A Mancha Verde realizou o seu primeiro ensaio técnico visando o desfile de 2023. Logo no começo, antes mesmo de entrar na pista, o discurso do presidente Paulo Serdan dizia que era para a comunidade descontrair e sentir o chão do Anhembi. Todos compraram a ideia. Portanto, o desenho da escola ficou somente a marcação do abre-alas. De resto, os componentes puderam usufruir do sambódromo. Houve momento em que a evolução das alas se encontrava, formando uma espécie de ‘caracol’. Nitidamente foi tudo pensado para deixar de lado um treino sério, pois na próxima sexta, a comunidade alviverde retorna ao Anhembi para fazer o seu segundo ensaio técnico. Esse sim deve valer para acertar detalhes, mas neste, os integrantes apenas conheceram o terreno e cantaram forte. O enredo da Mancha Verde para 2023 é “Oxente – Sou Xaxado, Sou Nordeste, Sou Brasil”.

“Hoje na verdade a gente soltou a escola de novo para poder o pessoal curtir, tirar uma onda. A intenção era que eles sentissem mais a pista. Teremos três gerais, então a gente não tinha necessidade de fazer exatamente o que a gente precisa fazer. O que precisava para o início nós fizemos, que era a cronometragem do início até o meio, no recuo da bateria. O que veio após isso já foi brincadeira. A gente tinha drone aqui, filmando tudo, e depois vamos dar uma olhadinha para vermos algumas situações. Mas acho que no geral, para o propósito que tinha hoje, valeu a pena”, explicou o presidente da entidade, Paulo Serdan.

Comissão de frente

A ala fazia uma apresentação muito teatral. A maioria dos integrantes usavam o tradicional chapéu nordestino de cangaceiro e roupas brancas. Todos carregavam uma espécie de espingardas. Tal instrumento simboliza toda a dança do xaxado, que é o enredo da escola. Todos ocupavam a pista o tempo todo, interagiam com o público de forma leve e humorística. Nessa encenação do xaxado, foram inseridos outros personagens nordestinos, como o Padim Ciço e o Luiz Gonzaga. Esse último desfilou sorridente e tocando sanfona durante boa parte do ensaio. Já o Padim Ciço, em alguns momentos, foi ‘benzendo’ os outros integrantes. Isso tudo dentro do humor.

Harmonia

Foi o mais positivo que a escola pôde tirar de positivo do ensaio. Mesmo com os componentes todos entrelaçados, a comunidade não parou de cantar. Com um samba cuja característica tem uma melodia mais ‘arrastada’ do que o último carnaval, a Mancha Verde conseguiu lidar bem com isso prontamente. A bateria junto com o carro de som deu um andamento adequado para que a harmonia rendesse de forma satisfatória.

O diretor de carnaval da agremiação, Paolo Bianchi, exaltou o canto da comunidade. “Deu tudo como programado. Era um ensaio para a gente tirar a ferrugem da engrenagem da galera. A escola cantou, fez uma brincadeira de voltar que fizemos ontem. Isso mostra que estamos com a escola na mão. É claro que sempre tem um erro ali e aqui, mas vamos trabalhar nessas quatro semanas para buscar nosso sonho. Colocar o componente para brincar, ele vai para casa alegre, feliz e volta com sangue nos olhos. Nosso próximo ensaio é sexta-feira, então fizemos isso para deixar eles com o sabor de querer mais. Provavelmente na sexta-feira ou no próximo ensaio nós devemos repensar a estratégia e chegar próximo do que a gente quer no desfile. Mas o importante era colocar a comunidade para se empolgar e cantar. A nossa avaliação é que a escola cantou. Voltar sexta-feira para mais uma jornada”, declarou.

Mestre-sala e porta-Bandeira

O casal Marcelo Silva e Adriana Gomes naturalmente tem a estratégia de fazer um ensaio que priorize a coreografia dentro do samba. É uma dupla que opta por tentar se desgastar o menos possível. Vale destacar os fervorosos aplausos que o casal recebeu ao longo do ensaio vindo das arquibancadas. Realizaram a coreografia em alguns momentos no ritmo de forró. Porém, a principal noção é que a dupla fez um ensaio estratégico.

