A série “Barracões” do site CARNAVALESCO testemunhou o andamento do processo de renascimento do Vai-Vai através do enredo “Eu também sou imortal”, assinado pela Comissão de Carnaval da Escola do Povo. O tema é a reedição do desfile que disputou o Grupo Especial em 2005, que retorna para o Carnaval de 2023 com a missão de inspirar a comunidade da Bela Vista na missão de retornar aos tempos áureos.

Fotos: Lucas Sampaio/Site CARNAVALESCO

Escolha por trás da reedição de um carnaval passado

Em 2022, o Vai-Vai voltou a sofrer o duro golpe causado por um rebaixamento. O cenário contrastante com a história de glórias da mais tradicional e maior vencedora das escolas de samba de São Paulo fez com que a diretoria pensasse na melhor forma de construir um projeto à altura, mas ao mesmo tempo dentro da realidade atual da agremiação. Luiz Robles, diretor de marketing e um dos membros da Comissão de Carnaval do Vai-Vai, contou para a equipe do site CARNAVALESCO o que levou a decisão por reeditar um tema já abordado no passado.

“Quando temos o revés do descenso, já na sequência, semanas depois, estávamos no barracão trabalhando, desmontando alegorias. Começamos a conversar sobre o que poderíamos trazer para o carnaval que fosse algo que mexesse com o orgulho da escola. Quando começamos essa conversa, a primeira ideia que surgiu foi o enredo de 2005 porque além de ser bacana, ele marcou aquela época pelo fato de termos sido aclamados pelo público. Pegamos um quinto lugar, e o presidente da época, o Sólon, resolve não desfilar. Fizemos um protesto e não voltamos para o desfile das campeãs. Aquilo marcou o carnaval, e o samba por si só já tinha marcado. Quando resolvemos trazer esse enredo de volta foi para eliminar algumas etapas também, porque sabemos que uma disputa de samba-enredo é um pouco difícil por conta de negativas que acontecem entre os derrotados. Queríamos evitar esse tipo de racha na escola porque acontece. O primeiro passo foi eliminar o concurso de samba, então fomos por uma reedição”, revelou.

Reedição contada de forma diferente

Reedições não são comuns no Carnaval de São Paulo, e trazer para os tempos atuais um carnaval construído em outra época é um desafio que conta com um repertório pequeno de processos criativos para se ter como base. O objetivo do projeto para 2023 é se aproveitar de um samba aclamado pela comunidade para trazer de volta as pessoas que se afastaram do Vai-Vai ao longo do tempo.

“O presidente de início era contrário, porque ele acredita que temos potencial de fazer um enredo novo, mas fomos conversando com ele e mostrando que nesse enredo traríamos uma roupagem nova, apenas reaproveitando o samba, que descartaríamos a eliminatória colocando um samba que já está na boca do povo, e traríamos histórias de pessoas que viveram aquele carnaval para a atualidade, trazer até componentes que não desfilam mais a voltarem a desfilar conosco. Foi um tiro muito certo quando batemos o martelo e fomos para o “Imortal”, até porque não era a única opção. O povo queria bastante 2009 por conta de tudo que ocorreu, a questão das vacinas, mas optamos pelo 2005 porque estamos em uma nova fase. O Vai-Vai está em uma nova roupagem, um novo momento, e o enredo da imortalidade também traz o renascimento disso tudo, casou com o momento da escola. Deu super certo por isso, para renascermos, nos reinventar, mas não só pelo fato de ter caído. Quando subimos em 2020, eu achava que ainda não estávamos preparados, e hoje eu acho que a escola está muito mais preparada para quando voltar ela ficar no Grupo Especial, e o enredo nos ajuda nisso aí”, explicou Robles.

De acordo com o diretor, o enredo se baseia no samba de 2005 para construir uma nova história que se encaixa também ao contexto atual do Vai-Vai, contada de forma clara e objetiva.

“Já tínhamos a sinopse e todo o trabalho de 2005, mas resolvemos mudar tudo. Não descartando tudo totalmente, mas queríamos realmente o zero. Fomos com a cabeça fresca, do zero, sem olhar o que foi feito lá para fazer o novo. Até a sinopse é diferente. Quando você vir o que colocaremos na pista e comparar com o que fizemos em 2005, não tem nada parecido. Não foi nem uma adaptação, colocamos na sinopse o que o samba acaba nos trazendo, ou seja, o que formos cantar você verá na pista, ficará simples de identificar”, disse.

Consciência do que é preciso ser feito

Na primeira passagem do Vai-Vai pelo Grupo de Acesso, a escola encarou antes um turbulento processo político de troca na presidência, que se estendeu por muito mais tempo do que o esperado. A Saracura precisou apostar em um desfile bastante protocolar, com o mínimo necessário para garantir as notas para retornar à elite. Luiz Robles garante que desta vez será diferente.

“Acho que estamos muito mais conscientes do que precisamos fazer e para onde temos que ir. Quando pego a escola em 2019, com a nova gestão, a escola ainda estava muito conturbada. Fizemos um carnaval muito às pressas, o carnaval do “Álamo” foi produzido em três meses, a partir do final de novembro. Queríamos resgatar a escola, mas por dentro ainda não estávamos 100%. Em 2022, começamos a nos reestruturar um pouco, mas o descenso fez com que parássemos, reavaliássemos e planejássemos corretamente todos os projetos de trabalho, tanto em concepção quanto em compras, tudo que envolve esse processo de fazer o carnaval nos adequamos melhor”, revelou.

Para Robles, o que mais chamou sua atenção durante o processo de construção do desfile para 2023 foi a maneira como a comunidade se envolveu com o projeto.

“O envolvimento das pessoas. Essa parte de brilhar os olhos dos profissionais com esse enredo foi o que mais pegou em nós. Eles se emocionarem vendo as coisas prontas, a forma como as coisas estão se tomando, o tamanho que a escola está criando, o corpo que a escola está voltando a ter de uma escola vencedora. A concepção e a criação todo mundo acaba participando um pouco antes, mas esse envolvimento faz com que as pessoas começassem a comprar a ideia, tomar o emocional das pessoas, e acho que isso foi o que mais chamou atenção”, declarou.

Conheça o desfile do Vai-Vai

“Faremos um passeio pela criação do universo, pela imortalidade e o espiritualismo. O primeiro setor da escola é uma situação que impactará bastante pelo que nós apresentaremos. Acho que o primeiro setor é muito impactante, porque foi uma aposta da comissão de carnaval para podermos mostrar essa nova roupagem da escola. Desde a comissão de frente, que não tem nada a ver com a de 2005. Em 2005 era um meteoro que se abria para revelar a fênix que havia dentro, e a nossa agora é completamente diferente. Tem uma citação na passagem do enredo que faz uma menção bacana que o pessoal que conhece o carnaval de 2005 irá se lembrar, porque não deixaremos de usar o tema para imortalizar algumas passagens. O enredo irá nos ajudar a imortalizar algumas situações, e no meio dos setores quem conhece o carnaval vai perceber”.

Ficha técnica
Enredo: “Eu também sou imortal”
Alas: 21
Alegorias: 3 + 2 tripés
Componentes: 1600
Setor 1: A criação do universo
Setor 2: Os povos imortalizados
Setor 3: A espiritualidade
Setor 4: O corpo humano
Setor 5: O renascimento do Vai-Vai