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Freddy Ferreira: ‘Introduções das baterias antes do samba: seus riscos e o efeito da padronização’

Uma questão que vale reflexão envolve as introduções das baterias antes da execução do samba-enredo oficial. De antemão, é possível afirmar que bate uma saudade danada daquelas arrancadas com uma passada ou duas sem bateria! Aquele clima animado e descontraído se perdeu praticamente por completo no primeiro recuo onde sobe o ritmo. Claro que esse fato faz parte de uma decisão estratégica de acelerar o início do desfile, permitindo a Comissão de Frente se apresentar tão logo o samba comece e consequentemente a bateria suba. Mas, indubitavelmente, as já padronizadas introduções estão engessando musicalmente as largadas, sem contar alguns riscos que podem gerar impactos, sobretudo sonoros em toda a bateria.

Freddy Ferreira é colunista de bateria do CARNAVALESCO

Saudosismo à parte, as introduções funcionando como uma espécie de fórmula pronta ajuda a padronizar o espetáculo, sobrando poucas peculiaridades entre uma subida de uma bateria ou outra. Uma coisa que pode vir a ocorrer é, devido à dificuldade envolvendo a introdução, o arranjo acabar sendo executado de modo ineficiente. Por vezes isso afeta de modo direto o índice anímico dos ritmistas. É como se o clima subitamente pesasse sobre os ombros da bateria, que não executou o desafiador arranjo inicial de modo funcional, deixando a dúvida sobre seu desempenho pairando no ar por alguns minutos. Esse fato, inclusive, é capaz de mexer com o psicológico tanto de ritmistas, quanto de diretores. Um erro que não será despontuado, que não está sendo avaliado, mas que ainda assim pode deixar o clima de toda galera com aspecto tenso. Fora isso, também há a possibilidade concreta da aceleração do andamento, quando se comemora o êxito de uma introdução bem feita, subindo o ritmo da bateria em seguida do momento que por si só carrega emoção. Nesses casos, se faz necessário pedir concentração, ponderação, além de educação musical a todo o ritmo.

Outro momento que é primordial um cuidado extremo diz respeito a arranjos iniciais musicalmente desafiadores e baterias que sobem o ritmo logo após a introdução complexa e de difícil execução. O desafio é garantir que a bateria não suba “torta”, garantindo um ritmo integrado, sem desencontros rítmicos ou as clássicas emboladas. Algumas vezes, em virtude da extrema dificuldade, a bateria acaba subindo de forma que não privilegiará a fluência entre os naipes, ao menos nas primeiras passadas, até o ritmo assentar após a subida. No fundo, toda introdução que prejudica que o ritmo comece de modo fluído e orgânico deveria ser revista, garantindo assim sempre uma subida da bateria correta e coesa.

Até que ponto as já padronizadas introduções auxiliaram no processo de esfriamento do desfile? Embora seja bonita a execução de arranjos iniciais antes do samba do ano ser entoado, isso tirou sem dúvida parte da magia da largada, aquele momento mais solto em que se cantava o samba sem o ritmo acabou de perdendo. É possível dizer, inclusive, que parte da emoção de um momento pra lá de especial foi sendo musicalmente mutilada, com os arranjos cada vez mais frequentes antes do samba do ano. Aquela adrenalina e frio na barriga do ritmista dentro do primeiro recuo praticamente nem tem mais tempo de acontecer, já que quando iniciar a introdução logo o ritmo subirá com o samba do carnaval. Sem contar as subidas sem a pressão característica de cada agremiação. Baterias que historicamente subiam no repique mudando sua identidade, outras que antigamente subiam com tapas de todas as peças, virando sem o impacto sonoro de outrora.

Dificilmente para o Carnaval 2024 o quadro estará diferente da atual padronização envolvendo as introduções. Embora, algumas baterias ainda preservem suas raízes, efetuando sua tradicional e clássica subida. Como é o caso da bateria Pura Cadência da Unidos da Tijuca, que comandada por mestre Casão insiste em resistir e até hoje sobe seu ritmo com tapas em sequência de todos os naipes, garantindo uma pressão sonora peculiar, provocada principalmente pelo impacto grave dos surdos. O fato ainda dá esperança que, ao menos para o Carnaval do ano que vem, as coisas melhorem nesse tema. Refletir de forma crítica sobre os rumos musicais dos ritmos das baterias é uma necessidade contemporânea de todos os mestres e diretores. Não tenham medo de mudarem algo que parece uma evolução, mas no fundo pode ser retrocesso, já que nossa folia está intimamente ligada a laços envolvendo resistência, tradições e pertencimento cultural.

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