6, ‘Propagadores da Fé’, também se destacou com um elemento de medalhas de Nossa Senhora Aparecida. A ala 13, ‘Encantadas’, trouxe representação de Oxum no tradicional amarelo e dourado, com cores vibrantes e o espelho do orixá na mão. Já no último setor, a ala 19, ‘Romaria Insulana’, faz alusão às procissões de grupos religiosos, mas nas cores da escola e exaltando a agremiação com um estandarte da Ilha. Todo conjunto de fantasias de Cahê Rodrigues esteve muito bonito e bem acabado.
Alegorias
A primeira alegoria, ‘O Milagre de Zacarias’, como o nome diz, trouxe a história do escravo com a Nossa Senhora Aparecida. O carro abordou na parte da frente a pesca no Rio Paraíba do Sul, onde foi encontrada a imagem da Santa, moldada em terracota. O Abre-Alas tinha as cores vermelha e dourada como predominantes, que tem na parte traseira um imponente palácio, que representa a conquista da liberdade e dignidade. Os destaques vieram com fantasias da realeza e exuberância africana, guerreiros da liberdade e da fé, pescadores e negros livres.
A segunda alegoria, ‘Sincretismo Religioso’, como o nome já diz, trouxe a representação de Nossa Senhora Aparecida nas religiões de matriz africana. O carro tinha uma grande escultura de Oxum, segurando seus tradicionais espelhos, com bastante dourado. No entanto, a parte dianteira da alegoria também exibiu um culto a Oxalá, Deus Supremo dos africanos. Os destaques principais estavam fantasiados como Oxalá, Oxum, Divindade da Mãe do Ouro, e movimentos de Oxum.
O último carro representou uma grande manifestação de devoção do povo com Nossa Senhora Aparecida. Descrita como ‘Festa no Santuário’, a alegoria teve novamente Zacarias, agora rodeado de fiéis em oração à Santa. As fantasias representavam o Príncipe da Paz, Arcanjo e devotos de Conceição. Na lateral também foi apresentado escadas, que simbolizavam um caminho para o céu, onde estaria Aparecida. Todos os carros da União da Ilha passaram acesos, chamaram atenção pelo tamanho, impacto visual muito belo e com acabamentos impecáveis.
Outros Destaques
Cacau Protásio como Nossa Senhora chamou atenção do público na Sapucaí. Os passistas mostraram samba no pé com fantasias leves representando Oxum. A rainha Juliana Souza interagiu com o público, sambou e mostrou o canto na ponta da língua. A ‘Baterilha’, que veio com roupas em bege representando o Candomblé, também deu show com coreografia ajoelhada e bossas com sino de igreja.
O sambista não poderia estar mais feliz, após dois anos de silêncio, o templo sagrado do carnaval carioca voltou a receber os Desfiles das Escolas de Samba da Série Ouro. A cada vez que a sirene anunciava o início dos desfiles era possível ver inúmeros torcedores arrepiados, muitos choraram de emoção e alguns revelaram que sentiram o friozinho na barriga assim que ouviram o samba exaltação da sua escola do coração aportar no setor um.
O site CARNAVALESCO conversou com alguns foliões sobre esse retorno, a maioria se mostrou agradecida por poder pisar novamente na Sapucaí após todo o período complicado devido a pandemia de Covid-19.
A mineira Flúvia Aguilar, de 43 anos, destacou o seu amor pelo carnaval e disse que apesar de não ser carioca, sua paixão começou desde pequena. Para ela, esse momento de retorno é muito importante para mostrar que o samba venceu e continua forte, ela ainda destacou as novas luzes do Sambódromo.
“Carnaval na minha começou quando eu tinha cinco anos de idade, lá em Belo Horizonte, vi pela televisão e me apaixonei, esse amor me fez morar no Rio de Janeiro, sou a mineira mais carioca desse lugar. Esses dois anos de pandemia foram muito difíceis para uma pessoa que ama o carnaval como eu, sou uma pessoa da Sapucaí, sou do samba, da escola de samba, estar aqui hoje é uma alegria muito grande, tô muito emocionada, já chorei, já gritei, já vibrei, eu me arrepio o tempo todo, a experiência nova com as luzes deu uma nova atmosfera para Sapucaí e tô muito feliz e agradecida. Passamos por tudo isso e o carnaval não perdeu sua força, o carnaval é forte”, disse Flúvia.
Acompanhando os desfiles de uma frisa, Sônia Vicente, de 57 anos, contou que já esteve várias vezes no Sambódromo, tanto para assistir, quanto para desfilar. Dessa vez, o gostinho é especial, após dois anos sem poder pisar na avenida, ela se mostrou feliz com o momento atual da pandemia e destacou que os protocolos estavam sendo respeitados na entrada.
“Pra gente que gosta, pra gente que é carnavalesco, foi sofrível, eu amo carnaval, então chegar na época do carnaval e não ter carnaval é horrível, ficou um buraco, graças a Deus eu acho que o pior já passou e se Deus quiser não vai voltar mais. Esse retorno tá sendo bom porque eu tô vendo que as normas estão sendo respeitadas, isso deixa a gente mais tranquilo. Está sendo incrível, eu cheguei cedo e tá sendo ótimo, a noite foi maravilhosa”, disse a sambista.
Milton Cunha, figura carimbada do carnaval carioca, também esteve acompanhando a primeira noite de desfiles da Série Ouro, demonstrando a animação de sempre, o carnavalesco pontuou que os dois anos longe das escolas serviu para ele valorizar ainda mais o espetáculo que elas realizam.
“Eu acho que a gente não valorizava esse momento especial, a gente vivia ele no automático, então, era uma coisa muito prazerosa, mas era comum, era normal, quando não teve a gente viu como era bom, como faz falta, então eu acho que hoje é a retomada e valorização de uma coisa muito importante pra gente, que é essa procissão negra, festiva, animada. Eu tô consciente do momento fabuloso, especialíssimo, então eu precisei não ter pra dizer meu amor, é o dobro do que eu achava, eu já amava mas é das galáxias o negócio!”, contou Milton Cunha.
Acompanhada das amigas, a foliã Ana Cristina Aragão, de 53 anos, estava visivelmente emocionada, para ela, poder voltar para o Sambódromo é um sonho, ela que já desfilou por muitos anos, agora pretende só assistir o espetáculo. Ela conta que a pandemia tirou muitas pessoas importantes do convívio dela, então estar vivenciando esse momento é muito bom.
“É uma emoção enorme, eu amo samba, amo Sapucaí, até vim conversando com uma amiga que carnaval pra mim é isso, é Sapucaí, é Sambódromo, é esse calor da avenida. Eu adoro, já desfilei durante 10 anos da minha vida e agora eu venho só pra assistir. Foi muito ruim ficar esses dois anos fora, a pandemia sugou e tirou muita coisa da gente, passamos por coisas muito ruins, por isso eu acho que esse retorno agora está sendo muito bacana, tá todo mundo com muito gás e muita emoção”, destacou Ana.