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Entrevistão com Saulo Finelon e Jorge Teixeira: ‘Trabalhar na Mocidade é uma responsabilidade enorme pela comunidade que cobra e dá muito carinho’

Dupla conversou com o site CARNAVALESCO e revelou seu entendimento de que o quesito tem se tornado um show à parte, chamariz de público e carro chefe para disputa de título

No sétimo desfile consecutivo pela Mocidade Independente de Padre Miguel, Saulo Finelon e Jorge Teixeira, produziram comissões de frente inesquecíveis, dentre elas, a famosa apresentação com o Aladdin voando pela Marquês de Sapucaí no ano do título de 2017. Os coreógrafos têm ainda na conta, dois desfiles em 2010 e 2011 que produziram também na Verde e Branca de Padre Miguel. Além do trabalho desenvolvido com o carnaval, Saulo é bailarino do Theatro Municipal e Jorge é diretor artístico da Companhia Bemo, também do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, e diretor artístico da Companhia Brasileira de Ballet (CBB).

Com a expectativa de produzir mais uma comissão para um enredo desejado pela comunidade independente, ano passado Elza Soares e agora o padroeiro e a história da “Não Existe Mais Quente”, a dupla conversou com o site CARNAVALESCO e revelou seu entendimento de que o quesito tem se tornado um show à parte, chamariz de público e carro chefe para disputa de título, explicou suas preferências para o desenvolvimento das coreografias e efeitos especiais, expressou sua alegria pelo carinho recebido dentro da escola, com a comunidade, e relembrou trabalhos anteriores.

Qual é o maior desafio hoje da comissão de frente ser a síntese do enredo ou um espetáculo impactante de abertura?

Saulo: “O caminho que está levando é realmente um show à parte, é óbvio que estar dentro do enredo e dentro da temática, isso é primordial. Mas, o espetáculo se sobrepõe a isso, não adianta só você estar falando do enredo se você realmente não tem um verdadeiro show, e acredito que a trajetória que nós estamos trilhando e as pessoas esperam, o mais difícil é essa superação, acredito que realmente tem que ser um impacto e é o que o público espera, acho que não tem mais volta. Mas só o impacto não, porque se não fica uma coisa muito aleatória. Eu acredito que infelizmente as comissões antigas ficaram lá para trás”.

Jorge: “É você buscar um efeito que fale do enredo, é muito importante que o efeito venha realmente compondo o enredo e não que seja uma coisa aleatória, simplesmente por um efeito. Essa é a nossa grande preocupação. É achar alguma coisa que se encaixe nesse grande show, mas também se encaixe no enredo, e é bem difícil. Esse casamento tem que ser perfeito, enredo e show”.

Toda comissão pede um ápice. Vocês concordam que em 2020 nenhuma comissão de frente teve um boom de inesquecível pela pressão de sempre ter que ser uma apresentação inesquecível?

Saulo: “Eu acho que quando a gente fala do impacto, isso não tem nada a ver com o efeito. O impacto pode ser sentimental, pode ser emocional, pode ser de outra maneira. Eu acho que nós estamos muito comprometidos com o trabalho, a gente não sente uma pressão com um ‘temos que fazer’, a gente faz porque a gente acredita, gosta e vai, e já faz parte do processo. Não tem como não ter pressão, é uma competição. Coreografar comissão não é só ser coreógrafo, você é diretor de um show, não é só ali fazer coreografia e a competição é que leva a essa adrenalina”.

Jorge: “Você tem que chegar até o público, você tem que emocionar de alguma forma. Você tem que fazer senti-lo alguma coisa em relação a sua comissão. Não significa que tem que ser uma explosão, efeito só de sobrenatural, mas você tem que chegar até o público. O grande segredo do artista é chegar até o público. Você precisa trabalhar com o sensorial. O efeito é a cereja, mas eu gosto muito do que vem compondo, que vem criando a atmosfera para criar o efeito. É muito mais a estrutura que nós vamos dar, a ambientação para que o efeito aconteça”.

Qual é a comissão inesquecível da carreira de vocês? E qual foi a que podia ser melhor na hora oficial?

