InícioSão PauloImpério de Casa Verde homenageia Fafá de Belém em desfile tecnicamente impecável

Império de Casa Verde homenageia Fafá de Belém em desfile tecnicamente impecável

Tigre Guerreiro retratou a cantora paraense no desfile através de diferentes rituais propostos envolvendo o sincretismo religioso e as festividades nortistas

Por Lucas Sampaio e fotos de Fábio Martins

O Império de Casa Verde realizou na noite de sábado seu desfile no Sambódromo do Anhembi no carnaval de 2024. Tecnicamente impecável, a escola teve grande desempenho da harmonia e da sua ala musical, além de apresentar um belo conjunto de alegorias e fantasias. O Tigre Guerreiro foi a sexta escola a se apresentar pelo Grupo Especial, fechando os portões após exatamente uma hora.

Comissão de Frente

A comissão de frente intitulada “Ritual Kanapí: as Caboclas na defesa da mata”, se apresentou em dois atos marcados por passagens do samba e teve a presença de um elemento alegórico representando um igarapé, planta aquática típica da região amazônica. O grupo cênico contou com a atuação de uma protagonista que representou Fafá de Belém como “A cabocla escolhida”, em meio ao conflito entre as Caboclas Jurunas e os Seres da Ambição.

No primeiro ato ocorre a encenação desse duelo entre os dois agrupamentos, enquanto no segundo Fafá, que é coberta por um manto representando a bandeira do estado do Pará, é erguida pela grande flor do igarapé, girada por parte dos demais atores. O grupo cênico conseguiu representar bem a proposta do enredo de relacionar Fafá de Belém a rituais, e nos momentos em que a alegoria foi utilizada chamou a atenção do público. O único apontamento possível é para os efeitos especiais de faíscas e fumaça que o tripé soltava, que não ocorriam em um momento específico da coreografia e não foram acionados em todas as apresentações da comissão de frente, mas que não devem ser considerados pelos jurados.

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

O primeiro casal do Império, formado por Rodrigo Antônio e Jéssica Gioz, desfilou com fantasias nomeadas de “O Indígena Juruna e Nossa Senhora de Fátima”. A dupla esteve em grande noite não apenas pela sincronia de movimentos apresentados ao cumprir com todas as obrigatoriedades do quesito nos quatro módulos em que foram observados, mas também pela criatividade da coreografia aplicada à dança tradicional em determinados momentos do samba e a incrível agilidade com a qual a dança ocorria. A alegria era evidente no rosto de ambos, que combinava muito bem com suas belas fantasias, credenciando Rodrigo e Jéssica a serem considerados um dos melhores casais do carnaval de 2024.

Enredo

O enredo do Império de Casa Verde em 2024 foi “Fafá, a cabocla mística em rituais da floresta”, assinado pelo carnavalesco Leandro Barboza. A ideia do Tigre foi homenagear a cantora Fafá de Belém em uma proposta diferente em relação ao que os desfiles do gênero costumam fazer. A religiosidade da artista, que tem a mente aberta para agregar a positividade de diferentes crenças, teve papel fundamental no desenvolvimento dos rituais apresentados ao longo do desfile. Festas tradicionais da região Norte do Brasil como o Círio de Nazaré, a Pajelança e o famoso Festival Folclórico de Parintins estiveram presentes ao longo de toda a narrativa.

O conceito dos rituais que cada setor propôs acabaram tendo uma aplicação mais conceitual. Na prática, a história de Fafá de Belém foi retratada na forma de momentos que representam as fases da vida da artista não apenas na carreira musical solo como também na presença nas festividades nortistas e na sua religiosidade. Para o público, o que se viu foi a caracterização de Fafá como uma pessoa do povo, que vivencia e aprecia a cultura de sua terra natal tal qual tantas outras caboclas. Era um pedido da cantora que as mulheres da região fossem exaltadas no desfile, e esse objetivo o Império cumpriu com honras.