“Acho que a gente tem que corrigir os erros. Ensaio é para corrigir, para ver se o que a gente plantou vai dar certo ou não. Ensaio é para a gente acertar os pontos, que nem foi isso aqui hoje. O que eu posso dizer é que a gente foi bem. Não foi um espetáculo, mas é o primeiro. Não acabou”, disse a porta-bandeira, Adriana Gomes.

Evolução

Como foi um ensaio para a escola ‘conhecer a avenida’, a Mancha Verde brincou ao longo da pista. Não houve marcações de alegorias, alinhamento das alas e compactação. O fato é que os componentes dançaram muito. Estavam animados e saltitantes. A liberdade e o descompromisso com o treino, talvez despertou isso em todos. Teve um momento em frente ao recuo de bateria em que as alas se entrelaçaram, uma invadiu a outra formando o que parecia quadrilha de festa junina ou ‘caracol’. Não há muitas coreografias, porém destaca-se o primeiro setor em que as três primeiras alas vieram coreografadas. Dentro do samba, os versos “Vem violeiro num repente ajeitado… Tô arretado, a zabumba tá chamando”, os componentes dançam no ritmo do forró.

Samba-Enredo

Como dito anteriormente, é um samba melodicamente para trás comparado ao do último carnaval, mas a Mancha Verde se adaptou muito bem. Além disso, tem um jogo de gírias nordestinas que difere. O carro de som comandado pelo intérprete Fredy Vianna, colocou a comunidade para cima. O que é característica do próprio cantor.

“O primeiro ensaio técnico é sempre para ajustar, as escolas fazem assim normalmente e o Paulo Serdan sempre deixa o primeiro ensaio mais livre para a comunidade vir cantando, brincando, sem aquele apego de avenida. Estamos ensaiando desde setembro e a escola faz grandes ensaios na quadra – posso falar isso com propriedade porque estou lá todo domingo e quinta-feira. A gente vê isso no rosto e na evolução da comunidade. Aqui, o primeiro ensaio é um relaxamento, uma brincadeira com a comunidade. Nos dois últimos ensaios, a gente usa a técnica toda que a gente vai colocar no desfile. De primeira impressão, a escola canta muito e a bateria veio num balanço bom. Acho que a ala musical veio somando muito bem no samba, a gente vem ensaiando muito na quadra e no estúdio. A ala musical está muito bem ensaiada. Trouxemos um sanfoneiro para dar um toque bonito, e, para um primeiro ensaio técnico, foi muito positivo”, contou o intérprete Fredy Vianna.

Outros destaques

– A bateria ‘Puro Balanço’, regida por mestre Guma, já se tornou a cara da escola. Executou bossas e um inédito apagão no refrão principal. Nessa hora, os componentes perceberam o efeito da bateria e começaram a cantar mais forte ainda.

“Eu fiquei muito surpreso pelo volume de pessoas em um domingo e o horário que foi. A pista ficou fervendo. Referente a bateria, a gente continua ensaiando exaustivamente para minimizar os possíveis erros que possam vir a acontecer. Pelo que eu vi, meu raio de audição e visão, gostei muito. Agora vamos ver todo o material de todos os amigos de imprensa que registram e saber o que está certo e o que pode melhorar”, disse mestre Guma.

O diretor ainda falou sobre as bossas e possíveis apagões nos próximos ensaios e desfiles. “A gente monta um mapa de acordo com os pontos da avenida, mas como a gente tem a obrigação da nota, vamos soltando. Lá na primeira cabine e quando eu entro na pista, eu já começo a soltar para sinalizar para os jurados que nós estamos fazendo as bossas. A monumental, que é o termômetro da avenida, a gente faz uma brincadeira com o xaxado e o restante da pista pontuado de acordo com as cabines. Aqui no setor E fizemos uma brincadeira. Vamos soltar as bossas do começo ao fim”, completou.

– Todo o primeiro setor foi vestido de Lampião e Maria Bonita, usando roupas típicas dos personagens.

– A ala musical levou um sanfoneiro que deu um tom no carro de som o tempo todo.