Saulo: “A comissão de frente, a gente faz um projeto, querendo acertar, e a gente já tem essa característica de ter um percentual de erro, de riscos, e a gente compra, e a escola compra, claro que a gente tenta minimizar, mas o risco ele sempre existe. Acho que a comissão que a gente ficou mais decepcionado e deu mais trabalho foi no ano do gelo aqui na Mocidade (2011), dos patins, que choveu, os componentes não aguentaram, tiveram erros e não foi o resultado que a gente imaginou. Mas, acho que cada comissão é um filho e a gente tem carinho. Por isso, não tem uma que a gente não goste, todas têm as suas dificuldades. E a que a gente mais gosta, o ano que foi Cervantes, em 2016, a gente amava aquele cavalo, e parecia que era um bicho de estimação. O Aladdin (2017) foi uma grande surpresa, a gente tem a noção do projeto, mas a gente não tem a dimensão de quando vai para a Avenida. E a que estava plasticamente perfeita, acho que foi a da Índia que foi bem redonda em relação a hora que a gente desfilou, ao samba-enredo”.

Jorge: “Eu gostava muito da dos patins (2011), e aí foge ao que aconteceu naquele ano do gelo, é que fugiu ao nosso domínio, nós contratamos, fomos buscar a melhor equipe de patinação campeã brasileira, e nós não esperávamos que eles não fossem ter a resistência necessária. Faltou resistência e experiência, eles acabaram cometendo erros na hora, que para eles, talvez, na competição deles não fizesse diferença. Eu acho que a comissão que mais nos deu trabalho foi a do tempo (2019), tivemos bastante dificuldade, nós não conseguimos levar o tripé para a Avenida, foi uma comissão que deu muito trabalho. Eu amo a Índia, existia um raio, mas o que vinha na frente já emocionava tanto, que não era nem o efeito, era muito impactante aquela entrada, e aquele conjunto era uma obra de arte perfeita. E o Aladdin, adorava o efeito, mas adorava a coreografia que existia atrás, os homens com os cestos”.

Sem ser a de vocês, qual a comissão que vocês adoram? Podem citar até três.

Jorge: “Eu não posso deixar de falar da comissão do Rodrigo (Negri) e da Priscilla (Mota), da época do Segredo (Tijuca 2010). Aquilo marcou uma época dos carnavais. E, uma lá atrás, que eu nem fazia comissão ainda, uma do Barquinho (Beija-Flor 2017), que é do Marcelo Misailidis, adorava aquele trabalho, porque ele tem essa coisa muito de criar uma atmosfera, trazer um grande pensador, um poeta para as comissões dele. E algumas comissões do Fábio de Melo, foi outro que houve uma mudança ali, foi o que começou a dar essa cara de show. A partir dele a coisa começou a mudar, e acabou chegando no efeito da Tijuca 2010”.

Saulo “O Fábio de Melo realmente foi o precursor, o Carlinhos (de Jesus) trouxe comissões bastante leves que aconteciam, o Marcelo Misailidis. E teve aquela do Elefante, aquelas dobraduras e de repente aparecia o elefante. A Priscilla e o Rodrigo que também foi uma comissão que virou, eu acho que as pessoas começaram a olhar mais ainda para as comissões de frente imaginando que se você tem uma boa entrada, você pode ter um título. Uma coisa vai puxando e as pessoas olham de outra forma. E o Paulo Barros sempre deu muita atenção às comissões, um ano bem marcante. A gente gostava muito da savana (Vila Isabel 2012) do Marcelo (Misailidis) também”.

O elemento cenográfico é tão fundamental assim no Grupo Especial?

Jorge: “Eu não vejo que seja fundamental, mas também não acho que seja dispensável. Eu acho que vai caber o enredo. Se o enredo que você tem, cabe não trazer, ok. Se o enredo que você tem, cabe trazê-lo, ok também. Eu acho que tudo se estiver dentro do enredo, se for um elemento que faz parte da concepção, está valendo. Para mim não acho que tenha elemento pequeno, grande, ele tem que fazer parte da comissão. Se ele estiver bem estruturado dentro da linha de pensamento que o coreógrafo junto com o carnavalesco, sem problema nenhum. O que não pode ser é um elefante branco, alguma coisa sem função”.