Alegorias

O Tigre Guerreiro se apresentou com quatro carros alegóricos. O Abre-alas foi intitulado “Círio de Nazaré indígena: Fafá, a Maria dos Jurunas”, enquanto a segunda alegoria recebeu o nome de “Fafá na encantaria da floresta avermelhada”, a terceira se chamou “Festejos de Fafá – O Pará da Pavulagem” e a última foi batizada de “Fafá, a estrela em cena no teatro da mata”. A proposta das alegorias foi apresentar Fafá de Belém em diferentes rituais representados em cada carro, misturando a religiosidade com a carreira da artista.

As alegorias foram capazes de representar o grande destaque de cada setor proposto pelo desfile imperiano, e chamaram atenção principalmente pela boa volumetria e a presença de muitos elementos visuais diferenciados, como articulações criativas e telões no caso do último carro, onde inclusive a homenageada desfilou sobre uma estrela segurada pela escultura de uma pessoa indígena. Foi observado, porém, que boa parte da iluminação do lado direito do segundo carro passou apagada pela Avenida, cabendo aos jurados avaliarem o impacto dessas luzes no conjunto visual da alegoria.

Fantasias

As fantasias das alas do Império representaram as diferentes propostas de rituais contidos em cada setor do desfile. O primeiro setor teve nas roupas uma associação da figura de Fafá de Belém com sua religiosidade. Os setores dois e três apresentaram elementos da cultura nortista para narrar os rituais associados aos festejos da região. O último setor contou com a celebração da carreira de Fafá após ganhar fama internacional.

O conjunto de fantasias das alas cumpriu bem a função de retratar a proposta de cada setor, e as roupas no geral não atrapalharam os componentes a brincarem o carnaval. O único apontamento fica para a ala “Enamorou Portugal”, cujo costeiro contava com algumas bandeiras que enroscaram entre si nas fantasias de alguns desfilantes.

Harmonia

O “Eeeeemoriô” deu o tom da harmonia imperiana ao longo de todo o desfile. O bom samba da escola foi clamado pelos componentes com clareza e vigor, elevando o nível durante as bossas e apagões aplicados pela bateria “Barcelona do Samba”. O destaque especial vai curiosamente para a ala chamada “Emoriô”, cujos desfilantes estavam especialmente animados.

Samba-Enredo

O samba do Império de Casa Verde foi composto por André Diniz, Samir Trindade, Gustavo Clarão, Fabiano Sorriso, Darlan Alves, Evandro Bocão, Marcelo Casa Nossa e Tinga, e foi defendido na Avenida pela ala musical liderada pelo intérprete Tinga, que também assina a obra. A obra explora o conceito de rituais proposto pelo enredo para exaltar Fafá de Belém em diferentes momentos de sua vida. O grande destaque da rica obra imperiana, curiosamente, está no simples “bis” composto pela palavra “Emoriô”, que dá nome e marca versos de um clássico da cantora. O samba teve bom desempenho ao longo de todo desfile na voz do intérprete Tinga e contribuiu positivamente para o conjunto imperiano.

Evolução

A evolução imperiana ocorreu com muita tranquilidade ao longo do desfile. A arrancada da ala musical começou no exato momento em que os portões se abriram, e a escola no geral aproveitou bem o tempo na Avenida, fechando os portões com exatamente uma hora de apresentação. Uma única parada na evolução foi percebida por certo momento além da habitual entrada no recuo, mas nada que comprometa o desempenho do Tigre no quesito.

Outros Destaques

O grande destaque do desfile inevitavelmente vai para a presença da homenageada, a cantora Fafá de Belém. Não só marcou presença ao longo de todo o processo de construção do desfile como se tornou mais uma imperiana. Junto da ala musical, a artista cantou o samba-exaltação do Tigre, fez discurso motivador antes da arrancada da apresentação e foi destaque principal da última alegoria da escola com roupas que muito lembraram a própria arte oficial do enredo. A ala das baianas se apresentou com uma bela fantasia simbolizando as “Senhoras Jurunas sob o manto de Nazaré”, que misturou elementos católicos e indígenas.

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