Jack Vasconcelos é um dos grandes artistas do carnaval. Por mais um ano, o carnavalesco assinará o enredo do Tuiuti, que para 2025, vai levar a Sapucaí a história de Xica Manicongo, a primeira travesti não-indígena da história do Brasil, com o enredo “Quem tem medo de Xica Manicongo?”. O CARNAVALESCO conversou com Jack para saber mais sobre alguns assuntos, como a pesquisa do enredo, e a repercussão com as pessoas.

Foto: Eduardo Hollanda/Arquivo

Jack começou falando o que mais o emocionou durante a pesquisa do enredo sobre Xica, destacando a importância de trazer este tema muito atual para a Sapucaí, através da história dela: “Muitas coisas me emocionaram. Eu acho que o que mais gritou para mim é a necessidade de se falar hoje do tema, como esse tema não foi superado. É uma pesquisa, que na verdade se inicia antes de 1590. É o ano que se tem o registro como Francisco Manicongo, mas é uma pesquisa que começa antes, mas são questões que não são superadas e o nosso período colonial, essa nossa cabeça escravocrata, só piorou a situação. O que me chamou muito a atenção foi que é um tema que é super atual. Tanto é que eu trago ele para uma discussão contemporânea, porque ela se faz muito necessária. E outras coisas, tipo algumas questões culturais, alguns diálogos religiosos, culturais, que foram feitos durante o caminhar da Xica aqui, que eu não sabia, que eu não fazia ideia que tivesse acontecido”.

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O carnavalesco continuou pontuando, principalmente, o lado espiritual do enredo sobre Xica, através da Jurema: “E, outra coisa, foi um enredo que exigiu de mim uma entrega e um desprendimento muito grande, porque ele tem uma base de pesquisa bibliográfica, mas ele é conduzido, basicamente, pela questão espiritual. Eu tive guias que me levaram a um conhecimento mais profundo e eu consegui falar com algumas dessas entidades e foi um enredo meio que montado por vidas que viveram aquela época. Eu tive acesso aos livros que estavam abertos ali pela vivência na minha frente, e isso nunca tinha me acontecido antes. Então foi uma oportunidade que eu agarrei como eu pude, porque eu sei que isso não é aberto para todo mundo. Eu me senti muito honrado com isso”.

Em seguida, Jack comentou sobre a repercussão que o enredo teve nas redes, principalmente com a divulgação e comentários de várias pessoas de destaque, como a deputada Érika Hilton, e como a discussão sobre o enredo já existe nas ruas: “Despertar o interesse das pessoas sobre o tema que você está trazendo, isso é um máximo para qualquer proposta de enredo. Eu acho que todo artista quando propõe um enredo na verdade ele quer fomentar isso também. Ele quer que as pessoas corram atrás que elas: ‘conheço, já ouvi falar e vou me aprofundar’, ‘nunca ouvi falar, vou atrás do que é’. Quando esse movimento acontece é uma felicidade. O enredo já tomou a rua”.

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O artista continuou falando sobre os elogios recebidos pelo enredo, e pontuou um pouco sobre como o tema pode ser carnavalizado: “Eu sei que muita gente gostou. Os que não gostaram são de praxe, já estou acostumado. Mas assim, eu gostei da boa receptividade do tema. Eu sei que é um tema importante, é um tema delicado, mas é um tema extremamente carnavalesco, no sentido das imagens, das figuras que ele pode propor e de como a narrativa pode usar esses elementos para se comunicar com o público. Eu acho que ele é um enredo de comunicação desde a concepção, desde que ele existe. Ver que as pessoas já pescaram a vibração que o enredo vai ter, isso é muito bom”.

Por fim, Jack falou sobre o samba-enredo da escola, que será mais uma vez encomendado, e sobre como tem conversado com os compositores que irão realizar a obra: “O samba-enredo vai ser encomendado, acho que com a mesma parceria desse ano que passou. Não tenho certeza se todos, mas acho que sim. Na verdade, eu já estou tendo algumas conversas desde que eu comecei a levantar algumas lebres e que eu sabia que eu tinha que dividir esse meu conhecimento com as pessoas que iriam me ajudar a montar o projeto da escola. Que é um conhecimento que estava me sendo passado e que não era para eu guardar comigo. Se eu estava ouvindo era justamente para eu passar adiante. As conversas já estão acontecendo”.