Saulo: “É a valorização do espetáculo. O quanto mais você faz de novidade, você atrai o público, porque eu acho que isso que é importante para a grandiosidade do espetáculo, isso só vai somar. O que é importante como idealizadores de um projeto, é realmente amarrar isso. Eu não posso trazer um carro enorme que fica lá parado e aí não tem sincronia com os bailarinos, só porque é um boneco grande. Aí também não adianta vir com um monte de coisa pequenininha que também não acontece. Eu acho que o projeto tem que estar bem amarrado. Porque isso tem esse tamanho? Um exemplo é a nossa no ano do canhão. O canhão tinha 11 metros, como é que o carro ia ser menor que isso? Eu acho que os jurados querem ver isso, porque a gente vê isso nas notas. Infelizmente, quem também vai dar isso além do público são os jurados, porque nós estamos em uma competição”.

Se pudessem, o que gostariam de aperfeiçoar no quesito Comissão de Frente?

Saulo: “Uma das coisas que me intrigam um pouco, é a gente ser julgado pelo o que foi feito por nós mesmo no ano anterior. Às vezes acontece, e eu acho isso errado. Nós teríamos que ser julgados só pelo o que acontece esse ano. Julgar arte já é muito subjetivo. Eu gosto e você não gosta. Eu acho que deveria esquecer um pouco o que passou e partir do zero. Eles tentarem de alguma maneira, porque acho que também deve ser muito difícil para eles, julgar em dois minutos o trabalho de um ano, dessa forma eu acredito que eles têm que esquecer o que passou e ver aquilo que está vendo naquele momento. Se eu e o Jorge, a gente já tem um nível de comissão, se a gente faz menos do que a gente fez, a gente não tem um 10. Mas, um outro que tem um trabalho inferior ao nosso que já é melhor do que ele fez ano passado, ele ganha um 10”.

Jorge: “Poderia haver tópicos mais separados. Criatividade talvez, notas mais separadas. Eles têm um desfile inteiro para escrever. Diferente de alguém que vai julgar enredo, evolução. Acho que as coisas poderiam ser um pouco mais discriminadas. O que eu acho que a Liesa poderia pensar é essa coisa de que a cada ano muda essa cabine de jurados. Cada ano você se organiza, tem que voltar para a Avenida. Nós fomos lá e já vimos que as cabines já mudaram de novo esse ano. Podia ter umas cabines fixas como o primeiro. Isso muda até a evolução da escola, porque quem dá a evolução é a comissão de frente. E, eu acho que você compromete dois jurados quando coloca eles no mesmo espaço porque são visões diferentes. A minha linha de exigência pode ser diferente da sua”.

Acham legal que tenha a apresentação apenas na frente do módulo de jurados ou gostariam que a análise fosse igual São Paulo, pela pista toda?

Jorge: “Eu acho que talvez pelo fato de a gente já estar acostumado, eu gosto dessa análise parada. Acho que funciona muito. As nossas coreografias de avanço são muito trabalhadas. E existe a preocupação de não fazer nada tapando a lateral da arquibancada para que todos vejam. Existe uma evolução. Os nossos trabalhos vão evoluindo até chegar ao clímax. E o jurado já está assistindo a coreografia de avanço. Ele não te julga só pelo o que está sendo apresentado na frente dele. Ele já está te olhando antes, vendo toda a evolução que você está fazendo. Eu gosto. E talvez também porque aqui a gente não tem esse costume que lá em São Paulo tem”.

Saulo: “Na verdade, a gente já faz um projeto pensando na estrutura do que é o show. De repente, de não acontecer mais, a gente vai fazer um outro tipo de comissão, que seria só avanço. Eu nem entro nessa seara se é bom ou ruim, porque eu não sei. Eu gosto de parar porque eu acho que você tem mais possibilidades de montar coisas. Eu acho que a comissão hoje engrandece o show, vende ingresso”.

Não haverá mais a obrigatoriedade de se apresentar para o público do setor 3. Vocês vão manter? E fazem algo para o setor 1?

Saulo: “O início a gente sempre faz, o Setor 1, a gente sempre fala que é o nosso ensaio geral com público. É o nosso termômetro. É superdifícil porque não tem som, a gente não consegue cantar. Para a gente é a parte mais difícil. E às vezes pode até não dar muito certo, mas graças a Deus sempre deu, e a gente sempre faz. Mas, essa coisa do Setor 3, eu particularmente não gosto porque a gente tem muita preocupação com a escola, com a porta-bandeira que está atrás, com a harmonia da escola. Os 34 minutos que a gente está puxando, o diretor de harmonia é praticamente o Jorge, porque a gente tem a preocupação com a escola. A comissão para e já logo de cara tem um jurado. A gente sempre fez uma coreografia diferente porque não dá para fazer, a gente praticamente já tem que desmontar, é muito perto entre o início e a primeira cabine”.

Jorge: “Setor 1 sempre vamos fazer, é uma delícia fazer para aquele público ali, difícil, mas é uma delícia. A gente sai dali às vezes com a alma fervendo porque já sabe qual vai ser a reação do público. O Setor 3, na verdade, a gente nunca fez ele como se fosse um jurado, a gente sempre fez alguma coisa porque nós temos a preocupação de fazer uma apresentação o tempo todo na Avenida. Nossas coreografias de avanço são super dançadas. Agora não tem como, é a menor distância da Avenida, é a saída do início do desfile até a primeira cabine. Como eu vou parar no meio e fazer alguma coisa nesse meio? Quebra toda a matemática”.

O torcedor da Mocidade tem muita confiança no trabalho de vocês. O que representa ter esse carinho e segurança que o quesito para o torcedor é muito forte?

Jorge: “É um combustível, na verdade é a hora que a gente se sente em casa. Afinal de contas é o oitavo ano que nós estamos na escola, mais dois anos passados que nós estivemos antes. São praticamente 10 anos de Avenida com a Mocidade. Esse carinho é muito importante e nos dá muito vigor. E o carinho acontece da mesma forma mesmo no ano que a gente não fez o melhor trabalho, porque eles acreditam no nosso trabalho e sabem que é humano, normal, um ano dá certo e outro ano pode não dar tão certo. E o carinho é sempre o mesmo”.

Saulo: “Estar trabalhando na Mocidade é incrível porque é uma escola com um peso enorme em relação a comunidade mesmo. Eles cobram, eles gostam, acaba virando uma família, e eles querem participar o tempo inteiro, eles dão ideias, e eles ficam o tempo inteiro, ficam na pressão dessa coisa de apaixonados mesmo, que é muito bacana. E a gente transforma isso no positivo, a gente sente a obrigação de fazer o melhor porque a gente sabe que tem pessoas ali que amam e olham para gente ‘a salvação ‘, o quesito, e eles cuidam e gostam de todos os quesitos da escola. É óbvio que tem uma energia maravilhosa”.

O que esperar da comissão de 2022? Será uma apresentação para impactar e emocionar? O que não poderá faltar nela?

Jorge: “A nossa preocupação é sempre emocionar, a primeira coisa é emocionar, mexer com você de alguma forma. Ou muita alegria, ou se arrepiar, chorar, alguma coisa. E está sendo muito interessante porque é a primeira vez que nós estamos fazendo um afro, está sendo delicioso. As pessoas podem esperar que vai ter várias surpresas”.

Saulo: “A gente está indo na sequência de dois enredos que a comunidade queria muito, e realmente está sendo muito prazeroso, e o samba-enredo para mim é o melhor, é um absurdo como arrepia. Quando a gente fez o primeiro ensaio, que botou o samba-enredo e começou a movimentação, só foi levando a gente para cima. Podem esperar, estamos muito satisfeitos com o que estamos fazendo. Podem esperar uma comissão bem completa, bem impactante, com tudo que a gente gosta e que a gente acredita”.

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